Romanos 8.12-17: FILHOS DE ABBA

FILHOS DE ABBA
Romanos 8.12-17

2006

Lemos em Romanos 8.12-17:
Portanto, irmãos, estamos em dívida, não para com a carne, para vivermos sujeitos a ela. Pois se vocês viverem de acordo com a carne, morrerão; mas, se pelo Espírito fizerem morrer os atos do corpo, viverão, porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Pois vocês não receberam um espírito que os escravize para novamente temerem, mas receberam o Espírito que os adota como filhos, por meio do qual clamamos: “Aba, Pai”. O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus. Se somos filhos, então somos herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, se de fato participamos dos seus sofrimentos, para que também participemos da sua glória.

Esta porção fica mais clara quando lida em conjunto com Gálatas 4.4-7:
Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da Lei, a fim de redimir os que estavam sob a Lei, para que recebêssemos a adoção de filhos. E, porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho ao coração de vocês, e ele clama: “Aba, Pai”. Assim, você já não é mais escravo, mas filho; e, por ser filho, Deus também o tornou herdeiro.

Somos filhos de Deus por adoção.
A adoção nos tempos contemporâneos advém de desejos diferentes dos observados ao tempo do apóstolo Paulo.
Na Roma paulina, a adoção de meninos era uma prática comum, especialmente na classe superior dos senadores. O estímulo para a prática vinha da necessidade de se ter um herdeiro masculino. No período imperial, o tempo do apóstolo Paulo, os imperadores lançavam mão deste recurso para garantir uma boa sucessão por meio de um filho adotado. Um dos imperadores contemporâneos de Paulo, Tibério (reinado: 14-37 A.D.), era um adotado. Seu pai era César Augusto, outro adotado.
O menino adotado geralmente era o mais velho numa família, esperando-se que fosse saudável. O adotado recebia o nome da nova família, mas mantinha o nome da família original no sobrenome do meio. O adotado era um privilegiado porque desfrutava de relacionamentos com duas famílias.
O filho adotivo, portanto, era alguém escolhido  por seu pai adotivo para herdar seu nome e sua propriedade. Não era menor que o filho gerado pelo pai; era maior.

OS PRIVILÉGIOS DOS FILHOS DE DEUS
1. Os filhos de Deus são adotados pelo Espírito Santo, que os recebe (verso 15b). Separa-o. Os filhos de Deus são sagrados (separados, selados).
Os filhos de Deus recebem do Espírito Santo no seu coração a certeza de sua filiação ao Pai (verso 16). Contra todas as vozes, a voz do Espírito sopra no coração a nossa condição.
O Espírito Santo é o tabelião que lavra a certidão de adoção. Nada pode tirar esta convicção de um filho de Deus. Está no cartório, com selo.
Não há nenhuma condenação para os filhos de Deus (Romanos 8.1 — “Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus”, Este que foi condenado em nosso lugar — verso 3)
Adotados, os filhos de Deus são habitados pelo Espírito Santo, que luta por eles contra o domínio do pecado. (1Coríntios 6.19-29 — “Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de si mesmos? Vocês foram comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o seu próprio corpo”.)

2. Os filhos de Deus o chamam de “Aba, Pai” (verso 15c).

2.1. Todos os seres humanos podem se tornar filhos de Deus. Abba e Pater. Abba é aramaico. Pater é grego. Todos estão incluídos, judeus e gregos, isto
é,  todos os nascido podem ser filhos de Deus. A graça inclui a todos.

2.2. Todos os filhos de Deus podem gritar pelo seu “Abba”. Na cruz, Jesus clamou “Deus meu”; não clamou por “Abba”. Ele não o pôde porque levava os nossos pecados. Agora, na hora da dor, do abandono, nós podemos clamar “Abba”.

2.3. Os filhos de Deus não têm razão para temer (verso 15a) :
. ser consumido pelo Pai, em função da santidade absoluta dEle (agora podemos nos relacionar com o Pai, sem medo de morrer, como acontecia no Antigo Testamento.)
. perder o cuidado do Pai, que é oomo o Pai da parábola do filho pródigo contada por Jesus.
. o julgamento dos outros a seu respeito. Não importa o que digam: você é filho de Abba.

3. Os filhos de Deus são herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo (verso 17a).
Os filhos de Deus participam da glória de Jesus Cristo (verso 17b), glória que será plena quando todo joelho se dobrar diante dEle como Senhor, no fim da história.
Estamos a caminho de ter a mesma natureza de Jesus, natureza glorificada.
É tão pobre a pregação da prosperidade. É tão pobre pensar nesta herança como sendo material. A herança do filho de Deus não é algo que Deus lhe conceda. É o próprio Deus: sua presença gloriosa.
Herdar o mundo significado não ser possuído pelas coisas do mundo, mas possuí-las.

OS COMPROMISSOS DOS FILHOS DE DEUS
1. Os filhos de Deus devem procurar viver de acordo com o Espírito, fazendo morrer os atos pecaminosos do seu corpo, do seu ser  (verso 13). De que espírito são vocês? — ainda pergunta Jesus. (Lucas 9.54-55 — “Os discípulos Tiago e João perguntaram: “Senhor, queres que façamos cair fogo do céu para destruí-los?” Mas Jesus, voltando-se, os repreendeu, dizendo: “Vocês não sabem de que espécie de espírito vocês são, pois o Filho do homem não veio para destruir a vida dos homens, mas para salvá-los”).
Os filhos de Deus são sagrados (separados, selados). É assim que devem ser tratados por seus irmãos. Portanto, já que os filhos são sagrados, trate-o como sagrados.

2. Os filhos de Deus se deixam guiar pelo Espírito Santo (verso 14).
Quando o Espírito Santos nos guia, nos dirige, nos impele, nos controla, nos convence, nos persuade, nos ilumina, nós fazemos “morrer diariamente, hora após hora, os estímulos e as armadilhas da carne pecaminosa por intermédio do Espírito Santo”. (Cranfield) O Espírito arrasta, docemente, sem coação, sem violência, o filho de Deus para onde a carna não se dispõe a ir” (Godet). É como Jesus dizendo a Zaqueu: desce porque hoje eu quero jantar e dormir na sua casa. Zaqueu podia ficar em cima da árvore, mas, docemente convencido, ele desce, para uma nova vida.

3. Os filhos de Deus participam dos seus sofrimentos.
A adoção não isenta o filho do sofrimento do sofrimento. O fato de alguém sofrer não o desfilia. Ao contrário, protege-o. O sofrimento nos protege da idolatria e nos previne contra a avareza.
Deus sofre com o estado da criação. Seus filhos também devem sofrer com esta mesma condição, na própria vida ou na vida dos outros.
A filiação não evita o sofrimento que vem do testemunho do evangelho. Este sofrimento faz parte da escadaria da glória.

A DECISÃO
Sem a graça somos filhos por geração (criação). Com a graça, somos filhos por adoção, pela reconciliação.
A filiação é um dom de Abba, não um prêmio merecido pelo filho (verso12). Esta filiação foi promulgada na cruz, quando Jesus perguntou ao Pai:  “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste”. Ali houve uma troca: Jesus foi deserdado como Filho, e nós assumimos o lugar de filhos.
A filiação se torna efetiva com a aceitação da graça oferecida.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO

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