PROSSEGUINDO PARA O ALVO (UM MONÓLOGO)
Filipenses 3.12-24
2004
Queridos irmãos de Filipos.
A vocês, graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo (Filipenses 1.2).
Aqui estou em Roma. Quero lhes dizer que não sei tudo o que me aguarda, mas sei que tudo posso nAquele que me fortalece (Filipenses 4.13).
Sei que vocês estão preocupados comigo, e eu lhes agradeço. Saibam que tudo o que me te acontecido tem contribuído para o progresso do Evangelho no coração do mundo, e isso me inunda de alegria. É por isto que para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro (Filipenses 1.21).
O que eu espero é que, na minha ausência ou na minha presença, vocês ponham em ação a salvação de vocês com temor e tremor (Filipenses 2.12).
Olhem o que eu fiz: aquilo que parecia tão interessante passei a considerar como perda, por causa de Cristo. Na verdade, considero meus títulos como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar Cristo. (…) Quero conhecer Cristo, (…) Cristo que me alcançou. É por isto que esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus (Filipenses 3.8-14).
Eu sei que vocês querem prosseguir para o alvo, porque vocês querem receber o prêmio que Jesus tem para todos nós. No entanto, eu sei que alguns irmãos pararam na corrida cristã. Parece que alguns estão até andando para trás. E por que isto acontece? Como devemos viver?
(1a)
Deixamos de prosseguir para o alvo quando nos trancamos no passado ou no presente, seja ele bom ou ruim.
Para muitos irmãos, o passado os impede de prosseguir. Uns porque têm lembranças extraordinariamente felizes porque foram justificados em Cristo e agora têm paz com Deus. Eles se lembram tanto daquele tempo, que, parece, nada mais lhes aconteceu. Para eles, “tudo está no passado”; a essência da vida é feita de regras e rituais. Viver o evangelho é apenas permanecer nas regras e manter a forma. Nada mais importa porque já são justificados; já são salvos. Eles vão à igreja — e “isso é suficiente”. WAGNER, Glenn. Igreja S/A. São Paulo: Vida, 2003, p. 226. Assim, o máximo que fazem agora é ir a igreja todo domingo, como se isto saldasse suas dívidas com Cristo, aliás, como se tivéssemos alguma dívida. A cruz não nos deixou dívida, mas apagou todas as nossas dívidas. Agora, nosso único legado é a esperança.
Já pensaram eu ficar pensando a vida toda naquele meu encontro com o Senhor Jesus quando ia para Damasco… Ah! eu tenho vivo na memória tudo aquilo que me aconteceu. Minha vida completamente. Mas eu não posso ficar no passado, embora seja muito bonito. Mesmo porque depois de Damasco aconteceram tantas coisas. Aliás, todo dia acontecem tantas coisas. São tantas as experiências que ainda me virão, que estou à espera, me alegrando por antecipação.
É por isto que eu gosto da história de Elias. Eu me emociono relendo sua vitória sobre os 450 profetas de Baal. Penso que o próprio Elias se emocionou com aquele triunfo. Imagino que Elias ficou contemplando a sua vitória, tanto, ao ponto de esquecer que o Deus que dera a vitória era o mesmo quando Acabe e Jezabel ficaram furiosos com a derrota que sofreram diante do povo. A vitória foi uma imagem que cresceu, rica em detalhes na sua mente. Ouso dizer que Elias ficou tão empolgado com o presente que se esqueceu do presente. Por isto, perdeu o contato com Deus. Quando voltou a ameaça, ele não retornou para Deus; ele se concentrou em si mesmo e só encontrou a escuridão.
Para muitos irmãos, o passado os impede de prosseguir, mas por outra razão. Eles olham para trás e vão vendo as cicatrizes deixadas nas suas memórias. Suas cicatrizes são lidas como sinais de que nada vale a pena. As perdas do passado mostram que não virão experiências novas que trarão um novo significado à vida.
Eu penso diferente. Eu deixo para trás as coisas que aconteceram atrás, no passado. Fui encarcerado mais vezes, fui açoitado mais severamente e exposto à morte repetidas vezes. Cinco vezes recebi dos judeus trinta e nove açoites. Três vezes fui golpeado com varas, uma vez apedrejado, três vezes sofri naufrágio, passei uma noite e um dia exposto à fúria do mar. Estive continuamente viajando de uma parte a outra, enfrentei perigos nos rios, perigos de assaltantes, perigos dos meus compatriotas, perigos dos gentios; perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar e perigos dos falsos irmãos. Trabalhei arduamente; muitas vezes fiquei sem dormir, passei fome e sede, e muitas vezes fiquei em jejum; suportei frio e nudez. (…) Em Damasco, o governador nomeado pelo rei Aretas mandou que se vigiasse a cidade para me prender. Mas de uma janela na muralha fui baixado numa cesta e escapei das mãos dele (2Coríntios 11.23-27, 32-33).
Tenho todas as razões para ficar no passado, mas meu desejo é apenas avançar. Eu sei que em todos estes momentos, o Espírito de Jesus esteve comigo.
(1b)
Estejamos preparados para o futuro.
Quando temas tanta história, é muito difícil viver na perspectiva do futuro. Se a história é bonita, achamos que não manteremos o padrão de conquistas. Se a história é triste, achamos que não superaremos nossas dores. Não é assim que pensamos?
Gosto de pensar na vida como algo que está começando. Sei que não me resta muito tempo e que comigo o presente século vai obter uma vitória temporária e o leão me tragará, mas eu vivo como se minha vida estivesse começando. Quero voltar a Jerusalém. Quero chegar à Espanha. Quero deixar um testemunho inesquecível aqui em Roma. Quero ver de modo que a graça realmente me baste.
Há muitos lugares onde a fragrância do Evangelho ainda não perfumou. Quero chegar lá com o aroma de Cristo.
Meus irmãos: em lugar de ficarem presos no passado, estejam preparados para dar um novo testemunho, WAGNER, Glenn, op. cit., p. 226. aprendido com o profeta Isaías: Olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam (Isaías 64.4). É isto que devemos desejar: ouvir o que ainda não foi dito, ver o que ainda não foi visto, tudo preparado por Deus para nós. Nossa esperança já está reservada desde quando ouvimos a palavra da verdade do evangelho (Colossenses 1.5).
Meus irmãos: vivamos como se nossas vidas estivessem começando. Não desanimemos, porque sabemos que, embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia após dia (2Coríntios 4.16).
(2a)
Deixamos de prosseguir para o alvo quando nos deixamos dominar pelo medo.
Na história do nosso Jesus, vemos algumas das manifestações deste medo.
O medo nos faz ver fantasmas. — Quando os discípulos viram Jesus andando sobre o mar, eles ficaram com medo. Por causa do medo que sentiram, eles acharam que estavam vendo um fantasma e gritaram apavorados (Mateus 14.26). O medo nos faz ver perigo onde há uma bênção a ser recebida.
O medo nos faz submergir. — Naquela mesma noite, meu amigo Pedro se superou e se lançou ao mar. Ele ia caminhando bem sobre as águas, até ter medo. Tomado pelo medo, começou a submergir. Se não fosse Jesus a lhe estender a mão, meu amigo teria morrido afogado (Mateus 14.30). Todos temos problemas a enfrentar, e se os enfrentamos com medo, nós sucumbimos.
O medo nos faz fugir. — Algumas mulheres tiveram o privilégio de ver pela primeira vez o sepulcro vazio de Jesus. (Ah como eu gostaria de ter visto o túmulo vazio de Jesus!) Será que eu teria medo? Elas ficaram com medo e fugiram. Paralisadas, não deram o testemunho que precisavam acerca do que tinham visto (Marcos 16.8). Jesus nos deixou muitas responsabilidades enquanto nos espera no céu. Com medo, só desempenharemos aquelas mais fáceis, mas há missões difíceis esperando as nossas ações.
O medo nos faz mentir. — José de Arimatéia fez algo que eu gostaria de ter feito: ele cuidou do corpo de Jesus, mas fez uma coisa terrível: escondeu que era discípulo do nosso Senhor, também por causa do medo. Ele temia as possíveis conseqüências sobre a sua carreira, se soubessem que era um seguidor de Cristo (João 19.38). O medo nos faz esconder. Os discípulos de Jesus, quando souberam da Sua ressurreição, passaram a se reunir escondidos, também com medo da perseguição que poderia vir. Felizmente o Senhor não levou isto em consideração e foi até ao encontro deles. (João 20.19). Já tive que correr para não apanhar por causa da minha fé. Houve situação em que não tive como correr e quase morri de tanta violência. Prefiro olhar para as minhas marcas do que me recordar que não as tive porque menti acerca de minha identidade, porque negar a minha identidade é negar o meu Senhor.
Eu lhes digo: quem vive dominado pelo medo não prossegue para o alvo. Sabe que há um alvo, sabe que há um prêmio para quem alcança o alvo, mas o medo faz seus pés ficarem tão pesados que não conseguem avançar.
(2b)
Devemos pedir que Deus nos capacite com coragem para prosseguir.
Vocês se lembram a primeira vez que estivemos aí em Filipos? Fomos presos e amarrados naquele buraco, a que os romanos insistem em chamar de prisão. Não tínhamos água, não tínhamos luz, mas nós cantávamos até alta hora da noite. Eu cantava porque eu não estava sozinho. Estava com Silas. Nós cantávamos, porque não estávamos sozinhos. O Espírito encorajador de Deus estava conosco.
Não tivemos medo. Afinal, Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio (2Timóteo 1.7).
Posso mesmo dizer: sejam meus imitadores (Filipenses 3.17), porque não tenho medo
Meus irmãos: não se esqueçam que quem está em Cristo é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas! (2Coríntios 5.17). Nós fomos sepultados com ele na morte por meio do batismo, a fim de que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova (Romanos 7.4).
(3a)
Deixamos de prosseguir para o alvo quando aceitamos o convite do presente século.
E eu me lembro de Demas. Espero que não tenha nenhum parente ou amigo de Demas aqui, mas preciso falar sobre o que ele fez.
Ele esteve aqui comigo na cadeia. Era um bom companheiro. Falei dele quando escrevi aos queridos de Colossos (Colossenses 4.14) e ao irmão Filemon (Filemon 10).
De vez em quando ele saía para comprar algumas coisas para nós ou para levar alguma correspondência aos irmãos de fora. Um dia desses veio com uma conversa profana, reclamando das condições de vida aqui, queixando-se até da cama onde dormimos. Eu olhei para as minhas cicatrizes e fiquei calado. Depois ele tentou me mostrar que este nosso sacrifício era em vão, que podíamos nos livrar da morte, inventando uma história qualquer. Demas chegou a nos chamar de fanáticos por seguirmos a Jesus tão ao pé da letra. Afinal, há tantas coisas boas lá fora e nós aqui, apodrecendo nesta casa — insinuou ele. Demas me disse que eu encontraria um emprego fácil como professor em Roma, mesmo sabendo que um pedagogo tem que ensinar sobre os deuses greco-romanos como se não fossem invenções humanas. Fiquei desolado. Eu lhe disse: “Demas, tudo isto que agora o seduz eu já tive. Por isso, o que para mim era lucro, passei a considerar como perda, por causa de Cristo. Sabe, Demas, mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar Cristo. Não adiantou. Timóteo também falou com ele e lhe mostrou o quanto o Evangelho precisava dele aqui, mas ele simplesmente sumiu. Demas me traiu. Demas me abandonou e foi para Tessalônica (2Timóteo 4.10) viver do seu modo, longe de Jesus. Ele amou este mundo que vai ser destruído. Eu continuo amando aquele mundo que ainda vai se revelar quando Jesus voltar”.
(3b)
Devemos olhar os convites do presente século como tentativas para nos desviar do caminho.
Espero que aí em Filipos não haja nenhum Demas. Desejo que todos, não importa o que aconteça, exerçam a sua cidadania de maneira digna do evangelho de Cristo, para que assim, quer eu vá e os veja, quer apenas ouça a seu respeito em minha ausência, fique eu sabendo que vocês permanecem firmes num só espírito, lutando unânimes pela fé evangélica (Filipenses 1.27). Não façam como Demas; antes, façam tudo o que estiver ao alcance de vocês, para que venham a tornar-se puros e irrepreensíveis, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração corrompida e depravada, na qual vocês brilham como estrelas no universo, retendo firmemente a palavra da vida. Assim, no dia de Cristo eu me orgulharei de não ter corrido nem me esforçado inutilmente (Filipenses 2.15).
(4a)
Deixamos de prosseguir para o alvo quando desvalorizamos o prêmio prometido por Jesus Cristo.
Há uma vida muito melhor que esta no céu, mas vejo muitos irmãos esquecidos desta verdade e satisfeitos com coisas que não passam de sombras em comparação àquelas que ainda virão (Colossenses 2.17). A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente o Salvador, o Senhor Jesus Cristo (Filipenses 3.20). Para nós, portanto, está prometida uma vida eterna com Cristo (Tito 1.2). Nós esperamos esta felicidade plena, que virá junto com o aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus (Tito 2.13). Por isto, sabemos que, [quando e] se for destruída a temporária habitação terrena em que vivemos, temos da parte de Deus um edifício, uma casa eterna nos céus, [que] não [é] construída por mãos humanas (2Coríntios 5.1).
Fazemos bem em lutar pela cidadania terrena, mas fazemos mal em pensar que toda a nossa esperança se esgota na obtenção desta cidadania. A melhor é aquela a que teremos acesso com a volta de Jesus Cristo.
Fazemos bem em buscar a felicidade, aqui e agora, mas fazemos mal em nos cansar nesta busca, porque isto não nos satisfará. Haverá felicidade plena com a volta de Jesus Cristo.
Fazemos bem em construir casas próprias e melhores, neste nosso tempo, mas fazemos mal em esquecer que Deus construiu para nós uma casa eterna, que ganharemos com a volta de Jesus Cristo.
Apesar de tudo isto, muitos irmãos não entendem que partir e estar com Cristo é muito bom (1Coríntios 1.23), seja o presente ruim ou muito bom. Muitos irmãos pensam que a esperança cristã é apenas para esta vida e, ao viverem assim, se tornam dignos de lástima (1Coríntios 15.19).
(4b)
Devemos olhar para o alvo e para o prêmio destinado a quem conquista a vitória.
Sabem porque nunca desanimei, mesmo quando pressionado? É porque eu não tirei o meu olhar do alvo. Sabem porque, depois de ter recebido a salvação, nunca dei ouvidos aos cantos do presente século? É porque eu nunca me esqueci do prêmio reservado para mim.
Eu sei que vencerei e anseio por aquele dia quando o presidente do Comitê dos Jogos Olímpicos eternos vai me chamar pelo nome, esperar-me no pódio celestial e me entregar a coroa da vitória, que é o próprio Jesus Cristo: Ele é a minha coroa.
Meu alvo é Jesus Cristo: eu quero ser como Ele. É para Ele que eu corro. É por Ele que eu corro. Eu serei como Ele, quando me encontrar definitivamente com Ele. Meu prêmio é Jesus Cristo: é a Ele que eu quero e eu O alcançarei de modo completo quando eu acabar a minha corrida.
Meus irmãos: não importa em que estágio estejam na corrida, se perto do estádio ou no começo da carreira: não tirem os olhos do Alvo; não esqueçam o Prêmio guardado para lhes ser entregues. Tenham sempre em mente que, pelo poder que capacita [Jesus] a colocar todas as coisas debaixo do seu domínio, Deus transformará os nossos corpos humilhados, tornando-os semelhantes ao corpo glorioso [de Jesus] (Filipenses 3.21).
Meus irmãos: nesta caminhada, não se esqueçam que perto está o Senhor. Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus (Filipenses 4.5-7).
Gosto desta dinâmica da fé: já recebemos tudo, a salvação; mas não alcançamos ainda a glorificacao. Eu quero meu corpo glorioso como o de Jesus. Estou certo que vocês também têm o mesmo desejo.