Êxodo 3: DEUS É AQUELE QUE SE COMUNICA

DEUS É AQUELE QUE SE COMUNICA
Êxodo 3

Preparado para ser pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 21.5.2000 – noite

1. INTRODUÇÃO
O homem é essencialmente um ser em comunicação. O ser humano sempre conviveu com a comunicação. O mundo foi criado pela Palavra. Quando veio ao mundo para um encontro definitivo, Ele foi chamado de Verbo (ou Palavra). Não existe sociedade sem comunicação. Não existe sequer a pessoa sem comunicação. Nós somos porque nos comunicamos.
Esta é uma marca do ser humano.
Esta característica acabou por gerar, modernamente, os meios de comunicação de massa, por meio dos qual uma pessoa ou um grupo de comunicadores atinge milhões de pessoas ao mesmo tempo. Um jogo de futebol, por exemplo, pode ser visto por todos os moradores da terra que possuem um aparelho de televisão.
Estamos acostumados com isto. Possivelmente todos os presentes aqui tenham um ou mais aparelhos de rádio ou de televisão em casa. Quanto aos aparelhos de televisão, é possível que alguns aqui tenham vários deles em casa, para que cada membro da família possa ver o que quiser
O computador tornou-se essencialmente um meio de comunicação, com a formação da rede mundial de computadores, chamada de internet, por meio da qual podemos conversar com pessoas que não conhecemos e não sabemos onde moram. Se você não tem um, certamente gostaria de ter. Há uma nova geração de pessoas no mundo: os analfabíticos, os que não dominam a cultura dos bits e bytes do mundo digital. Não importa: mesmo que você não domine, ela faz parte da sua vida: está no automóvel, no relógio, no televisor e até na inocente geladeira da cozinha.

2. CARACTERÍSTICAS DA COMUNICAÇÃO DIVINA
Comunicar-se é da natureza humana porque é da natureza divina. Há um texto na Bíblia que indica bem essa natureza comunicativa de Deus. É Êxodo 3.
Nesta seção, aprendemos muito sobre o modo como Deus se comunica, formando muitas vezes um lamentável contraponto ao mundo humano de se comunicar. Se queremos comunicar bem, devemos aprender do Grande Comunicador.
Aprendemos que os quatro elementos essenciais da comunicação são o emissor, o receptor, o meio e a mensagem. É a interação deles que constitui a comunicação. Os seres humanos estão sempre em busca de um receptor para lhe dizer algo através de algum canal. Podemos mudar os recursos tecnológicos, mas o modelo permanecerá o mesmo.

2.1. Deus é um ser que se comunica
Lendo a Bíblia, particularmente o Pentateuco e mais especialmente ainda Êxodo, e Êxodo 3, aprendemos esta primeira verdade. Deus se comunica. Ele não é, como querem acreditar alguns, um ser inalcançável e silencioso. Deus não se fechou em si mesmo, surdo e mudo, inefável e inacessível. A narrativa mostra este Deus travando um diálogo com Moisés.
O grande problema de nosso tempo é que Deus foi silenciado. Os meios de comunicação foram transformados em deuses. Agora que tem a voz do bezerro, o homem não precisa mais da voz de Deus.
Há pessoas que colocam uma mordaça na boca de Deus para Ele não falar. Essas pessoas se esquecem que é da Sua natureza falar, relacionar-se, comunicar-se, apresentar-se. Essa é a natureza do ser humano, mesmo que alguns prefiram se isolar (fechar-se) em si mesmas. Quem procede assim está negando a imagem-semelhança de Deus.
É claro que há riscos na comunicação. Deus mesmo participou inteiramente deles. Seus profetas não foram compreendidos. Seu Filho foi morto por propor um novo tipo de comunicação entre as pessoas e o Pai. Deus correu o risco e nós devemos fazer o mesmo.

2.2. O emissor divino toma a iniciativa de se comunicar com o receptor
Mais que apenas se comunicar, o emissor divino toma a iniciativa de entrar em comunhão com o ser humano. Faz parte da sua perfeição relacionar-se com a imperfeição para transformá-la.
Depois de ter criado o homem, Deus pretendeu estar sempre em comunicação com ele. Segundo nosso texto, Moisés não estava nem aí para Deus. Apenas tocava o rebanho do sogro, numa vida possivelmente pacata. No entanto, apareceu-lhe o Anjo do Senhor (v. 2) e então teve início uma revolução na vida líder de ovelhas e vacas, que tornaria o líder de uma nação emergente.
O emissor divino diminuiu de estatura para falar de igual para igual com o receptor humano. Ele faz sempre assim. O apóstolo Paulo nos diz (Fp 2) que, na encarnação, Deus se fez homem e, achado na forma de homem, chegou a ser morto como homem.
O emissor divino converteu seu idioma indecifrável de Deus num idioma que Moisés pudesse entender: o hebraico. O emissor divino se despiu de sua glória majestosa e se transformou num anjo (isto é: mensageiro) para que pudesse ser ouvido. O emissor divino abriu mão de sua má, para falar as necessidades de Moisés e do povo que iria libertar.
Deus saiu do seu pedestal (plataforma elevada) para que pudesse ser ouvido, entendido e compreendido. Deus faz assim, por mais que por vezes você o considere um Rei desconhecido, como o achava equivocadamente o poeta Fernando Pessoa.
Deus sabe que o homem não o sabe encontrar; por isto, vem ao encontro do homem. Deus pediu a Moisés que o apresentasse como aquele que tinha encontrado seu povo (v. 18). Ele está a sua procura para entrar em comunicação com você, comunicação profunda e transformadora. O mesmo Deus que disse “Moisés! Moisés!” quer proferir o seu nome. Pare de ficar procurando-o. Deixe que Ele o encontre. Deixe-O falar.

2.3. O emissor divino usa recursos diversos para se comunicar conosco
Se pudéssemos resumir em três palavras os recursos essenciais da comunicação, diríamos que são a palavra, a imagem e a marca. São elas que nos seduzem. É por ela que chegamos aos outros.
Conhecedor de nossa natureza, o Grande Comunicador usa esses mesmos recursos. Neste texto, nós temos a palavra, a margem e a marca.
A palavra aqui é a palavra oral direta. Na comunicação interpessoal, as vozes encontram os ouvidos e chegam ao cérebro e ao coração. Deus tem uma “fixação” especial pela palavra oral. Falando ele criou o mundo: “faça-se”. Falando, ele criou o homem. Ele falou por meio de anjos. Ele falou por meio de profetas. A fé, não por acaso, vem pelo ouvir. Deus fala e espera que o ouçamos.
As palavras, por muitas, podem se perder. Deus, entanto, usa as imagens. Neste texto, há três muito ricas: a sarça, a sandália e a terra santa.
A sarça foi uma imagem tão forte, que teve o efeito de um espetáculo por si só. Deus usou um símbolo, gravado em fogo, para atrair a atenção de Moisés. No meio da floresta, aquela flor ficaria esquecida, como um produto numa gôndola de supermercado, se não fosse animada pelo fogo. A flor, como se animada por Hans Donner, tornou-se uma grande tela de televisão, diante da qual os olhos de Moisés sequer piscavam. Deus, pois, usou uma imagem viva para falar a Moisés e mudar a sua vida.
Deus usou outra imagem: a sandália. Um calçado é mais que uma imagem, pelo seu uso concreto. No entanto, Deus a utilizou para que Moisés percebesse sua condição e o que iria lhe acontecer a partir daquele encontro.
Deus usou uma terceira imagem: a da terra santa. Aquela terra não era santa; era uma terra como qualquer outra. A partir daquele momento, Deus deu àquela terra um novo atributo: o adjetivo da santidade. Para pisar nela, só sem sandálias. Moisés precisava se descalçar, para se encontrar com o Fundamento da existência humana. Só haveria comunicação quando Moisés se descalçasse de suas certezas e de seus preconceitos. Enquanto estivermos com as nossas sandálias, não conseguiremos ouvir a voz de Deus nos chamando pelo nome.
Além da palavra e da imagem, Deus deixou a sua marca. Moisés lhe perguntou o nome, mas Deus respondeu: EU SOU O QUE SOU. Comunica-se quem consegue transformou seu nome numa marca. Temos aprendido isto na comunicação contemporânea. As marcas valem mais do que seus produtos. A marca “Coca-Cola” vale mais que todas as fábricas, xaropes e garrafadas juntas. Deus não se permitiu fetichizar. Por isto, não disse seu nome, apenas sua marca, e que marca poderosa.
Num mundo de muitas vozes, imagem e marcas, somos convidados a escutar/ver/alcançar Aquele que se comunica.

2.3. O emissor divino fala a partir de um lugar concreto
Por que Moisés ouviu a palavra, viu a imagem e percebeu a marca de Deus? Por que Deus foi eficiente na sua comunicação? Sim, mas não somente por isto.
A forma impressionou Moisés, mas o que tocou profundamente foi o conteúdo da mensagem. Este conteúdo apontava para um Deus que tinha uma história. Sua palavra/imagem/marca já fora ouvida/vista. percebida por Abraão, Isaque e Jacó. EU SOU O QUE SOU não era uma marca inventada numa agência de publicidade, mas estava inscrita nas vidas de pessoas, famílias e clãs. Deus não é uma idéia vaga, inventada por alguém.
Deus não tinha acabado de surgir para lhe conquistar. Antes, era e é um ser eterno, “doido” para comunicar plenitude de vida às pessoas, que Ele conhece porque as criou. Ele não vai desaparecer como um site (ou sítio) na internet. Seu e-mail não vai mudar. A mensagem enviada a Ele não volta, mesmo que você erre na hora de grafar o endereço.
Que certeza poderia ter Moisés que Deus faria aquilo que disse faria? Moisés foi chamado a olhar para a marca EU SOU O QUE SOU, marca conhecida por sua mãe Joquebede, por seu avô Levi, por seu bisavô Jacó, por seu trisavô Isaque e por seu tataravô Abraão.
Hoje, temos mais. Temos Moisés e todos os que vieram depois dele e experimentaram o encontro, que Deus deseja ter conosco também hoje.

3. PARA COMPLETAR O CICLO
Há uma última característica da comunicação divina, que merece um tópico em separado, porque diz respeito ao receptor. A comunicação divina demanda uma resposta.
Deus se apresentou e perguntou a Moisés:
— O que você tem a dizer?
A comunicação de massa é unilateral. Na comunicação de massa, o máximo que se pede é que se assista. A única resposta, diante do televisor, é deixá-lo ligado ou desligá-lo. Só isto (que dá a audiência) importa; sua opinião não tem a menor importância.
A comunicação mediada por computador (internet) permita um grau maior de interação. No entanto, você pode mandar 100 e-mails e receber dez respostas. Você pode fazer um site convidando à interação e ninguém participa. Mantenho uma página na internet com indicações e comentários sobre livros. Umas 200 pessoas por semana entram nela; umas duas me dizem alguma coisa. Minha comunicação não exige resposta.
A comunicação divina é diferente. Diante dela, eu respondo: quero ou não quero. Como o conteúdo é a vida, aceito-a ou a recuso. Quando Deus se apresentou a Moisés, ele fez um convite: “eu vou tirar o povo de Israel do Egito e escolhi você para ser o general. Você aceita?” É assim conosco. Jesus Cristo disse que veio ao mundo para trazer uma vida transbordante às pessoas. Não dá para ficar passivo; há que se ser interativo. Uns querem esta vida; outros, não. Espero que você esteja entre os que respondem “sim”, como Moisés fez.

4. CONCLUSÃO
Assim como o emissor divino não é mudo, o receptor humano precisa escutara sua voz.
Assim como o emissor divino não é surdo, o receptor humano precisa falar. Deus sempre nos ouve. Ele não é uma máquina que simula um diálogo.
Chega de comunicação sem encontro. Aquele que se comunica é Aquele que nos chama para o encontro.