COMPROMETENDO-ME A ADORAR
Salmo 22
1. A adoração é a abertura do nosso coração diante de Deus (1-2)
Esta abertura diante de Deus decorre de nossa fome dEle. Ela acontece no espaço público (o culto coletivo) e no espaço privado (em casa, no ônibus, na praia, onde quer que estejamos).
Na adoração privada, nós começamos por pedir que Ele, que sonda os nossos corações, sonde os nossos corações. Depois, vamos nos encantando com a Sua presença e vamos exaltando o que Ele tem sido para nós.
A adoração pública deve ser uma continuação da adoração privada.
A adoração pública não pode ser vista como uma mercadoria, que se compra de um tipo ou de outro.
Em qualquer caso, a adoração deve nos levar ao arrependimento e à mudança de coração, “a fim de usufruirmos formas mais produtivas e mais harmoniosas de vida” (HOUSTON, James. A fome da alma. São Paulo: Abba, 2001, p. 23). Adoração sem arrependimento e sem confissão não é adoração.
No salmo 22, o poeta não começa falando da grandeza de Deus. Na verdade, ele está decepcionado com o seu Senhor: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que se acham longe de minha salvação as palavras de meu bramido? Deus meu, clamo de dia, e não me respondes; também de noite, porém não tenho sossego.”
Notemos que, assim mesmo, ele adora a Deus, ao buscá-lO de dia e de noite. No seu sentimento de desamparo, os olhos continuam firmes em Deus. Seu lamento era uma forma de busca. A adoração não deve ser em espírito e em verdade? A sua verdade era a de desamparo; era esta a verdade que tinha fluir dele. Não devemos adorar a Deus apenas quando estamos felizes, mas também quando estamos desesperados.
A adoração que nasce destes momentos é absolutamente profunda, como a frase final de Jesus na cruz (Mateus 27.47), quando usou a abertura deste salmo. Jesus se identificou com o salmista, agora em seu estado, ao carregar as dores dos pecados de toda a humanidade. A diferença é que Jesus não está decepcionado com o Pai, mas apenas reconhecendo a ruptura que o pecado provoca na intimidade deles.
O que Jesus fez indica a natureza da adoração: Jesus abriu o seu coração para o Pai. Naquela hora, não tinha palavras de gratidão para com o Pai, mas de saudade. Era o sentimento de quem abria o seu coração, como deve ser a adoração.
Como Jesus, não tenha medo de abrir o seu coração. Se estiver triste, abra o seu coração, como faz o salmista (versos 11 a 21). Se estiver feliz, abra o seu coração, como também faz o salmista (versos 22 a 30).
Adorar a Deus é abrir o coração diante de Deus.
2. A adoração depende grandemente da nossa memória acerca de Deus (versos 3-5).
Os versos seguintes (versos 3-5) formam um belo resumo do valor da memória entre o povo de Israel: “Contudo, tu és santo, entronizado entre os louvores de Israel. Nossos pais confiaram em ti; confiaram, e os livraste. A ti clamaram e se livraram; confiaram em ti e não foram confundidos.”
É por isto que, como lemos na Bíblia (e por isto, lemos a Bíblia na adoração particular e pública), Deus é o Deus dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó e também dos apóstolos Pedro, João e Paulo.
Neste sentido, nossas experiências são indispensàveis para nos recordar o que Deus nos fez. Aquele que nos fez nos fará.
Você tem achado difícil adorar a Deus, pelas dificuldades que tem enfrentado? Leia a sua vida: veja o que Ele já fez! Leia a Bíblia: veja o que Ele fez a pessoas iguais a você. Não se esqueça da Palavra de Deus: “Sabei que o Senhor é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio. Entrai por suas portas com ações de graças e nos seus átrios, com hinos de louvor; rendei-lhe graças e bendizei-lhe o nome. Porque o Senhor é bom, a sua misericórdia dura para sempre, e, de geração em geração, a sua fidelidade.
3. A adoração começa com a prostração, isto é, com humildade (versos 6-10).
O poema bíblico parece um pouco desconexo, mas cada verso se interliga ao anterior e ao próximo. Agora, o poeta pinta seu auto-retrato, contando com a ajuda de pintores externos: “Mas eu sou verme e não homem; opróbrio dos homens e desprezado do povo. Todos os que me vêem zombam de mim; afrouxam os lábios e meneiam a cabeça: ‘Confiou no Senhor! Livre-o ele; salve-o, pois nele tem prazer’. Contudo, tu és quem me fez nascer; e me preservaste, estando eu ainda ao seio de minha mãe. A ti me entreguei desde o meu nascimento; desde o ventre de minha mãe, tu és meu Deus”.
Jesus experimentou a mesma realidade humana. Seus algozes riram dEle (Mateus 27.42) nos mesmos termos com que riram os contemporâneos do salmista.
O adorador sabe quem é: verme. Não há beleza em seus lábios. Não há pureza em seu coração. Não há inteligência em sua mente. Tudo está corrompido pelo pecado. Sem esta perspectiva, não há adoração.
O adorador sabe a sua história: foi criado por Deus. Quando ainda era um feto, Deus cuidava dele. Então, ele pode dizer como Jó: “Pois eu sei que o [meu Redentor] vive, e que por fim se levantará sobre a terra (Jó 19.25). Como isto se dará? O adorador, como Jó, não sabe, tantas são as suas perguntas. Sua fé continua inabalada. Coisas ruins podem acontecer ao adorador, mas ele sabe que Deus cuida dele. Este é o saber do mistério, não o da razão. Sua fé aposta tudo na transcendência bondosa e generosa de Deus.
A adoração começa, então, com a auto-negação do homem e a afirmação de Deus. Quando o cristão adora, ele diz: “Que o Senhor seja e que eu não seja” (Catarina de Siena).
Se um cantor entoa canções sacras e o pública o louva, houve um espetáculo que tem o seu valor, mas não é adoração.
Se um coro prepara belas peças e o público se enconta com o valor dos coristas e do seu regente, mas não sai exatando o Deus sobre Quem o coro cantou, não houve adoração, embortenha havido uma bela e válidas apresentação.
Se um pregador brilha em lugar de Jesus, houve retórica, mas não profecia, que faz parte da adoração.
O adorador que olha para si ou espera que olhem para ele disfarça-se de adorador porque não o é.
Não há adoração sem humildade.
4. A adoração tem seu ápice no louvor (versos 3 e 22-30).
A partir da memória, isto é, da recordação do que Deus já fez por nós. Ou melhor: como não louvar, se recordamos que Deus já fez por nós? A propósito, outra versão traduz o verso 3 assim: “Tu és santo e habitas no meio dos louvores de Israel” (SBB – Revista e Corrigida).
O salmista louva ao Senhor. Não há nada no texto que indique o fim de sua desolação, mas ele se compromete a louvar publicamente ao Senhor. “A meus irmãos declararei o teu nome; cantar-te-ei louvores no meio da congregação” (verso 22).
O salmista conclama a que louvemos ao Senhor. Quem teme (isto é: leva Deus a sério) ao Senhor, louva-O. “Vós que temeis o Senhor, louvai-o; glorificai-o, vós todos, descendência de Jacó; reverenciai-o, vós todos, posteridade de Israel” (verso 23).
O salmista explica a razão do louvor. “Pois não desprezou, nem abominou a dor do aflito, nem ocultou dele o rosto, mas o ouviu, quando lhe gritou por socorro” (verso 24). Ao oferecer a sua explicação, o poeta conclui que o louvor era uma inspiração do próprio Deus. Era a sua condição humana diante da transcendência que o levava a louvar. O fato de ser habitado pelo mistério de Deus levava-o a louvar ao seu Senhor. “De ti vem o meu louvor na grande congregação; cumprirei os meus votos na presença dos que o temem” (verso 25). A justiça de Deus (versos 26-27), a majestade de Deus (verso 28) e o senhorio de Deus (versos 29-31) confirmam que Ele deve ser adorado. O passado pede que O adoremos. O futuro pede que o adoremos.
APLICAÇÃO
O verso 25b resume a disposição do salmista: “cumprirei os meus votos na presença dos que o temem” (verso 25), isto é, dos que temem ao Senhor.
Quero, então, sugerir-lhe alguns compromissos:
1. Seja um adorador.
Alguns cantores não querem ser chamados de artistas ou cantores, mas de adoradores. Adoradores somos todos, afinados e desafinados, anônimos e famosos.
Seja um adorador, em casa, na praia, no metrô, no santuário. Comprometa-se com a adoração. Quando vier para o culto público, comece a adorar ao sair de casa. Use a música instrumental da parte inicial do culto para adorar.
2. Participe de, pelo menos, um culto por semana. Se não puder vir nos nossos três cultos públicos semanais, venha pelo menos num. Senão puder vir domingo pela manhã, venha à noite. Se não puder vir no domingo, venha na quarta-feira. Se não pude vir em nenhum destes dias, escolha uma hora de oração para participar. Diga como o salmista: “Cantar-te-ei louvores no meio da congregação” (verso 22).
3. Participe de um grupo musical, coral, vocal ou instrumental. Se já participa, ponha como meta ser mais assíduo e mais pontual. Se não participa, apresente-se a um regente. Quem sabe, você possa começar um novo ministério na igreja na area da adorração? Procure sua liderança.
4. Respeite as diferenças de estilo, e mesmo de qualidade, daqueles que participam dos cultos públicos. Seja um campeão da unidade. Seja um defensor da diversidade liturtica.