Salmo 23: NADA NOS FALTARÁ

NADA NOS FALTARÁ
(Salmo 23.1)

[Salmo 23.1 – NVI]
O Senhor é o meu pastor; de nada terei falta.
Em verdes pastagens me faz repousar
e me conduz a águas tranqüilas;
restaura o vigor.
Guia nas veredas da justiça por amor do seu nome.
Mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte,
não temerei perigo algum,
pois tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me protegem.
Preparas um banquete para mim à vista dos meus inimigos.
Tu me honras, ungindo a minha cabeça com óleo e fazendo transbordar o meu cálice.
Sei que a bondade e a fidelidade me acompanharão todos os dias da minha vida,
e voltarei à casa do Senhor enquanto eu viver.

[Salmo 23.1 – ARC]
O Senhor é o meu pastor; nada me faltará.
Deitar-me faz em verdes pastos,
guia mansamente a águas tranqüilas.
Refrigera a minha alma;
guia pelas veredas da justiça, por amor do seu nome.
Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte,
não temeria mal algum,
porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.
Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos,
unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.
Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida,
e habitarei na casa do Senhor por longos dias.

[Salmo 23.1 – Schökel]
O Senhor é meu pastor; nada me falta.

Em verdes prados me faz recostar,
pra fontes tranqüilas me conduz
e repara minhas forças;
por veredas convenientes me guia,
como o pede seu título.

Ainda que eu caminhe por vales escuros,
nada temo: tu vais comigo;
teu bastão e  teu cajado me sossegam.

Põe diante de mim uma mesa,
à frente dos meus inimigos.
Unges com perfume minha cabeça
e transborda minha taça.
Tua bondade e lealdade me escoltam
todos os dias da minha vida;
e habitarei na casa do Senhor
por dias sem fim.

1. Na nossa caminhada, apesar de termos Deus como nosso Pastor, podem nos faltar (e faltam!) muitas coisas. Na verdade, na vida de muitos de nós têm-nos sobrado outras realidades. O salmista descreve o que lhe sobra, que é também o que não queríamos ter. Estas sobras são na verdade uma descrição de realidades que desejamos fossem diferentes.

Ficamos cansados, pois são tantas as tarefas, são tantos os problemas, que fazem nosso corpo arquear, nossas pernas fraquejar, nossos braços esmorecer. Ficamos cansados, mas queremos descansar, nem que seja por um pouco. Queremos que a promessa bíblica se torne viva para nós, pois sabemos que Deus fortalece o cansado e dá grande vigor ao que está sem forças. Ele faz com que aqueles que esperam no Senhor, tenham renovadas as suas forças, possam voar como águias, corram e não fiquem exaustos, andem e não se cansem (Isaías 40.29-31).

Ficamos estressados: é tanta correria, são tantas as decisões, é tanta a insegurança, são tantas as necessidades que o nosso ser se aperta, como se retorcesse num nó que não se desfaz. Ficamos estressados e tememos as conseqüências disto sobre nossas vidas. O que queremos mesmo é lançar sobre o Senhor-Pastor, que cuida de nós, todo o nosso estresse (1Pedro 5.7).

Ficamos fracos; então, a cabeça ordena, mas o corpo não cumpre; o desejo vem, mas não chega ao braço e, quando chega o braço, não se estenda para alcançar o necessário. O apóstolo Paulo se sentia forte quando estava fraco (2Coríntios 10.12), e nós queríamos reagir da mesma forma, mas…

Somos injustiçados nas relações pessoais, eclesiais, profissionais e jurídicas, não recebendo o que merecemos, não tendo o reconhecimento que precisamos, não ouvindo um “muito obrigado” pelo bem que fizemos, não sendo ouvidos para dar a nossa versão de modo a não ser condenados sem direito à defesa. Somos injustiçados e sonhamos com o dia em que seremos vistos como nós somos. Como o profeta, sabemos que o Senhor ama a justiça, aborrece o roubo e toda a injustiça; pelo que aguardamos que Ele nos dê a Sua recompensa (Isaías 61.8).

Sucumbimos à desesperança, que é o sentimento de nada vale a pena, que todo esforço será inútil, que o pior é uma certeza segura. Como o poeta, parecemos dizer: Já pereceu a nossa força, como também a nossa esperança no Senhor (Lamentações 3.18). Ficamos sem esperança, mas é ela que queremos para nós. Sabemos que sem esperança não dá.

A doença nos chega e somos alcançados pela enfermidade, nossa ou de alguém, que vai minando, por vezes, não só a força física, mas também a emocional; em outras situações, lançam aos nossos olhos um diagnóstico de uma doença que não podia nos alcançar ou a alguém a quem muito queremos, mas somos alcançados, sem que tenhamos tempo para nos preparar, como se fosse possível alguém se preparar para uma tragédia. Queremos ser curados; queremos ver nossos queridos recuperados. Na verdade, desejamos que o Senhor desvie de nós  toda enfermidade (Deuteronômio 7.15). Se ela vier, queremos o Senhor nos sustente no leito da enfermidade, amaciando a cama (Salmo 41.3).

A morte nos mostra suas soturnas garras, na tentativa de nos separar definitivamente de alguém a quem amamos. Lemos que nem a morte nos pode separar do amor de Cristo (Romanos 8.39), mas queremos também amar e ser amados pelos queridos aqui e agora.

Sentimos medo, que é a falta de coragem para olhar para a frente, com medo do futuro; para o Alto com medo de algum castigo; para os lados, com medo de algum ataque. Gostaríamos de cantar como o poeta bíblico: Não me assustam os milhares que me cercam (Salmo 3.6).

Padecemos com as inimizades, especialmente aquelas gratuitas, quando, sem que nada tenhamos feito, somos classificados, julgados, condenados, moralmente assassinados; mas também quando, tendo que tomar decisões duras, nossas intenções também são julgadas sem ser ouvidas e consideradas. Como gostaríamos que nossos inimigos fossem afastados de nós (Salmo 37.9), para que possamos viver em paz.

O salmista, assim vivendo como nós vivemos, afirma (e esta deve ser a nossa afirmação também) que o Senhor é o nosso pastor e que nada nos falta(rã) ou de que nada senti(re)mos falta.

2. Nada nos falta, quando paramos de falar sobre Deus, para falarmos com Deus. O salmista refere-se ao Senhor como pastor nos três primeiros versos; no entanto, nos seguintes (4-6), ele fala ao Senhor. Há um toque de impessoalidade no início de sua caminhada com o Senhor; contudo, as experiências da vida levam-no a um outro tipo de relacionamento. Jó experimentou a mesma realidade, quando, embora temente a Deus, só conhecia ao Senhor de ouvi. O convívio com a dor levou-o. Aquele Deus era insuficiente; ele queria mais e encontrou. Confessou ele: Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram (Jó 42.5).
É na escassez que aprendemos quem é Deus. Façamos uma revisão nas nossas biografias e veremos que isto é verdade.
Quando nos perdemos, é que somos encontrados. No campo, a ovelha perdida não sabe o caminho da volta. O pastor precisa ir ao seu encontro. Na vida, quando os desvios nos seduzem, o Pastor nos chama de volta. Quando os atalhos nos enganam, o Pastor nos espera, atraindo. Eis o que Ele fez: Eu os conduzi com laços de bondade humana e de amor; tirei do seu pescoço o jugo e me inclinei para alimenta (Oséias 11.4). Eis o que Ele faz: o nosso Pastor nos conduz com laços de bondade e de amor. Nosso pastor tira o peso de nossas costas e se inclina para nos alimentar.

Quando perdemos, é que recebemos de volta o que perdemos. No campo, a ovelha perde a hora da refeição, o lugar da água fresca. O pastor precisa encontra para conduzi a lugares tranqüilos. Na vida, podemos perder a vida, achando-a sem graça; então, o Pastor nos chama de volta e nos espera para um encontro para nos dar de volta o prazer de viver.

Quando caminhamos na escuridão, é que buscamos a luz. Então, notamos que o Senhor é a nossa luz, para que levantemos nossos olhos vozes, para cantar: O Senhor é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei? O Senhor é a força da minha vida; de quem me recearei? (Salmo 27.1). Quando afundamos no atoleiro, é que nos alegramos ao pisar na rocha. Na experiência viva do salmista, o Senhor o tirou duma cova de destruição, dum charco de lodo; pôs os seus pés sobre uma rocha, firmou os seus passos (Salmo 40.2). Quando convivemos com o silêncio, é que escutamos cada palavra como se fosse uma revelação.

3. Nada nos falta quando experimentamos o poder de Deus. Quando isto acontece, somos libertos da força da aflição e vemos a beleza da vida.
A promessa de nada nos faltar implica em reconhecer que Deus não nos tira a aflição. Ela vem para todos. Ela é necessária para todos. O que o Pastor promete é eliminar o poder da aflição sobre nós. Descemos aos vales da vida, mas não ficamos lá. Somos nocauteados pelos inimigos, mas não ficamos na lona. Sentimos sede, mas encontramos água. Ficamos cansados, mas somos revigorados. Não há poder da aflição sobre o aflito pastoreado por Deus. Seu poder derruba o poder da aflição.
Durante muito tempo, antes de ser rei, Davi foi um pastor de ovelhas. Ungido rei de Israel, foi então contratado para trabalhar para o rei Saul. A inveja de Saul fez com que ele andasse por vários anos como um andarilho, de vale em vale, de caverna em caverna, de esconderijo em esconderijo. Ele não foi procurar o profeta Samuel, para requerer os seus direitos. Ele não orou ao Senhor para que apressasse a posse no reinado.
Nesse tempo, Saul não conseguiu elimina. Ele foi afligido por Saul, mas Deus não permitiu que Saul o destruísse, embora não tenha impediu que Saul o afligisse. Nesse tempo, então, Deus foi o pastor de Davi e impediu que ficasse prisioneiro do ódio e eliminasse o inimigo Saul. Deus fez de Davi um instrumento para a transformação do seu caráter, de homem de guerra para homem segundo o coração de Deus. Davi teve ódio, mas Deus o livrou do poder do ódio.
Quando experimentamos o poder de Deus, nós vemos a beleza da vida, que não é feita apenas de vales, mas também de montanhas. Quando olhamos para baixo, só vemos os vales. Quando olhamos para cima, nós vemos os montes. Há beleza nos vales se os olhamos das montanhas. Quando Deus nos pastoreia, Ele nos leva para os montes, a fim de que vejamos beleza nos vales. Ele torna os nossos pés ágeis como os da corça, sustenta firmes nas alturas (Salmo 18.33).

4. Nada nos falta quando deixamos que o Senhor nos pastoreie.
Quando me deixo pastorear pelo Senhor, experimento o cansaço, mas Ele mês faz repousar. Poderei poderá dizer à minha alma, então: Retorne ao seu descanso, oh minha alma, porque o Senhor tem sido bom para você! (Salmo 116.7).
Quando me deixamos pastorear pelo Senhor, experimentamos o estresse, mas Ele nos conduz a águas tranqüilas. Então, aprenderemos a entregar as nossas preocupações ao Senhor, e Ele nos susterá, pois jamais permitirá que o justo venha a cair (Salmo 55.22). Por isto, quando a ansiedade já me dominava no íntimo, o teu consolo trouxe alívio à minha alma (Salmo 94.19).
Quando me deixo pastorear pelo Senhor, experimentamos a fraqueza, mas Ele me restaura o vigor, pois Ele é o Deus que me reveste de força e torna perfeito o meu caminho (Salmo 18.32).
Quando me deixo pastorear pelo Senhor, experimento a injustiça, mas Ele me guia pelos caminhos da justiça. Realiza-se o meu pedido: Ensina o teu caminho, Senhor; conduze-me por uma vereda segura por causa dos meus inimigos (Salmo 27.11).
Quando me deixo pastorear pelo Senhor, experimento a desesperança, mas Ele me sustenta.  Por isto, eu me deito e durmo, e torno a acordar, porque é o Senhor que me sustem(Salmo 3.5).
Quando me deixo pastorear pelo Senhor, experimento a doença, mas Ele me protege. Na verdade, só ele cura os de coração quebrantado e cuida das suas feridas (Salmo 147.3).
Quando me deixo pastorear pelo Senhor, experimento a morte, mas Ele me consola. Deus é o nosso Deus para todo o sempre; ele será o nosso guia até a morte (Salmo 48.14).
Quando me deixo pastorear pelo Senhor, experimento o medo, mas Ele me fortalece. Em Deus, cuja palavra eu louvo, em Deus eu confio, e não temerei. Que poderá fazer o simples mortal? (Salmo 53.4)
Quando me deixo pastorear pelo Senhor, experimento as inimizades, mas Ele me honra. A promessa é bem clara por parte do Senhor. Porque ele me ama, eu o resgatarei; eu o protegerei, pois conhece o meu nome. Ele clamará a mim, e eu lhe darei resposta, e na adversidade estarei com ele; vou livra e cobri de honra ( Salmo 91.14-15). O Senhor Deus é sol e escudo; o Senhor concede favor e honra; não recusa nenhum bem aos que vivem com integridade (Salmo 84.11).

EPÍLOGO
Deixemo-nos pastorear pelo Senhor. Paremos de nos pastorear a nós mesmos. Pastoreados pelo Senhor, não teremos desejo de nada e veremos que o desespero é um equívoco.
Ter Deus como Pastor é deixar-se conduzir por Ele.