Efésios 4.7,11-13: QUAL É O SEU DOM?

QUAL É O MEU DOM?
Efésios 4.7,11-13

Pregado em Itacurucá, em 15.11.1998, noite

1. Introdução
Dois males têm afligido a igreja: o sacerdotalismo e carismatismo. Ambos, no fundo, propõem a mesma idéia-força: existem pessoas especiais na igreja. E ambos estão em flagrante oposição à prática e à teologia do Novo Testamento.
O sacerdotalismo é uma projeção do Antigo Testamento e pressupõe que há um mediador entre os homens e Deus. Jesus detonou essa teologia, ao se apresentar como sendo este Mediador, que significa, na verdade, que não existe mediador humano, uma vez que Ele é Deus. Assim mesmo, é parte da fragilidade humana supor que não pode se chegar diretamente ao Pai.
O carismatismo, no sentido que está sendo empregado aqui, é uma suavização do sacerdotalismo, ao afirmar que Deus dá dons a algumas pessoas na igreja.
O resultado da permanência deste modo não cristão de ser cristão é a constituição de duas classes de crentes: os que edificam e os que são edificados. O que edificam edificam sempre e os que são edificados são edificados sempre.
Não se está a negar que Deus concedeu apóstolos, evangelistas, pastores e professores à igrejas, mas a se afirmar que a obra da edificação da igreja é um ministério de todos os crentes. Como escreveu o apóstolo Paulo, a tarefa dos dons é colocar os crentes em condições de edificar juntos o corpo de Cristo, cuja cabeça é o próprio Cristo e que a todos capacita.
Deus capacita pessoas diferentes para aspectos diferentes da edificação do seu corpo. As necessidades deste corpo são supridas pelo exercício de todas as suas partes. Um músculo esclerosado faz doer o corpo todo.
Na igreja, pois, não pode haver os que edificam e os que são edificados. Todos edificam e todos são edificados. Se você apenas edifica, há algo errado com o seu dom. Se você é apenas edificado, você deve procurar pelo seu dom.

2. A cada um de nós a graça foi dada segundo a medida do dom de Cristo (v. 7).
2.1. Dom, no sentido cristão, diferentemente do que pensamos, não é uma habilidade natural para fazer algo, como cozinhar, escrever, jogar futebol ou tocar piano. É uma concessão sobrenatural de Deus a nós, para dar sentido à nossa vida e ao universo. Nos vv. 8,9 e 10, o apóstolo Paulo resume o ministério de Jesus Cristo, concluindo por mostrar sua autoridade sobre nossas vidas.
2.2. Todo cristão, verdadeiramente cristão (isto é: regenerado), tem um dom. Por isto, é bom recordar que uma igreja é formada não por aqueles que freqüentam uma igreja, mas por aqueles que foram regenerados por meio da fé pessoal em Jesus Cristo. [Convite ao arrependimento] Portanto, a cada membro do corpo de Cristo é dada uma capacidade específica para o serviço. Todo o propósito de sua vida está relacionado ao dom de Cristo para ele, se de fato ele quer que sua vida seja plena de valor. Quando estes dons e capacidades são exercidos no poder do Espírito, os membros da igreja novamente se tornam uma influência vital, transformadora e poderosa na sociedade e a vida cristã se torna interessante e não uma coisa banal.
2.3. É uma prerrogativa do Espírito Santo distribuir estes dons segundo sua vontade. Se você é um cristão, você tem um dom, pelo menos um. Logo, você não precisa perguntar se tem um dom, mas qual é ele.

3. Os dons que Ele deu (v. 11)

3.1. Só há um Quem ministra: Jesus, que nos dá dos dons. É Ele quem nos capacita. Só há uma estratégia para o crescimento: a distribuição de dons.
3.2. Estes dons são funções, mas pessoas: apóstolos, profetas, evangelistas e pastores [ou pastores-mestres] (v. 11). Estes dons são estabelecidos pelo Espírito Santo como parte de um processo para desenvolver e coordenar o ministério da edificação do corpo de Cristo.

3.2.1. Apóstolo é aquele que declara toda a verdade acerca de Jesus Cristo. Quem procede assim é o fundamento da igreja. Aquilo que o apóstolo diz sobre Jesus Cristo é que é o fundamento da igreja. E isto já está registrado no Novo Testamento. Nenhum outro pode ser colocado (1Co 3.11). A verdade está em Jesus (Ef. 4.21). Não há outro evangelho (Gl 1.6-7). É a presença deste fundamento que dá autoridade e força à igreja.
Todos somos chamados a ser apóstolos. Nossa igreja está precisando de fundamentos. A igreja está precisando de apóstolos, compromissados tão somente com o Evangelho e capazes de, por sua vida, inocular a fé nas igrejas, nas igrejas jovens e nas igrejas antigas, neste tempo de líderes vaidosos (preocupados tão somente com suas causas e negócios e, às vezes, vidas escusas), que colocam os fundamentos em si mesmos.

3.2.2. Profeta é aquele conforta os incomodados e incomoda os acomodados. Seu trabalho é interpretar a Palavra, visando torná-la clara aos ouvintes e levá-los a viver segundo esta Palavra. Literalmente é aquele que faz brilhar a Palavra de Deus e não a si mesmo. Sua meta é edificar, encorajar e confortar (1Co 14.3).
Todos somos chamados a ser profetas. Nossa igreja está precisando de intérpretes capazes de entender o mundo para transformá-lo a luz do Fundamento, que é Jesus Cristo.

3.2.3. Evangelista é aquele preocupado em que as pessoas se iniciem na vida cristã. Para tanto, ele explica o plano salvador de Jesus Cristo e proclama as verdades que produzem o novo nascimento.
Todos somos chamados a ser evangelistas. Nossa igreja está precisando de proclamadores do amor Deus, com suas vidas e com suas palavras.

3.2.4. Pastor-mestre é aquele que se preocupa em orientar, ensinar, fortalecer, aconselhar (pessoalmente) os santos. Sua meta é manter a firmeza da fé.

3.3. Estes dons são necessários à sobrevivência da igreja.
Estes dons não são necessariamente para pessoas ordenadas, mas pessoas capacitadas a exercê-los.
Estas funções nada têm a ver com ministérios remunerados. O grande apóstolo Paulo fazia tendas para sobreviver em boa parte de sua vida.
O ministério da edificação do corpo de Cristo não é um trabalho para pastores. É um  trabalho para cada membro deste corpo. Quando a igreja faz isto, ela cumpre seu ministério e se edifica. Do contrário, o cristianismo acaba se tornando num espetáculo a que se assiste.

4. À estatura de Cristo (v. 13)

4.1. O exercício destes dons faz parte de um processo de crescimento que culmina na perfeição. O ministério da edificação do corpo de Cristo não pertence a nenhuma classe de pessoas. Se há algumas pessoas colocadas como líderes (remuneradas ou não), a tarefa delas é pôr todos os crentes em condições de desenvolver seu ministério.
O texto, como está, pode dar a idéia de que cumprir o ministério e edificar o corpo de Cristo podem parecer coisas diferentes. Não! O ministério é a edificação do corpo.

4.2. Quando os crentes se envolvem neste ministério, eles crescem juntos. O crescimento só é crescimento quando é junto, isto é, proporcional, concomitante. Nenhum membro do corpo (humano) pode crescer mais que o outro (se não, fica um aleijão).
Este crescimento não tem fim terreno. Só vai terminar no céu, quando seremos como Cristo é.

5. Conclusão
Ninguém tem todos os dons, mas todos têm um dom.
Jesus aboliu o clero e o laicato. Em certo sentido, somos todos leigos (povo) de Deus.
Portanto, o seu dom é fazer o corpo de Cristo crescer. Quando isto acontece, você cresce.
Com que dom você faz o corpo de Cristo crescer?

plugins premium WordPress