Mateus 5.4: CONVITE AO CHORO

CONVITE AO CHORO
Mateus 5.4

Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 9.8.1998 – noite

1. Introdução
Qual foi a última vez que você chorou? A minha foi aqui, sentado naquele banco, quando recebemos a notícia de que nosso então pastor tinha preferido o ínvio caminho do pecado. Muitos de nós choramos.
O choro faz parte da condição humana e só não existirá depois da morte, quando Deus enxugará todas as lágrimas humanas (Ap 7.17). A história bíblica é uma demonstração desta verdade.
Choramos de alegria por algum reencontro, como nos casos da reconciliação entre Jacó e Esaú (Gn 33.4) ou entre José e seus irmãos (Gn 42.24; 43.30; 45.2,14; 46.29; 50.1,17), ou por se estar fazendo a obra de Deus (Sl 126.5,6). Este tipo de choro é excepcional e não precisa de consolo.
Choramos de tristeza, pela perda de alguém, como Abraão em relação a Sara (Gn. 23.2), como Davi em relação a Jônatas (2Sm 1.26) e a tantas outras perdas, pois ninguém chorou tanto na Bíblia quanto Davi (1Sm 20.41, 2Sm 1.17; 3.32; 13.36; 15.23,30; 18.33), e como Jesus diante do túmulo do seu grande amigo Lázaro (Jo 11.35).
Choramos de amargura diante de uma derrota, como Ana que não conseguia engravidar (1Sm 1.7), ou de um engano, como Esaú ao descobrir que fora enganado pelo irmão (Gn 27.38).
Choramos de pesar diante de uma realidade que nos soa trágica, como Neemias diante da destruição do seu país (Ne 1.4) ou de Jesus diante do pecado de Jerusalém (Lc 19.41).
Choramos como resultado de um ato de contrição diante de Deus, como Ezequias à beira da morte (2Re 20.3; Is. 38.3), como Pedro diante do reconhecimento do pecado de ter traído a confiança do seu Senhor (Mt 26.75; Mc 14.72; Lc 22.62).
Será que todos estes que choraram foram consolados? Nem todos. Esaú, por exemplo, chorou e não foi consolado, porque a amargura tornou-o cego para o amor de Deus. O choro de remorso (como o de Judas) não é consolado
Nem todo choro é bem-aventurado porque nem todo choro será consolado. O que quer dizer, afinal, esta bênção?
Nela há algo do consolo de Deus aos que sofrem, mas não nos parece que os que assim chora(ra)m sejam bem-aventurados. [Quanto ao choro que vem do sofrimento dele trataremos numa série a ser iniciada no penúltimo domingo de setembro, à noite.]
Que choro será consolado?

2. Serão consolados os que choram diante da beleza da mensagem de Jesus.
Possivelmente quando Jesus proferia suas bem-aventuranças o povo chorava diante de tanta profundidade, seja em termos de sabedoria de vida, seja pela revolução de vida proposta. Ele falava e o povo chorava. Aquelas lágrimas eram bem-aventuradas que produziram um novo estilo de vida. Sem espera por um messias (Deus), sem medo de presente, sem medo do futuro, com um sentido para a existência.

3. Serão consolados os que choram diante da majestade de Deus.
A Bíblia registra vários episódios de pessoas que se encontraram com Deus e tiveram a sensação de que iriam morrer, tamanha a glória sentida. É assim até hoje que devemos vê-lo, conquanto a glória tenha se transformado em graça. Não podemos banalizar Deus.
Maria foi abençoada por chorou aos pés de Jesus, como reconhecimento do senhorio dele sobre a sua vida (Lc 7.38).

4. Serão consolados os que choram por não conseguirem alcançar os padrões do Reino de Deus.
Imaginemos o público palestino ali ouvindo os alvos de Deus para suas vidas e as pessoas chorando por estarem longe daquelas verdades. Aquele choro seria consolado.
O choro bem-aventurado é o choro de tristeza de quem não vê o Reino de Deus se realizando por causa da maldade dos homens.

5. Serão consolados os que choram de arrependimento diante do próprio pecado.
O Reino não se realiza por causa do pecado dos homens. Quando eu me filio a este grupo e também me vejo pecador, só me resta chorar de arrependimento.
O arrependimento não é uma atitude negativa, de negação do pecado, de recusa à vida no pecado, mas é uma disposição positiva para uma volta a Deus.
Podemos pensar em dois tempos para o arrependimento. O primeiro é o arrependimento primordial: aquele de tomar uma decisão radical por Deus, depois da percepção do nosso carecimento fundamental, o da sua graça. Há muitos aqui que já fizeram esta escolha.
O segundo tempo é o arrependimento quotidiano, que se celebra a cada dia, a cada consciência de pecado cometido. Podemos pensar naqueles que, alcançados pela graça, vivem uma vida dupla (sem pureza como um propósito, acostumado na duplicidade) ou uma vida relaxada (sem alvos na vida).
Se você ainda não fez uma opção por Deus, arrependa-se. Disponha-se para uma nova vida, não mais sozinho, mas agora com Cristo para sempre. Quando você o fizer, lágrimas verterão de seu coração. Estas lágrimas serão consoladas. O profeta Joel nos diz como devemos ir a Deus: “Convertei-vos de todo o vosso coração, e isso com jejuns, com choro e com pranto” (Jl 2.12).
Se você já fez, veja seja leva uma vida dupla ou relaxada e chore. Seu choro será bem-aventurado.
Quando nada mais parece adiantar, a gente senta no chão e chora. Quem faz assim é porque resolveu desistir de lutar sozinho, reconhece que não adianta mais e aceita a mão de Deus. Arrepender-se, no fundo, é descansar em Deus.

6. Conclusão
Cuidado com o medo de chorar, como se isto não fosse para os fortes e para os racionais.
Cuidado com a cultura do choro (carpideiras, choradeiras profissionais). Os que choram por qualquer coisa.
Choremos diante da beleza da mensagem de Jesus.
Choremos diante da majestade de Deus.
Choremos por não conseguirmos alcançar os padrões do Reino de Deus.
Choremos de arrependimento diante do nosso pecado e dos nossos pecados.

Se não chorarmos, seremos escravos de nós mesmos. Se chorarmos, seremos consolados.