1CorÍntios 11.24-29: DIMENSÕES DA CEIA DO SENHOR

DIMENSÕES DA CEIA DO SENHOR

1Coríntios 11.24-29

1. Por Que Cultuamos? (A dimensão da confissão)
Cultuamos a Deus para confessar a Ele os nossos pecados.
Como não devemos participar desta Ceia? O apóstolo Paulo responde a esta pergunta do seguinte modo:

De modo que qualquer que comer do pão, ou beber do cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice. Porque quem come e bebe, come e bebe para sua própria condenação, se não discernir o corpo do Senhor. (1 Co 11.27-29)

Pelos meus cálculos, batizado que sou há 35 anos, participei de uma cerimônia como esta umas 270 vezes. Se neste tempo, estivesse em Itacuruçá, o número superaria as 400 vezes, posto que aqui há 12 celebrações por ano. De quantas Ceias você já participou? Faça as suas contas.
Na igreja apostólica, a celebração era dominical. Era parte da festa do ágape (festa do amor fraternal), quando se reuniam todos na igreja para uma refeição comunitária e litúrgica. Cada família levava de casa a sua bebida e a sua comida. A última parte desta festa era a participação na Ceia do Senhor.
Era assim na igreja em Corinto. A beleza da festa, no entanto, estava manchada por alguns que não entendiam a natureza da igreja, o “corpo do Senhor” (v. 29).
Alguns havia que levavam de casa e guardavam sua comida, não a distribuindo entre os outros, mesmo que estes não tivessem o que levar. O apóstolo Paulo adverte aos egoístas, que não estavam discernindo (entendendo) o corpo do Senhor, pelo que toda a sua participação redundava em condenação para si mesmos. Era preciso, portanto, que cada um examinasse o seu comportamento e, se estivesse no erro, arrependesse-se, confessasse-se e então participasse da segunda parte da festa (a Ceia, propriamente dita).
Era comum que durante a primeira parte da festa as pessoas bebessem o vinho que tinham levado. Alguns bebiam até ficar embriagados. Esses não entendiam a natureza da vida cristã, que consiste na moderação. Como poderiam participar, bêbados, da Ceia do Senhor? Era preciso que, também no tocante à bebida forte, comum na cultura judaica, que cada um examinasse o seu comportamento e, se estivesse no erro, arrependesse-se, confessasse-se e então participasse da Ceia memória de Jesus Cristo.
Estes erros, pelas características da Ceia moderna, não são os nossos. No entanto, a advertência de Paulo se aplica inteiramente a nós: não devemos participar de modo indigno da Ceia do Senhor.
Este memorial pede, pois, de nós uma reflexão acerca do modo como nos apresentamos hoje diante de Deus.
Em outra seção desta mesma epístola, Paulo adverte duramente contra a prostituição e recomenda que uma pessoa, culpada de prostituição, fosse afastada da igreja. Ao fazê-lo, ele faz um convite de grande valor (1Coríntios 5.7,8).

O fermento velho, podemos aplicar, é a culpa. Há pessoas que se deixam levedar (e o fermento leveda toda a massa, diz o apóstolo — 1Co 5.6) pelo fermento velho. Essas pessoas se esquecem que Cristo já foi crucificado e querem se crucificar constantemente para expiar suas culpas. Nosso culto, que é celebração, procede da cruz, onde Cristo apagou todas as nossas culpas.
Se cultuássemos a nós mesmos, celebraremos a malícia (maldade) e a corrupção. De nós, só há um requerimento: arrependimento.  Quando o fazemos, participamos do culto com os pães ázimos (isto é: pão sem fermento) da sinceridade e da verdade.
É com sinceridade e com verdade que devemos participar desta Ceia. Examine-se a si mesmo e participe. Com sinceridade e verdade. Não peça perdão por uma multidão de pecados, mas por algum pecado específico, que só você sabe. Revele-o a Deus agora.
Se, portanto, descobrir agora que não está em condições de participar da Ceia (seja por causa da prostituição, seja por um profundo sentimento de culpa, seja pela dificuldade de respeitar as pessoas como poemas de Deus), ponha-se em condição: confesse os seus pecados a Jesus, arrependa-se do seu erro, seja ele qual for, e venha participar da Mesa de Deus. Examine-se, não para não participar, mas para participar. Examine-se e se arrependa, com sinceridade e verdade, e participe.
Confesse agora os seus pecados a Jesus. Peça-Lhe para vir limpar o seu coração, como convida a canção que vamos entoar. Depois, ore em silêncio e vá direto ao coração de Deus.

2. Por Que Cultuamos? (A dimensão da gratidão)
O pão que temos nas mãos nos lemra que cultuamos a Deus para agradecer a Ele o que fez/faz por nós.
Quando celebrou a Ceia-fundadora, Jesus deu graças (v. 24a).
Jesus deu graças porque ia morrer na cruz dentro de pouco tempo. Graças a Ele, não precisamos dar graças porque vamos morrer. Nossa gratidão decorre da cruz de Cristo, pela vida que trouxe/traz. Damos graças porque vamos viver.
Damos graças porque estamos livres diante da culpa.
Damos graças porque fomos feitos irmãos de Jesus.
Damos graças porque somos feitos irmãos uns dos outros, co-irmãos de todos quantos aceitam o sacrifício de Jesus na cruz.
Damos graças porque temos livre e direto acesso ao coração do Pai.
Por isto, podemos dar glórias a Deus por Suas bênçãos sem fim para conosco.
Podemos dar glórias a Deus porque temos o que agradecer: a salvação, mas também a presença dEle conosco.

3. Por Que Cultuamos? (A dimensão da graça)
Cultuamos a Deus para reviver o poder do Seu amor.
A Ceia do Senhor é um memorial da Sua Graça.
Não recebemos graça ao partilhar do cálice. Apenas, ao tomá-lo, recordamos que fomos alcançados pela Graça de Deus. Jesus o disse de modo bastante claro:

Este cálice é o novo pacto no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim (v. 26).

Peguemos o cálice de seus suportes. O que nos lembra ele?
O cálice nos recorda que somos salvos não mais pelas obras, mas pela fé.
O cálice nos recorda que, em lugar do esforço próprio, podemos descansar nos braços dAquele que morreu por nós.
O cálice nos recorda que, em lugar da justiça para conosco, Deus nos justifica, não mais como conseqüência de nossas tentativas, mas como resultado de sua iniciativa.
Estamos longe de entender o que é a Graça. Nossa finitude não alcança a infinitude do Gracioso Deus. Nosso legalismo nos impede de fruir o dom que não espera nada em troca, porque nós não conseguimos pensar e viver se não na lógica da retribuição.
A graça do cálice é ver simbolicamente este sangue que foi derramado por nós Jesus Cristo, que não espera que nós ofereçamos uma justa retribuição pelo sacrifício.
A graça do cálice é ver nele um convite, convite à aceitação deste sangue e sacrifício por nós.

4. Por Que Cultuamos? (A dimensão do compromisso)
Cultuamos a Deus para nos comprometermos com Ele.
A Ceia é uma espécie de memorial do futuro.
Isto está claro na ordem de culto deixada pelo apóstolo Paulo, inspirado por Deus:

Porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do cálice estareis anunciando a morte do Senhor, até que ele venha (v. 26)

As sociedades humanas, em todas as épocas, gostam de memoriais, memoriais que podem até falar do passado, mas que visam alcançar o futuro. Os egípcios erigiram pirâmides para falar aos que viessem depois deles. Os russos construíram estátuas para anunciar as virtudes dos seus heróis. Os brasileiros temos nossos memoriais, como, por exemplo, o Monumento aos Pracinhas mortos na Segunda Guerra mundial no Rio de Janeiro ou o Memorial da América Latina, em São Paulo.
Todos esses memoriais têm um objetivo: comprometer os visitantes com a sua causa. Eles, portanto, apontam para o futuro.
É assim com o memorial da Ceia do Senhor.
Culto é êxtase. Culto é arrebatamento. Culto é enlevo. Culto é elevação. No culto, nós saímos de nós mesmos, mas não podemos ficar no êxtase/arrebatamento/enlevo/elevação. Ele deve continuar na vida, na vida que anuncia a morte que traz a vida, a morte de Jesus Cristo.
Devemos anunciar sua morte até que Ele venha. Até que Ele venha é nosso compromisso falar de sua morte, para que nossos ouvintes tenham vida.
A participação na Ceia do Senhor nos deve recordar que somos responsáveis pelo futuro a ser construído. Os homens tentam construí-lo sem Deus. Precisamos mostrar-lhes que se trata de tarefa inútil. A Ceia, portanto, é um símbolo missionário.
A Ceia é, pois, um convite, convite a que celebremos sempre, enquanto estivermos vivemos ou enquanto o Celebrado não voltar.
Quando Ele voltar, Ele vai levar aqueles que viveram celebrando a sua morte e a sua volta. Ele vai me levar. Ele vai levar você?