Efésios 5.25b-27: O PRIVILÉGIO, O PRAZER E O PESO DE SER IGREJA

O PRIVILÉGIO, O PRAZER E O PESO DE SER IGREJA
Efésios 5.25b-27
 
INTRODUÇÃO
É a igreja uma instituição? Se é, poderá fracassar como todas as outras.
Ao longo dos séculos, ela aí está, constituindo-se num mistério a sua permanência, apesar dos inimigos, internos (nós mesmos) e externos (os que não crêem no Senhor da igreja).
Se é uma instituição, e é, sua dimensão institucional não a esgota.
Ela persiste porque é o corpo de Cristo, e Cristo nunca fracassará.
Ela persiste porque sua mensagem é Cristo, e esta mensagem precisa ser pregada enquanto o ser humano existir. É por isto que dominicalmente (por que não, diariamente?) entram aqui pessoas.
Ela persiste porque Cristo capacita esta igreja com diferentes dons para que ela continue o seu trabalho, seja para socorrer os famintos de pão, seja para trazer esperança aos cansados da alma.
Ela persiste por causa da sua natureza, em relação a Cristo, natureza que o apóstolo Paulo descreve de forma magistral, em Efésios 5.25b-27.

Cristo amou a Igreja e deu a sua vida por ela.
Ele fez isso para dedicar a Igreja a Deus, lavando-a com água e purificando-a com a sua palavra.
E fez isso para também poder trazer para perto de si a Igreja em toda a sua beleza, pura e perfeita, sem manchas, ou rugas, ou qualquer outro defeito.

1. O privilégio da igreja é ter sido fundada pelo amor de Cristo (Efésios 5.25b)
 
Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela (Efésios 5.25b)
 
Cristo amou a igreja antes que ela existisse. Este amor se expressou sob a forma da entrega. Para melhor entendermos esta entrega, podemos fazer algumas analogias (comparações).
 
Quando o entregador de pizzas bate à nossa porta, ele deixa conosco o que foi solicitado e volta para a loja. Ele não nos deixa nada seu. Não sabemos sequer o seu nome. Sua entrega, portanto, não guarda qualquer semelhança com a entrega que Jesus faz. A salvação, que nos oferece, não é uma pizza, cuja eficácia dura apenas algumas horas. Ao contrário, a salvação é um oferecimento que nos sacia para a vida inteira e nos põe numa caminhada que jamais terá fim, ao nos pôr de novo em contato com o Senhor de nossas vidas, de Quem estávamos afastados.
 
Quando o carteiro nos deixa uma correspondência e vai embora para outro destino, nada fica dele conosco. Ele sequer sabe o conteúdo do que carrega, que nem sempre é uma boa notícia, porque muitas vezes é a notícia de uma conta a ser paga. A notícia que Jesus traz é completamente diferente: primeiramente, porque é sempre boa: é notícia de paz, liberdade e esperança. Há uma diferença: o conteúdo é Ele mesmo. Ele não entrega uma notícia: Ele se entrega a si mesmo, porque Ele é a boa notícia.
Diferentemente dos entregadores de pizza ou de correspondência ou de qualquer outro produto, Ele não vai embora nunca.
 
Há uma terceira comparação, esta feita pelo apóstolo Paulo, neste texto. O escritor (ele mesmo escrevendo uma carta que seria entregue por alguém…) compara a entrega da salvação à entrega dos cônjuges no casamento. Casar é entregar-se. Salvar é entregar-se. Assim como um homem ou um mulher entrega seu corpo ao outro (bem entendido, dentro do casamento, que é uma entrega pura, não a entrega impura da prostituição), Cristo entrega seu corpo à igreja.
A semelhança pára aí. O amor entre um homem e uma mulher é apenas uma imitação do amor de Deus pelos seres humanos. No casamento, a vida consiste em ficarem vivos marido e mulher. Na salvação, todos morremos. Morre Aquele que nos salva e morremos também nós os salvos. A nossa vida é o resultado da morte de Cristo por nós. A nossa salvação é a morte de cada um de nós para o prazer na vida de pecado e o nosso novo nascimento para o estilo de vida da cruz. Com Sua entrega, Cristo nos gera de novo; nascemos de novo, para uma nova vida.
 
No entanto, nenhum de nós pode esquecer que a salvação é só o começo da vida cristã, não a vida cristã toda.
 
A igreja é a comunidade dos nascidos de novo, nascidos da entrega de Jesus. Na verdade, esta comunidade passou a existir por causa do Seu amor. Dito de outro modo, Cristo a amou para que ela pudesse existir.
A igreja, portanto, não se constitui a si mesma, mas, antes, é constituída por Cristo. Ela existe por causa do amor de Jesus. Logo, ela tem que ser grata e humilde. Não há nada mais contraditório do que uma igreja cheia de si mesma. Não há nada mais estranho do que um cristão orgulhoso de sua salvação, olhando os outros de cima como inferiores. Quem procede assim se esquece que não fez nada para ser salvo. Por que se acha melhor do que os outros?
Não podemos esquecer que a nossa salvação é um privilégio. Não merecemos ser salvos.
Um cristão é apenas alguém que aceita que é amado por Cristo e aceita ser amado por este Cristo. Todos os seres humanos são amados por Cristo, mas só quando é aceito, este amor-oferta é ativado. Sua ativação se dá a partir do arrependimento e da fé em Jesus como Salvador. Sua morte significa que a nossa vida não nos custa nada porque custou a vida de Jesus. Quem quer ser cristão precisa apenas aceitar o amor de Cristo.
Nós somos salvos da prisão para a liberdade. As prisões de que Cristo liberta: culpa em relação ao passado, solidão em relação ao presente e medo em relação ao futuro,
 
Afastarmo-nos de Deus foi uma escolha consciente. Talvez você diga: “não, esta não foi a minha escolha”. Foi, porque o desejo dEle foi sempre estar com você. “Emanuel” (Deus-conosco) é o seu nome. “Deus-com-você” é o nome de Deus. A salvação torna verdadeiro este título para você. Desde que você nasceu, Deus está atrás de você, para se comunicar com você, para tirar você de onde você está, puxar para o seu colo e receber você. Você quer?
Viver no pecado tem sido, para muitos, uma escolha consciente. Talvez você diga: “não, esta não foi a minha escolha”. No entanto, esta tem sido a sua vida. Esta tem sido a vida de todos aqueles que não confessam a Jesus Cristo como Salvador e Senhor. A Bíblia é clara:
todos pecaram e estão destituídos [afastados] da glória de Deus (Romanos 3.23), pois da mesma forma como o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram (Romanos 5.12). Não foi só Adão quem pecou; nós todos pecamos. Não somos condenados pelo pecado de Adão, mas pelo nosso.
Graças a Deus, não precisamos mais viver no pecado, porque podemos ser alcançados pela glória de Deus e ser coberto pela Sua graça. Quando alcançados por Deus, não somos mais condenados. Não ficamos mais carentes da Sua glória, mas enamorados dela. Pecamos, mas o pecado não tem mais domínio sobre nós. Pecamos, mas nossos prazer verdadeiro é a santidade.
O privilégio do cristão é é ser salvo pelo amor de Cristo.
 
2. O prazer da igreja é ser santificada pela água e pela palavra de Cristo (Efésios 5.26).
[Jesus Cristo] fez isso para dedicar [santificar] a Igreja a Deus, lavando-a com água e purificando-a com a Sua palavra (Efésios 5.26).
 
A água está associada, em todas as culturas, a higiene (purificação) e a saúde (cura). Na Bíblia, a mesma associação está presente.
Os sacerdotes deviam sempre tomar banho antes de entrarem na presença de Deus. A Torah estabelecia: Quando entrarem na tenda da congregação ou quando se chegarem ao altar para ministrar, para acender a oferta queimada ao Senhor, [os sacerdotes] lavar-se-ão com água, para que não morram (Êxodo 30.20).
Quando curou Naamã, Eliseu pediu-lhe que se lavasse sete vezes no rio Jordão, após o que foi restaurado (2Reis 5.10). Jesus segue a mesma tradição, mandando a um cego que se lavasse num tanque. Diz o evangelho que ele foi, lavou-se e voltou vendo (1Joaão 9.7).
João Batista pregava às margens de um rio, o mesmo em que Naamã se banhou para a cura, e neste rio imergia aqueles que se arrependessem dos seus pecados, tranformando o batismo no símbolo de morte para a velha vida e nascimento para a nova vida. Jesus e os apóstolos mantiveram o ritual.
A água se tornou o símbolo da porta de entrada à comunidade dos salvos. E a razão é bastante evidente: ela lembra a ação regeneradora do Espírito Santo. É como a água do banho diário, que, vinda de cima, limpa nossos ouvidos, ouvidos que escutam, e por vezes retêm, tanta palavras podres; limpa nossos olhos, que se detêm, e por vezes se deliciam, com tantas imagens impróprias; limpa nossas costas, que sustentam tantas cargas que não conseguimos lançar sobre os ombros de Jesus e tantas culpas inexistentes porque já extintas por Jesus.
Como cristãos, temos sido humanos demais por ouvirmos demais as vozes do mundo. Somos humanos demais quando consumimos pornografia, de qualquer natureza, seja quando passamos numa banca de jornal e folheamos ou uma revista imprópria, seja quando não resistimos e abrimos um site impróprio na internet ou mantemos conversações impuras com conhecidos ou desconhecidos numa sala qualquer de bate-papo eletronico.
Somos humanos demais quando nos divertimos do mesmo modo que muitos outros seres humanos, deixando que os nossos prazeres se tornem em vícios, seja o de babar de felicidade por um comentário maldoso, falso ou verdadeiro, sobre outra pessoa presente ou ausente; seja o de gastar nosso tempo ou nosso dinheiro no jogo, proibido ou não.
Somos humanos demais quando nos afundamos na ansiedade. A ansiedade desmedida é falta de fé e falta de fé é algo que está fora do plano de Deus para nós; e tudo o que está fora do alvo divino para nós é pecado. Não nos deixemos tomar pela ansiedade, como se a cruz fosse apenas um ícone para fins de comunicação, não um símbolo vivo de um Pai presente, de um Filho presente, de um Espírito Santo presente.
 
A santificação pela água, portanto, é o propósito (desejo) de Deus para todos os que O levam a sério. A água é o marco de uma vida em outro padrão. Antes da água, impera o padrão do Egito, com sua injustiça, com o seu terror, com a escassez de esperança; depois da água (no caso, as águas atravessadas do mar Vermelho), a esperança em Cristo cresce, a justiça divina se estabelece, o amor de Deus prevalece.
A ação da água do Espírito se completa quando é associada à palavra de Cristo. A água nos lava e a palavra nos purifica. O apóstolo Paulo resume nosso itinerário: Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna (Tito 3.4).
 
“Palavra” lembra necessariamente aprendizagem. O cristão é aquele que ouve a Palavra de Cristo. Somos comparados a ovelhas que ouvem a voz do seu pastor. Ele chama pelo nome as suas próprias ovelhas e as conduz… (João 10.3 ) para fora… Nossa vida cristã perde direção quando deixamos de ouvir a voz de Cristo. No Primeiro Testamento, Deus adverte, por meio da lei e da profecia, a seu povo para não seguir os deuses dos povos vizinhos. Ele sabia da característica humana de ouvir vozes indevidas, indevidas mas sedutoras. Nossa qualidade de vida começa a perder vitalidade quando queremos mixar a voz de Cristo com as vozes do nosso tempo.
Estamos no mundo, e não temos como não escutar a sua voz. No entanto, se a Palavra de Cristo for o filtro que usamos, as vozes do mundo não nos seduzirão, não nos contaminarão, não nos confundirão. O problema, portanto, não é ouvir a voz do mundo; é não escutar a Palavra de Cristo. Não podemos esquecer que foi pela Palavra criadora de Deus que o mundo passou a existir. Foi pela Palavra que o homem foi criado. Sem a Palavra de Cristo não somos nada.
 
Nosso desejo deve ser o do salmista: Purifica-me com hissopo e ficarei limpo; lava-me e ficarei mais alvo que a neve (Salmo 51.7)
Nossa identidade está dada: Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus (1Coríntios 6.11)
É por isto que devemos nos aproximar de Deus, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura (Hebreus 10.22). Este deve ser o nosso prazer: deixar-se lavar, deixar-se purificar.
O prazer do cristão deve ser a santificação pela água e pela palavra de Cristo.
 
3. O peso da igreja é se apresentar diante de Cristo como Ele quer: bela, pura, perfeita (Efésios 5.2).
E [Jesus Cristo] fez isso para também poder trazer para perto de si a Igreja em toda a sua beleza, pura e perfeita, sem manchas, ou rugas, ou qualquer outro defeito (Efésios 5.2).
 
Toda a ação de Deus em Cristo teve e tem um objetivo: estar perto da Igreja. Deus, em Jesus, realizou o seu desejo: o desejo da comunicação. Deus gosta de entrar na roda com a gente. Ele gosta de ser rodeado por nós. Ele gosta, porque sabe que a igreja não pode estar só. Ele sabe que nenhum de nós foi feito para viver só. Este verso resume toda a psicologia humana: nascemos para estar juntos. Eu nasci para estar junto de Deus.
 
Ao retratar a imagem da igreja ideal, ideal que devemos buscar, o apóstolo diz que Deus espera dela três substantivos que a marquem: beleza, pureza e perfeição.

3.1. Uma igreja “bela”
Ao pensar em beleza, penso que Paulo está pensando nas lindas cenas da cerimônia do casamento.
São poucos minutos, é verdade, mas a cerimônia começa muito tempo antes. Tudo é pensado para aqueles poucos momentos. No fundo, o que se pretende é que a noiva esteja a mais bonita possível. É o seu dia (ou noite) de brilhar. No dia da cerimônia, a preparação começa cedo, no seu corpo, no seu vestido, no seu rosto, nas suas mãos.
Toda a preparação para a beleza se organiza em torno de uma visão da festa. Há até ensaio de como os noivos devem entrar, como devem ficar diante do pastor, como devem se ajoelhar. É tudo imaginado a partir da visão da festa.
No Apocalipse, a igreja é apresentada como a noiva de Cristo (Então, veio um dos sete anjos que têm as sete taças cheias dos últimos sete flagelos e falou comigo, dizendo: “Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro” — Apocalipse 21.9). Para se apresentar bela diante de Deus, a noiva de Cristo — a igreja — precisa de uma luminosa visão do Pai. Se nós O olhamos como Isaías (Santo! Santo! Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória! — Isaías 6.3), estaremos sempre querendo ver a Sua glória, estaremos querendo sempre ser iluminados por Sua glória. Não queremos nada escondido em nós diante dEle.
*
3.2. Uma igreja “pura”
A igreja é igreja porque foi purificada. Esta pureza original, perpetrada por Cristo, precisa ser atualizada. Neste sentido, a pureza nasce com uma decisão. É a decisão de desejar ser puro.
Quando desejamos ser puros, permitimos que o Espírito Santo controle nosso desejo, nossos temperamento, nosso caráter. É uma longa moldagem realizada pelo Espírito Santo, quando Ele habita em nós.
 *
3.3. Uma igreja “perfeita”
A palavra “perfeita” aponta para os animais do sacrifício ritual do antigo Israel. Para ser sacrificado, o animal tinha estar sem manchas, ou rugas, ou qualquer outro defeito. O animal tinha que demonstrar a intenção do pecador que o ofertava.

Miquéias 6.6-8
Com que eu poderia comparecer diante do Senhor e curvar-me perante o Deus exaltado? Deveria oferecer holocaustos de bezerros de um ano?
Ficaria o Senhor satisfeito com milhares de carneiros, com dez mil ribeiros de azeite? Devo oferecer o meu filho mais velho por causa da minha transgressão, o fruto do meu corpo por causa do pecado que eu cometi?
Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom e o que o Senhor exige: pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o seu Deus.

Eis como a igreja deve se apresentar diante de Jesus.
*

Precisamos da cruz.
Que igreja é essa? Ela existe?

Pois sabemos que, tendo sido ressuscitado dos mortos, Cristo não pode morrer outra vez: a morte não tem mais domínio sobre ele. Romanos 6.9
Pois sabemos que, tendo sido ressuscitado dos mortos, Cristo não pode morrer outra vez: a morte não tem mais domínio sobre ele. Romanos 8.9
 
O peso do cristão é se apresentar diante de Criso como Ele quer: belo, puro, perfeito
 
CONVITE
Para estar junto dEle, eu preciso ser purificado. Quando me aproximo dEle, sou imediatamente purificado. Não posso me achegar ao santo sem estar puro. Talvez você argumente: não há um hino que pede que nos apresentemos a Deus tal quais estamos. Sim: esta é a verdade. Quuanto mais nos aproximamos dEle, mais somos purificados. Se permaneço impuro, posso usar palavras sobre Ele, mas não estar perto dEle. E eu só permaneço impuro se me mantenho longe dEle.
Sim: esteja você como estiver: venha a Deus, por meio de Cristo, que Ele irá purificar você. Este é o “sonho” dEle para você..
 
Apocalipse 22:17 O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida, venha.