Gênesis 40: VITORIOSO APESAR DO INJUSTIÇA QUE SOFREU

Gênesis 40: VITORIOSO APESAR DO INJUSTIÇA QUE SOFREU
(Da série: CRESCENDO COM JOSÉ DO EGITO, 3)
 
(Preparado para ser pregado na IB Itacuruçá, em 27.2.2005, manhã)

Firme na sua integridade, José resistiu aos convites da sua patroa e não pecou.
Quando o marido dela chegou, este o mandou para a cadeia, sem o ouvir.
Aparentemente abandonado por seu Deus, só a Quem tinha, José foi de tal modo abençoado na prisão que deixou de ser um número nas celas, recebendo tarefas de destaque, vindo a se tornar o responsável por tudo o que lá sucedia (Gênesis 39.22)..

TEXTO BÍBLICO
[Gênesis 40]

(1) Algum tempo depois, o copeiro e o padeiro do rei do Egito fizeram uma ofensa ao seu senhor, o rei do Egito.
(2) O faraó irou-se com os dois oficiais, o chefe dos copeiros e o chefe dos padeiros, (3) e mandou prende na casa do capitão da guarda, na prisão em que José estava.
(4) O capitão da guarda os deixou aos cuidados de José, que os servia. Depois de certo tempo, (5) o copeiro e o padeiro do rei do Egito, que estavam na prisão, sonharam. Cada um teve um sonho, ambos na mesma noite, e cada sonho tinha a sua própria interpretação.
(6) Quando José foi vê na manhã seguinte, notou que estavam abatidos. (7) Por isso perguntou aos oficiais do faraó, que também estavam presos na casa do seu senhor:
— Por que hoje vocês estão com o semblante triste?
(8) Eles responderam:
— Tivemos sonhos, mas não há quem os interprete.
Disse-lhes José:
— Não são de Deus as interpretações? Contem-me os sonhos.
(9) Então o chefe dos copeiros contou o seu sonho a José:
— Em meu sonho vi diante de mim uma videira, (10) com três ramos. Ela brotou, floresceu e deu uvas que amadureciam em cachos. (11) A taça do faraó estava em minha mão. Peguei as uvas, e as espremi na taça do faraó, e a entreguei em sua mão.
(12) Disse José:
— Esta é a interpretação: os três ramos são três dias. (13) Dentro de três dias o faraó vai exalta e restaura à sua posição, e você servirá a taça na mão dele, como costumava fazer quando era seu copeiro. (14) Quando tudo estiver indo bem com você, lembre-se de mim e seja bondoso comigo; fale de mim ao faraó e tire desta prisão, (15) pois fui trazido à força da terra dos hebreus, e também aqui nada fiz para ser jogado neste calabouço.
(16) Ouvindo o chefe dos padeiros essa interpretação favorável, disse a José:
— Eu também tive um sonho: sobre a minha cabeça havia três cestas de pão branco. (17) Na cesta de cima havia todo tipo de pães e doces que o faraó aprecia, mas as aves vinham comer da cesta que eu trazia na cabeça.
(18) E disse José:
— Esta é a interpretação: as três cestas são três dias. (19) Dentro de três dias o faraó vai decapita e pendura numa árvore. E as aves comerão a sua carne. (20) Três dias depois era o aniversário do faraó, e ele ofereceu um banquete a todos os seus conselheiros. Na presença deles reapresentou o chefe dos copeiros e o chefe dos padeiros; (21) restaurou à sua posição o chefe dos copeiros, de modo que ele voltou a ser aquele que servia a taça do faraó, (22) mas ao chefe dos padeiros mandou enforcar, como José lhes dissera em sua interpretação.
(23) O chefe dos copeiros, porém, não se lembrou de José; ao contrário, esqueceu-se dele.

A BÍBLIA ESTÁ CHEIA DE JOSÉS
José é Abraão, que cuidou do sobrinho Lo como se fosse seu filho, mas teve que vê ir embora e engolir em seco a falta de afeto do rapaz.
José é Moisés, o líder que livra um povo de cativeiro e tem que conviver com esta gente desejosa de voltar à escravidão como se lá fosse bom.
José é Noemi, que perdeu os dois filhos, um a um, e ficou sem consolo e proteção, exceto a companhia de uma nora estrangeira e pobre.
José é Davi, o escudeiro do rei Saul, que nunca levantou a mão ou a voz contra o chefe, que só não foi morto por ele porque Deus não deixa.
José é Abigail, que tem que defender o seu estúpido marido Nabal diante da justa fúria do rei Davi.
José Elias, que teve se refugiar numa caverna para não ser morto, por ter denunciado a idolatria dos reis de sua terra e da falsidade dos deuses que seus compatriotas seguiam.
José é Jeremias, que obedeceu ao chamado divino, mas teve que pagar o preço de passar uma temporada acorrentado numa masmorra por ter dito verdades que não eram suas, mas de Deus.
José é Daniel, lançado como comida aos leões, por não quer tomar a comida que lhe era oferecida, mas que era contrária à sua fé e aos seus valores.
José é Oséias, obrigado a se casar com uma prostituta e ter filhos com ela para mostrar quão adúltero era o povo a quem pregava.
José é Jó, que recebe amigos que, em lugar consola, massacraram-no emocional e espiritualmente para que assumisse uma culpa que não tinha por seu sofrimento.
José é Paulo, que, por pregar a verdade de Cristo, foi açoitado severamente e exposto à morte repetidas vezes; por cinco vezes ele recebeu dos judeus 39 açoites; três vezes foi golpeado com varas, uma vez apedrejado, três vezes sofreu naufrágio, passou uma noite e um dia exposto à fúria do mar. Esteve continuamente viajando de uma parte a outra, enfrentou perigos nos rios, perigos de assaltantes, perigos dos meus compatriotas, perigos dos gentios; perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar; trabalhou arduamente; muitas vezes ficou sem dormir, passou fome e sede, e muitas vezes ficou em jejum; suportou frio e nudez (2Coríntios 11.23-27). E ainda assim tinha que responder a acusações infundadas por falsos irmãos nas igrejas que ele mesmo fundara.
José é Jesus, rejeitado por seus irmãos e traído com um beijo por um dos seus discípulos.

A VIDA ESTÁ CHEIA DE JOSÉS
José é o funcionário demitido porque, após a sua conversão, deixou de acobertar as tramóias do chefe.
José é a moça que perdeu o emprego por resistir ao assédio do patrão.
José é o filho desprezado pelo pai, mas que tem que cuidar dele na velhice.
José é o professor que flagra na cola um aluno e recebe dele a calúnia contumaz como resposta.
José é o prisioneiro acusado e condenado, mesmo sendo inocente.
José é a esposa fiel traída e trocada pelo marido.
José é esposo que trata bem a esposa, mas é maltratado por ela.
José é o pai que dedica a vida ao filho e, no final da sua, é desamparada à solidão.
José é o avô ignorado pelo neto.
José é o amigo abandonado pelo amigo só porque lhe disse algo de que não gostou.
José é o amigo que empresta dinheiro a um amigo num momento e recolhe a inimizade dele para sempre.
José é o filho enganado no testamento.
José é o chefe que investe no funcionário errado.
José é o pobre recebido com desdém.
José é o negro tratado com preconceito.
José é o colega que descobre o quanto estava enganado acerca do seu colega.
José é o patrão que sempre tratou com justiça e respeito a seu empregado, mas este o levou à justiça para granjear um pouco mais de dinheiro… desonesto.
José é o colega transformado em dolorosa escada para o outro subir.
José é o pastor da igreja que adverte pessoalmente um irmão em Cristo do seu pecado e passa a ser solapado por ele.
José é o dizimista a quem um dia faltou o pão.
José é o viciado que não encontrou uma mão para levanta, mesmo entre aqueles que dizem o caminho de Jesus Cristo.
José é o crente fiel que nunca bebeu, mas contraiu um câncer no pulmão.
José, que sempre se lembrou de todos, é esquecido por todos na hora em que mais precisava.

PORQUE JOSÉ VENCEU A INJUSTIÇA
1. José sabia que a injustiça faz parte da condição humana (verso 1).
José conviveu com pessoas que usaram os seus serviços, como acontece conosco em nossas relações de trabalho. José experimentou a realidade de um chefe     que não lhe dava nenhuma importância, tanto que sequer o ouviu quando lhe pedia para se lembrar dele. Na realidade, o copeiro-chefe não se esqueceu de José; é como se, para ele, José não existisse. Era um hebreu sem valor.
Sabemos que essas circunstâncias nos ocorrem também, mas gostaríamos de ser poupados. Chegamos até a ensaiar, como os salmistas, uma defesa: não merecemos passar pelo que estamos passando.
Na verdade, não temos dificuldade em reconhecer que a injustiça existe — afinal, ela está por todos os lados –, mas temos muita dificuldade em aceitar que ela nos alcance a nós. A história de José, esta e tantas outras, são um lembrete desagradável: podemos ser vítimas de rejeições injustas, ingratidões injustas, vinganças injustas, comentários injustos, abandonos injustos, julgamentos injustos, esquecimentos injustos.

2. José sofria com a injustiça, que ficou marcada como uma cicatriz. Ele não fez de conta que a injustiça não existe. Seu confiar em Deus não o levou a negar os fatos. Disse ele, com tristeza: pois fui trazido à força da terra dos hebreus, e também aqui nada fiz para ser jogado neste calabouço (verso 15).
Quando reconhecemos sua existência, podemos perceber que a injustiça é uma poderosa arma da tentação. Ela mina todo o vigor da vida. Para que interpretar sonhos novamente? Para que lutar? Para que ser bom?
A injustiça nos deixa amargos. Por que Deus fez isto comigo? Até quando serei vítima? Meus amigos são injustos em potencial, ou na certeza.
A injustiça nos impede de tentar outra vez. Na vida de José vieram outros sonhos e ele os foi interpretar. Não podemos passar a achar que todos os relacionamentos terminarão em decepção, porque não terminarão. A felicidade de José, mesmo atingida por duros reveses, é uma demonstração disto.

3. José esperava pela justiça. Quando tudo estiver indo bem com você, lembre-se de mim e seja bondoso comigo; fale de mim ao faraó e tire desta prisão (verso 14).
José não se conformou com sua condição. Ele esperava por bondade por parte do copeiro-chefe. Ele esperava o indulto por parte do faraó. Na verdade, enquanto interpretava os sonhos dos outros, não esquecia do seu, o sonho da liberdade. A vida, que lhe era injusta, não acabara.
A Bíblia não ensina o conformismo. A injustiça é pecado, cometido contra a vitima, a quem cabe reagir, desejando justiça, orando pela justiça, agindo para que haja justiça.
Onde houve injustiça, eu devo levar a justiça. A injustiça contra o outro é injustiça contra mim. Devo rever o que Martin Niemöller (1892-1984), um pastor batista na oposição a Adolf Hitler, escreveu, criticando a omissão da igreja do seu tempo: “Primeiro, eles investiram contra os comunistas, mas eu não era um comunista e me calei. Depois, eles investiram contra os socialistas e os sindicalistas, mas eu não era nenhum deles, e me calei. Depois, eles investiram contra os judeus, mas eu não era um judeu e me calei. Quando eles investiram contra mim, não havia ninguém para me defender”.

4. José tinha a certeza que Deus estava com ele. Esta é a razão do triunfo do hebreu. O mundo podia dar as suas voltas, mas Deus estava no controle. Seus irmãos podiam prende no calabouço, mas Deus estava no controle. Seus irmãos podiam comercializa, mas Deus estava no controle. Seu patrão podia mandar para a prisão, mas Deus estava no controle. Seu amigo podia esquece, mas Deus estava no controle. Ele sabia disso por experiência própria: cada injustiça era seguida pela providência divina.
Por Deus estar com ele, José se animou. A tristeza dos ex-empregados do Faraó podia ser uma boa oportunidade. José se aproximou deles. Seu interesse pode ter sido totalmente generoso, mas pode ser parte da estratégia de obter a simpatia dos superiores.
Não deu certo no primeiro momento, mas, no segundo, porque Deus estava com ele, deu certo. Fez a sua parte. Deus também.
Portanto, assim como sabia que Deus podia inspira a interpretar os sonhos, José tinha a convicção  também que Deus estava no comando nos eventos da vida.
Seu poema predileto, podemos imaginar, era o salmo 37: Não se aborreça por causa dos homens maus e não tenha inveja dos perversos; pois como o capim logo secarão, como a relva verde logo murcharão. Confie no Senhor e faça o bem; assim você habitará na terra e desfrutará segurança. Deleite-se no Senhor, e ele atenderá aos desejos do seu coração. Entregue o seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele agirá: ele deixará claro como a alvorada que você é justo, e como o sol do meio-dia que você é inocente. Descanse no Senhor e aguarde por ele com paciência; não se aborreça com o sucesso dos outros, nem com aqueles que maquinam o mal. O Senhor ama quem pratica a justiça, e não abandonará os seus fiéis (Salmo 37.1-7, 28a).
Eis o que devemos fazer: entregar o assunto a Deus e esperar o recibo passado por Ele. O recibo divino é o descanso humano. Devo esta idéia ao pastor Ronald Rutter.José, com seus gestos, entregava a injustiça contra ele a Deus. O resultado foi a vitória.

OUTROS VITORIOSOS DA BÍBLIA
Temos na Bíblia muitos vitoriosos como José.
Abraão continuou se interessando por Lo. Quando o sobrinho foi sitiado por reis inimigos, Abraão o resgatou (Gênesis 14). Quando a vida de Lo e sua família estavam ameaçadas em Sodoma, Abraão intercedeu diante de Deus por eles (Gênesis 18-19), no que foi atendido (Gênesis 19.29).
Moisés, impedido de entrar na terra pelo pecado do seu povo, abençoa o seu povo, com palavras de carinho: O Deus eterno é o seu refúgio, e para segura estão os braços eternos. (…) Somente Israel viverá em segurança; a fonte de Jacó está segura numa terra de trigo e de vinho novo, onde os céus gotejam orvalho. (…) Como você é feliz, Israel! Quem é como você, povo salvo pelo Senhor? Ele é o seu abrigo, o seu ajudador e a sua espada gloriosa (Deuteronômio 33.27-29).
Noemi aceitou a companhia da nora que lhe lembrava tantas perdas e confiou que Deus as abençoaria; quando Rute teve o seu neném, a sogra cuidou dele (Rute 4).
Davi, já nomeado rei, esperou a morte de Saul, a quem protegeu, tomando aquele tempo de fuga do também sogro para afeiçoar o seu coração ao Deus eterno.
Abigail acabou se tornando esposa de Davi (1Samuel 25), a quem pediu por misericórdia quando ainda estava casada.
Elias foi tirado pela voz, em forma de brisa, sussurrada pelo mesmo Senhor que o fortalecera diante dos falsos profetas, enviando-o agora a novas missões (1Reis 19).
Jeremias, que se queixou de ter sido seduzido por Deus, viu todas as profecias, mesmo que dolorosas, cumprindo-se uma a uma (Jeremias 52).
Daniel não foi tragado pelos leões, mas Deus foi exaltado e Daniel prosperou mesmo num reino em que era estrangeiro (Daniel 6).
Oséias entendeu que ele e seu povo eram amados por Deus, mesmo que se afastassem dele (Oséias 11.1-2).
Jó teve nas mãos o destino dos seus amigos, mas em lugar de os castigar, pediu a Deus que os perdoasse, no que foi atendido.
Paulo chegou ao final da sua vida certo que combatera o bom combate (2Timóteo 4.7) e, se que devia sentir orgulho de algo, era de sua própria fraqueza (2Coríntios 11.30).
Jesus olhou para os que se compraziam na sua dor injusta e orou: Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo (Lucas 23.34).

***
Podemos ser algozes, como a mulher de Potifar e o marido ou como o copeiro-chefe.
Podemos ser vítimas, alimentando da dor que a injustiça crava nos nossos peitos.
Podemos ser José, o vitorioso.

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