Colossenses 2.7-15: RAZÕES PARA O BATISMO

RAZÕES PARA O BATISMO

Colossenses 2.7-15

Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 5.8.2001 (manhã)

1. INTRODUÇÃO
O cristão é aquele que recebe de Cristo um nome. Assim, meu nome é Israel Belo de Azevedo Cristão. Se você um cristão, também tem este nome aposto ao seu.
O batismo é o registro de uma nova identidade, a identidade de cristão, identidade que deve perdurar para o resto da nossa existência aqui. Este nome perdurará até o início de nossa entrada na vida celestial, quando receberemos um novo nome, porque Cristo também terá um nome novo. Em sua promessa à Sua Igreja, Jesus garante a quem Lhe for fiel: Dar-lhe-ei do maná escondido, bem como lhe darei uma pedrinha branca, e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe (Apocalipse 2.17). Ganharemos um novo nome porque Jesus Cristo também terá um nome novo. Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome (Apocalipse 3.12).
É por isto que o cristão, como aprendemos no Novo Testamento, é batizado no nome do Senhor Jesus (Atos 19.5), como também no nome do Pai e no nome do Espírito Santo.
Portanto, não se trata o batismo apenas de um ritual de passagem, de um símbolo de pertencimento ou mesmo da recepção de uma carteirinha de clube. O batismo é o registro de uma nova identidade, identidade que recebemos de Jesus Cristo.

2. BATISMO COMO MARCO UMA NOVA IDENTIDADE
Em sua carta aos Colossenses, o apóstolo Paulo nos ajuda a entender a natureza desta nova identidade. Ao recebê-la de Cristo, nós recebemos o próprio Cristo em nossas vidas. Em outras palavras, nós O aceitamos como Senhor de nossas mentes e nossos corpos (v. 6).
E o que recebemos de Cristo quando O recebemos?

1. Nós recebemos a ordenança da vida em lugar da ordenança da morte. Nós recebemos o decreto da vida contra o decreto de morte já promulgado contra nós. Nossa sentença de morte foi comutada para sentença de vida.
O apóstolo nos lembra que havia um escrito (ordenança, ordem, decreto, sentença) de morte contra todos aqueles que pecaram — e todos pecamos. Os condenados viviam como tais, como marcados indelevelmente para não ter paz (mas muito medo), sem alegria (mas muita tristeza), sem sentido (mas muita ansiedade).
Nossa condenação era o resultado do julgamento de nossos pecados, todos contra Deus. Ao ser condenado em nosso lugar, Jesus Cristo, no qual habita(va) toda a plenitude (completude, totalidade) de Deus, cancelou o castigo que merecíamos por estes pecados. É por esta providência divina que não há mais ordenança de morte contra aqueles que recebem Jesus Cristo como Senhor. Não há mais condenação para os que recebem a Cristo, para os que são de Cristo (Romanos 8.1). Ao contrário, estes somos lançados numa vida nova, feita de paz, paz dada por Jesus, que é diferente da paz conquistada; de alegria, de alegria pelo convívio com Jesus, não aquela fabricada de fora para dentro; de sentido para a nossa caminhada, que é o saber de onde viemos, porque viemos, para onde vamos e porque vamos.
Uma possibilidade desta grandeza foi inaugurada de modo público. O cancelamento de nossa sentença de morte se deu num evento publico, quando o decreto contra nós foi cancelado e pregado na cruz, na cruz de Cristo, no ano 28 da era que leva o nome do Nosso Senhor.

2. Depois que devemos a primeira resposta, aceitando a liberdade oferecida em Cristo, por Cristo e para Cristo, nós somos convidados a caminhar com Cristo.
Sabem porque os médicos nos recomendam caminhar? Quando caminhamos, formam-se novos vasos (novas veias) em nosso organismo por onde o sangue da vida circula. Quando caminhamos com Cristo, nossa vida vai sendo edificada. Quando caminhamos fora de Cristo, nossa vida também vai sendo edificada, mas não com o sangue da vida, mas com o sangue de outros valores que não conduzem à vida, mas à morte, ao vazio, à ausência.
Caminhar com Cristo é manter nossas vidas enraizadas em Cristo (v. 7), edificadas em Cristo (v. 7), confirmadas em Cristo (v. 7) e aperfeiçoadas por Cristo (v. 10). A experiência cristã, para ser cristã, é essencialmente progresso (avanço, aperfeiçoamento, crescimento), em todas as dimensões e isto se aplica a todos os cristãos. Quem não está crescendo está diminuindo. O apóstolo nos lembra então que o nosso crescimento começa com a experiência de aceitar a Cristo, a raiz, o fundamento, de nossa vida. Não crescemos por nós mesmos. Nossa árvore tem uma raiz e o nome desta raiz é Jesus Cristo. Enquanto estivermos com os nossos corpos ligados a esta raiz, haverá vida em nós. Fora desta raiz, simplesmente nossa arvore não dará folha, nem fruto; pela experiência do passado, será ainda uma árvore, mas árvore petrificada, amargurada, esperando apenas o fim.
Nosso jeito de ser deve estar, porque está, alicerçado em Cristo, não em qualquer outro deus (ídolo), nem em qualquer outra idéia, nem em qualquer outra pessoa, porque nenhum deles (como nenhuma religião ou ideologia) pode cancelar a nossa dívida que é contra Deus, só o próprio Deus (v. 7).
Nossas ações devem confirmar a nossa fé.

3. BATISMO COMO SÍMBOLO DA FÉ
E como confirmamos a nossa fé?

1. A todos quantos já passamos pela experiência inesquecível do batismo, lembro que um dos grandes perigos da graça é permitir aos cristãos viverem a vida prática divorciada das suas afirmações de fé. Andar em Cristo, no entanto, é crer e também viver segundo o que se crê. Doutrina e prática devem ser faces da mesma experiência de fé. Teologia e vida devem andar de braços dados. Adoração e ética são inseparáveis para quem anda em Cristo.
O convite permanente é este: como, por vezes cantamos, que a nossa vida no altar de Deus confirme a nossa oração.

2. Àqueles que ainda não se batizaram o convite é o mesmo, mas há um outro, primordial: confirmem a sua fé, batizando-se.
O batismo é a confirmação da fé, que tem quer ser pública, assim como o cancelamento da dívida de todos nós o foi. O batismo é a nossa identificação com o corpo de Cristo, indicando que nós o temos como nosso Senhor. Batizar-se é aceitar a nova identidade que Cristo (nos) oferece.
E aqui podemos recordar o próprio batismo de Jesus. Ele se batizou para se identificar com a humanidade. Nós somos batizados para nos identificar com a Divindade.
Jesus poderia ter procurado João Batista discretamente e se batizar ao cair de uma tarde vazia e silenciosa. No entanto, não foi o fez, conforme a sintética narrativa de Lucas: E aconteceu que, ao ser todo o povo batizado, também o foi Jesus; e, estando ele a orar, o céu se abriu, e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea como pomba; e ouviu-se uma voz do céu: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo. (Lucas 3.21-22)
Jesus quis começar o seu ministério identificando-se publicamente com a humanidade. Todos os que aceitam o seu oferecimento devem publicamente fazer como Ele fez, apresentando-se para o batismo.

Há muitos que já aceitaram o oferecimento de Jesus Cristo, mas adiam o batismo. Por que?

a. Alguns adiam indefinidamente seu batismo, porque não querem ser identificados com Cristo. Esses estão salvos, porque a salvação é pela graça, salvos mas envergonhados, envergonhados e desobedientes. Se assim continuarem, serão aqueles de quem também Jesus se “envergonhará” ao lhes apresentar ao Pai. Eis o que Ele disse: Qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do Homem, quando vier na sua glória e na do Pai e dos santos anjos. (Lucas 9.26) Espero não estar falando para ninguém com este comportamento, mas, se estiver, convido essa pessoa hoje mesmo a se orgulhar do Cristo que o salvou e se apresentar hoje mesmo para o batismo.

b. Alguns postergam seu batismo porque esperam algo mais em suas vidas. Alguns têm dúvida de sua própria salvação. Outros esperam melhorar o seu comportamento, no campo dos relacionamentos ou no campo moral. Outros preferem crescer mais no conhecimento da Bíblia. Outros condicionam a sua decisão à liberação de algo em sua vida.

b1. Se você espera ter certeza de sua salvação, esta é uma espera desnecessária. Se o sacrifício de Cristo na cruz foi por e para você, se você se arrependeu do seu pecado e deseja ser um servo de Jesus, você já teve seu nome escrito no Livro da Eternidade. Talvez lhe falte apenas confessar publicamente a sua fé em Jesus e pedir a Ele que transforme você, concedendo-lhe a paz e a liberdade que veio nos trazer. Se for isto, faça isto agora. Se você ainda não entendeu o projeto de Deus para você, procure entendê-lo hoje, porque hoje mesmo você pode ser um salvo, se ainda não é. Em seguida, apresente-se para o batismo.

b2. Se você espera melhorar o seu comportamento, algo como ter uma vida digna de Jesus Cristo, saiba que nós todos nascemos pecadores e continuamos pecadores. Não somos nós que nos regeneramos, mas o Salvador Quem nos regenera. Não espere ser perfeito. Antes, peça a Deus que transforme você, pondo-o no caminho da santificação. Cada dia que você andar com Cristo, mais você se parecerá com Ele, mas só será como Ele no céu. Ele o capacita neste crescimento. O importante é que você peça que Ele venha ser seu companheiro, companheiro-Senhor. Faça esta oração ainda hoje, para começar uma nova vida, e se apresente para o batismo.

b3. Se você espera crescer no conhecimento da Bíblia, para depois se batizar, saiba que nunca a conhecerá suficientemente. Toda vez que a lemos, nossa ignorância se revela. Este é um livro para toda a vida. Leia-a diariamente, antes e depois do batismo. Você precisa saber, como escreveu João, que Jesus Cristo veio para nos dar vida transbordante e que o que está no Novo Testamento é para que creiamos em Jesus. Se você crê, apresente-se para o batismo e continue crescendo na leitura da Bíblia.
Sobre tudo, o importante é que você saiba que está tomando uma decisão para a vida toda, para esta vida e para a próxima.

c. Há ainda alguns que não cogitam em se batizar porque não querem se compromissar com a Igreja que Jesus fundou para que por meio dela nós sejamos edificados e edifiquemos o mundo com a Palavra e o Amor de Deus. Uns talvez pensem na imperfeição dos crentes. Outros temem serem obrigados a dar o dízimo. E é possível que outros não queiram gastar tempo trabalhando com Deus por meio da Igreja, preferindo um cristianismo solitário.

A quem assim pensa, gostaria de recordar que a Igreja é imperfeita, porque eu sou membro dela. No entanto, a esta Igreja Deus confiou a tarefa de proclamar o Seu reino, conectando pessoas ao Seu Amor. Deus me confiou esta tarefa e eu não tenho como levá-la a cabo sozinho. Além disso, a Igreja é um espaço de comunhão, onde adoramos a Deus e O servimos coletivamente. Não posso esperar de mim o que não sou; não posso esperar da Igreja o que ela jamais será. Esta Igreja, imperfeita como é, é o corpo de Cristo, sendo Ele sua cabeça.
Quanto ao dízimo, ninguém é obrigado a entregá-lo. Nós cremos que todos os nossos bens pertencem a Deus e que somos os gerentes desses bens. Quando dedicamos parte de nosso dinheiro a Deus, apenas fruímos de um duplo privilégio: o de ser gestores do dinheiro de Deus e de dedicar a Ele parte do que é dEle mesmo, para que seja usada para a proclamação do seu. O dízimo é para ser oferecido com alegria, não com medo ou por obrigação.
Quanto gastar tempo com Deus por intermédio, este é o tempo mais bem gasto da vida. Quando nós abençoamos alguém, os primeiros abençoados somos nós mesmos. Experimente.

3. O batismo, portanto, é assinatura de um compromisso, o compromisso de andar com Cristo, na doutrina e na vida. Não é decisão que deve ser adiada por quem professa a Jesus como Salvador e Senhor.
O batismo é um símbolo de uma ruptura que o cristão celebra. O apóstolo Paulo usa as imagens da circuncisão, do sepultamento e da ressurreição para exprimir a riqueza do ato de ser batizado.
Quando deixamos a direção de nossa vida e tomamos a direção oposta, agora em direção a Deus, para pular nos Seus braços, nós somos circuncidados no sentido espiritual. No Antigo Testamento, a circuncisão de um bebê, de oito dias, simbolizava que ele agora era de Deus. Ainda no Antigo, bem como no Novo Testamento, ser circuncidado era receber uma nova natureza. Sem nenhum bisturi, o batismo representa, como a circuncisão, o despojamento da velha identidade e o recebimento de uma nova.
Para dar mais força a este argumento, o apóstolo Paulo compara o nosso batismo à morte. Trata-se de uma morte que é vida, pois que morte para a velha natureza, para os velhos interesses, para os velhos motivos. Esta morte é imediatamente acompanhada pela ressurreição, ressurreição para a nova natureza, para novos interesses, para novos motivos.
O batismo é o símbolo de uma nova vida que começou quando da confissão de Jesus como nosso Senhor. No batismo, não somos perdoados, mas no batismo testemunhamos publicamente que aceitamos o cancelamento da nossa dívida, dívida paga por Jesus, pagamento aceito por nós.

4. CONCLUSÃO
Diante do batismo, o nosso e os dos outros, devemos dar graças crescentemente, e nós o faremos enquanto estivermos olhando para a cruz e vendo em flashback a cena do cancelamento de nossa dívida. O batismo, portanto, aponta para a cruz.
Neste sentido, o batismo nos convida a olhar para a cruz e aceitar o oferecimento de vida, feito por Deus. O batismo nos convida a olhar para a cruz e ver nela pregado o nosso certificado de salvação.
O batismo nos convida a olhar para a cruz e agradecer o gesto liberatório de Jesus para conosco. O batismo é convite a que reafirmemos nossa fé, algo que devemos fazer constantemente, para ver em nós renovada a esperança e revelada a nossa identidade de filhos queridos e redimidos de Deus.

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