A HISTÓRIA DE UMA SAÍDA
Êxodo 13.17-22
Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 23.4.2000 – manhã))
1. INTRODUÇÃO
1. 1. Narrativa histórica da Páscoa (enquanto saída) judaica (Ex 13 e 14)
1.2. A Páscoa é a síntese do modo como Deus age conosco e como nós devemos proceder em nossas vidas.
2. O NECESSÁRIO DESERTO
Assim como não levou Jesus para a glória, sem antes fazê-lo passar pelo Gólgota e pelo sepulcro, Deus nos faz caminhar pelo deserto.
Foi assim no Êxodo:
(17) Ora, quando Faraó deixou ir o povo, Deus não o conduziu pelo caminho da terra dos filisteus, se bem que fosse mais perto; porque Deus disse: Para que porventura o povo não se arrependa, vendo a guerra, e volte para o Egito; (18a) mas Deus fez o povo rodear pelo caminho do deserto perto do Mar Vermelho, e os filhos de Israel subiram armados (arregimentados) da terra do Egito.
A experiência do deserto é uma experiência necessária.
Diante de nossa tendência à busca das coisas fáceis, Deus nos empurra para as coisas como elas são: densas, tensas, sérias, difíceis, profundas. Só assim compreenderemos a vida como ela é. Deus sabe que buscamos evitar as lutas (como no caso do Êxodo, ao ver a guerra a ser travada, o povo hebreu sentiria a tentação do fácil — a volta para o Egito — esquecido da tragédia que foi sua vida lá). Gostamos de ser protegidos das coisas como elas são, e quando elas vêm, acabamos derrotados por elas. As experiências verdadeiras nos tornam mais próximos do Deus verdadeiro, não dos deuses feitos à nossa imagem-semelhança; dos outros, como eles são, e de nós mesmos, como nós somos.
Só as experiências verdadeiras — sejam elas dolorosas ou não — são valiosas e nos levam a ter comunhão com Ele. A religiosidade não pode ser uma mentira. Se a vida é dura, a vida é dura, e é nela que nos desenvolvemos como pessoas e como cristãos.
Nós precisamos do deserto. Ao mandar Seu povo para o deserto, onde peregrinaria por quadro décadas, antes da chegada ao destino, Deus não estava brincando ou mostrando o Seu poder. Ele estava ensinando seu povo a viver.
Você já caminhou pelo deserto? Não deseje. Se o deserto lhe vier (por falha sua ou pelos erros dos outros), tire o maior proveito da experiência. Cresça.
Você está caminhando no deserto? Procure sair para Canaã, mas enquanto isto, tire o maior proveito da experiência. Cresça. Não fique superficial a vida toda.
Para crescer no deserto, você precisa ter em mente, pelo menos, dois cuidados:
1. Você precisa aceitar que Deus permitiu (ou mesmo determinou) sua entrada no deserto. Pode ser uma enfermidade, que Deus permitiu. Pode ser um desemprego, que Deus permitiu. Pode ser a conseqüência de um erro, que você cometeu e agora paga as suas conseqüências. Pode ser um casamento tenso, em que uma das partes não investe o suficiente para a superação das dificuldades, e você não vê a saída. Seja o que for, saiba que Deus está no controle e que haverá uma saída. Houve uma saída para o povo de Israel, mesmo que o seu horizonte fosse apenas um mar salgado.
2. Você precisa estar preparado para a caminhada no deserto. O livro de Êxodo informa que o povo entrou no deserto armado ou arregimentado (v. 18b). O povo não sabia tudo que iria enfrentar (como ninguém de nós sabe como vai ser a próxima semana de nossas vidas), mas estava preparado. Estava em posição de guerra, se a guerra viesse; estava em condições de se defender, se isto fosse necessário. O povo contava com o cuidado de Deus, o mesmo Deus que lhes instruíra a ter cuidado. Descansar em Deus não é pedir que Ele faça o que pediu que nós fizéssemos. Deus não nos trata como a mãe que arruma a cama do seu filho.
Viver é lutar e devemos estar preparados para a luta. A maioria de nós perde as guerras por despreparo, seja ele espiritual ou intelectual, moral ou racional.
Em seu relacionamento com o Seu povo, Deus era preciso no que esperava. Ele o indica claramente:
Então disse o Senhor a Moisés: Por que clamas a mim? dize aos filhos de Israel que marchem.E tu, levanta a tua vara, e estende a mão sobre o mar e fende-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco. (Ex 14.15-16)
Há hora de clamar a Deus e hora de marchar. Há hora de esperar que Ele estenda a sua mãe e hora de nós estendermos as nossas.
Jesus passou pelo deserto da morte (túmulo), tendo chegado a pedir a Deus que lhe livrasse dela. Por que não podemos passar também pelo deserto? \
Passemos e cresçamos.
3. A COMPANHIA GARANTIDA
Deus nos manda para o deserto, mas vai conosco.
(19) Moisés levou consigo os ossos de José, porquanto havia este solenemente ajuramentado os filhos de Israel, dizendo: Certamente Deus vos visitará; e vós haveis de levar daqui convosco os meus ossos.
José, que levara sua família para o Egito e ali constituíra um povo, experimentou em sua vida, atribulada e vitoriosa, a mão de Deus. Por experiência própria, sabia que Deus continuara com o seu povo e tinha certeza que o Egito não era o lugar do seu povo. Ao pedir aos descendentes que levassem seus restos mortais com eles, estava afirmando a sua esperança. Fez o mesmo que Jeremias que, diante de um exército que chegava para pisar, grilar e destruir, declarou, pela fé em Deus, ainda se compraria casas e se cultivaria vinhedos naquela terra (Jr 32.15), para a qual todos só viam desolação.
Sem esperança (esperança num Deus que age, que cumpre suas promessas), não teremos prazer em cultuar, não teremos força para lutar.
Os fatos narrados a seguir indicam a visitação (a companhia, a sustentação) esperada por José.
Nas quatro décadas seguintes, Deus esteve com eles. Ele não nos manda sozinhos para o deserto.
20 Assim partiram de Sucote, e acamparam-se em Etã, à entrada do deserto. 21 E o Senhor ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem, para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo, para os alumiar, a fim de que caminhassem de dia e de noite. 22 Não desaparecia de diante do povo a coluna de nuvem de dia, nem a coluna de fogo de noite.
Esta é uma das mais brilhantes expressões acerca do agir de Deus para conosco. Se temos uma coluna de nuvem para nos guiar, que mais precisamos? Se temos uma coluna de fogo para nos iluminar, que mais precisamos? Só nos cabe caminhar.
A ação de Deus no passado é uma promessa para o nosso presente!
Ele vai adiante porque conhece o caminho. O povo de Israel, como nós também, precisava de demonstração concreta do carinho de Deus. O povo queria sempre mais, como nós também queremos sempre mais.
Naquele momento, Deus concedeu o que pedia. Este mesmo Deus, por meio de Jesus Cristo, um dia disse que não faria mais sinais maravilhosos, enquanto não houvesse arrependimento (sinal do profeta Jonas — Mt 12.39). Deus vai adiante porque conhece o caminho, mas o caminho é nosso.
Nós não conhecemos o caminho, mas Ele conhece. Nós, diz Paulo, por esta ignorância, não sabemos pedir como convém, mas Ele sabe o que nos convém, interpretando, adaptando nossos desejos (Rm 8.26).
Ele provê os recursos para nos orientar no caminho. Eis o que significa a coluna de nuvem durante o dia. Deus provê os recursos para nos orientar no caminho, mas o caminho é nosso.
Ele provê os recursos adequados para nos dirigir no caminho, mas o caminho é nosso. Eis o que significa a coluna de fogo durante a noite. Deus provê visão quando o túnel está escuro, a noite está densa. Ele provê recursos adequados para nos dirigir no caminho, mas o caminho é nosso.
Ele não pôs uma coluna de nuvem para iluminar a jornada do povo, nem uma coluna de fogo para competir com o sol. Às vezes, pedimos coisas trocadas e ainda reclamamos por não receber!
O capítulo 14 termina de uma maneira magistral:
E viu Israel a grande obra que o Senhor operara contra os egípcios; pelo que o povo temeu ao Senhor, e creu no Senhor e em Moisés, seu servo. (Ex 14.31
4. CONCLUSÃO
Diante das dificuldades, olhemos para cima e vejamos o socorro (Sl 121.1), em forma de nuvem ou de novo, ou em forma de uma voz à nossa consciência como fruto da meditação na Sua Palavra.