Apocalipse 3.1-6: PRECISAMOS DE PILARES

PRECISAMOS DE PILARES
Apocalipse 3.7-13

Preparado para ser pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 20.1.2002 (noite).

Há um hino no Cantor Cristão que traduz bem a realidade do cristianismo eclesiástico.
Quantos que corriam bem,
Já não mais contigo vão.
Outros seguem, mas também
Frios sem amor estão.
(H.M. Wright, Hino 164CC)
Leiamos o texto bíblico.

Por que os que corriam bem já não andam mais com o Senhor? Por que as cristãos frios e sem amor?
Alguns fizeram como Demas (mencionado por Paulo em 2 Timóteo 4.10), deixando suas igrejas ou até permanecendo no seu rol, porque trocaram a mensagem que ultrapassa todos os séculos pela mensagem do século presente. A sedução do pecado gritou-lhes mais forte.
Alguns, no entanto, estão vergados (alquebrados) sob o peso das provações. Provações são dificuldades que enfrentamos sem que tenhamos cometido pecado. Nossos pecados trazem conseqüências e não as podemos considerar como provações. Para estas, a recomendação divina é o arrependimento, que produz o perdão de Deus por Sua graça.
Esta carta de Jesus, em Apocalipse 3.7-13, contém promessas aos que estão sendo provados.

Jesus nos diz que as provações farão parte de nossas vidas, mas também nos promete: eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para pôr à prova os que habitam sobre a terra (verso 10).
Por sua identidade e por ser coluna para si mesmo, para a Igreja e para o mundo, o cristão sofre assédios, pressões e perseguições.
Você está passando por alguma provação? Viver é enfrentar provas. A promessa é que você será guardado, isto é, preservado de ser alcançado (derrubado) por elas. Você não está passando por nenhuma provação agora? Saiba que ela virá, mas também é certo que Jesus guardará você.
Como ser guardado? O que devemos fazer para sermos preservados? Eis as recomendações de Jesus, nesta carta.

1. Lembre-se de quem é Aquele que o salvou.
O cristão vencedor é aquele que sabe que Quem lhe promete o triunfo é santo pelo que diz, é justo no que diz e é digno (tem a chave) para dizer o que diz, como cantamos:

Santo, santo, santo é o Senhor; santo é o Senhor Deus Poderoso;
que era, que é e que há de vir. Santo, santo, santo é o Senhor.

Justo, justo, justo é o Senhor; justo é o Senhor Deus Poderoso;
que era, que é e que há de vir. Justo, justo, justo é o Senhor.
    
Digno, digno, digno é o Senhor; digno é o Senhor Deus Poderoso;
que era, que é e que há de vir. Santo, justo, digno é o Senhor.
(Santo, Justo e Digno — autor desconhecido)

Nossas vitórias sobre as provações são, portanto, uma dádiva dAquele que é santo, justo e digno. Sim, é isto diz o que é santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi; o que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre (verso 7). Ele mostra é mostrará que nos ama (verso 9).
Retenha esta coroa, isto é, mantenha a certeza da presença de Deus.
Se o pecado nos afasta de Deus, as provações nos aproximam dele. Por mais pesadas que sejam as provações, a coroa da vida está separada para nós. Neste momento, Jesus Cristo a está polindo para colocá-la em nossa cabeça. Pela fé, vislumbremos esta coroa já entronizada sobre a nossa cabeça. Nós já vencemos, porque Jesus Cristo venceu.

2. Preserve a sua identidade.
A primeira luta de todo ser humano é por uma identidade, um jeito de ser que o distingue dos outros seres humanos. Quando está claro para nós quem somos, nós nos realizamos como pessoas apesar do mundo em que vivemos e nós podemos mudar o mundo em que vivemos apesar das pessoas que somos.
Quando nascemos, recebemos um nome e um registro. Este nome nos acompanha junto com outros documentos de identificação que vamos recebendo (registro geral ou cédula de identidade, cadastro das pessoas físicas, licença de motorista, carteira funcional, entre outras).
Nossa identidade, no entanto, é mais que um registro. O registro, na verdade, é parte de nossa identificação, mas a nossa identidade. Na verdade, somos o nosso corpo, somos a nossa alma, somos a nossa mente, somos os nossos conhecimentos, somos os nossos bens, somos os nossos relacionamentos, somos as nossas circunstâncias, somos os nossos estilos.
A conversão — mudança da direção de nossas vidas — nos dá uma nova identidade. No novo nascimento, o Espírito Santo escreve sobre nós o nome de Deus, o nome da cidade de Deus (a nova Jerusalém, que desce do céu, da parte de Deus) e também o novo nome de Jesus Cristo (verso 12b).
Precisamos entender que esta nova identidade convive com a velha. Na velha, nosso corpo, nossa alma, nossa mente, nossos conhecimentos, nossos bens, nossos relacionamentos, nossas circunstâncias e nossos estilos estavam comprometidos com a satisfação dos desejos, manchados e dominados pela natureza pecaminosa.
Na nova identidade, dada por Jesus Cristo, não conquistada por nosso esforço, nosso corpo, nossa alma, nossa mente, nossos conhecimentos, nossos bens, nossos relacionamentos, nossas circunstâncias e nossos estilos são dirigidos por Jesus Cristo, autor e consumador de nossa nova identidade. Na verdade, a vida cristã consiste em uma luta, em que a nossa nova identidade procura vencer a velha, escondida no nosso interior. Vencemos quando deixamos Jesus Cristo vencer. Perdemos quando tentamos vencer por nós mesmos, que é o que pede a velha identidade.
Identidade tem a ver também com pertencimento (que não tem nada a ver com posse, no sentido psicológico, nem com propriedade, no sentido econômico), que é o reconhecimento de que a nossa nova identidade foi recebida de alguém, a quem nos submetemos. Nós pertencemos a Deus, não mais à sua vontade, porque a razão do nosso viver é Cristo (Filipenses 1.21). Esta afirmação contém, intrínseca, uma promessa: O firme fundamento de Deus permanece, com o seguinte selo: o Senhor conhece os que lhe pertencem (2 Timóteo 2.19a).
Pertencer a Deus, na linguagem bíblica, usada amplamente no Apocalipse, é ter o nome dEle. Ter o Seu nome é a maior de suas bênçãos. Assim, porão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei (Números 6.27).
Por isto, nesta carta Jesus afirma que temos escritos sobre nós o nome de Deus, uma identidade que será plena na eternidade, segundo outra visão apocalíptica: Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o monte Sião, e com ele 144 mil, tendo na fronte escrito o seu nome e o nome de seu Pai (Apocalipse 14.1).

Esta nova identidade é assinalada com outros dois nomes, o nome da cidade de Deus e o novo nome de Cristo. Trata-se de uma redundância, porque nos bastaria ter o nome de Deus. No entanto, o Espírito quer destacar a dimensão geográfica de nossa identidade e a natureza final de nossa vitória.
Ter o novo nome de Jesus indica o fim do mistério, quando seremos capazes de ouvir a revelação da plenitude de Jesus e então poderemos ser mergulhados num novo mistério, que é um novo relacionamento homem-Deus, feito não mais de pontos de interrogação, mas apenas de pontos de exclamação. Grande é este mistério: como é viver apenas adorando?
Ter o nome da cidade de Deus indica a nossa dupla cidadania. A nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo (Filipenses 3.20), como o diz também a estrofe de um de nossos hinos:

Sou forasteiro aqui, em terra estranha estou;
do Reino lá do céu embaixador eu sou.
Meu rei e Salvador vos manda em seu amor
as boas novas de perdão.
(E.J.Cassel/R. Pitrowski — Hino 207 CC)

Por enquanto, pois, somos peregrinos, itinerando em direção à casa final, onde Cristo transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de subordinar a si todas as coisas (Filipenses 3.21).
Seremos vencedores se não nos agarrarmos à vida peregrina, mas fizermos da nossa vida uma peregrinação. Seremos vencedores se não esperarmos apenas para esta vida, mas para a próxima também, com qualidade desde já. Para a próxima pátria,  já temos o nosso passaporte, com o destino carimbado e o visto concedido. Nossa identidade de salvos nos dá esta identificação.
Exiba a sua identidade.
Você tem o nome de Deus. Você tem o nome de Jesus. Você tem o nome da cidade de Deus (verso 12).

3. Seja uma coluna da obra de Deus (3.12a)
Esta nova identidade nos capacita a nos tornarmos colunas, mesmo que curvas, como a torre de Piza. A torre é torta, mas está lá, em pé.
A promessa de Jesus a nós é, portanto, um convite a que sejamos colunas do templo de Deus, mais uma imagem poética porque no céu o templo será o próprio Deus: em sua visão, João não viu santuário na cidade  santa, porque o seu santuário é o Senhor, o Deus Todo-Poderoso, e o Cordeiro (Apocalipse 21.22).
Trata-se de um convite à constância. Deixemos o termo “fidelidade” para Deus e fiquemos com “constância” para o comportamento esperado de nós. O convite é para os constantes, para que permaneçam, permitindo que Deus complete a obra que neles começou.
O convite é feito também aos pós-cristãos, que são aqueles que relativizaram tanto a mensagem de Jesus Cristo que ela se tornou uma mensagem com o mesmo poder (isto é, nenhum, a não ser o da lógica da razão) da palavra de um profeta qualquer, antigo ou contemporâneo. Pós-cristãos, tornem-se de novo colunas do templo de Deus.
O convite é feito igualmente aos ex-cristãos, que são aqueles que recolheram a sua fé, mas conservaram a vida, embora o conselho bíblico seja que conservemos a fé, mesmo que tenham que perder a vida. Ex-cristãos, voltem-se a tornar em colunas do templo de Deus.
O convite é feito do mesmo modo aos para-cristãos, que são aqueles que se parecem Paulo, que não se envergonhava do Evangelho, mas são Nicodemos, que seguem a Cristo de longe, sem compromisso; que parecem crer em Deus, mas seguem suas próprias regras de certo/errado, bom/mau; que parecem apreciar a graça de Cristo, mas nunca anunciam o amor dEle aos outros. Para-cristãos, tornem-se de fato colunas no templo de Deus.
O convite é claramente feito também aos que são que não têm sido colunas do templo de Deus. A palavra do apóstolo Paulo contempla a carta do Apocalipse: O Senhor é fiel; ele vos confirmará e guardará do Maligno. Nós também temos confiança em vós no Senhor, de que não só estais praticando as coisas que vos ordenamos, como também continuareis a fazê-las. Ora, o Senhor conduza o vosso coração ao amor de Deus e à constância de Cristo (2Tessalonicenses 3.3-5). Sejamos todos colunas do templo de Deus.
Ser coluna é ser constante na fé. Para sustentar, a coluna fica em pé, não cede diante do peso das dificuldades, não se curva diante da escassez de resultados no seu trabalho. É a fé que mantém o cristão intimo do Espírito Santo.
Ser coluna é ser firme na doutrina. Para sustentar, a coluna tem na verdade o seu cimento. A verdade serve para o indivíduo, mas serve mais à comunidade, porque a mantém.
Ser coluna é ser coerente na vida. Para sustentar, a coluna não pode ter rachadura, o que quer dizer que o cristão coluna não fala uma coisa e faz outra, doença na qual há muitos especialistas. Tanto quanto a palavra, é a coerência que faz com que o mundo creia. Todo aquilo que professa o nome do Senhor deve estar apartado (afastado) da injustiça (2 Timóteo 2.19b).
Em todas as igrejas, há três tipos de membros: os membros atuantes, os membros pouco atuantes e os membros ausentes, sem contar os ex-membros. Na verdade, há os membros com os quais Jesus pode contar e aqueles que são apenas contados…
Em que grupo você está?
As promessas apresentadas na carta a Filadelfia (Apocalipse 3.7-13) são também um convite a uma relação correta entre você e a igreja, vista esta como o corpo dos cristãos num determinado espaço. Um cristão sem igreja é um equívoco, por mais equívocos que cometam as igrejas…

CONCLUSÃO
Você está desanimado? Lembre-se dAquele que o salvou. Você não é justo, mas Jesus é. Você não é digno, mas Deus é. Você não é poderoso, mas seu Pai é. Mantenha essas certezas no seu horizonte, mesmo que o túnel escuro seja longo.
Você anda afastado de Deus, pelos desvios do pecado ou pelas pressões das provações? Volte para Jesus. Mantenha a sua identidade, preserve a sua constância. Creia no poder de Deus. Se for preciso que Ele intervenha, Ele intervirá. Afinal, ser cristão não é ficar isento de passar pelas dificuldades, mas ser vitorioso sobre elas.
Você anda afastado da obra de Deus, por meio da igreja? Ele lhe convida para ser coluna da obra no mundo. Seja um pilar da igreja.