Gênesis 37: VITORIOSO APESAR DA HERANÇA DESFAVORÁVEL

Gênesis 37: VITORIOSO APESAR DA HERANÇA DESFAVORÁVEL
(Da série UM VENCEDOR CHAMADO JOSÉ, 1)

UMA FAMÍLIA NADA EXEMPLAR
As histórias bíblicas não são apenas histórias bíblicas. São histórias de vidas verdadeiras, mesmo quando nos incomodam. São histórias com personagens ainda vivas, mesmo que tenham existido há três ou dois mil anos. São personagens dignas e heróicas, indignas e vergonhosas. São narrativas que nos pedem uma escolha: quem somos na história; com quem honestamente nos identificamos?
A história de José nos fascina, porque José nos fascina. Mas será somos mesmo José? Seremos José, se tivermos que pagar o preço que ele pagou, só porque sonhou?

Eram doze os filhos de Jacó, além de Diná. Eles nasceram de quatro mulheres diferentes. A última a lhe dar filhos, já fora da fazenda do pai Labão, foi Raquel, a preferida de Jacó e por quem trabalhou 14 anos, como nos lembra o lindo poema de Camões. Os dois tiveram dois meninos: José e Benjamim.

Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assi negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida;

Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: – Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!

Lia, que o pai, Labão, lhe empurrara, deu seis homens (Rúben, Simeão, Levi, Judá, Issacar, Zebulom) e uma mulher (Diná) a Jacó.
As duas esposas ofereceram ao bisneto de Abraão duas concubinas, uma prática do mundo antigo. Raquel escolheu Bila, e Bila deu a Jacó dois filhos (Dã e Naftali). Lia escolheu Zilpa, mãe de Gade e Aser. Todos, exceto Benjamim, nasceram em Padã-Harã, para onde Jacó fugira de Esaú e se abrigara na casa do tio e depois sogro Labão.
Depois que Padã-Harã ficou pequena para ele e o sogro, Jacó migrou para Hebrom, com suas quatro mulheres e 13 filhos. Raquel não chegou, porque morreu no caminho, após o parto de Benjamim.
Destes filhos, José foi quem lhe salvou a vida, depois de quase ter morrido. Jacó viveu 147 anos, mas quando estava com 91 anos de idade sua vida mudou completamente por uma briga de família. Seu filho mais novo, Benjamim, era ainda muito pequeno, com seus dez anos. José estava com 17 e tinha um relacionamento melhor com Dã, de, provavelmente, 38 anos de idade, Naftali, de 36, Gade, de 34, e Aser, de 32.
As menores diferenças eram com Issacar e Zebulom, talvez com 28 e 26 anos de idade, mas eles eram filhos de Lia, rival (Gênesis 30.8) de sua mãe. Os outros filhos de Lia eram muito mais velhos; por essa época, por exemplo, Rúben tinha, provavelmente, 48 anos de idade; Simeão, 46, Levi, 42, e Judá, 40. Seu irmão por inteiro, Benjamim, era ainda um junior e não participava das brincadeiras e das tarefas.
Jacó sabia pouco do que ia no coração dos seus filhos. Além disso, não aprendeu com seu pai Isaque, que não se deve preferir filhos. Ele mesmo foi vítima disso e teve que usar de fraude para receber a bênção do pai. Ele não aprendeu que onde há preferência há rejeição. Agora, adulto, fez o mesmo, preferindo José, seu filho com Raquel. E ele não escondia sua predileção e fazia questão de publicá-la. Um destes gestos foi mandar fazer para ele uma túnica especial, bem longa, e logo diferente das dos seus irmãos, que eram túnicas-padrão. Além disso, encarregou José de vigiar o comportamento dos seus irmãos mais velhos. Os padrões de José eram elevados, e seus irmãos eram sempre reprovados. E ele uma pessoa de uma fé inabalável, tal como o pai. Deus lhe falava por meio de sonhos, num tempo em que não havia escritura, nem profecia.
José não era perfeito e, para piorar as coisas, gostava de ser o preferido. Tinha sonhos e, em lugar de guarda para si, contava para quem os quisesse ouvir. O pai, em lugar de ver a revolta estampada nos rostos dos filhos, não viu ou fez que não viu. Em lugar de repreender o filho, ficou calado.
A situação só não explodia, porque Jacó era o patriarca. Ninguém ousava desafia. Seus filhos o preocupavam. O mais velho, Simeão, era violento,  tendo chegado a liderar uma chacina contra a família de um jovem que seduzira sua irmã Diná (Gênesis 34). O que vinha depois, Rúben, era mulherengo, e seduziu uma das concubinas do seu pai (Gênesis 35.22).
Num dia, então, enviou seu filho preferido para ver como estavam os outros no seu trabalho de pastorear o imenso rebanho da família. Eles tinham ido longe. José achou que estavam em Siquém, a 49 quilômetros, mas não estavam; teve que caminhar mais 19 quilômetros, para encontra em Dota.
Enquanto sorria de felicidade, vendo-as a distância, seus irmãos, tomados por um ódio há muito reprimido, planejaram fazer o que não tinham coragem perto do pai: assassina. Só a um faltou a coragem de levar o plano adiante: Rúben deu a idéia menos cruel: vende como escravo e dizer ao pai que ele fora devorado por alguma fera. Nunca mais seriam vigiados e poderiam fazer o que bem entendessem. Nunca mais teriam que ouvir sonhos de grandeza. Nunca mais teriam que conviver com um irmão preferido. Nunca mais veriam sua túnica especial. Nunca mais seriam corrigidos pelo irmão mais novo, que agora vai pagar o preço, porque quem corrige um pecador tem que pagar um preço. Daquele momento em diante, mesmo vivo José estaria morto.
Eles contaram a história da morte que não houve e o pai a engoliu. A narrativa deles era precisa nos detalhes. Até chorar eles choraram.
Durante muitos anos, a mentira se tornou a verdade.

ONDE ESTAMOS NESTA FAMÍLIA?
Esta é, portanto, uma história de muitas personagens. Quem somos nesta história?
Somos Jacó, um pai que faz o que condena? Preterido por seu pai, Isaque, e quase morto pelo irmão Esaú, a quem enganou, Jacó faz o mesmo, preferindo um dos 13 filhos.
Somos Jacó, que não imagina o que a rejeição pode fazer? Se teve 13, devia a amar a todos por igual. Se temos dois, os dois são os prediletos. Se temos dez, os dez são igualmente amados.
Somos Jacó, um pai que não conhece o coração dos seus filhos, incapaz de perceber o ódio que nutriam por um dos irmãos?
Somos Jacó, um pai que alimenta a hostilidade, ao nomear um dos filhos como delator dos outros? Sim, ele fez de José um autêntico dedo-duro.
Somos Jacó, que parecia ter se deixado ficar à deriva, incompetente para liderar ou mesmo agir com sabedoria nas questões essenciais da sua família? (Cf. WALLACE, Ronald. Aí vem o sonhador. São Paulo: Vida, 2004, p. 15).
Somos Jacó, que não percebe que os dez filhos não estão perigo, porque eles é que são o perigo para quem deles se aproxima?

Quem somos nesta história?
Somos os irmãos de José, que deixaram que a herança da inveja lhes travasse a possibilidade de ver na preferência de Jacó uma atitude inadequada, mas não uma rejeição deles?
Somos os irmãos de José, que nutriram tamanho e crescente ódio nos seus corações, que não perderam a única oportunidade que tiveram para eliminar aqueles a quem odiavam, sem lhe dar a menor chance de defesa ou correção de rumo?
Somos irmãos de José, que fizeram da violência o método para a solução das suas divergências? Eles, aliás, já tinham demonstrado sua sanguinolência, na resposta que deram ao problema com sua irmã Diná.
Somos os irmãos de José, que se recusaram a ouvir a voz de Deus para eles e para a família nos sonhos do filho adolescente de Raquel?
Somos os irmãos de José, totalmente absorvidos pelos valores da cultura de seu tempo, esquecidos da fé que receberam do seu trisavô Naor, do bisavô Abraão, do avô Isaque e do pai Jacó?

Quem somos nesta história?
Somos José, capaz de ouvir a voz de Deus no instrumento da época, o sonho?
Somos José, pronto para obedecer a seu pai, mesmo quando este lhe pede para executar uma tarefa duplamente perigosa, porque lançado num caminho cheio de feras para encontrar os corações ferozes dos seus irmãos?
Somos José, desejoso de mais para a si e para a sua família, quando seus irmãos pareciam satisfeitos com aquilo que o pai lhes conquistara?

NOSSA PRÓPRIA HISTÓRIA
Nossas vidas, como a de Jacó, José e seus irmãos, são feitas de heranças. O que faremos com elas?
Nossas famílias são assim.
Nelas alguns são vítimas de violência, das quais jamais se recuperam. Diná sofre uma violência e dela nunca mais se fala, como se tivesse morrido.
Mães dão a luz e morrem. O choro de Raquel no parto de Benjamim ecoa por toda a história de Israel.
Irmãos carregam rancores uns dos outros, ao ponto de não se falarem. Os irmãos de Jacó só se arrependeram três décadas depois da violência que cometeram. (Durante este tempo o remorso lhes corroeu a alma; sim, remorso, porque todo pecado não confessado é pecado não perdoado e pecado não perdoado é dor que se carrega, mesmo em silêncio, na ignorância de Jesus é fiel e justo para, com seu sangue, perdoar todos os pecados.)
Há irmãos nascidos fora da família, que conhecemos muito tempo depois ou jamais conheceremos.
Pais constroem patrimônios, que filhos fazem virar pó.
Pais um dia atentos se tornam relapsos ou por cansaço ou por escolherem seguir os seus próprios instintos.
Filhos dão as costas aos valores aprendidos na família, como se pudessem construir novos valores a partir de si mesmos.
Há filhos trapaceadores como seus pais.
Há padrões que se repetem, como na família dos descendentes de Naor. Abraão preferiu Isaque, em detrimento de Ismael. Isaque preferiu Esaú, em detrimento de Jacó, a quem, enganado, abençoou. Jacó preferiu José, e quase o viu morto por isto. José tentou alterar a bênção que Jacó lançou sobre Efraim, embora Manassés fosse o mais velho.
Há padrões que se repetem. Os irmãos de José planejaram mata. O projeto não era novo na família. O tio deles Esaú intentou matar seu pai.
Sim, há padrões que se repetem, mas para que carregar a síndrome de padrões doentios para o resto da vida, geração após geração?
Há pessoas que condicionam sua felicidade ao ambiente em que vivem. José, e nisto ele é um modelo de vencedor a ser considerado, não o fez. O seu ambiente era de rivalidade, nutrida por preferências e rejeições.
Às vezes lamentamos nascer numa família pobre, mas olha como era a família de Jacó, rica, mas infeliz.
Você acha que o ambiente em que você vive é mais adverso que o de José?
José era feliz, apesar do seu pai, que mergulhou sua família na rivalidade. Assim mesmo, amou o seu pai e cuidou dele até a morte.
José era feliz, apesar de não ter mãe. Ele não fez da orfandade uma caverna para se esconder, uma desculpa para não amar, um trampolim para a fraqueza.
José era feliz, apesar dos seus irmãos. Ele tinha tudo para odiá-los e teve a oportunidade de pagar com a mesma moeda, mas retribuiu generosidade para todos.
José era feliz, apesar de ser detestado por seus irmãos, que odiaram a pessoa errada, pois José não tinha culpa de ser querido pelo seu pai; este, sim, deveria ser questionado.
José será feliz, apesar de sua família heterogênea, com idades,  gostos e religiosidades diferentes, tornando a comunicação bastante limitada.
José era feliz, apesar da sociedade em que vivia, marcada pela sexualidade desenfreada e pela violência desmedida, e foi feliz porque escolheu outro caminho, sem se deixar seduzir pela trilha da moda, pela escolha que alguns de seus filhos fizeram.
José era feliz, apesar de viver num ambiente em que os valores de Deus não eram buscados, como se alguém pudesse viver apenas de experiências espirituais do passado.
Olhamos para José como um vencedor, e ele o foi mesmo. No entanto, suas condições foram as mais adversas, como o são, por vezes, as nossas.

VENCENDO NOSSAS HERANÇAS
Desta história, da qual também participamos como personagens, escrevendo novas histórias, mesmo que jamais venham a ser contadas, aprendemos muito.

1. Aprendemos que espiritualidade, entendida como um relacionamento com Deus, não se transmite. Não há aqui nos bisnetos de Abraão, o pai da fé, uma espiritualidade capaz de ajuda a superarem as adversidades. E fé que não resiste à adversidade não é fé. José aprendeu a bem-aventurança da adversidade, como se tivesse lido o que Tiago escreveu: Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem lhes faltar coisa alguma (Tiago 1.2-4).

2. Aprendemos que, se nos sentimos rejeitados por pai ou mãe ou irmão ou irmão em Cristo, é provável que não mudaremos os corações de quem nos pretere, mas podemos agir como José, que não venceu o mal com o mal (Romanos 12.21) e foi feliz, porque, diferentemente, do que parece, quem paga o mal com o mal se iguala ao mal. Na verdade, todo aquele que faz o mal, mesmo como resposta, odeia a luz e não se aproxima da luz, com medo de que as suas obras sejam manifestas (João 3.20).

3. Aprendemos que Deus anos abençoa em nossa família, não importa como ela é. Não importam as circunstâncias em que nascemos. Se o nosso berço foi esplêndido, saibamos que nele não poderemos ficar para sempre. Cada um de nós tem que fazer seu próprio caminho. Se o nosso berço foi de palha, não estamos condenados à pobreza, porque há um caminho a ser trilhado. O que importa se temos a convicção que Deus está conosco. Se temos esta certeza, vamos entender as palavras do apóstolo Paulo não como conformismo ou derrotismo, mas como alavanca para uma vida saudável: pois aprendi a adaptar a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece (Filipenses 4.11-13). É isto que nos faz forte: a convicção que Deus está conosco. José recebeu aqueles sonhos como um sinal de que Deus estava com ele. Por isto, enfrentou as adversidades impostos por seus irmãos e por seus amigos no Egito como ações de Deus em seu favor e de sua família. Com Deus conosco, até as adversidades convergem para o nosso bem (Romanos 8.28). Não precisamos de condições ideais para uma vida ideal.

MAS NÃO
(Poema)
2Coríntios 4.6-10
Somos vasos de barro que guardam porções
da esplêndida luz  do rosto de Jesus
Que jorrou naquele dia da cruz
Para aquecer agora os nossos corações.

Alvos do amor excelente de Deus,
em tudo vivemos para que a glória seja
Daquele que todo o peso sobre si deseja
Para que não derrube  nenhum dos filhos seus.

Mesmo que venha pesada a tribulação,
nos deixe angustiados a pressão
e perplexos diante de tanta interrogação,
que chegue forte a injusta perseguição
e do mal com força nos bata a mão.

Sabemos que em nós vive o Criador
Para não nos deixar no vale do desânimo
Para não nos deixar no túnel do desespero.
Sempre saberemos que em nós vive o Redentor
Para não nos deixar na curva do desamparo
Para não nos deixar no duro chão da derrota
Sempre temos conosco o nosso Consolador.

2
VENCENDO A SEDUÇÃO DO PRAZER
(Gênesis 39)

José foi um homem cuja vida foi virada pelo avesso varias vezes. Ele saiu de um lar seguro, onde era protegido pelo pai, para  um poço em que foi posto pelo ódio dos seus irmãos. Num gesto de “generosidade”, não foi morto, mas vendido como escravo para traficantes de seres humanos. Depois de uma longa viagem, foi revendido para um membro da elite egípcia, encarregado do sistema penitenciário do país.
E sua vida continuou a mudar. Deus o transformou num rei Midas agradecido. Segundo a mitologia grega, o rei Midas pediu ao deus Dioniso um presente: que tudo o que tocasse fosse transformado em ouro reluzente. E recebeu o que queria: um ramo que arrancou de uma árvore virou ouro. Depois, pegou uma pedra no chão, logo transformada numa pepita reluzente. Quando chegou em casa e tocou as maçanetas da porta, elas também viraram maçanetas de ouro. Sua alegria durou pouco. Na hora do almoço, pegou um pedaço de pão que ficou duro como uma pedra de ouro. Pôs a carne na boca, mas a carne transformada em ouro rangeu entre seus dentes. Quando foi beber o vinho, desceu pela boca um líquido de ouro. Midas acabou amaldiçoando a estupidez do seu pedido e rogou ao deus Dioniso que desfizesse o encanto.  SCHWAB, Gustav. As mais belas histórias da antiguidade clássica: os mitos da Grécia e de Roma. São Paulo: Paz e Terra, 1994, v. 1, p. 101-103.
Com José, foi diferente. Quem o abençoava não era um deus mágico da imaginação querendo ensinar uma lição, mas o Deus real da história, que estava com ele. Por isto, a vida de José continuou a mudar. Misturado à escravaria, ele novamente se destacou. E Potifar, chefe do serviço real de carceragem, destacou-o para servir na sua própria casa. Na mansão, o alto funcionário do faraó do Egito, quando percebeu que o Senhor estava com ele (verso 3) tratou de promove, designando-o como seu mordomo.
O resultado é que, por causa de José, o próprio ministro do sistema prisional foi abençoado, inclusive suas propriedades agrícolas. As coisas iam tão bem que, com o tempo, até a mulher do patrão começou a gostar dele também. Aos poucos no entanto, o olhar dela se desviou de sua competência profissional para sua aparência corporal. Dentro de mais algum tempo, a patroa se apaixonou pelo escravo.
E a vida de José continuou a mudar. Achando que seria fácil torna seu amante, chamou-o, mas o empregado recusou o convite. José continuou na sua recusa, que tornava clara evitando ficar perto dela sozinho. Um dia em que teve que entrar, ela o agarrou, mas, atento e rápido, ele escapou. No entanto, a mulher conseguiu ficar com a sua capa, tendo ele escapulido com as roupas debaixo.
E a vida de José continuou a mudar. Foi fácil para uma mulher de sua posição inventar uma história que incriminasse o mordomo. O marido puniu, então, José, enviando “generosamente” para a cadeia, em lugar de mata em defesa da sua honra.

1. UM CORPO QUE CAI
O caminho da mulher de Potifar pode ser o nosso também. Muitas pessoas, homens e mulheres, têm trilhado a mesma senda do erro. O percurso da mulher de Potifar precisa ser evitado.

1.1. Anatomia da queda
A compreensão da anatomia da sua queda pode nos ajudar a ficar em pé e não cair como ela caiu.

1.1.1. A mulher de Potifar desejou José.
Talvez a mulher de Potifar tivesse hábitos adúlteros e José fosse mais um em sua lista. Talvez, e mais provavelmente, por causa do seu comportamento irresponsável, a mulher de Potifar tenha-se deixado encantar pela conversa e pelo porte físico do hebreu.
Há mulheres e homens assim que, de repente, são tomados por uma paixão arrebatadora, proibida ou não, capaz de levar-lhes a atitudes impensadas, sadias ou não. Não há nada de mais na paixão, desde que ela não controle.
Faltou à mulher de Potifar parar de desejar, porque desejava o que lhe estava interditado. Falta a homens e mulheres na mesma situação a decisão de parar de desejar.

1.1.2. A mulher de Potifar desejou José porque olhou para José.
Ela desejou porque olhou, olhou como não devia olhar. Depois que seu olhar a seduziu, ela tentou seduzir quem não a olhava. Na verdade, a mulher de Potifar deixou que seu olhar conduzisse sua vida. Podia não ser o olhar, porque podia ser o ouvir ou podia ser o ler.
José lhe era querido por seu porte físico e também porque lhe era proibido. Ele era solteiro, mas ela era casada. Ele era um escravo, mas ela era da aristocracia, num tempo em que não havia nenhuma (porque hoje há alguma) mobilidade entre as classes sociais. Para ela, aquela seria mais que uma aventura; seria uma conquista, uma afirmação da sua alegada superioridade.
Por todos estes aspectos, ela não parou de olhar para José, porque esta é a decisão: quem quer parar de desejar tem que parar de olhar. Há sempre convites ao olhar, a porta para o desejar. A campanha dos programas chamados de “reality shows” se firma neste convite: olhe. Há um anúncio na rua com a seguinte provocação para os assinantes de TV paga: “Se você for homem, assine o canal FX”. A publicidade pressupõe que se trata de um canal proibido, exclusivo para homens, certamente com imagens de sexo. Não faltam tentações.
Eis, portanto, o que deve fazer quem deseja o que não deve desejar: não olhe; desvie o olhar. A recomendação de Jesus deve ser entendida em sua radicalidade psicológica, não biológica: “Se o seu olho o fizer tropeçar, arranque-o e jogue-o fora. É melhor entrar na vida com um só olho do que, tendo os dois olhos, ser lançado no fogo do inferno” (Mateus 18.9). Afinal, sabia-o Jesus, são os olhos que iluminam o corpo (Mateus 6.22).

1.1.3. A mulher de Potifar tanto desejou José que planejou seduzi.
Como não parou de olhar, ela precisou realizar o seu desejo. Ela apenas comprovou a lógica perfeita de Jesus: “Qualquer que olhar para uma mulher para deseja, já cometeu adultério com ela no seu coração” (Mateus 5.28).
Para ir além do coração, a mulher de Potifar planejou o ataque. Ela esperou a hora oportuna, quando não houvesse testemunhas para sua traição. A mulher de Potifar ainda tinha algum controle da situação; por isto, conseguiu esperar.
Enquanto esperava, insistia. Ela convidava “José todos os dias” (verso 10). Ela sabia que ninguém resistia uma tentação permanente, insistente e persistente. Ela contava com a fraqueza de José; um dia, ele cederia; uma dia, sua defesa ruiria; um dia, as barreiras desabariam.
Este é o programa da tentação. A mulher de Potifar conhecia a alma humana; só não conhecia a alma forte de José, mas nem todos querem ter almas fortes…
A tentação não enredou José, mas derrubou a mulher. Como José lhe disse “não”, ela perdeu o controle da situação, controle do qual até então se orgulhava. O desejo produz o desequilíbrio interior. Como diz Tiago, “cada um, porém, é tentado pelo próprio mau desejo, sendo por este arrastado e seduzido. Então esse desejo, tendo concebido, dá à luz o pecado, e o pecado, após ter se consumado, gera a morte” (Tiago 1.14-15).
Rejeitada, quis José assim mesmo. Recusada, agarrou, mas só conseguiu reter o seu manto, não o seu corpo. Repudiada, transformou seu desejo em ódio, a verdade em mentira, com o manto na mão. Na verdade, todo pecado inclui a mentira. Faz parte do script de todo pecado. Tente pecar sem mentir; não pecará. Em sua mentira, envolveu o próprio marido. Deve ter vivido o resto da vida com a culpa de ter odiado a quem dizia amar e de ter mentido a quem a amava.

1.2. Anatomia de uma escolha
Por que a mulher de Potifar escolheu este caminho? Suas atitudes eram a face clara da sua intimidade.

1.2.1. A mulher de Potifar colocou o estético acima do ético ao seduzir José.
Para ela, a busca e a vivência do prazer estão acima do dever; o momento vale mais que a duração; o agora não precisa do amanhã.
Sabemos que o estético é fundamental; não dá para viver sem a dimensão do prazer. Sem a contemplação da beleza nenhum humano ser sobrevive. A arte e a religião são lugares privilegiados da experiência do prazer, com a diferença que a religião não descura do dever. A Bíblia, que se lê com prazer, que fala de um Deus que se contempla e nos contempla, nos convida ao equilíbrio, não à negação, entre prazer e dever. O ensino bíblico é que não sejamos como a mulher de Potifar, e o somos quando pomos o estético acima do ético, em qualquer campo de nossa vida, e não apenas na área sexual. Um culto, por exemplo, não é apenas para nos dar prazer, mas também para nos ensinar a viver de modo santo, que é o modo que vale a pena, mesmo quando o modo santo nos põe em rota de colisão com desejos fugazes.

1.2.2. A mulher de Potifar só queria usar José
Para ela, as pessoas são seres ou corpos que podem ser utilizados e, depois, jogados fora;não há dignidade no outro, visto apenas como um objeto de satisfação.
A prova da sua visão pragmática está no fato que, não podendo usar José, acusou-o do que não fez, pondo injustamente em risco a vida do escravo outrora desejado. Ela só queria usar, sem nenhuma vergonha. Para ela, e para muitas pessoas, os fins justificam os meios.
Somos como a mulher de Potifar quando usamos as pessoas, para obter o que nos apraz. Somos como a mulher de Potifar quando tentamos tirar de Deus o que Ele nos pode dar, quando o transformamos numa caixa-de-bênçãos-24-horas, quando Lhe damos as costas por não termos recebido o que tanto pedimos.

1.2.3. A mulher de Potifar usou de sua posição superior para assediar José.
Ela é o chefe que assedia. E ao faze, dão ao outro a impressão que quem cede lhe é igual. No caso de José, ela tentava lhe dizer, ao lhe tentar, que se ele cedesse, deixaria de ser escravo, ascenderia socialmente, trabalharia menos, teria um futuro melhor. A mentira era parte integrante da sua tentação, que era assim mais forte.
Ela é o forte que diminui. Ela é como aquele ou aquela que recebe quem precisa de ajuda e se aproveita desta condição para diminuir o outro, afirmando a sua força pela fraqueza do outro. Há várias maneiras de se abusar do outro; o abuso sexual não é a única violência que se pode cometer. O abuso pode ser emocional, profissional ou espiritual. E todos que estão na condição da mulher de Potifar podem agir como ela.

***
Lendo de novo a história, pode parecer que a mulher de Potifar se saiu bem em sua maldade quase assassina. De fato, a história não lhe segue o itinerário; nada mais sabemos dela. A narrativa termina com a sua vitória e a derrota de José, preso.
No entanto, o texto lhe faz justiça, ao não lhe dizer o seu nome. Ela ficou na história como um ser menor, sem nome, apenas “mulher de alguém”. Seu anonimato pode ser tomado como o epitáfio dos maus, esquecidos como se estivessem mortos (Salmo 31.12). Seu nome, um dia tão em evidência, não pôde ser encontrado (Salmo 37.36). A memória da mulher de Potifar ficou entregue ao esquecimento (Eclesiastes 9.5 — ARA). Não há dúvida: A memória deixada pelos justos será uma bênção, mas o nome dos ímpios apodrecerá (Provérbios 10.7). O justo nunca será abalado e o ficará para sempre na memória (Salmo 112.6), porque o Senhor cuida da vida dos íntegros, e a herança deles permanecerá para sempre (Salmo 37.18).

2. UM CORPO QUE FICA EM PÉ
Não é, no entanto, o que parece. José passa de “rei” (como Midas) a prisioneiro. A prisão parece perseguir o filho de Jacó. Os interlúdios da sua vida são passados nas prisões, piores que o poço de Dota, porque  eram escuras, imundas e úmidas, não tinham banheiro nem banhos regulares de sol, propícias, portanto, ao surgimento das mais variadas doenças. Este sofrimento natural estava acompanhado do terror da possibilidade da morte, que podia ser decretada a qualquer instante. Foi o que José mereceu por ter ficado firme.
Não é que nos sentimos por vezes, ao termos tomado uma decisão certa, por termos ficado ao lado da verdade bíblica?

2.1. Anatomia da firmeza
E por que José permaneceu firme mesmo diante da tentação diária? Em nenhum momento, a sua defesa, diante do perigo iminente, se enfraqueceu. A mulher lhe convidava todos os dias, e como é duro resistir, a um convite persistente, especialmente quando aparentemente tão bom e particularmente quando se tem 20 anos, como provavelmente era a idade do rapaz. Se cedesse, teria a possibilidade de pôr a culpa na mulher; poderia até dizer que cumprira ordens superiores, como aqueles cruéis militares da prisão de Abu Grab.

2.1.1. José se manteve firme porque sabia que Deus é santo.
A chave da sua integridade está expressa no verso 9: como, pois, cometeria eu tamanha maldade e pecaria contra Deus? Ele sabia que Deus é santo. Menos privilegiado que nós, que temos centenas de textos bíblicos a nos afirmar esta verdade, ele o sabia pela tradição recebida e pela própria experiência. Antes de Moisés, ele sabia que o Deus santo quer se relacionar com pessoas santas: eu sou o Senhor, o Deus de vocês; consagrem-se e sejam santos, porque eu sou santo (Levítico 11.24). Consagrem-se, porém, e sejam santos, porque eu sou o Senhor, o Deus de vocês. Obedeçam aos meus decretos e pratiquem. Eu sou o Senhor que os santifica (Levítico 20.7-8) Vocês serão santos para mim, porque eu, o Senhor, sou santo (Levítico 20.26).
Por conhecer a Deus, José sabia do significado do pecado. Ele tinha uma idéia clara do pecado, sem concessão ao relativismo, sem apelo a auto-justificativas. Faltar à honestidade para com o seu senhor era pecar contra Deus. Ceder à sedução da sua senhora era pecar contra Deus.
A força do pecado está em nossa ignorância de quem Deus é. O pecado nos derruba toda vez em que nós usamos adjetivos para torna o que ele não é: um atentado contra Deus. Toda vez que perdemos a noção de que o maior prazer de um ser humano é conhecer a Deus ganhamos a noção de que o pecado não é tão trágico assim. E quanto perdemos esta noção, nos afundamos nele e nos afastamos de Deus.

2.1.2. José se manteve santo porque sabia que Deus estava com ele.
Tudo que lhe acontecia, especialmente a prosperidade em meio à dificuldade, sabia-o José, vinha de Deus.
Seu sucesso no campo gerencial era apenas uma evidência, mas não a única do modo como se sentia amado por Deus. José não percebia o seu trabalho apenas como um ganha-pão, mas como um ganha-almas. Seu trabalho era para abençoar pessoas. Sua vida era para abençoar pessoas.
Sabendo-se amado por Deus, ele não trocaria o amor leal de Deus pelo amor falso de uma senhora da elite. Não precisava do prazer do pecado para suprir as suas necessidades, preenchidas sempre por Deus, que o livrara da morte tantas vezes.
Se Deus estava com ele, seria fortalecido para viver, mesmo que lançado de novo numa masmorra. Apesar de aparentemente vencido, tinha confiança que seria honrado em sua decência, o que ocorreu. Segunda a linda síntese sagrada, José ficou na prisão, mas o Senhor estava com ele e o tratou com bondade, concedendo a simpatia do carcereiro. Por isso o carcereiro encarregou José de todos os que estavam na prisão, e ele se tornou responsável por tudo o que lá sucedia. O carcereiro não se preocupava com nada do que estava a cargo de José, porque o Senhor estava com José e lhe concedia bom êxito em tudo o que realizava (20b-23).
Deus estava no comando de sua vida, mesmo que parecesse que estivesse desamparado e injustiçado.

2.1.3. José se manteve íntegro porque tinha uma visão correta acerca da vida.
Além de sua visão de Deus, José, formoso de porte e de aparência (verso 6b), sabia da efemeridade da beleza. Tinha ele, portanto, uma boa visão de si mesmo. Sabia que não podia dirigir a sua vida pelos seus olhos; não podia ser dirigido por sua beleza; não podia ser conduzido por seus músculos.
Além da insustentável leveza de qualquer beleza, José sabia que desculpas não o eximiriam do seu pecado. Um homem “levado” e “comprado” poderia usar estas circunstâncias para se deixar derrotar pela auto-comiseração (“Já que ninguém gosta de mim, a vida que se dane, a moral que se arrebente; vou é ser feliz agora, nem que seja por um momento. Não me resta mais nada na vida mesmo”). Ceder à mulher de Potifar era sua chance, mesmo que fugidia, de dar a volta por cima ou de parecer que dava a volta por cima…
Se não tivermos uma visão correta acerca de nós mesmos, vamos nos afundar. Vamos nos relacionar com um deus que não existe; vamos nos deixar levar pelas aparências; vamos usar a nossa fraqueza para justificar as nossas fraquezas.

2.2. Estratégias da vitória
A sabedoria deste jovem é extraordinária. Podemos todos nós, não importam as nossas idades, aprender estratégias de vitória sobre as tentações.

2.2.1. José não gostou de ser desejado.
José devia estar emocionalmente fragilizado; sua auto-estima tinha tudo para roçar o chão. Rejeitado pelos irmãos, transformado em mercadoria, tudo o que queria era fazer o seu trabalho. Não tinha nada, nem mesmo sua túnica colorida, dada pelo seu pai. Eis que, então, a patroa o cobiça. Mesmo sabendo que aquele seria um amor impossível, poderia ter se sentido lisonjeado. “Finalmente, alguém olha para mim como gente”, poderia ter pensado. Muitas quedas começam aí. Homens ou mulheres rejeitados são presas fáceis para os sedutores de plantão porque, secretamente também, curtem a curtição.
Se queremos vencer como José, devemos rejeitar o prazer de sermos desejados. Mesmo as admirações secretas devem ser podadas, porque um dia elas podem deixar o segredo e se insinuar. José cortou o mal pela raiz; ele cortou o mal em si mesmo, já que não podia cortar na mulher que o tentava.

2.2.2. José não deixou de viver por causa da tentação.
Para não ser acusado de negligente, José entrou na casa para fazer o seu trabalho. José não ficou paralisado diante do perigo, mas o enfrentou. Ele não tinha escolha. Não tinha outro para ir; aquele era o seu lugar de escravo.
No entanto, ele fez algo notável. Ele evitava ficar perto dela (verso 10). Ele se conhecia o suficiente para saber quem está em pé deve ficar atento para não cair (1Coríntios 10.12). Esta foi sua maneira de resistir ao diabo (Tiago 4.7). E Deus, que é fiel, confirmou sua decisão e o guardou do maligno (2Tessalonicenses 3.3). A promessa divina continua válida. E Deus aguarda que desenvolvamos nossos cuidados, para dificultar a ação de Satanás sobre as nossas vidas; não lhe podemos dar moleza, porque ele está em volta de nós para nos tragar (1Pedro 5.8).

2.2.3. José não perdeu a noção do certo e errado.
Num país estrangeiro aquilo que aprendeu como certo na sua terra podia não valer agora. José não caiu neste erro; ele não confundir verdade com erro; não relativizou o errado. Por mais justificativas que tivesse para o seu ato, não o cometeu, porque manteve uma visão correta acerca do pecado. Ele não trairia apenas o Potifar, mas trairia o Deus que estava com ele.
Em termos mais modernos, não era libertino, achando que o que o corpo faz não tem nada a ver com a alma. Toda a sua vida estava nas mãos de Deus: sua beleza e história; seu corpo e sua mente; seu físico e sua alma. Deus era mesmo o seu Senhor. Tudo o que pensava ou fazia era espiritual. O trabalho era o território da soberania de Deus sobre a sua vida, não apenas um ganha-pão. Seus relacionamentos eram o campo em que Deus agia livremente e ele obedecia prazerosamente.

2.2.4. José não teve medo do preço a ser pago por sua decisão.
Toda escolha tem um preço. Ceder à mulher de Potifar poderia ter um preço, que José não sabia qual, descoberto ou não. Não ceder tinha um preço imediato: a ira da mulher viria sobre ele, como veio.
Fazer o certo não era nutrido pela eventual recompensa. Mesmo que não fosse recompensado por fazer o certo, ele faria o certo.
O preço foi a prisão imediata, mas poderia ser a morte, e a nódoa que ficou sobre a sua biografia. A injustiça nunca foi reparada. A biografia de José ficou injustamente para sempre manchada.
Só lhe importa um julgamento: o de Deus. Mesmo quando José saiu do poço para o topo, dez anos depois, não consta no texto bíblico seguinte que tenha ido buscar Potifar para lhe punir pela injustiça por causa da mentira da sua mulher.
Há um preço pela obediência a Deus a ser pago no tribunal dos homens. No entanto, o que importa mesmo é ser absolvido no tribunal de Deus, diante do qual todos comparecemos a cada dia. Ele parecia ler o que nós podemos, isto é, o apóstolo Paulo nos ensinando: Pouco me importa ser julgado por vocês ou por qualquer tribunal humano; (…) o Senhor é quem me julga. (…) Esperem até que o Senhor venha. Ele trará à luz o que está oculto nas trevas e manifestará as intenções dos corações. Nessa ocasião, cada um receberá de Deus a sua aprovação (1Coríntios 3.3-5).

***
Quem queremos ser?
A mulher de Potifar, sem nome, escrava do desejo, tornado seu deus?
José, com um nome e uma longa história vivida na certeza que Deus estava com ele?
3
VITORIOSO APESAR DO INJUSTIÇA QUE SOFREU
(Gênesis 40)

Firme na sua integridade, José resistiu aos convites da sua patroa e não pecou.
Quando o marido dela chegou, este o mandou para a cadeia, sem o ouvir.
Aparentemente abandonado por seu Deus, só a Quem tinha, José foi de tal modo abençoado na prisão que deixou de ser um número nas celas, recebendo tarefas de destaque, vindo a se tornar o responsável por tudo o que lá sucedia (Gênesis 39.22)..

A BÍBLIA ESTÁ CHEIA DE JOSÉS
José é Abraão, que cuidou do sobrinho Lo como se fosse seu filho, mas teve que vê ir embora e engolir em seco a falta de afeto do rapaz.
José é Moisés, o líder que livra um povo de cativeiro e tem que conviver com esta gente desejosa de voltar à escravidão como se lá fosse bom.
José é Noemi, que perdeu os dois filhos, um a um, e ficou sem consolo e proteção, exceto a companhia de uma nora estrangeira e pobre.
José é Davi, o escudeiro do rei Saul, que nunca levantou a mão ou a voz contra o chefe, que só não foi morto por ele porque Deus não deixa.
José é Abigail, que tem que defender o seu estúpido marido Nabal diante da justa fúria do rei Davi.
José Elias, que teve se refugiar numa caverna para não ser morto, por ter denunciado a idolatria dos reis de sua terra e da falsidade dos deuses que seus compatriotas seguiam.
José é Jeremias, que obedeceu ao chamado divino, mas teve que pagar o preço de passar uma temporada acorrentado numa masmorra por ter dito verdades que não eram suas, mas de Deus.
José é Daniel, lançado como comida aos leões, por não quer tomar a comida que lhe era oferecida, mas que era contrária à sua fé e aos seus valores.
José é Oséias, obrigado a se casar com uma prostituta e ter filhos com ela para mostrar quão adúltero era o povo a quem pregava.
José é Jó, que recebe amigos que, em lugar consola, massacraram-no emocional e espiritualmente para que assumisse uma culpa que não tinha por seu sofrimento.
José é Paulo, que, por pregar a verdade de Cristo, foi açoitado severamente e exposto à morte repetidas vezes; por cinco vezes ele recebeu dos judeus 39 açoites; três vezes foi golpeado com varas, uma vez apedrejado, três vezes sofreu naufrágio, passou uma noite e um dia exposto à fúria do mar. Esteve continuamente viajando de uma parte a outra, enfrentou perigos nos rios, perigos de assaltantes, perigos dos meus compatriotas, perigos dos gentios; perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar; trabalhou arduamente; muitas vezes ficou sem dormir, passou fome e sede, e muitas vezes ficou em jejum; suportou frio e nudez (2Coríntios 11.23-27). E ainda assim tinha que responder a acusações infundadas por falsos irmãos nas igrejas que ele mesmo fundara.
José é Jesus, rejeitado por seus irmãos e traído com um beijo por um dos seus discípulos.

A VIDA ESTÁ CHEIA DE JOSÉS
José é o funcionário demitido porque, após a sua conversão, deixou de acobertar as tramóias do chefe.
José é a moça que perdeu o emprego por resistir ao assédio do patrão.
José é o filho desprezado pelo pai, mas que tem que cuidar dele na velhice.
José é o professor que flagra na cola um aluno e recebe dele a calúnia contumaz como resposta.
José é o prisioneiro acusado e condenado, mesmo sendo inocente.
José é a esposa fiel traída e trocada pelo marido.
José é esposo que trata bem a esposa, mas é maltratado por ela.
José é o pai que dedica a vida ao filho e, no final da sua, é desamparada à solidão.
José é o avô ignorado pelo neto.
José é o amigo abandonado pelo amigo só porque lhe disse algo de que não gostou.
José é o amigo que empresta dinheiro a um amigo num momento e recolhe a inimizade dele para sempre.
José é o filho enganado no testamento.
José é o chefe que investe no funcionário errado.
José é o pobre recebido com desdém.
José é o negro tratado com preconceito.
José é o colega que descobre o quanto estava enganado acerca do seu colega.
José é o patrão que sempre tratou com justiça e respeito a seu empregado, mas este o levou à justiça para granjear um pouco mais de dinheiro… desonesto.
José é o colega transformado em dolorosa escada para o outro subir.
José é o pastor da igreja que adverte pessoalmente um irmão em Cristo do seu pecado e passa a ser solapado por ele.
José é o dizimista a quem um dia faltou o pão.
José é o viciado que não encontrou uma mão para levanta, mesmo entre aqueles que dizem o caminho de Jesus Cristo.
José é o crente fiel que nunca bebeu, mas contraiu um câncer no pulmão.
José, que sempre se lembrou de todos, é esquecido por todos na hora em que mais precisava.

PORQUE JOSÉ VENCEU A INJUSTIÇA
1. José sabia que a injustiça faz parte da condição humana (verso 1).
José conviveu com pessoas que usaram os seus serviços, como acontece conosco em nossas relações de trabalho. José experimentou a realidade de um chefe     que não lhe dava nenhuma importância, tanto que sequer o ouviu quando lhe pedia para se lembrar dele. Na realidade, o copeiro-chefe não se esqueceu de José; é como se, para ele, José não existisse. Era um hebreu sem valor.
Sabemos que essas circunstâncias nos ocorrem também, mas gostaríamos de ser poupados. Chegamos até a ensaiar, como os salmistas, uma defesa: não merecemos passar pelo que estamos passando.
Na verdade, não temos dificuldade em reconhecer que a injustiça existe — afinal, ela está por todos os lados –, mas temos muita dificuldade em aceitar que ela nos alcance a nós. A história de José, esta e tantas outras, são um lembrete desagradável: podemos ser vítimas de rejeições injustas, ingratidões injustas, vinganças injustas, comentários injustos, abandonos injustos, julgamentos injustos, esquecimentos injustos.

2. José sofria com a injustiça, que ficou marcada como uma cicatriz. Ele não fez de conta que a injustiça não existe. Seu confiar em Deus não o levou a negar os fatos. Disse ele, com tristeza: pois fui trazido à força da terra dos hebreus, e também aqui nada fiz para ser jogado neste calabouço (verso 15).
Quando reconhecemos sua existência, podemos perceber que a injustiça é uma poderosa arma da tentação. Ela mina todo o vigor da vida. Para que interpretar sonhos novamente? Para que lutar? Para que ser bom?
A injustiça nos deixa amargos. Por que Deus fez isto comigo? Até quando serei vítima? Meus amigos são injustos em potencial, ou na certeza.
A injustiça nos impede de tentar outra vez. Na vida de José vieram outros sonhos e ele os foi interpretar. Não podemos passar a achar que todos os relacionamentos terminarão em decepção, porque não terminarão. A felicidade de José, mesmo atingida por duros reveses, é uma demonstração disto.

3. José esperava pela justiça. Quando tudo estiver indo bem com você, lembre-se de mim e seja bondoso comigo; fale de mim ao faraó e tire desta prisão (verso 14).
José não se conformou com sua condição. Ele esperava por bondade por parte do copeiro-chefe. Ele esperava o indulto por parte do faraó. Na verdade, enquanto interpretava os sonhos dos outros, não esquecia do seu, o sonho da liberdade. A vida, que lhe era injusta, não acabara.
A Bíblia não ensina o conformismo. A injustiça é pecado, cometido contra a vitima, a quem cabe reagir, desejando justiça, orando pela justiça, agindo para que haja justiça.
Onde houve injustiça, eu devo levar a justiça. A injustiça contra o outro é injustiça contra mim. Devo rever o que Martin Niemöller (1892-1984), um pastor batista na oposição a Adolf Hitler, escreveu, criticando a omissão da igreja do seu tempo: “Primeiro, eles investiram contra os comunistas, mas eu não era um comunista e me calei. Depois, eles investiram contra os socialistas e os sindicalistas, mas eu não era nenhum deles, e me calei. Depois, eles investiram contra os judeus, mas eu não era um judeu e me calei. Quando eles investiram contra mim, não havia ninguém para me defender”.

4. José tinha a certeza que Deus estava com ele. Esta é a razão do triunfo do hebreu. O mundo podia dar as suas voltas, mas Deus estava no controle. Seus irmãos podiam prende no calabouço, mas Deus estava no controle. Seus irmãos podiam comercializa, mas Deus estava no controle. Seu patrão podia mandar para a prisão, mas Deus estava no controle. Seu amigo podia esquece, mas Deus estava no controle. Ele sabia disso por experiência própria: cada injustiça era seguida pela providência divina.
Por Deus estar com ele, José se animou. A tristeza dos ex-empregados do Faraó podia ser uma boa oportunidade. José se aproximou deles. Seu interesse pode ter sido totalmente generoso, mas pode ser parte da estratégia de obter a simpatia dos superiores.
Não deu certo no primeiro momento, mas, no segundo, porque Deus estava com ele, deu certo. Fez a sua parte. Deus também.
Portanto, assim como sabia que Deus podia inspira a interpretar os sonhos, José tinha a convicção  também que Deus estava no comando nos eventos da vida.
Seu poema predileto, podemos imaginar, era o salmo 37: Não se aborreça por causa dos homens maus e não tenha inveja dos perversos; pois como o capim logo secarão, como a relva verde logo murcharão. Confie no Senhor e faça o bem; assim você habitará na terra e desfrutará segurança. Deleite-se no Senhor, e ele atenderá aos desejos do seu coração. Entregue o seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele agirá: ele deixará claro como a alvorada que você é justo, e como o sol do meio-dia que você é inocente. Descanse no Senhor e aguarde por ele com paciência; não se aborreça com o sucesso dos outros, nem com aqueles que maquinam o mal. O Senhor ama quem pratica a justiça, e não abandonará os seus fiéis (Salmo 37.1-7, 28a).
Eis o que devemos fazer: entregar o assunto a Deus e esperar o recibo passado por Ele. O recibo divino é o descanso humano. Devo esta idéia ao pastor Ronald Rutter.José, com seus gestos, entregava a injustiça contra ele a Deus. O resultado foi a vitória.

OUTROS VITORIOSOS DA BÍBLIA
Temos na Bíblia muitos vitoriosos como José.
Abraão continuou se interessando por Lo. Quando o sobrinho foi sitiado por reis inimigos, Abraão o resgatou (Gênesis 14). Quando a vida de Lo e sua família estavam ameaçadas em Sodoma, Abraão intercedeu diante de Deus por eles (Gênesis 18-19), no que foi atendido (Gênesis 19.29).
Moisés, impedido de entrar na terra pelo pecado do seu povo, abençoa o seu povo, com palavras de carinho: O Deus eterno é o seu refúgio, e para segura estão os braços eternos. (…) Somente Israel viverá em segurança; a fonte de Jacó está segura numa terra de trigo e de vinho novo, onde os céus gotejam orvalho. (…) Como você é feliz, Israel! Quem é como você, povo salvo pelo Senhor? Ele é o seu abrigo, o seu ajudador e a sua espada gloriosa (Deuteronômio 33.27-29).
Noemi aceitou a companhia da nora que lhe lembrava tantas perdas e confiou que Deus as abençoaria; quando Rute teve o seu neném, a sogra cuidou dele (Rute 4).
Davi, já nomeado rei, esperou a morte de Saul, a quem protegeu, tomando aquele tempo de fuga do também sogro para afeiçoar o seu coração ao Deus eterno.
Abigail acabou se tornando esposa de Davi (1Samuel 25), a quem pediu por misericórdia quando ainda estava casada.
Elias foi tirado pela voz, em forma de brisa, sussurrada pelo mesmo Senhor que o fortalecera diante dos falsos profetas, enviando-o agora a novas missões (1Reis 19).
Jeremias, que se queixou de ter sido seduzido por Deus, viu todas as profecias, mesmo que dolorosas, cumprindo-se uma a uma (Jeremias 52).
Daniel não foi tragado pelos leões, mas Deus foi exaltado e Daniel prosperou mesmo num reino em que era estrangeiro (Daniel 6).
Oséias entendeu que ele e seu povo eram amados por Deus, mesmo que se afastassem dele (Oséias 11.1-2).
Jó teve nas mãos o destino dos seus amigos, mas em lugar de os castigar, pediu a Deus que os perdoasse, no que foi atendido.
Paulo chegou ao final da sua vida certo que combatera o bom combate (2Timóteo 4.7) e, se que devia sentir orgulho de algo, era de sua própria fraqueza (2Coríntios 11.30).
Jesus olhou para os que se compraziam na sua dor injusta e orou: Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo (Lucas 23.34).

***
Podemos ser algozes, como a mulher de Potifar e o marido ou como o copeiro-chefe.
Podemos ser vítimas, alimentando da dor que a injustiça crava nos nossos peitos.
Podemos ser José, o vitorioso.

4
O PODER DA ATITUDE CERTA
(Gênesis 41)

Estamos sujeitos a acontecimentos bons e ruins na vida. Nossa felicidade não pode estar condicionada a eventos bons, porque não temos como garanti sempre para nós.
A história de José é uma demonstração desta verdade e de como Deus quer que vivamos.

1
DEUS ESTÁ ESCREVENDO UMA HISTÓRIA (versos 1, 8-14, 32, 53 e 54)

Deus estava escrevendo uma história. O Faraó não o sabia. José o sabia, pela fé, embora não conhecesse o conteúdo prévio desta história.
Deus estava escrevendo uma história, mas José estava na cadeia por ter ficado com Deus e se negado sexualmente a uma mulher. Neste tempo, certamente José orou. Na cadeia se tem muito tempo. Ouvindo recentemente o testemunho do escritor Carlos Moraes, que passou vários anos preso, eu me recordei do que me disse um presidiário a quem visitei: eles acordam muito cedo, o que torna o dia muito longo. Dá tempo para esperar a liberdade e dá tempo para orar. Certamente, José esperava a justiça de Deus e orava. É até possível que, algum momento nos dois anos desta prisão, tenha-se desesperado. Deus demorou dois anos para se manifestar e alterar o enredo da história que estava escrevendo…
Deus demorou dois para intervir. Deus demorou dois anos para agir. Deus demorou dois anos para fazer justiça. Deus demorou dois anos para reinstituir a esperança.
Deus demorou dois anos para reavivar a memória do copeiro-chefe. Deus demorou dois anos para vencer o egoísmo de alguém que fora beneficiado por José. Deus demorou dois anos para falar e, quando o faz, Ele o faz por meio de sonhos. E por que o faz por meio de sonhos? Por que naquela época era esta a linguagem que melhor falava ao coração. Os sonhos faziam parte da realidade daqueles povos antigos. Deus sempre fala a linguagem do coração, e num modo que o coração entenda e a razão compreenda.

Deus ainda está escrevendo uma história, cujo enredo não conhecemos, mas como desfecho imaginamos. Nós podemos crer que a história se encaminhar para o bem daqueles que amam a Deus.
Deus ainda fala. Ele fala diretamente por Sua Palavra que inspirou na Escritura ao longo de séculos. Ele fala diretamente por meio de pessoas, que interpretam esta Palavra. Ele fala diretamente por meio da natureza que contemplamos. Ele fala por meio de sons soprados ao nosso espírito pelo Seu Espírito. Ao tempo de José, Deus fala uniformemente, por meio de sonhos. No nosso tempo, Deus falar pluriformemente, por meio da Sua Palavra, por meio dos intérpretes da Sua Palavra, por meio da comunicação aos nossos sentidos, até mesmo da comunicação direta, meios todos que devem ser conferidos com a Palavra escrita dEle. Ele não deixou Sua Palavra, para ser mais uma palavra, mas para ser a Palavra, onde não há confusão nem ilusão nem empulhação.

APRENDAMOS COM JOSÉ A CONFIAR. É como se narrativa dissesse: José ficou aguardando, sabendo que Deus estava escrevendo uma história e, na hora certa, iria agir.

2
MESMO SABENDO QUE DEUS ESTÁ ESCREVENDO A HISTÓRIA, HÁ FATOS NELA QUE NOS ASSUSTAM E QUE DEMANDAM COMPREENSÃO
Governante do maior império do seu tempo, o Faraó teve um sonho que não conseguiu entender, nem seus assessores para assuntos oníricos souberam interpretar (versos 1-8).

O faraó tinha muitos sonhos. Um deles, no entanto, o perturbou. A perturbação veio do fato de não ter entendido nada. Aquele sonho estava fora do seu controle, logo dele que tudo controlava…  Autodivinizado, o faraó se achava acima da possibilidade de ser atingido por coisas ruins.

Também somos alcançados por fatos que nos perturbam. Os sonhos não nos incomodam mais, mas há fatos que nos incomodam e muito. Alguns são persistentes, como o sonho faraônico. Outros são totalmente incompreensíveis. Como podem espigas magras engolir espigas boas? (verso 24). Há coisas nos acontecendo na vida que não podemos explicar.
A vida é feita de revezes. Nela experimentamos tempos de coisas vacas gordas (isto é: tempo bons, que registramos em fotos e filmes); nesse tempo, nunca nos surpreendemos, como se fossem naturais à experiência humana. Às vezes, nem sequer nos lembramos que são dádivas de Deus, porque todas as coisas boas vêm de dEle (Tiago 1.17). Na vida experimentamos tempos de coisas magras (isto é: tempos em que nada dá certo); então, oramos e nos perguntamos por que. Às vezes, nos surpreendemos, como o Faraó, que coisas ruins nos aconteçam.
Podemos e devemos viver de modo a minimizar a ocorrência de fatos perturbadores, como José sempre fez. No entanto, o mundo jaz no maligno Por isto, participamos de fatos que nos incomodam. Não podemos evitar muitos destes fatos, mas devemos ter uma atitude saudável diante deles. Neste caso, Faraó não é exemplo; ele se perturbou.

José, diante de sua própria dor e diante da perturbação do imperador, teve uma atitude sobre a qual vale a pena refletir. Eis o que disse o filho de Jacó: Deus revelou ao faraó o que ele está para fazer. As sete vacas boas são sete anos, e as sete espigas boas são também sete anos; trata-se de um único sonho. As sete vacas magras e feias que surgiram depois das outras, e as sete espigas mirradas, queimadas pelo vento leste, são sete anos. Serão sete anos de fome. É exatamente como eu disse ao faraó: Deus mostrou ao faraó aquilo que ele vai fazer (versos 25-28).
José creu que Deus é um Deus que age. Podia parecer impensável para aquela gente, mas Deus estava acima do Faraó. A história podia parecer sem sentido, mas Deus era o sentido da história e tudo ficaria claro quando Sua ação ficasse evidente para todos, como logo ficaria. José cria que Deus era poderoso, mesmo quando este poder parecia enrolado nas confusas teias da história.
Aprendamos com José a reconhecer a sabedoria e a soberania de Deus.
Diante do poderoso governante, ele responde: “não sei interpretar seu sonho por mim mesmo, mas Deus me usará para explicar este pesadelo para o senhor”.
José sabia que podia contar com o recurso divino para aquela hora tão dramática e tão esperada. Ele ouviu o relato, e também não entendeu nada. A partir do seu reconhecimento, Deus lhe revelou o significado daqueles sonhos, que, no fundo, eram o mesmo. Para José, sonhos eram palavras de Deus. Para nós, os atos da história são gestos de Deus para conosco, mesmo que venham de Satanás, como no caso de Jó.
Precisamos sempre nos lembrar que Deus é soberano. Nossas vidas não estão à deriva. Deus está no comando. Precisamos sempre nos lembrar que Deus é sábio. Por mais que nos autodivinizemos, como fazia o senhor do Egito, pouco sabemos sobre a vida presente, nada sabemos sobre nossa vida futura. Precisamos nos lembrar que podemos contar com os recursos divinos. Para interpretar os sonhos próprios ou alheios, José podia contar com a sabedoria divina. Para conviver com os fatos que nos incomodam e adoecem, podemos contar com a sabedoria de Deus; não estamos sozinhos, mas esta pode ser uma escolha: lutar sozinhos.

3
NA HISTÓRIA QUE DEUS ESCREVE, TEMOS TAREFAS A CUMPRIR.
Para preservar a liberdade humana, Deus escreve sua história entre os homens e entre as mulheres por meio das ações de homens e mulheres.

1. José soube se conduzir de modo certo na oportunidade surgida. (O faraó mandou chamar José, que foi trazido depressa do calabouço. Depois de se barbear e trocar de roupa, apresentou-se ao faraó — verso 14).
A vida é feita de regras e ele não poderia comparecer de qualquer maneira diante do Faraó. Por isto, ele se barbeia e troca de  roupa. Ele cuida de sua aparência, para não parecer um derrotado. Ele se porta com dignidade diante de um alto dignitário. Esta era a oportunidade que Deus lhe dava e ele não iria perde por causa de um desleixo. Não era hora de aparecer maltrapilho para mostrar o quanto estava sendo maltratado. Não era hora de ser vítima. Era de ser vitorioso. Por isto, ele se barbeou.
E ele também trocou de roupa. Talvez tenha tirado o seu uniforme de presidiário e posto alguma roupa guardada há muito tempo. Ele não queria a piedade do faraó. Ele queria usar bem a oportunidade, oportunizada por Deus, aquele que — podemos confiar — escreve a história.
Deus deu a José uma tarefa, e ela começava com uma atitude adequada para a situação.

2. José teve a coragem que a hora demandava. O faraó lhe disse: Tive um sonho que ninguém consegue interpretar. Mas ouvi falar que você, ao ouvir um sonho, é capaz de interpreta. Que peso!  Tantos tinham falhado antes dele. José não tremeu. Antes, respondeu ao poderoso rei: Isso não depende de mim, mas Deus dará ao faraó uma resposta favorável (verso 16). José teve um coragem entusiasmada, vinda de sua confiança em Deus. Não foi petulância.
José teve a dependência que o tornava forte. Ele era forte, mas sua força vinha de Deus. Ele era sábio, mas sua sabedoria vinha de Deus. Ele era paciente, mas sua paciência vinha de Deus. José tinha planos, mas os seus planos eram os de Deus. José tinha uma palavra a dizer, mas diria o que Deus lhe dissesse para dizer. Os homens e mulheres precisam de homens e mulheres de Deus que lhes diga o que fazer. Gente antenada. Gente que estuda. Gente que dependa de Deus. Gente que tenha um plano, o plano de Deus.

3. José demonstrou competência e manteve a integridade quando chegou ao poder (Gênesis 41.41-49) Na história que Deus escreveu, José foi escolhido uma espécie de primeiro ministro do governo de Faraó, que determinou: Entrego a você agora o comando de toda a terra do Egito. Ele se tornou um político. Segundo a narrativa do Gênesis, o faraó tirou do dedo o seu anel-selo e o colocou no dedo de José. Mandou-o vestir linho fino e colocou uma corrente de ouro em seu pescoço. Também o fez subir em sua segunda carruagem real, e à frente os arautos iam gritando: “Abram caminho!”. Assim José foi colocado no comando de toda a terra do Egito. José tinha 30 anos de idade quando começou a servir ao faraó, rei do Egito. Ele se ausentou da presença do faraó e foi percorrer todo o Egito. Durante os sete anos de fartura a terra teve grande produção. José recolheu todo o excedente dos sete anos de fartura no Egito e o armazenou nas cidades. Em cada cidade ele armazenava o trigo colhido nas lavouras das redondezas. Assim José estocou muito trigo, como a areia do mar. Tal era a quantidade que ele parou de anotar, porque ia além de toda medida (Gênesis 41.41-49).
Devemos ser competentes naquilo que fazemos, porque aquilo que fazemos é a ação de Deus no mundo. José fez a sua parte. Depois de empossado, foi inspecionar a terra. Foi pôr o plano de Deus em ação. Deus precisa de homens e mulheres para pôr Seus planos em ação.
Quando um cristão age com competência e integridade, Deus abençoa o mundo, a família, a igreja, a escola. Não é só a igreja que é o campo de atuação de Deus no mundo. Quem mais precisa de graça, que o mundo, a família, o trabalho, a escola?
Quanto à integridade, devemos viver de tal modo que aqueles que nos conhecem possam dizer de nós: Será que vamos achar alguém como este homem, em quem está o espírito divino? (verso 38).
O que fazem os cristãos quando chegam ao poder? O que fazemos os cristãos quando são elevados a um cargo mais elevado ou são eleitos para uma função pública ou quando são escolhidos para um ofício na igreja? Devem fazer como José, mantendo sua integridade, esforçando-se ao máximo para fazer o melhor.
No caso da política, ela sempre implica em negociação e na aceitação de certos condicionamentos. Ele aceitou uma mulher. José experimentou isto, quando teve que mudar de nome e se casar com uma egípcia, em atenção às as regras do “itamaraty da época”. Segundo lemos, o faraó deu a José o nome de Zafenate-Panéia e lhe deu por mulher Azenate, filha de Potífera, sacerdote de Om (verso 45)..
Nenhumas negociações ou nenhuns condicionamentos, contudo, podem flexibilizar os valores absolutos de Deus. Quando temos que negociar, não podemos olhar para baixo, mas para cima, onde Deus está.
O faraó e seu séquito o reconheciam. Tanto é que, quando introduziram José na vida palaciaana, mudaram o seu nome, o que não era muito comum na cultura egípcia: Zafenate-Panéia era agora o seu nome, que, provavelmente, significa “O Deus que fala e vive”.

4
PARA  AGIR DE MODO CERTO, PRECISAMOS DE UMA VISÃO CERTA DE DEUS
José tomou atitudes certas porque tinha uma visão de Deus certa que lhe dava uma visão igualmente correta da vida. Esta visão está clara pelos nomes que deu aos seus filhos egípcios. Diz a Bíblia que antes dos anos de fome, Azenate, filha de Potífera, sacerdote de Om, deu a José dois filhos. Ao primeiro, José deu o nome de Manassés, dizendo: “Deus me fez esquecer todo o meu sofrimento e toda a casa de meu pai”. Ao segundo filho chamou Efraim, dizendo: “Deus me fez prosperar na terra onde tenho sofrido” (Gênesis 41.50-52).
Os nomes Massassés e Efraim não contêm nenhuma referência explícita a Deus, como Daniel, que significa El (Deus) é meu juiz; ou Elias, que significa El (Deus) é a minha salvação; ou Israel, príncipe de El (Deus); ou Samuel, ouvido de El (Deus), entre outros. Quando os egípcios ouviam aqueles nomes não escutavam o nome de Deus, mesmo porque não o reconheceriam, já que Manassés e Efraim eram nomes hebraicos.
No entanto, quando José os pronunciava estava explícito o lugar deles na sua vida e o lugar de Deus nas vidas deles. Manassés significa “aquele que faz esquecer” e Efraim quer dizer “duplamente próspero”. José, ao pronunciar estes nomes, ouvia, respectivamente: Deus me fez esquecer todo o meu sofrimento e toda a casa de meu pai e Deus me fez prosperar na terra onde tenho sofrido.
Esses nomes contêm o segredo de José. Para viver naquela terra, habitação da saudade, ele precisava esquecer a sua própria terra e a sua própria família. Não podia voltar para lá e para eles — esta era uma impossibilidade. E ele os esqueceu, no sentido que não passou os seus dias lamentando as suas perdas. E ele sabia que foi Deus quem fez isto com ele.
Para prosperar naquela terra, estranha terra, ele precisava que Deus o fizesse prosperar. E Deus o fez.
Quando José precisou esquecer, Deus fez que esquecesse. Quando José precisou prosperar, Deus fez que prosperasse.
José tinha uma visão correta de Deus. Na hora do sofrimento, Deus estava com ele. Na hora da prosperidade, Deus estava com ele.
Quando foi caluniado pela esposa do seu chefe, Deus estava com ele. Quando foi esquecido por um amigo, Deus ainda assim estava com ele. Quando compareceu diante do faraó, Deus estava com ele. Quando ascendeu ao poder máximo, Deus estava com ele. Quando lhe nasceram os filhos, Deus estava com ele e lhes deu estes presentes como mais uma manifestação da Sua graça.

***
Qual é a atitude certa, portanto, a ser tomada na vida?

1. Aprendamos, com José, a confiar que Deus está escrevendo uma história conosco e, na hora certa, Ele vai agir. Deus é um Deus que age. Tudo pode parecer sem sentido, mas Deus é o sentido da história.

2. Aprendamos, com José, a viver de modo a minimizar a ocorrência de fatos perturbadores. Aprendamos a desenvolver uma atitude saudável diante daqueles que ainda assim nos alcançam.

3. Aprendamos, com José, a reconhecer a sabedoria e a soberania de Deus. O reconhecimento da grandeza de Deus não serve apenas para nos humilhar mas também para nos capacitar a esperar; não tem sentido esperar num Deus do nosso tamanho, mas faz todo sentido esperar num Deus sábio e soberano, magnífico e majestoso. Busquemos sempre Este recurso. Nunca estamos sozinhos.

4. Aprendamos, com José, a nos conduzir de modo certo nas oportunidades que Deus nos oferece. Isto implica em coragem, competência e integridade. Que nos chamem de Zafenate-Panéia, isto é, que vejam em nós pessoas por intermédio de quem Deus fala e vive, por termos o Espírito de Deus consoco, isto é, por vivermos de acordo, não com o nosso espiritio, mas segundo Espírito de Deus.

Sua vida está dura? Veja se não tem vivido de modo a atrair problemas; se está, peça sabedoria a Deus. Se não está, peça a proteção de Deus. Ele estará com você na aflição; Ele estará com você na prosperidade.
Você está sendo caluniado ou injustiçado? Mantenha a sua confiança que Deus está no controle.
Você tem uma causa na justiça, que nunca é julgada, embora pareça que você vai ganhar? Lembre-se que Deus vai agir, porque Ele sempre age. O seu juízo é justo, embora possa parecer tardio.
Há uma grande oportunidade diante de você? Vá em frente, sabendo que tudo dependerá de Deus.

5
A VITÓRIA DO EQUILÍBRIO
(Gênesis 42-46)

1. JOSÉ CONSPIROU PARA A BONDADE
“Eu sou José, alguém que poderia amar ou odiar, mas que preferiu amar”.

Ele reconheceu seus irmãos vários anos depois de sua venda como escravo. Não sabemos o que se passou no seu íntimo. Um desejo de justiça, agora em suas mãos, pode lhe ter passado pela mente, mas o seu caráter logo se revelou: ele podia ajudar seus irmãos com mais do que o alimento a ser vendido; ele podia trazê-los de volta junto com seu irmão Benjamim e seu pai, se estivesse vivo. Por isto, conspirou (chegando a mentir) para lhes fazer o bem.
Em sua conspiração, não se deu a conhecer. Chegou a lhes falar asperamente, embora, não fundo, quisesse beijá-los e voltar com eles a Canaã.
Depois, acusa seus irmãos de espiões e os detém por três dias, evitando com isto que saíssem pelo Egito e descobrissem a verdadeira identidade dele, o que poderia pôr em risco seu plano. Em seguida, põe-os à prova, para que lhe tragam também Benjamim.
Pouco depois, para demostrar sua severidade, algema Simeão, que participara ativamente do complô para matá-lo e o faz refém (Gênesis 37). Em seguida, despede-os, com uma boa provisão de alimentos, para que voltem a Canaã, mas sem o refém, para se certificar que voltariam.
Algum tempo depois, quando a comida acabou, os nove, agora dez, porque Benjamim estava com eles, retornaram ao Egito. De novo, ele os recebe numa festa, solto o refém. Neste almoço, Benjamim recebe cinco vezes mais alimento.
Só então sua conspiração para a bondade chegou ao clímax. José enche as bagagens dos irmãos, mas põe uma taça de prata na bagagem de Benjamim. Eles partem e José manda persegui-los e descobrirem o falso furto. São trazidos de volta. Trava-se um emocionante diálogo (Gênesis 44.15-34), ao final do qual José revela a sua identidade.
Em toda a história de José não há um momento sequer em que o ódio superou o amor.  Ela forma um contraste com aqueles que conspiram para fazer o mal. Ele conspirou para fazer o bem. Quem conspira para o mal recebe geralmenteo mal. José recebeu o bem (reviu seu irmão, abraçou de novo seu pai e reuniu sua família). Quem faz o bem pode receber o bem. Mas o melhor bem que recebe é fazer o bem.

2. JOSÉ ACERTOU AS CONTAS COM O PASSADO
Eu sou José, alguém livre do passado, mesmo que doloroso.
No Egito, mesmo no topo do poder, José era um estrangeiro sem notícias de sua terra e de sua família.
Havia muitas interrogações na vida de José. Que era feita da sua família? Seu pai tinha morrido? Seu irmão mais novo sobrevivera à companhia dos seus irmãos? A fome tinha chegado lá?
A história de José é a história das famílias que não puderam enterrar seus filhos, mortos pelos governos militares do Brasil, da Argentina, do Chile e do Uruguai.
A história de José é também a história de pessoas cujos passados são pesadelos. Um menino foi rejeitado ainda no ventre, e nunca mais se achou aceito por ninguém. Um cônjuge foi traído, e nunca mais confiou em ninguém. Uma morte de uma pessoa querida é vivida como uma morte que poderia ter sido evitada. Uma oportunidade não aproveitada pende como um espantalho sobre todas as oportunidades. Um filho que se desviou do bom caminho é um outdoor de acusação. Um amor não correspondido é um fantasma que assalta.
José tinha feridas abertas. Por que seus irmãos o odiaram? Teria o seu pai feito algo para salvá-lo?
Quando encontrou seus irmãos e ao não ser reconhecido, talvez por suas roupas oficiais, José se recordou dos sonhos que tivera com os irmãos  (Gênesis 42.9). Ali começou a fechar as feridas abertas da sua vida.
Leiamos o relato destes sonhos (Gênesis 37.5-10):

“Certa vez, José teve um sonho e, quando o contou a seus irmãos, eles passaram a odiá-lo ainda mais.
— Ouçam o sonho que tive”, — disse-lhes.
Estávamos amarrando os feixes de trigo no campo, quando o meu feixe se levantou e ficou em pé, e os seus feixes se ajuntaram ao redor do meu e se curvaram diante dele. Seus irmãos lhe disseram:
— Então você vai reinar sobre nós? Quer dizer que você vai nos governar?
E o odiaram ainda mais, por causa do sonho e do que tinha dito. Depois teve outro sonho e o contou aos seus irmãos:
— Tive outro sonho, e desta vez o sol, a lua e onze estrelas se curvavam diante de mim.

No primeiro sonho, os irmãos de José estavam com ele no campo e, de repente, como feixes, os irmãos se curvaram diante dele. No segundo sonho, os onze também se curvavam diante dele. A profecia continuava pendente, porque só dez estavam ali diante dele. Cf. GOLDBERG, Hillel Goldberg. Joseph’s dreams, Karl’s dreams. Disponível em <http://www.jewishworldreview.com/121097/goldberg1.html> Dentro de pouco tempo, esta parte da história de José deixaria de ser uma veia aberta.
Tido como morto, José estava vivo e tratou os vivos como vivos.
O passado deixou de fustigá-lo. Ele chamou o passado para o presente e resolveu as pendências todas.

3. JOSÉ TEVE EQUILÍBRIO NAS EMOÇÕES
“Eu sou José, alguém amado por Deus”.

José teve força para tratar seus irmãos como se não os conhecesse. (Gênesis 42.7)
Muito emocionado, por duas vezes teve forças para se retirar e chorar em segredo, de modo a não pôr em risco sua conspiração para a bondade (Gênesis 42.24) ou a poder esperar a a hora de se derramar diante do irmão mais novo (Benesis 43.30); nesta oportunidade, chorou e lavou o rosto, controlando-se (Gênesis 43.31).
Quando chegou a hora de se revelar, esgotada a sua resistência, diz a Bíblia que

“A essa altura, José já não podia mais conter-se diante de todos os que ali estavam, e gritou:
— Façam sair a todos!
Assim, ninguém mais estava presente quando José se revelou a seus irmãos. E ele se pôs a chorar tão alto que os egípcios o ouviram, e a notícia chegou ao palácio do faraó. Então disse José a seus irmãos:
— Eu sou José! Meu pai ainda está vivo?
Mas os seus irmãos ficaram tão pasmados diante dele que não conseguiam responder-lhe.
— Cheguem mais perto” –, disse José a seus irmãos. Quando eles se aproximaram, disse-lhes:
— Eu sou José, seu irmão, aquele que vocês venderam ao Egito!
(Gênesis 45.1-4)

O forte José, quando chorou, chorou de verdade.

Pouco depois,

“Então ele se lançou chorando sobre o seu irmão Benjamim e o abraçou, e Benjamim também o abraçou, chorando. Em seguida beijou todos os seus irmãos e chorou com eles. E só depois os seus irmãos conseguiram conversar com ele. Quando se ouviu no palácio do faraó que os irmãos de José haviam chegado, o faraó e todos os seus conselheiros se alegraram”.
(Gênesis 45.14-16).

Quando os depediu para irem buscar as suas famílias, ainda teve o bom humor para recomendar: “Não briguem pelo caminho!” (Gênesis 44.24)

. José não se sentia vítima, embora fosse; ele não desenvolvou a auto-comiseração. Ele não queria que tivessem pena dele.
Diante da dor, podemos nos converter em lágrimas abundantes. José preferiu chorar em determinados momentos, mas seguir firme a sua trajetória de vida.

. José tinha uma auto-estima equilibrada. Ele sabia o seu valor; não era o que pensavam dele que determinaria o que ele ia pensar dele; não era o que lhe faziam que determinaria o que ele faria.
Diante de como somos rejeitados, podemos nos achar zeros à esquerdas, incapazes crônicos. José confiava em si mesmo; sabia, por exemplo, que era capaz de interpretar sonhos.

. José entendeu que a vinganca (mesmo que sob o nome de justiça) é arma para o outro. A José não interessava em encontrar culpados para sua tragédia, deixando este assunto para Deus.
Diante do mal que nos fazem, podemos nos igualar aos maus ou ficar centímetros ou metros acima deles. José preferiu ficar quilômetros acima dos seus irmãos, aos retribuir a maldade com uma imensa e incondicional bondade.

. José cresceu com o sofrimento.
Podemos sair mais fracos ou mais fortes do sofrimento. José saiu forte.

4. JOSÉ COLOCOU DEUS NO CENTRO, NÃO NA PERIFERIA
“Eu sou José, aquele que Deus enviou para uma missão”

O segredo de José está nesta convicção, registrada pelo narrador bíblico:
“Agora, não se aflijam nem se recriminem por terem me vendido para cá, pois foi para salvar vidas que Deus me enviou adiante de vocês. (…) Mas Deus me enviou à frente de vocês para lhes preservar um remanescente nesta terra e para salvar-lhes a vida com grande livramento. (…) Assim, não foram vocês que me mandaram para cá, mas sim o próprio Deus. Ele me tornou ministro do faraó, e me fez administrador de todo o palácio e governador de todo o Egito.”
(Gênesis 45.5,7,8 )

. José passou pelas mais variadas situações, a maioria infelizes, precedendo a vitória. No tempo da derrota, sabia que Deus estava em ação, mesmo que silentemente. No tempo da vitória, sabia que era Deus em ação com o seu megafone.
Deus está conosco sempre.

. José não buscou culpados para suas desgraças, sabedor que Deus as transformaria em graças.
Pessoas nos fazem mal, mas Deus pode transformar estes males em bênçãos, se nós O mantivermos no centro de nossas vidas.

. José se tornou ministro do Egito por sua habilidade de advinhador de sonhos, mas esta habilidade lhe fora dada por Deus.
Temos nossos talentos, como profissionais e ganhamos dinheiro, mas ganhamos dinheiro porque Deus nos deu talentos para ganhá-los.

. José se via como parte do plano maravilhoso de Deus para abençoar as pessoas.
É assim que devemos nos ver.

plugins premium WordPress