2Pedro 3.3-15: NÓS ESPERAMOS NOVOS CÉUS E NOVA TERRA

NÓS ESPERAMOS NOVOS CÉUS E NOVA TERRA
2Pedro 3.3-15:
2005

1. A SECUNDARIZAÇÃO DO PRINCIPAL
Uma vida no céu se tornou um desejo secundário para muitos cristãos, por várias razões, entre elas as seguintes:

1.1. Cansamos de esperar algo que parece não vem.
Antes de tudo saibam que, nos últimos dias, surgirão escarnecedores zombando e seguindo suas próprias paixões. Eles dirão: “O que houve com a promessa da sua vinda? Desde que os antepassados morreram, tudo continua como desde o princípio da criação” (versos 3-4).
Este “cansaço” advém do tempo decorrido entre a vinda, já realizada, e a volta, ainda não concretizada, de Jesus Cristo. O Cristianismo, em que a espera é, ou pelo menos deveria ser, parte integral, tem já 1977 anos; ao longo deste período, a volta de Jesus tem sido aguardada. Muitos já marcaram a data deste regresso. Estas marcações têm feito muito mal à fé cristã. Fazem mal também os caçadores de sinais, sempre prontos a mostrar os fatos da história como sendo indicativos da proximidade do fim. Não podemos nos esquecer que o final da história humana é uma decisão soberana do Pai, o único que sabe o dia e a hora da volta do Filho (Mateus 24.36). O fim dos tempos não é uma conseqüência natural ou da maldade humana ou da bondade humana pela proclamação do Evangelho.
Precisamos prestar muita atenção às promessas bíblicas, para não fazermos Deus dizer o que Deus não disse. Jesus disse, por exemplo: Eu lhes asseguro que não passará esta geração até que todas estas coisas aconteçam. Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão (Mateus 24.34-35). Ele se referia, neste caso, ao que aconteceria aos habitantes de Jerusalém, o que, de fato, ocorreu no ano 70 com o massacre promovido pelos romanos, o fim dos tempos para aquela geração, não o fim de dos tempos de todas as gerações.
De fato, os primeiros cristãos, mesmo fora de Jerusalém, acreditavam que Jesus voltaria naquela geração. O apóstolo Paulo cria que estaria vivo para ver seu Senhor retornando à terra. Escreveu ele: Os que estivermos vivos seremos arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre (1Tessalonicenses 4.17). No entanto, a intenção do apóstolo era acalmar seus irmãos, preocupados com os que já tinham morrido (“dormido”), razão por que mostra que não haveria diferença, no dia do Senhor, entre os mortos e os que ainda estivessem vivos. Na mesma carta, ele lembra que nada sabia sobre “tempos e épocas” (1Tessalonicenses 5.1). Escrevendo aos mesmos leitores, e a nós também, ele adverte: não se deixem abalar nem alarmar tão facilmente, quer por profecia, quer por palavra, quer por carta supostamente vinda de nós, como se o dia do Senhor já tivesse chegado. A verdade é que o mistério da iniqüidade já está em ação, restando apenas que seja afastado aquele que agora o detém. Então será revelado o perverso, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua de sua boca e destruirá pela manifestação de sua vinda (2Tessalonicenses 2.2-3,7-8). A mensagem bíblica, portanto, é clara: se Jesus voltar e nos encontrar vivos, seremos arrebatados; se estivermos mortos, Ele nos ressuscitará. É isto que nos deve importar.
O apóstolo Pedro tem diante de si a mesma preocupação. Por isto, escreve: Antes de tudo saibam que, nos últimos dias, surgirão escarnecedores zombando e seguindo suas próprias paixões. Eles dirão: “O que houve com a promessa da sua vinda? Desde que os antepassados morreram, tudo continua como desde o princípio da criação” (versos 3-4).
Não, as coisas não continuam como desde o princípio, porque “o mistério da iniqüidade” continua em ação, mas será destruído por um sopro de Cristo quando Este voltar para buscar os seus. Esta é a promessa que precisamos reter.

1.2. Receamos falar do céu porque falar do céu nos obriga a reconhecer que vamos morrer e que este mundo vai ser destruído.
Gostamos tanto do mundo em que vivemos que tendemos, como aqueles que não crêem, a nos esquecer que há muito tempo, pela palavra de Deus, existem céus e terra, esta formada da água e pela água. E pela água o mundo daquele tempo foi submerso e destruído. Pela mesma palavra os céus e a terra que agora existem estão reservados para o fogo, guardados para o dia do juízo e para a destruição dos ímpios. (…) O dia do Senhor, porém, virá como ladrão. Os céus desaparecerão com um grande estrondo, os elementos serão desfeitos pelo calor, e a terra, e tudo o que nela há, será desnudada. Naquele dia os céus serão desfeitos pelo fogo, e os elementos se derreterão pelo calor (versos 5-7, 10b, 12b).
Além disso, fazemos tudo o que estiver ao nosso alcance para viver como se não fôssemos morrer, como se pudéssemos ignorar que “o dado último deve ser o primeiro”: “vamos morrer.” Por esta razão, nós nos empenhamos em viver comparativamente, suprindo necessidades que não temos. “Mas nós queremos mais do que necessidades básicas. Nós queremos o que os outros querem. Nossa comparação não é feita com o passado, mas com o presente, com o futuro. Nossa inveja é isso: desejar uma vida que pode ser nossa e que deve ser nossa”. Na verdade, muitos vivem como se não houvesse “nada depois do pano” e tudo tivesse que ser vivido “deste lado do pano”  COUTINHO, João Pereira. Em “Status Anxiety”, Alain de Botton visita Montaigne. Folha de S.Paulo, 19.2.2005. Disponível em . Acessado em 19.2.2005. É por esta razão que tendemos a investir “cada vez mais em nosso mérito”. Neste caso, “nosso dinheiro é a medida de nossa alma”.
1.3. Tememos nos comprometer com algo que não entendemos: o céu está além de nossa imaginação.
Somos todos racionalistas: tendemos a crer no que vemos. Como não sabemos onde é o céu e como é a vida lá, precisamos falar da vida aqui, que sabemos como é.
Bom seria que nos alegrássemos com nossa ignorância acerca do céu. Bom seria que nos encantássemos com a descrição bíblica do céu, completamente poética. Bom seria que não ficássemos frustrados com a inexistência de uma narrativa jornalística sobre este lugar. Encante a poesia de que as ruas lá serão “asfaltadas” com ouro e não com piche. Essa aliança que eu uso na mão como o sinal de um amor precioso será derretida para “asfaltar” meu chão. O céu é tão espetacular que aquilo que mais tem valor aqui (o ouro) lá não vale nada; é materia prima para o lugar em que pisam os nosos pés, não para adornar nossas mãos…

2. O MAL-ESTAR DA FALTA DE UM BEM-ESTAR
É imensa a falta que faz a falta da esperança de uma vida após a morte.

2.1. Sem a esperança do céu, sentimo-nos fracos para enfrentar as lutas de hoje.
Paulo chama de miserável a vida vivida sem a perspectiva do céu: Se é somente para esta vida que temos esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de compaixão. Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dentre aqueles que dormiram (1Coríntios 15.19-20).
Como ele (Todos os dias enfrento a morte — 1Coríntios 15.31), vivemos em meio a dificuldades diversas. Se não cremos que Cristo triunfará em nós, que forças teremos para enfrentar as feras? Crer na volta de Cristo nos lembra que a nossa vida não se dá num plano meramente humano. Aguardar o céu nos recorda que a nossa vida tem uma fase humana e uma fase pós-humana. Há um Deus nos apoiando no presente e nos esperando no futuro.  
Segundo o ditado popular, aqui se faz e aqui se paga. No entanto, temos visto maus se regalando até a morte com o fruto da sua injustiça. Fortalece saber que esperamos novos céus e nova terra, onde habita a justiça (verso 13). Sim, desde já nos está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, dará no Juízo final a todos os que amam a sua vinda (1Timóteo 4.8). Como é abençoador crer que o Filho do homem, que há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, retribuirá a cada um segundo as suas obras (Mateus 16.27). Sua palavra é clara: Eis que venho em breve! A minha recompensa está comigo, e eu retribuirei a cada um de acordo com o que fez (Apocalipse 22.12).

2.2. Sem a esperança do céu, ficamos sem estímulo para buscar uma vida santa.
No início de 2005, os jornais trouxeram uma declaração do cantor Roberto Carlos, a propósito de um novo estilo de vida: “Eu estava fazendo curso para santo, mas agora liberei geral”. Quem age assim põe em evidência a conclusão paulina: Se os mortos não ressuscitam, “comamos e bebamos, porque amanhã morreremos”. Não se deixem enganar: “As más companhias corrompem os bons costumes” (1Coríntios 15.32-33).

2.3. Sem a esperança do céu, perdemos o ardor pela evangelização.
Sabemos que devemos pregar o Evangelho todo ao mundo todo, com rapidez, porque o Evangelho é o único caminho para Jesus Cristo, que é o único acesso para o céu.
Mas para que pregar o Evangelho, se há pessoas sem Cristo que vivem vidas boas?
Não há vida verdadeiramente boa sem Cristo, nem no presente, nem no futuro. Assim, o interesse por anunciar Jesus tem muito a ver com o que cremos e praticamos acerca do céu. Se cremos que há uma vida magistral possível, aqui porque cuidada por Deus, no futuro porque vivida na presença plena de Deus, desejaremos que mais e mais pessoas vivam por esta verdade.

3. O BEM QUE O CÉU NOS FAZ HOJE
Faz bem, mesmo que pareça pouco racional, crer no céu.
Quando menino, meu pai fazia tocar um disco com uma mensagem do pastor paulistano Rubens Lopes, que tinha o seguinte título: “porque o céu é melhor”. Não lembro do conteúdo, mas me lembro que o céu é melhor. Não tenho queixas da vida, mas sei que o céu é melhor. É bom me lembrar disto.

3.1. Quando temos os olhos no céu, experimentamos a segurança que a esperança no céu nos dá: somos amados por Deus.
Deus amou o mundo de tal maneira que nos deu seu Filho unigênito para que, crendo nEle, sejamos salvos e admitidos no céu (João 3.16). Tanto somos amados por Deus que o Seu Filho ainda hoje nos está preparando uma “casa” para morarmos com Ele no céu (João 14.2).

3.2. Quando temos os olhos no céu, aprendemos que aprender a viver deve ser a nossa preocupação fundamental.
O tempo que passamos aqui é curto e precisamos vive de maneira sábia. Segundo o salmista, precisamos rogara Deus que nos ensine a viver os nossos dias para que alcancemos corações sábios (Salmo 90.12). Afinal, “nossa inteligência vale o que vale nossa vida”. COUTINHO, João Pereira, op. cit.

Uma vida sábia relativiza o presente, seja ele ruim, seja ele bom. O tempo vai passar. Para nós um dia é um dia, um ano é um ano, mas o dia vai passar, por pior que seja, o ano vai passar, por pior que seja. Nossa alegria não é eterna; nossa dor não é para sempre.

Uma vida sábia absolutiza Deus, a quem devemos temer. Para Ele, por exemplo, o tempo não tem relógio. Pedro retoma o salmista. O poeta canta: De fato, mil anos para ti são como o dia de ontem que passou, como as horas da noite (Salmo 90.4). O apóstolo conforta: Não se esqueçam disto, amados: para o Senhor um dia é como mil anos, e mil anos como um dia (verso 8)..

Uma vida sábia olha o outro com misericórdia. Se olhássemos o outro como gostaria que o outro nos olhássemos, nós o compreenderíamos melhor; nós seríamos compreendidos melhor. Se nós olharmos o outro como alguém que vai para o mesmo céu que nós vamos, seríamos menos cruéis com o outro. Como aprenderíamos a viver se nos recordássemos sempre que Jesus morreu pelo outro, mesmo aquele que nos fere com um espinho. Jesus vai ressuscitar também por aquele que nos faz manquejar como um calo.

3.3. Quando temos os olhos no céu, sentimo-nos motivados para viver de modo santo.
Lembremo-nos, novamente, da recomendação petrina: Visto que tudo será assim desfeito, que tipo de pessoas é necessário que vocês sejam? Vivam de maneira santa e piedosa, esperando o dia de Deus e apressando a sua vinda. Portanto, amados, enquanto esperam estas coisas, empenhem-se para serem encontrados por ele em paz, imaculados e inculpáveis (versos 11-12a, 14).
Eis como devemos viver: de maneira santa e piedosa; nossa espera deve ser com os lábios que cantam, mas também com uma vida que encante. Esperemos com os lábios; esperemos com a vida. Esperemos de tal modo que, vindo Ele hoje (e essa é uma possibilidade!), sejamos encontrados por ele em paz, imaculados e inculpáveis (verso 14). Podemos todos dizer: “Pode vir, Senhor”? Temos todos coragem de pedir que Ele venha agora?

4. O PRESENTE COMO DEVE SER
Para que oremos e vivamos assim, precisamos renovar a nossa esperança. Não importa o que pensem os que não crêem e mesmo os que crêem estranhamente, nós esperamos um novo céu e uma nova terra.

4.1. Renovamos a nossa esperança quando cremos que a nossa salvação ainda não está completa.
Como aprendemos na Bíblia, Aquele que começou boa obra em nós, vai completa até o dia de Cristo Jesus (Filipenses 1.6), isto é, até o dia da volta de Jesus Cristo. Estamos a caminho.
Isto dá sentido à nossa vida. Com esta visão, não precisamos ficar especulando sobre aquilo que não é para especular: quando será o fim e como será a vida depois do fim. A recomendação petrina é clara: O dia do Senhor, porém, virá como ladrão (verso 10). Tenham em mente que a paciência de nosso Senhor significa salvação (verso 15a).

4.2. Renovamos a nossa esperança, quando esperamos a volta de Jesus, que será o início do fim da história, como podendo ocorrer hoje. Se Jesus descer hoje, estamos prontos para subir na hora que Ele quiser. Portanto, amados, enquanto esperam estas coisas, empenhem-se para serem encontrados por ele em paz, imaculados e inculpáveis (verso 14).

4.3. Renovamos a nossa esperança, quando firmamos nossa fé que será cumprida a promessa de novos céus e nova terra. Afirmemos e reafirmemos que o Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns (verso 9a).

4.4. Renovamos a nossa esperança, quando proclamamos o evangelho, porque o arrependimento dos pecados é o ponto de partida para uma vida com qualidade aqui, na medida do possível, e no céu, numa medida muito além do possível. Afinal, [Deus] é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento (verso 9b).

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