Lucas 24.13-35: CORAÇÕES ARDENTES

CORAÇÕES ARDENTES

Lucas 24.13-35

A história do encontro de Jesus com os discípulos a caminho de Emaús é uma das mais lindas do Novo Testamento. Ela mostra o que acontece conosco em certos momentos da vida. No entanto, ela mostra também o que Ele faz conosco quando nos dispomos a viver na Sua presença.

1. Muitas vezes estamos indo em direção a Emaús (verso 13).
Jesus tinha ressuscitado. Os apóstolos ficaram confusos. Os discípulos foram se dispersando. Nenhum líder o vira, senão algumas mulheres. Cansados de esperar, cada um ia voltando à sua vida normal.
Lucas flagra dois desses discípulos voltando para Emaús, provavelmente onde moravam. Sua volta pode ser vista como o fim de uma aventura, que se tornara fracassada.

Jerusalém era a cidade onde tudo acontecia. Ao tempo de Jesus, durante a Páscoa, sua população, que era de 55 mil, chegava a 250 mil. Emaús era uma pequena aldeia, distante de Jerusalém uns 11 quilômetros.  Os discípulos iam em direção a Emaus, um lugar inexpressivo de que não ficou registro inconteste. Ir de Jerusalém para Emaús era ir do sentido para o nada, da plenitude para o vazio.

Todos podemos ir para Emaús. Alguns estivemos em Jerusalém. Em tempos de nossas vidas, experimentamos o poder vivo de Deus, na pessoa de Jesus Cristo. Mas depois os fatos da vida (um casamento ruim, o dinheiro escasso, uma oração sem resposta, ou mesmo o sucesso familiar ou profissional) foram-nos afastando para a periferia de Jerusalém, e depois para bem longe.

Nosso lugar é Jerusalém. Sem que isto seja o propósito de Deus para nós, podemos passar por Emaús, mas não podemos morar lá.

2. Jesus escolhe os necessitados para se apresentar a eles e por intermédio deles (versos 13-14)
Aqueles discípulos a caminho de Emaús eram pessoas simples. Jesus aparecera a mulheres, a pessoas anônimas (desse Cleopas nunca mais se ouviu) e só depois aos discípulos. O gesto de Jesus mostra que a vida cristã com qualidade é para todos.

Jesus procura pessoas que precisam compreender as coisas que lhes sucederam. Ele busca o pai que perdeu o filho. Ele se interessa pela esposa que é maltratada pelo marido. Ele olha para o filho que não é amado por sua mãe. Ele se preocupa com o profissional que ficou sem emprego. A estes Jesus quer dar ou restabelecer uma vida com qualidade.

Jesus quer se revelar a nós, experiencialmente e conceitualmente (versos 25-27). Sua revelação experiencial se manifesta em termos de uma presença viva em nosso coração. Sua revelação conceitual acontece por meio da razão que se encanta com o seu conhecimento e o deseja como o melhor dos conhecimentos, porque dá sentido aos outros.
A participação de Jesus na conversa dos discípulos também deixa evidente que Ele está presente nas situações normais da vida (verso 15). Ele não se apresentou num templo, nem numa sinagoga, mas na estrada poeirenta que levava de Jerusalém a Emamus. As pessoas não estavam no templo, nem nas sinagogas, as pessoas estavam nas ruas. Foi nas ruas que Ele se apresentou. E Ele se a apresentou aos discípulos porque eles precisavam de Jesus, eles queriam Jesus de volta, eles só pensavam em Jesus mesmo na desolação.
Jesus espera que nós queiramos Sua companhia.

3. Quando estamos em sua companhia, Jesus revela quem nós somos e Quem Ele é.
Os discípulos de Emaús ainda não sabiam que era Jesus Quem caminhava com eles. Assim mesmo, pediram que continuasse com eles. Foi um gesto de generosidade, para com um estranho, mas foi também um gesto de admiração: aquele homem sabia tudo da Bíblia. Tinha o que dizer e eles queriam ouvir mais.
Eles podiam parar ali, satisfeitos com o que ouviram. Mas não se contentaram, porque podiam ter mais. Infelizmente, “o amor da maioria das pessoas pelo Senhor pára em um estágio bem superficial. A maioria das pessoas ama a Deus por causa das coisas tangíveis que Ele concede a elas. Elas O amam por causa de Seu favor” (Irmão Lourenço, 1691. Em: LOURENCO, Irmão e LAUBACH, Frank. Praticando a presença de Deus. Editado por Gene Edwards. Rio de Janeiro: Danprewan, 2003, p. 140). As bênçãos visíveis nos levam para perto de Deus, mas podem até nos distrair nesta caminhada. Só a fé de fato nos leva para perto do Senhor. Nosso desejo deve ser buscá-lO pela fé, independentemente das preciosas misericórdias dEle para conosco.

Nossa história caminha para o seu ápice. O suspense, narrado por Lucas, está próximo do fim. Quem era aquele homem que sabia tudo sobre as Escrituras.
Sentados para comer numa casa em Emaús, o homem assumiu a liderança, como era costume ao visitante. O homem partiu o pão e distribuiu. Quando começaram a comê-lo, reconheceram que era Jesus.

3.1. Por que não o reconheceram antes? Seu corpo era o corpo glorificado, sobre o qual não temos qualquer descrição. É provável que seu corpo glorificado representasse uma dificuldade para ser reconhecido, mas quero sugerir três outros motivos.

* Os olhos dos discípulos estavam fitos na cruz, não no túmulo.
Eles se fixaram tanto na cruz, que seus olhos ficaram como que petrificados. Por isto, não puderam tirar do túmulo vazio a conseqüência principal. Se Jesus ressuscitara, a vida tinha sentido.
Há muitos cristãos petrificados pela derrota, olhando para as dificuldades, e não avivados pela esperança.

* Os discípulos tinham um conceito acerca de Jesus, conceito ao qual Jesus não podia corresponder.
Eles queriam que Jesus fosse o que não era: um libertador político. Todo o seu ministério pareceu inacabado, porque não libertara Israel.
Há muitas pessoas procurando um Jesus errado. Jesus cura, mas não deve ser procurado apenas porque cura. Jesus consola, mas não deve ser procurado apenas porque consola. Jesus abençoa, mas não ser procurado apenas por abençoa. O cristianismo não pode ser um pátio de milagres, embora Ele cure, nem um balcão de trocas, embora Ele nos aquinhoe com bênçãos, como muitas pessoas tendem os cristãos a fazê-lo.

* Os discípulos se esqueceram que Deus é o Senhor da história e se deixaram levar pela tempestade do momento.
Eles estavam experimentando uma espécie de silêncio de Deus, silêncio inexistente, mas sentido, em função do peso da história.
Não podemos nos esquecer que, mesmo que não vejamos o túmulo vazio, o túmulo está vazio. Não somos mais miseráveis. Jesus ressuscitou e está conosco, por meio do Espírito Santo do Pai e do Filho.

3.2. E por que os olhos dos discípulos foram abertos? Penso que o “por que” pode ser respondido com o “quando”. Os seus olhos foram abertos quando comiam o pão que Jesus lhes deu.
Ver a Jesus aconteceu em conseqüência de uma convivência com Jesus.
Deus está aí diante de nós, entre nós e dentro de nós. Para vê-lO, precisamos conviver com Ele pela fé. Lembremo-nos que “antes de podermos amar, temos de conhecer. Temos de conhecer a pessoa antes de podermos amá-la. Como manteremos nosso `primeiro amor’ pelo Senhor? Conhecendo-O melhor constantemente!” (LOURENCO, Irmão, op. cit., p. 117). Apesar do que temos escutado, “não precisamos de arte nem de ciência para irmos até Deus. Tudo de que precisamos é um coração firmemente determinado a não dedicar-se a outra coisa que não seja a Ele, por amor a Ele, e tão somente amá-lO” (p. 77).

Se queremos mais de Jesus, precisamos conviver mais com Ele. Sem convivência nossos olhos estarão fechados para vê-lo, para experienciar sua graça para conosco. Se não o convidarmos para viver conosco, na avançaremos na vida espiritual. E “não avançar na vida espiritual é o mesmo que andar para trás” (LOURENCO, Irmão, op. cit., p. 90).
Precisamos chamar Jesus para o centro e para a periferia de nossas vidas. Precisamos pedir a Ele que nos ajude e nos ensine a  reduzir a sedução das distrações (necessidades, idéias, sofrimentos, atividades), porque elas nos afastam dEle. É por causa das distrações que não temos mais de Jesus nas nossas vidas.
Que todos as nossas ocupações concentrem-se em conhecer a Deus. Quanto mais de fato nós O conhecemos, maior será nosso desejo de conhecê-lO. Uma vez que o conhecimento é uma medida do amor, quando mais profundo e mais íntimo nós formos com o Senhor, maior será o nosso amor por Ele. E se o nosso amor pelo Senhor for grande, então iremos amá-lO tanto na dor quanto na alegria” (LOURENÇO, Irmão, op. cit., p. 140).

4. Os corações dos discípulos ardiam na presença de Jesus (verso 30).
Por isto, mais tarde, enquanto comiam, seus olhos foram abertos. Esta experiência foi um processo em que os discípulos tomaram decisões de grande valor.

* Quando Jesus lhes dirigiu a palavra, tocando na ferida que doía neles, eles pararam, com os rostos entristecidos (verso 17).
Quando as coisas estão difíceis, precisamos parar, para de fazer coisas, parar de procurar respostas fáceis; precisamos parar, para deixar Deus agir.

* Diante dAquele desconhecido que tinha o que falar, eles Lhe fizeram um convite transformador. “Fica conosco” — foi o pedido deles (verso 29). Este desejo prosseguiu: quando chegaram em casa e se puderam a comer, a conversa continuou (verso 30). A generosidade lhes trouxe esperança. Porque se abriram para o outro, Jesus abriu os seus olhos para que se abrissem para Jesus. Eles tinham muito pouco, porque tinham uma aldeia e uma casa para viver, mas não tinham esperança para viver. Nunca chegará o tempo em que não tenhamos o suficiente a ponto de não termos nada para oferecer. Porque desejaram a sua companhia, Jesus foi abrindo os horizontes das suas vidas, até chegarem a descoberta mais importante de uma vida: Jesus é Salvador, porque morreu na cruz, e Senhor, porque ressuscitou.

* Eles também se dispuseram a ouvir a exposição da Palavrra de Deus, esta palavra constante de esperança. Quanto tempo falou o Desconhecido, não sabemos, mas não foi pouco. O Desconhecido fez um resumo de todo Antigo Testamento. E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras (verso 27).

Nenhum gesto é suficiente. Todos são importantes, mas é preciso uma disposição fundamental: ter os corações ardentes. Revisando suas disposições, os discípulos reconheceram, admirados, perguntando-se um ao outro: Não estava queimando o nosso coração, enquanto ele nos falava no caminho e nos expunha as Escrituras? (verso 32).
Seu coração arde por Jesus? Talvez tenha ardido no passado, mas hoje ele palpita forte por outras paixões ou por outras chateações.

CONVITE
Quem é Jesus para você?
O seu coração ainda arde por Jesus?

1. Descubra Quem é Jesus: o seu Salvador e o seu Senhor. Se você já fez descoberta, mantenha o seu coração queimando por Ele. Se perdeu este calor, redescubra Quem é Jesus: o seu Salvador e o seu Senhor.

2. Vá para Jerusalém, onde está o túmulo vazio, porque cheio de esperança. Se for o caso, volte para Jerusalém. Olhe para o túmulo vazio e se deixe aquecer pela esperança, que é Jesus. Este é o sentido da vida, que Jesus oferece.

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