Mateus 5.9: CONVITE À PAZ

CONVITE À PAZ
Mateus 5.9

Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 23.5.1999 – manhã

1. INTRODUÇÃO
Nestes dois milênios houve no mundo cerca de 14.553 guerras. Nos últimos 40 anos, mais de 100 anos estiveram envolvidos em algum tipo de conflito.
Na Primeira Grande Guerra morreram 54 milhões de pessoas. Na Segunda Guerra as vítimas fatais chegaram 38,5 milhões. Por ano, morrem em média no mundo 4,5 milhões de pessoas.
O mundo gasta mais dinheiro com armas do que com qualquer outra coisa. As despesas com pesquisa sobre armas são seis vezes superiores ao despendido com pesquisa sobre saúde. O chamados Terceiro Mundo gasta 66% mais com despesas militares do que com educacionais.
Atualmente (1999) há 40 conflitos bélicos no mundo: 14 na África, 9 na Europa, 4 no Oriente Médio, 12 na Ásia e 1 na América Latina.
No entanto, o desejo de Deus é a paz (o verdadeiro projeto de Deus). Este desejo está expresso numa utopia: a convivência pacífica entre o lobo e o cordeiro (Is 65.25).
Há 400 referências à paz na Bíblia.
A paz pode ser definida como ausência de conflito (guerra) entre pessoas e povos, como serenidade de espírito (tranqüilidade) individual ou ainda como bem-estar (físico, material e espiritual), que é o sentido da palavra hebraica shalom. A paz é o contrário do mal (Sl 34.14).
No entanto, preferimos tomá-la simplesmente como comunhão entre pessoas e entre o homem e Deus.

2. PORQUE A PAZ É DIFÍCIL
Esta comunhão é difícil porque:
. a violência (o mal) é natural (derivada de sua natureza, como ensina Freud, conquanto ele tivesse em mente tanto a pulsão criativa quanto a destrutiva) na condição humana (anatomia da destrutividade) em decorrência do pecado.
. paradoxalmente, o homem concebe a força como a sua forma para a obtenção da paz. O que é a guerra, senão a busca da paz, com a destruição do adversário? É por isto que a solução pela violência ou pela força é uma tentação permanente.
. nós concebemos o outro como inimigo (Sartre), empecilho ao nosso bem-estar; para termos paz, precisamos superar (ou eliminar) o outro.
. fracassamos porque tentamos fazer a paz por nós mesmos.

Como algo contrário à nossa natureza, desistimos ao primeiro obstáculo. Nossa paz é aquela que o mundo dá, feita de medo e terror, haurida no egoísmo e no voluntarismo (a crença de que basta a minha vontade para que as coisas aconteçam), portanto sempre provisória e tensa.

3. PARA QUE HAJA PAZ
Paz não é ausência de algo, mas presença de algo: presença de justiça. É o resultado positivo de pessoas que se submetem à justiça de Deus. Por isto, somente experimentaremos a paz quando jogarmos fora nossas armas e também nossas atitudes egoístas e nos submetermos à justiça de Deus. Só então a justiça e a paz se beijarão (Sl 85.10).
A paz é uma dádiva de Deus, já que naturalmente não somos capazes de fazê-la. Por isso, na oração sacerdotal é Deus quem no-la dá Nm 6.26. Jesus nos dá a paz, paz diferente da do mundo (Jo 14.27). Temos paz quando somos justificados por Deus (Rm 3.17).
Deus tem planos de paz para nós, e nós os vivenciaremos se buscarmos a Deus de todo o nosso coração, afirmando-o como aquele que nos concede a paz (Jr. 29.11-13).
Somos embaixadores de Cristo em seu ministério da reconciliação. A paz acontece quando Deus está no controle. Deus é a fonte da verdadeira paz e aqueles que são seus filhos são portadores desta paz.
O verdadeiro pacificador ajuda outras pessoas a terem paz com Deus. Antes de fazer isto, porém, ele mesmo precisa ter esta paz com Deus, que significa ter a Cristo como Salvador e estar em comunhão com Ele.

3.1. Dimensão psicológica:
Eu tenho que estar em paz comigo mesmo (o ataque aos outros como forma de defesa)

3.2. Dimensão teológica:
Eu  tenho que crer na paz como projeto de Deus (sua ausência é ataque direto a Deus). Se não a busco, não sou filho de Deus

3.3. Dimensão prática:
Eu tenho que ser instrumento da paz (pacificação), orando por ela, promovendo-a, esforçando-me.

Devemos buscar a paz em nossa cidade, como instruiu Jeremias a seu povo (Jr 29.7).
Ao procurarmos a paz, fazemos a obra de Deus e refletiremos Sua imagem. A bem-aventurança não esclarece se os pacificadores serão chamados de filhos de Deus pelo próprio Deus ou pelas pessoas. É possível que por ambos: pelas pessoas que nos consideram filhos do Pai e por Deus que nos chama de filhos. Este é o prêmio para quem é um pacificador.

4. CONCLUSÃO
Toda paz é de Deus (Is 45.7). Só há paz onde há a presença de Deus (Nm 6.26).
Você é um pacificador ou criador de conflitos. Vivemos num mundo cheio de problemas. Não há como fugir a esta realidade. Precisamos fazer nossas escolhas.
Seja a nossa escolha a mesma expressa na oração de Francisco de Assis, do século 13.

Senhor, fazei-me instrumento da vossa paz
Onde houver ódio, que eu leve o amor
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão
Onde houver discórdia, que eu leve a união
Onde houver dúvida, que eu leve a fé
Onde houver erro, que eu leve a verdade
Onde houver desespero, que eu leve a esperança
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
O mestre, fazei que eu procure mais consolar do que ser consolado
Compreender do que ser compreendido
Amar que ser amado
Pois, é dando que se recebe
É perdoando que se é perdoado;
E morrendo que se vive
Para a vida eterna…