SER CRISTÃO
Filipenses 2.1-11
Preparado para ser pregado na IB Itacuruçá, em 2.7.2000 – noite
1. INTRODUÇÃO
Há, nos cristãos, comportamentos e celebrações muito estranhos ao espírito dominante nos que não crêem.
Um deles é uma pessoa (ou grupo) tomar a decisão de deixar o seu conforto (nos planos do lar, da igreja e da pátria) para ir servir a outros povos sem qualquer expectativa de retorno material.
Outro é uma Igreja anunciar, quando faz quando celebra a Ceia do Senhor, que Jesus Cristo voltará para completar seu domínio sobre a história.
Essas ações não passam pelo crivo da emoção (sempre egoísta) e da razão (sempre cética). Estas expressões, no entanto, guardam íntima e evidente relação, como o demonstra a leitura dos primeiros 12 versículos de Filipenses 2.
2. SER CRISTÃO É ESTAR EM CRISTO
O texto bíblico começa por garantir que é certo (se, na verdade, quer dizer: tão certo que, uma vez que) que quem está em Cristo tem dEle uma série de recursos, traduzidos pelas seguintes palavras: exortação, consolação, comunhão e afetos e compaixões.
2.1. Estar em Cristo é aceitar a exortação de Jesus Cristo e confiar na sua consolação.
Esta expressão “exortação em Cristo” pode ser entendida como a companhia orientadora de Cristo. Como é animador saber que Jesus que está ao nosso lado para nos animar em nossa caminhada cristã!
1. No entanto, muitos cristãos querem apenas o Jesus que anima na vida, nunca o Jesus que anima para uma vida nova.
A expressão mais comum é: “que que tem?” Recentemente, uma cantora, que se diz evangélica, defendeu num programa de televisão a sua opção de posar nua para uma revista. “Que que tem? Compra quem quer”. Segundo eu soube, ela não teve resposta quando um pastor lhe disse que “os traficantes dizem a mesma: compra droga quem quer. Ninguém é obrigado”.
Fico imaginando que quando Jesus expulsou os vigaristas do templo de Jerusalém, alguém lhe sussurrou ao ouvido: “Mas, Mestre, que que tem? Só compra com eles quem quer!”. Imagino que Judas quando traiu ao seu Mestre pode ter pensado: “Se eu não o dedurar, alguém vai fazê-lo”.
Ser cristão é ser exortado acerca do erro pela Palavra de Deus. Feliz é o crente que se deixa corrigir.
Por isto, cuidado: se você não se sente exortado por Jesus Cristo, esteja certo que você não é está em Cristo, você não é de Cristo. Talvez você esteja ouvindo Cristo exortar você, mas você não está nem aí. Que tristeza!
Por isto, seja qual for o caminho de erro em que você estiver, por mais delicioso que seja, aceita a exortação de Cristo. Largue esta vida.
2. Há uma outro nível de exortação de Jesus. Ele nos exorta à humildade. Nossa atitude diante das outras pessoas é considerá-las melhores que nós (v. 3). Se ser cristão é ter a mesma atitude de Cristo, foi esta que Ele teve, ao abrir mão de sua divindade, quando nós nos agarramos vaidosamente à nossa humanidade. Tanto nos agarramos a ela que ela parece divina…
Quando vamos ao campo missionário, esteja onde ele estiver (no outro lado da rua ou no outro lado do Oceano), precisamos portar a arma da humildade. Se queremos anunciar a Cristo, devemos nos portar com Ele se portou. Jesus não pensou no que ganharia morrendo pelos pecados dos outros. Por amor, morreu, e não foi uma morte de cinema, feita de sangue de tomate, mas feita de sangue de verdade. Estar em Cristo é ter a mesma atitude de dedicação que Ele teve para com as pessoas.
A palavra que define a atitude de Jesus é: “esvaziou-se”. Para ser humano, ele teve que se esvaziar de sua divindade. De que precisamos nos esvaziar, para termos atitude semelhante à dEle?
Você sabe. Deus sabe. Deixe que Ele o esvazie. Peça que Ele o esvazie de si mesmo, de sua excessiva auto-confiança, de sua soberba, de sua certeza que seus comportamentos errados estão certos ou de seu medo de mudar, de confessar a Ele seus erros, de começar uma nova vida. Ele pode esvaziar você destas atitudes que impedem que você esteja em Cristo, tendo a sua mente.
3. Quando você for exortado por Cristo, estará pronto para ser consolado por Ele. Quando você se esvaziar de você mesmo, você poderá viver a certeza que Jesus voltará para lhe levar com Ele e esta certeza lhe trará um ânimo novo para viver.
Nos versículos 10 e 11, o apóstolo Paulo descreve o triunfo final de Jesus. Sua vitória não é a vitória de um Mike Tyson no ringue, demolindo os derrotados. Sabe qual é a vitória dEle? A nossa vitória: todos vamos dobrar os nossos joelhos diante dEle e com os nossos lábios vamos cantar que Ele é o Senhor. Sabe o que vai acontecer com quem confessar que Ele é Rei? Vai ser rei com Ele.
A certeza que Cristo vai vencer nos estimula a estar nEle. A esperança é o nosso trunfo e triunfo.
Este conforto nos ajuda a passar por todas vicissitudes de nossas vidas. Esta, no entanto, não é uma consolação para o futuro, uma espécie de compensação que nos faz fugir do presente. As aflições existem e não gostam delas. No entanto, nós a vemos sob a perspectiva do futuro, quando triunfaremos. Este triunfo no futuro nos faz triunfar no presente.
Mal comparando, esta consolação de Cristo nos faz entrar em campo sabendo não só que jogaremos (corremos, suaremos, sofreremos) a partida, mas que sairemos vencedores. É como enfrentar um adversário fraquinho. Quando eu jogo pingue-pongue, eu gosto de jogar com crianças. Sabe por que? Eu sei que vou ganhar.
Esta é a consolação de Jesus para conosco por meio do Espírito Santo. Se vamos vencer a morte, que mais poderemos temer?
Quando celebramos a Ceia, tomando o corpo de Jesus, que dizemos se não celebrar que Ele venceu a morte e nós a venceremos também? Quando celebramos a Ceia, anunciando que Ele voltará, que dizemos se não celebrar Seu triunfo?
2.2. Estar em Cristo é participar da comunhão uns com os outros.
Se somos exortados e consolados por Cristo, queremos a comunhão uns com os outros, comunhão esta propiciada (trazida) pelo Espírito Santo de Deus.
Nossa comunhão uns com os outros é conseqüência da comunhão com Cristo. Se não tivermos comunhão com Cristo, teremos relacionamentos uns com os outros mas não comunhão.
Deus nos chama, diz o apóstolo em outro lugar (2Co 1.9), para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo. O Espírito Santo nos capacita para esta comunhão.
1. Todos gostamos de fruir de comunhão uns com os outros, mas nem todos estamos dispostos a cultivar esta comunhão.
Como aprendemos n’O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry (que, por estes dias, faria 100 anos se estivesse vivo), nós somos responsáveis por aqueles a quem cativamos. Somos até capazes de cativar, com gestos e palavras de simpatia, algumas pessoas, até descobrir que elas não são aquilo que gostaríamos que elas fossem.
Por isto, lembra o apóstolo, o modelo de nossa comunhão uns com os outros, é Jesus Cristo. O sentimento dEle deve ser o nosso (v. 5). Ele nunca esperou nada em troca dos seus discípulos. Eles os cultivou. Aquele que duvidou de seus cravos Ele convidou a ser crente. Aquele que o negou três vezes Ele nomeou para apascentar suas ovelhas. Aquele que perseguiu ferozmente seus seguidores Ele tornou seu embaixador especial a muitos povos.
Jesus perdeu tempo com as pessoas e nós devemos fazer o mesmo. Sem esta “perda de tempo” não haverá comunhão, pois que a comunhão se faz com pessoas reais, que tem idéias próprias e comportamento próprios.
2. Quando nossa comunhão é alimentada pelo Espírito Santo de Deus somos capazes de nutrir afetos e compaixões pelos outros, conforme também o exemplo de Jesus Cristo.
O apóstolo Paulo usa algumas estranhas palavras para dizer como devem ser nossos sentimentos para com as pessoas.
Ele fala devemos ter “entranhas” (afetos) em relação aos nossos próximos, próximos a quem devemos tratar com piedade (compaixões).
Quando diz “entranhas”, Paulo quer destacar que nossas atitudes para com os outros devem ser naturais, quase que imperceptíveis, nunca gestos forçados. Somos campeões de misericórdia forçada, talvez por ouvirmos o mandamento de Jesus neste sentido. No entanto, nosso afeto deve decorrer do fato que temos a mente de Cristo, que estamos em Cristo. Não é um sorriso para mostrar que amamos, mas um sorriso porque amamos. Não é um abraço para parecermos afetuosos, mas um abraço de prazeroso amor e interesse pelo outro.
Por isto, enchamo-no da exortação de Cristo e nos firmemos em sua consolação. A comunhão com Ele virá naturalmente. Afetos e compaixões lhe seguirão.
3. CONCLUSÃO
1. Pode ser que você já tenha ido longe demais na sua empáfia. Pode ser que você já tenha ido longe demais na mentira com seu cônjuge. Pode ser que você já tenha ido longe demais no seu envolvimento com pecado, seja ele na área do dinheiro, na área do sexo, na área confiança.
Você não está tão longe, por mais longe que tenha ido, que não pode voltar. Aceite a exortação de Cristo. Ele firmará seus pés no caminho de volta.
2. Pode ser que Jesus Cristo para você seja um deus apagado como um retrato na parede. Pode ser que você tenha se esquecido que Ele está ao Seu lado para lhe confortar. Pode ser que você pouco se importe com o fato de que Ele virá um dia, dia que deve estar muito longe.
Seus conceitos não são tão vazios que você não possa preenchê-los. Deixe-se animar por Cristo. Permita-se participar da comunhão do Espírito Santo. Permita-se vibrar de emoção pela presença dEle em sua vida. Vibre por saber que alguns jovens vão cruzar um oceano para anunciar a morte de Jesus até que Ele venha.
3. Pode ser que você esteja farto das pessoas, fechado em si mesmo, auto-bastante. Pode ser que você não tenha mais nenhum prazer em fazer parte do corpo de Cristo. Pode ser que você esteja cansado de cultuar na Igreja.
Lembre-se que você não está sozinho nisto. Pode ser que acha alguém aqui desanimado precisamente por alguma atitude sua. Mude de atitude, porque Cristo providenciou a Sua Igreja para que todos tenhamos comunhão, entre nós mesmos e nossa com Ele. Quando celebramos a Ceia, celebramos a paz entre os membros do seu Corpo e a esperança na ressurreição dos nossos corpos.