Jeremias 32: HISTÓRIA COMO MISTÉRIO

HISTÓRIA COMO MISTÉRIO

Jeremias 32

Uma vez por ano devemos (re)ler Jeremias 32. A história é conhecida: diante dos caos em que se tornou Jerusalém, Deus determinou a Jeremias que fizesse um negócio imobiliário. Mesmo que nossas vidas, pessoais ou instituiconais, não estejam caóticas, podemos aprender o que Deus quis ensinar a Jeremias e, obviamente (como é tudo na Sua Palavra), a nós.
Nesta narrativa, misto de história e profecia (como é o caso da esperança autenticamente cristã), encontramos três perspctivas diante da história.
A primeira é a do saudosista, que é que acha o passado sempre melhor que o presente. Em termos práticos, o saudosista, talvez (mesmo que não o saiba) é tributário da teoria cíclica da história, quer de volta o tempo que se foi, como se isto fosse possível. Jeremias foi vítima desta visão saudosista, que afirmava a perenidade da glória de Jerusalém. Por comodidade, os príncipes e o povo se esqueceram, embora bem alertados, que as promssas de Deus acerca desta perenidade eram condicionais: se o povo fizesse a sua parte, a glória de sua nação seria para sempre. Embora não tenha cumprido o que lhe competia, aquela gente achava que a história se desenveria numa espécie de piloto automático…
Outra visão da história é a futurista, segundo a qual o tempo que virá será sempre melhor que ontem e que hoje. O progresso é inevitável. Não importa o que façamos, dias melhores virão. Por causa desta visão dominante, ainda hoje senhora na mente de muitas pessoais, especialmente por causa dos avanços da tecnologia, Jeremias foi desprezado, porque disse — que ousadia irresponsável!) que o futuro imediato (bem próximo) seria muito ruim, embora o futuro mediato (mais distante) viesse a ser bom, e  não por causa dos homens, mas por causada das inexauríveis misericórdias divinas.
A terceira, e adequada, visão é a realista. Para o realista, o presente é o melhor dos tempos, porque é fruto do passado e projeta o futuro. O realista, como Jeremias, sabe que a história é o resultado dos atos de Deus e dos homens num diálogo permanente: Jeremias, por conhecer a história e estar em diálogo com Deus, pôde ser profeta, tarefa a que somos chmados também.
Assim, precisamos conhecer o passado, para entender o presente e projetar o futuro.  Nossa ignorância acerca de nós mesmos impede que façamos melhor o que temos por fazer. Valorizar este conhecimento implica em celebrar datas, preservar documentos, registrar as vozes e as imagens dos que vieram antes de nós, entre outros cuidados. Os cuidados que Deus mandou que Jeremias e seu primo Anatote tomassem são uma indicação do valor da memória histórica. Lembrar o que Deus faz, escreveu Jeremias no seu outro livro, alimenta-nos a esperança.
Enre outras verdades, Deus quer nos ensinar, em Jeremias 32, que Ele é o Senhor da história (Jeremias 32.42; cf. Salmo 46.10), não o político de plantão, o país da vez, a ideologia da onda ou a certeza da moda, por mais evidente que soe e por mais perene que pareça.
Deus nos mostra, de modo concreto, com documentos registrados em cartório, que nunca há motivo para a desesperança, mesmo no presente difícil (Jeremias 32.17, 27). Como escreveu Manoel Avelino de Souza, em meio a uma borrasca na sua igreja (a Primeira de Niterói, RJ), mesmo tendo por lutas passado, o Senhor nos tem livrado. Quando os documentos de Jeremias se tornassem público outra vez, passado o trator de Nabucodonozor, o povo entenderiam Quem Deus é.
Deus nos indica que Ele garante o futuro e espera a nossa parte (Jeremias 32.19). O livro da história do mundo é escrito a quatro mãos: as de Deus e as nossas. Nós digitamos a história, mas o teclado é dado por Deus. Por um destes mistérios insondáveis da graça de Deus, é assim, com a nossa parceria, que Ele revela o seu absoluto senhorio sobre a história (sim, todo o joelho vai se dobrar e toda a língua vai confessar… ); é assim, nesta dependência, que realizamos a liberdade com a qual nos dotou.