Mateus 6.33: O QUE É ISTO, A FELICIDADE? (esboço)

O QUE É ISTO, A FELICIDADE? (esboço)

Mateus 6.33

Pregada na Igreja Batista do Recreio, Rio de Janeiro, RJ, em 5.7.1997

1. INTRODUÇÃO
O que é isto, a felicidade?
A exacerbação da preocupação com a felicidade em nossos dias, em que tomou um sentido espetacular. É como se o homem dissesse: “avançamos tanto e não conseguimos o essencial, que é ser feliz”.
Há duas dimensões:
. uma em função da sobrevivência individual. Daí: felicidade, para quem não tem nada, é ter o mínimo. (O caso do morador de rua que queria ganhar um salário mínimo.) O conceito do que é básico pode variar, mas será sempre básico. Jesus, por exemplo, fala de três necessidades básicas: comida, bebida e vestuário (v. 25), mas nós temos criado outras. [Pequena enquete: de que você não viveria sem?]
. outra em função da realização individual. Daí: felicidade, para quem pelo menos o básico mas se sente como se fosse nada, é ser.

2. O CONCEITO COMUM DE FELICIDADE
tempo/recursos (corpo [saúde], dinheiro e dom)
preencher o tempo

O que é ser feliz (ou razões pelas quais nos inquietamos normalmente)?
. É ter saúde. Não é. Paulo tinha um espinho na carne (talvez um problema de saúde) e era feliz. Diante da doença, as pessoas têm diferentes reações: desde exasperar-se a conviver com ela.
. É ter dinheiro (e o que ele possibilita, do necessário ao status: alimento, viagens). Não é. A propósito, a Bíblia contém 500 versículos sobre oração, menos de 500 sobre fé e mais de 2000 sobre dinheiro.
. É ter reconhecimento (prestígio) dos pares ou da sociedade (fama). Não é.
. É ter conhecimento (sociedade da informação, e o poder/prazer que disto decorre). Não é.
. É ocupar o tempo pessoal (televisão, música, espetáculos).

A essência de uma visão pagã é esperar das “demais coisas” ou dos “tesouros” (cf. a expressão de Jesus) que elas preencham o vazio essencial.
Enquanto os “gentios” procuram “estas coisas” (v. 32) como se fossem o sentido da vida, somos convidados a buscar em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça.

3. O CONCEITO JESUÂNICO DE FELICIDADE
3.1. Mas (=pois)
Ser feliz é ser e viver diferente de como o resto do mundo é e vive. A proposta de Jesus é radicalmente diferente, pois é feita por aquele que não se curvou (como nós, às vezes, fazemos) às três tentações de satanás (honra, poder e dinheiro).

3.2. Buscar o Reino de Deus e sua justiça primeiro
. buscar = viver intensamente por; não é uma frase de fé (decorada), mas uma expressão de vida (experienciada). Não uma religião sem compromisso.
. primeiro = opção de vida, tornando Deus o número 1, das coisas simples às mais complexas. É ter o serviço a ele como prioridade.
. Reino de Deus = trata-se da soberania de Deus sobre todas as áreas da vida.
. justiça do Reino de Deus = seu modo de fazer as coisas, que é diferente do nosso (que é ansioso); justiça que é a antítese da aparência (que é a marca de nossa cultura).

Em resumo: viver no Reino é deixar Deus ser rei (estar no controle) de nossas vidas.
Poder-se-ia objetar: o convite de Jesus se explica pelo contexto da ética do ínterim. Ok, mas nossa vida não um ínterim (no sentido de que é breve e se encontra entre JÁ e o AINDA NÃO do Reino de Deus)?

3.3. O acréscimo das outras coisas
O princípio básico: as primeiras coisas primeiro = Deus primeiro
Felicidade é saber que as demais coisas virão. O sentido não é material, o que difere da teologia pagã da prosperidade, que já estava presente ao tempo do salmista Davi, que também se preocupava com a  prosperidade dos ímpios, gigantesca se comparada a modéstia (pobreza) dos santos.
Muitos igualam riqueza material ou bênção física com qualquer tipo de bênção de Deus em função de um comportamento justo, de modo que quem não tem saúde ou prosperidade financeira é porque esta desagradando a Deus. Os amigos de Jó tinham esta teologia. Se fosse assim, Deus devia estar muito aborrecido com o apóstolo Paulo. já que passou por diferentes formas de sofrimento e privação.
Cf. Pv. 23.4: Salomão recomenda a que ninguém se fatigue para ser rico. À luz de Deus, quem procede assim definhará (perderá a sua vida) para alcançar esta meta, que é ilegítima. Materialismo é explicar a natureza do mundo como totalmente dependente da matéria, a realidade última. Materialismo não é apenas a preocupação material mudana com dinheiro e posse, mas viver como se Deus não existisse.
Trata-se de uma promessa, mas não de um contrato (não amarramos Deus com a opção de buscar primeiro seu reino e justiça). Trata-se de um promessa baseada tão-somente na misericórdia de Deus.

4. CONCLUSÃO

Israel Belo de Azevedo