MISSÕES, CADA VEZ MAIS URBANAS (Sylvio Macri)

Pelo fato de o missionário precisar ir onde estão as pessoas, a obra missionária no Brasil tem se tornado cada vez mais urbana. De 2000 a 2010 a população rural brasileira diminuiu em mais de 2 milhões de pessoas. Hoje temos menos de 30 milhões de habitantes na zona rural e mais de 160 milhões nas cidades. Mesmo no interior, há cidades com centenas de milhares de habitantes. Por exemplo: Campinas (mais de 1 milhão), São José do Rio Preto (630 mil), Ribeirão Preto (605 mil), Uberlândia (605 mil) e Sorocaba (587 mil). Mas é no Estado do Rio de Janeiro que fica a cidade que mais cresceu: Rio das Ostras, de 36.419 para 105.676, um aumento de 190%. Também no Rio temos São Gonçalo (1 milhão de pessoas), Duque de Caxias (860 mil) e Nova iguaçu (800 mil). Mas o fenômeno é São João de Meriti (460 mil), chamada de “formigueiro das Américas” por ter 13.024 habitantes para cada quilômetro quadrado, uma média assustadora.

Portanto, é preciso repensar a obra missionária, em face das mudanças na população e no seu modo de vida. Uma grande parte dessa gente está em comunidades paupérrimas na periferia das cidades, subsistindo à margem da sociedade e abaixo da dignidade humana, sendo excluída dos mínimos direitos à existência, como água potável, esgotamento sanitário, educação, assistência médica, segurança, transporte, etc. Outra parte está nos hospitais e clínicas, nas prisões, nos abrigos e mesmo nas ruas. Uma grande parcela vive em condomínios fechados. Para cada uma dessas situações é preciso ter uma estratégia diferente, que será diferente também em cada cidade. Por exemplo, nas favelas a pregação deve ser permeada por ação social; nas ruas, precisamos libertar as pessoas daquilo que as levou ali, principalmente as drogas e os desacertos familiares; nos condomínios fechados é preciso ter criatividade para atingir os moradores que se fecham em seus casulos (pequenos grupos não são a única solução). Nos hospitais, prisões, abrigos e outros locais públicos de presença controlada, é preciso ter pessoas treinadas e credenciadas.

A urbanização da obra missionária demanda uma visão mais localizada, e, no caso das igrejas batistas, na criação de agências missionárias mais regionalizadas, a fim de melhor usar os recursos. A Convenção Carioca é a única convenção batista urbana no Brasil, e por isso a sua obra missionária é forçosamente urbana. E, até onde sabemos, ela é a única agência missionária batista urbana no Brasil. Logo, porém, deverão surgir, se não agências, pelo menos áreas especializadas em missões urbanas nas demais convenções batistas estaduais, e também na própria Convenção Batista Brasileira. Por exemplo, a chamada Grande São Paulo, formada pela capital do Estado de São Paulo e suas 38 cidades vizinhas, têm, aproximadamente, 19 milhões de habitantes, o que corresponde a 10% da população brasileira. A Convenção Batista do Estado de São Paulo já deveria estar pensando em criar uma agência missionária só para essa região, bem como para outras áreas urbanas do Estado, como a Grande Campinas, que tem quase 3 milhões de moradores.  

A evangelização tradicional nos grandes centros urbanos já está sendo realizada pelas igrejas. Refiro-me à evangelização dos bairros ainda não alcançados, à abertura de novas congregações, à compra de propriedades para novos templos, etc. As agências missionárias não precisam mais fazer isso. Uma ou outra região, como Porto Alegre (RS), talvez precise de ajuda nesse sentido, mas a maioria das grandes cidades já têm muitas igrejas, que cumprem essa tarefa quase como uma rotina. Portanto, as agências de Missões Urbanas devem voltar-se para objetivos não convencionais, como, por exemplo, as chamadas “tribos urbanas”, que são grupos que se identificam por interesses comuns, desde conceitos ideológicos a vícios como o do crack. Aqui se enquadra o Projeto Cristolândia, que começou em São Paulo e já chegou a outras capitais brasileiras. Outros objetivos seriam as universidades, os hospitais, as prisões, os esportes, os cemitérios, os terminais de passageiros, os pontos turísticos ou de lazer, os portos, etc. Para fazer este trabalho a receita é justamente a que está sendo usada pela Convenção Batista Carioca, isto é, buscar pessoas com treinamento especial, credenciá-las junto às instituições e sustentá-las, bem como recrutar voluntários para ajudá-las.

Quando se constata que a obra missionária está se tornando cada vez mais urbana, é importante lembrar a necessidade de recursos para a mesma. É preciso que as igrejas, além das ofertas que hoje levantam para Missões Mundiais e Nacionais, também contribuam para Missões Urbanas. Que percebam a importância dessa obra e se engajem nela em termos financeiros. Que fique claro não se trata de desviar ofertas, mas de aumentá-las. O que vemos hoje na Convenção Batista Carioca, por exemplo, é que a maioria das igrejas não contribui para a obra missionária que se faz na sua própria cidade, a qual poderia ser tremendamente ampliada se todos participassem. E o mesmo deveria acontecer com as demais convenções estaduais.

Mas essa obra, para atrair mais ofertas, deve ser diferente. As igrejas não querem “mais do mesmo”, isto é, gastar tempo, energia e dinheiro naquilo que elas próprias já estão realizando e podem fazer muito bem. Temos que ser criativos. Usando uma linguagem de marketing, precisamos encontrar nichos ainda não explorados na evangelização urbana, por isso mencionamos objetivos não convencionais. Há trabalhos que exigem a cooperação de todas as igrejas, há outros que somente podem ser feitos por especialistas devidamente credenciados e por isso necessitam da intermediação de uma instituição. Outros representam novas experiências que requerem planejamento e execução centralizados. É aqui que entra a agência missionária urbana de que falamos acima.      

A existência de uma agência missionária urbana também é importante para garantir a abrangência e penetração da evangelização urbana. Frequentemente ouvimos alegações de que o mesmo trabalho que é feito pela Convenção Batista Carioca nos hospitais, prisões, cemitérios, etc., vem sendo realizado pelas igrejas também. Contudo, sem uma organização e planejamentos centralizados, este trabalho tende a ser dispersivo e justaposto, isto é, além dos recursos serem usados de uma maneira pouco racional, há objetivos recebendo muita assistência e outros com pouca ou nenhuma assistência. Por outro lado, o trabalho tende a ser superficial, porque feito por pessoas não treinadas e credenciadas ou por não haver dedicação integral daqueles que o fazem, mesmo que sejam especialistas.            

Entendemos que a obra missionária urbana é uma tarefa urgente e séria, e, portanto, exige uma atitude urgente e séria das nossas igrejas, convenções e associações. É bom estarmos atentos para não perdermos o bonde da História.

Pr. Sylvio Macri

 

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