Apocalipse 2.8-11: A COROA

A COROA
Apocalipse 2.8-1

Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 30.12.2001 (noite)

INTRODUÇÃO
Ser posto à prova faz parte da condição do cristão. Quem escolheu servir a Cristo sabe que tem sido provado.
Eles foram (e nós o somos também) provados em todos os territórios. Há três expressões no texto (verso 9) que indicam que as pressões eram psicológicas (tribulação), econômicas (pobreza) e teológicas (blasfêmia). A privação da liberdade, o confisco dos bens e a infiltração de heresias doutrinárias tão sedutoras (parecendo verdadeiras) foram pressões concretas que aqueles irmãos tiveram que enfrentar.
Estas tribulação podem ser pensadas como sendo, entre outros aspectos, a frustração de não poder fazer o que queremos, porque não conseguimos vencer as limitações que nos são impostas; a amargura de não dispor de condições financeiras, seja por desemprego, seja por uma remuneração ruim, para fruir uma vida digna ou mesmo para participar mais das causas da Casa de Deus e o inconveniente de ter que gastar tempo em discussão de idéias estranhas que nos afastam de nossa missão de anunciar a graça de Jesus
O autor chama a estas provas de tribulação. Esta é também a nossa experiência. A tribulação é uma companheira, indesejável companheira, mas companheira. Podemos pensar nesta tribulação como acontecendo no interior dos desejos, sobre os quais há uma forte pressão.
A estes cristãos, nestas circunstâncias de vida, Jesus promete a coroa da vida e o triunfo sobre a segunda morte. (Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: “O vencedor de nenhum modo sofrerá o dano da segunda morte” — versos 10b,11.)

1. A expressão coroa da vida significa uma espécie de diplomação, ao fim de uma carreira de estudos ou de serviços prestados. No mundo antigo, uma coroa era dada como prêmio por vitórias expressivas. Era também distintiva dos governantes. No plano simbólico, ter uma coroa sobre a cabeça indicava uma vida feliz.
1.1. Jó, no auge do seu drama pessoal e familiar, sentiu como se a coroa da sua cabeça tivesse sido arrancada. (Da minha honra me despojou e tirou-me da cabeça a coroa — Jó 19.9.)
Neste texto, a coroa da vida não é uma salvação no futuro, pois que a condição para ela não é a fidelidade do homem, mas a fidelidade de Deus, por meio do sacrifício de Jesus Cristo. Quem aceitou este sacrifício ficou livre da culpa: já recebeu a salvação.
O que é esta coroa? Se não é a salvação, seria um galardão? Tiago nos ajuda a compreender melhor o seu significado: Bem-aventurado o homem que suporta, com perseverança, a provação; porque, depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da  vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam (Tiago 1.12)
A coroa da vida não é para uns, para os que sofrem por serem cristãos, porque é para todos. A coroa da vida é a entrada na vida eterna.
Mesmo que estejamos sofrendo ou venhamos a sobrer por causa do nosso amor ao Evangelho, lembremos que, quando chegarmos no céu, Jesus nos estará esperando para nos coroar. Nos jogos atléticos, só os vencedores recebiam as coroas. Essas coroas  murchavam, porque de folhas, razão porque Pedro (1 Pedro 5.4) chama a coroa a ser oferecida por Cristo de “imarcessível” (isto é, imurchável). Nos jogos olímpicos modernos, só os vencedores recebem as medalhas no pódio, estas de metal resistente, mas não indestrutível. No jogo da vida cristã, todos os salvos recebem a indestrutível coroa da vida eterna. (Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível. — 1 Coríntios 9:25)
Esta coroa Ele promete a todos que o amam. Como também ensina Paulo, já agora [isto é, desde já] a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda (Timóteo 4.8). Nós podemos tê-la, porque Jesus teve sobre sua cabeça uma coroa de espinhos (Os soldados, tendo tecido uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça e vestiram-no com um manto de púrpura. — João 19.2)

2. A promessa da coroa da vida significa que Satanás, que parece estar triunfando, será derrotado. Porque ele roda e ronda por aí, louco para dominar os nossos desejos, nós caímos, mas não ficamos no chão.
No caso dos esmirnenses, Jesus garantiu que sua provação duraria dez dias, que, na linguagem apocalíptica, quer dizer que ela seria curta e episódica, não algo para sempre. Não seria uma destruição, mas apenas uma pressão.
As demais promessas do texto indicam melhor ainda que os cristãos não serão destruídos, mesmo que morram por sua fé em Jesus Cristo. A coroa da vida lhes serão entregues. Por um curto tempo, o mal pode parecer que venceu. Na dimensão do tempo eterno, o mal já perdeu.
Não há nenhuma chance de Satanás vencer. Jesus Cristo já o venceu e nós venceremos com Ele. É uma questão de tempo. E isto se aplica a quem, nesses dias, esteja em dificuldades, por causa ou não do Evangelho. A biografia do cristão não será manchada com a segunda morte. A biografia do cristão poderá até ter um capítulo intitulado “a derrota”, mas, por causa do amor de Jesus por eles (nós), este jamais será o capitulo final. O capitulo final começa com uma foto de uma coroa e termina como esta coroa sendo entronizada na cabeça de quem ama a Jesus Cristo e é amado por Ele.

3. A expressão “segunda morte” é aqui empregada para indicar que os salvos por Jesus Cristo não serão condenados à privação da presença de Deus. Segunda morte é esta privação. Pela primeira todos passaremos. Um dia, no entanto, todos seremos ressuscitados para comparecer perante o tribunal de Cristo. Os cristãos redimidos, no entanto, participaremos de uma apoteose, porque já foram julgados e absolvidos no momento em que foram apresentados a Cristo e o escolheram como Salvador e Senhor. Os cristãos já passamos da morte para a vida. (Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte  para a vida — João 5.24)
Os que morrerem sem dizer um “sim” radical a Cristo serão julgados pelo último Tribunal. Se forem condenados, ficarão longe, para sempre, da companhia de Deus. Eis o que claramente a Bíblia ensina, por menos correto politicamente que seja dizê-lo. E a razão é simples: Deus não quer em Sua companhia na eternidade pessoas que estejam lá contra a sua vontade. O tempo de dizer “sim” é agora.
Para muitos, dizer “sim” a Jesus Cristo parece ser uma perda. Por este temor, muitos adiam indefinidamente a melhor escolha das suas vidas. O ensino do próprio Jesus é bastante definidor: Quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á. (Mateus 16.25) Sim, o triunfo sobre a segunda morte vem para quem morre para si e nasce para Jesus. Quem vive para si pensa que vive. Quem vive para Jesus e por Jesus Cristo este verdadeiramente vive, bem e para sempre.

CONCLUSÃO
Para receber a coroa da vida e não ter que passar pela segunda morte, precisamos escutar o que o Espírito diz, para não sermos dominados pelos nossos desejos. Aliás, ouvir os nossos desejos é legítimo. Nós somos os nossos desejos. É no plano dos desejos que amamos e também odiamos. Muita gente, ao longo da história, tem confundido o ensino de Jesus Cristo acerca dos desejos, tomando-o contra os desejos.
A este respeito, ouçamos Jesus falar:
Se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida com um só dos teus olhos do que, tendo dois, seres lançado no inferno de fogo (Mateus 18.9). Afinal, do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias (Mateus 15.19).
Antes que o radicalismo provoque a auto-mutilação, ouçamos Jesus dizer também que o homem bom do bom tesouro do coração tira o bem e que também o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração (Lucas 6.45).
O que o Espírito diz é que o desejo dos justos tende somente para o bem, mas a expectação dos perversos redunda em ira (Provérbios 11.23). Cumpre-nos dominar os nossos desejos; do contrário, eles conspirarão contra nós (Gênesis 4.7).

Quem quer ouvir o que o Espírito tem a dizer?