Mateus 5.5: A BEM-AVENTURANÇA DA HUMILDADE

A BEM-AVENTURANÇA DA HUMILDADE
Mateus 5.5

Esta felicitação (“Bem-aventurados os humildes [ou mansos] — , pois eles receberão a terra por herança”) é uma citação do salmo 37.11, que garante que “os humildes receberão a terra por herança e desfrutarão pleno bem-estar”.
Quem são estes humildes?

1. PARECEM, MAS NÃO SÃO
Comece eu caracterizando que não são os humildes.

Humildes não são aqueles que aparentam simplicidade nos hábitos e nas palavras. Assim como há os que ostentam piedade (Colossenses 2.23), há os que se orgulham da sua humildade.

Humildes não são aqueles com baixa instrução escolar ou escassos recursos financeiros ou patrimoniais. Não necessariamente essas pessoas humildes. A propósito, para quem está nesta condição, há recomendações que, se for o caso, devem ser consideradas. A Timóteo, e logo a todos nós, foi recomendado que se aplicasse à leitura (1Timóteo 4.13). Os cristãos de Éfeso são chamados a trabalhar para terem o que precisam e o que podem repartir (Efésios 4.28).

Humildes não são aqueles que preferem ficar em silêncio entre amigos, porque tanto a fala excessiva quanto a fala mínima ou nenhuma podem ser filhos da mesma presunção. Não se pode esquecer que “palavra proferida no tempo certo é como frutas de ouro incrustadas numa escultura de prata” (Provérbios 25.11).

Humildes não são aqueles que não têm qualquer ambição, mesmo a legítima, por melhores condições de vida, nos planos patrimonial, social, familial, eclesial, pessoal. Não se pode esquecer que o desejo pode ser o motor da maldade, mas é também a alma da espiritualidade. Somos, na Bíblia, convidados a desejar mais de Deus.

Humildes não são aqueles excessivamente modestos, capazes de ver virtudes nos outros, mas nunca em si mesmos. Na verdades, esta é uma humildade nociva na vida profissional, na vida emocional e na vida espiritual. Os excessivamente modestos não crescem profissionalmente, porque não desejam oportunidades e, quando vêem, não as agarram por medo do fracasso; os excessivamente modestos não são humildes; são medrosos, e os medrosos não entrarão no reino dos céus se continuarem medrosos. Os excessivamente modestos não crescem emocionalmente; são imaturos, com reações inapropriadas, porque têm um conceito adequado de si mesmos, como se não gostassem de si mesmos, mesmo sabendo que são criações bonitas de um Criador perfeito. Os excessivamente modestos não crescem espiritualmente, como se para eles não fosse o conselho bíblico de que devemos olhar para o alto e para cima onde Jesus nos está esperando com um sorriso nos lábios. Fomos feitos para crescer… em conhecimento, em amor, em graça (Efésios 4.15, Filipenses 1.9, Colossenses 1.10, 2Pedro 3.18).

Humildes não são os resignados que aceitam como inapagáveis os traumas de que foram vítimas, traumas do passado, mas traumas vivos com seu hálito de morte. Do passado só deve ficar o que nos ensina a viver melhor no presente e no futuro; devemos deixar para trás as coisas que  devem ficar para trás (Filipenses 3.13) e guardar na memória o que fortalece a nossa esperança (Lamentações 3.21). Humildes não são os tristes que tomam como invencíveis os vícios a que foram levados a adotar por curiosidade ou por fuga ou por engano. Humildes não são os acomodados que se submetem, como se fossem inalteráveis, a hábitos, comportamentos e atitudes que foram adquirindo ao longo da vida, mesmo conhecendo seu demolidor poder de destruição. Humildes são os que não querem a tristeza do vicio ou do  trauma ou do hábito ruim. Humildes são os que lutam pela própria liberdade. Todas as curas que Jesus efetuou contaram com a vontade expressa das pessoas alcançadas em terem suas vidas mudadas. Quando chegou a Jericó, um cego de nome Bartimeu foi ao encontro do Senhor Jesus, com um pedido persistente: “Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim!”. Mesmo assim, Jesus pediu que confirmasse seu desejo, perguntando: “O que você quer que eu lhe faça?” A resposta foi eloqüente, vindo de alguém que não aceitava a sua condição: “Mestre, eu quero ver!” (Marcos 10.46-52). E Jesus fé-lo voltar a ver.

2. AS DIMENSÕES DA HUMILDADE
A bem-aventurança da humildade tem a ver com outro tipo de humildade.

1. Bem-aventurados, segundo o discurso e a prática vigentes, são os que conseguem, pela força e pela técnica, tirar tudo o que podem da terra, como se fosse um prato a ser devorado, um monte a ser desbastado, um jardim a ser devastado, mas Jesus diz que
. os bem-aventurados, os que vão viver bem na terra, são aqueles que sabem que habitam um planeta belíssimo, mas naturalmente selvagem, vital mas essencialmente perigoso;
. os bem-aventurados, os que vão se alegrar na terra, são aqueles que estão sempre lembrados que são pó, logo parte desta terra, não senhor dela, uma vez que ela e tudo o que nela há pertencem a Deus, que a entregue ao ser humano para administração, não para destruição, e
. os bem-aventurados, aqueles que vão herdar a terra, são aqueles que esperam da terra apenas o que podem receber dela, por meio da reverência e do cuidado, com o uso de uma inteligência respeitosa e humilde.

2. Bem-aventurados, segundo a ideologia única prevalecente nas mentes das crianças, dos adolescentes, dos jovens e dos adultos, são os que se exaltam, os que conquistam, os que vencem, mas Jesus diz que os bem-aventurados são aqueles que, com tristeza, contemplam sua impotência e sua fraqueza [Spinoza, na sua “Ética”, diz que a humildade é a tristeza que surge pela contemplação de nossa impotência e nosso desamparo.]
Felizes, diz Jesus, são aqueles que reconhecem sua limitação corporal, por mais que sejam saudáveis, por mais que sejam rápidos, por mais que sejam hábeis com as mãos, com os pés ou com o tronco, por mais que sejam musculosos, vigorosos e fortes. Jesus tem razão, não Muhamad Ali (ou Cassius Clay), que se achava o maior e o melhor boxeador de todos os tempos, ao ponto do dizer: “Quando você é o maior como eu sou, é difícil ser humilde”. [Todas as citações sobre humildade foram retiradas do excelente site quotationsbook (http://www.quotationsbook.com)] Ali não era humilde, mas, pelo menos, era sincero… mas a sinceridade não é uma virtude, apenas uma obrigação. Você quer ser feliz? Pare de contemplar seu próprio corpo como fonte de felicidade; ele é apenas seu companheiro.
Felizes, ensina Jesus, são aqueles que percebem sua ignorância intelectual. Em termos civilizacionais, o ser humano tem multiplicado o que sabe sobre a vida em muitas as dimensões e continuará acumulando enquanto souber que há muito o que descobrir; em termos pessoais, somos os que fazemos acontecer o progresso intelectual e o faremos enquanto soubermos que temos muito a aprender; na verdade, somos muito pouco, de modo que não há razão para acharmos que sabemos, que sabemos mais que os outros, porque o que sabemos é que não sabemos e que temos muito a saber, com humildade, para não termos que reviver a história da construção da torre de Babel. Aqueles nossos antepassados não sabiam que é a humildade é a verdadeira sabedoria que nos prepara para todas as mudanças possíveis da vida (George Arliss). Quem se mede a si mesmo e se compara consigo mesmo não tem entendimento (2Coríntios 10.12). Você quer ser feliz? Pare de achar, arrotando-o ou não, que sabe mais que os outros. Eis como devemos ser: “Tenham uma mesma atitude uns para com os outros. Não sejam orgulhosos, mas estejam dispostos a associar-se a pessoas de posição inferior. Não sejam sábios aos seus próprios olhos” (Romanos 12.16). “Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos” (Filipenses 2.3).
Felizes, lembra Jesus, são aqueles que admitem sua fragilidade emocional. Somos fracos quando temos, porque queremos ter mais e porque tendemos a usar o que temos para subjugar os eventualmente mais fracos. Somos fracos quando não temos, porque nos desesperamos, achando desamparados pelas pessoas queridas ou pelo querido Deus. Somos fracos quando vencemos, somos fracos quando perdemos. Você quer ser feliz? Pare de achar que é capaz de resistir às perdas, porque você não o é. Peça a Deus para que não venham: Jesus mesmo pediu que, se possível, fosse passado o cálice do sofrimento anunciado. Se vier a dor, de que tipo for, peça a Deus para lhe sustentar, como seu refúgio e fortaleza, socorro totalmente presente nos momentos de angústias (Salmo 46.1). Somos tão fracos como Abraão, que temeu e tremeu quando Deus lhe pediu um sacrifício, e porque queremos ser mais fortes que ele? Davi, diante de uma situação difícil, reconheceu: “eu hoje estou fraco, ainda que ungido rei (2Samuel 3.39 – ARA). Sua oração, naquele e em outros momentos, não podia ser outra senão esta: “Tem misericórdia de mim, Senhor, porque sou fraco; sara, Senhor, porque os meus ossos estão perturbados (Salmo 5.2 – ARA). Por não oramos assim?
Felizes, revela Jesus, são aqueles que convivem saudavelmente com sua interdependência com outros seres humanos. A interdependência não existe quando a reconhecemos; ela simplesmente existe, com a nossa aquiescência ou não. Ninguém subsiste por si mesmo. O ser humano, dentro e fora da igreja, é membro um do outro (Romanos 12.5)  Por isto, devemos viver como Einstein: “Centenas de vezes por dia eu me lembro que a minha vida interior e exterior depende das ações de outras pessoas, vivas e mortas, e que eu devo me empenhar para viver na mesma medida que tenho recebido e continuo a receber”. Não existe isto de que alguém se faz por si mesmo; para ser o que somos, para ter o que temos, alguém se sacrificou antes de nós ou está se sacrificando agora. [Adaptado de Jesse Him] “Em algum momento na nossa vida, nosso fogo interior vai se apagar. O fogo é reaceso pelo encontro com outro ser humano. Devemos ser gratos a todos aqueles que reacendem nosso espírito interior” (Albert Schweitzer). Felizes são aqueles que, estando com a sua lâmpada acessa, acendem a dos outros. “Deus nos fala. Deus nos olha. Mas é geralmente através de outras pessoas que Deus atende às nossas necessidades” (Spencer W. Kimball). Somos felizes quando vivemos a nossa interdependência com alegria, não como um fardo. Uma das coisas mais difíceis da vida é o trabalho em equipe, porque um membro de equipe sabe que precisa do outro membro da equipe. Na vida, “não é aprovado quem a si mesmo se louva, mas, sim, aquele a quem o Senhor louva”(2Coríntios 10.18 — ARA). É neste contexto que ressalta o ensino de Jesus, quando disse que aquele que a si mesmo se exalta será humilhado; aquele que a si mesmo se humilha conhecerá a exaltação (Mateus 23.12). É por isto que Ele nos manda que levemos a carga uns dos outros (Gálatas 5.2). Você quer ser feliz? Pare de achar que ninguém precisa de você. Pare de achar que não precisa de ninguém.
Felizes, abençoa Jesus, são aqueles que curtem sua dependência espiritual. O sucesso na vida, que buscamos e devemos buscar, pelo qual nos esforçamos e devemos nos esforçar, “não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus” (Romanos 9.16). Não conseguimos pensar como Deus, não como conseguimos agir como Deus, não conseguimos amar como Deus. Mesmo sabendo disto, alguns nos comportamos como o príncipe de Tiro, a quem Deus julgou nos seguintes termos: “Filho do homem, dize ao príncipe de Tiro: Assim diz o Senhor Deus: Porquanto o teu coração se elevou e disseste: Eu sou Deus, sobre a cadeira de Deus me assento no meio dos mares; e não passas de homem, e não és Deus, ainda que estimas o teu coração como se fora o coração de Deus (Ezequiel 28.12 — ARA) . Somos felizes quando gostamos da idéia de que Ele pensa os melhores pensamentos para nós. Somos felizes quando o louvamos por saber que está sempre em ação por nós e para nós. Somos felizes quando nos deixamos amar completamente por Deus.  Fora disso, a vida é um inferno. Como trocadilhou Agostinho, o orgulho transformou os anjos em demônios, mas a humildade torna os humanos em anjos. Você quer ser feliz? Pare de se achar melhor crente que os outros. Você é dizimista fiel? Deus o sabe. Você passa uma hora diária de oração diante de Deus? Ele o sabe. Você devora todo dia a Bíblia? O seu autor o sabe. Você abre a mão direita para socorrer o outro?. Que sua mão esquerda não o saiba, porque Deus o sabe. Você tem usado seu talento para Deus>? Continue a usa para Deus; sem buscar reconhecimento humano, porque o aplauso de hoje vira vaia amanhã. Tiago fala de um tipo de pessoa que não devemos ser: aquela que se olha no espelho, mas sai e esquece a sua aparência (Tiago 1.23-24). Olhe menos para si mesmo; olhe mais para Deus, se você quer ser feliz.

3. Bem-aventurados são aqueles que vivem com intensidade cada momento de suas vidas. Eis o que ensinam algumas canções de sucesso, alguns livros do topo, alguns dos anúncios publicitários mais sedutores. Não há nada de novo nisto. O profeta Isaías, há dois milênios e meio, já registrava este valor como seu contemporâneo: numa situação difícil, que deveria ser tempo de reflexão por parte do povo, houve, ao contrário, “júbilo e alegria, abate de gado e matança de ovelhas, muita carne e muito vinho!”, com as pessoas dizendo: “Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos” (Isaías 22.12-13). O missionário Paulo de Tarso, seis séculos depois, viu o mesmo pensamento predominando no seu tempo. O escritor Albert Camus, em meados do século 20, decretou: “O que  importa não é a vida eterna, é a eterna vivacidade”. [CAMUS, Albert. Citado por TODD, Olivier. Albert Camus, uma vida. Rio de Janeiro: Record, 1998, p. 312]
No entanto, Jesus garante que bem-aventurados são aqueles que têm como meta para suas vidas manter o equilíbrio, no meio dos extremos. Os humildes são os que sabem que a virtude está no meio, não na extravagância; na serenidade, não na rebaalização, no auto-controle, não no descontrole. Viver no limite é um desejo celebrado como ideal. Os extremos existem, mas felizes são os que se controlam para não os tocar. O instinto existe, o impulso existe, a paixão existe. Humildes são os que procuram manter sob controle seu instituto, seu impulso e sua paixão.
Você quer ser feliz? Não acredite que a violência resolva. Você quer ser feliz? Não perca a sua vida por causa da felicidade de um momento. Você quer ser feliz? Não aceite o convite de Baal para se prostituir, porque você tem um instinto, não é um instinto. Você quer ser feliz? Apaixone-se com o coração, mas mantenha viva a razão. Você quer ser feliz? Modere o seu temperamento. Você quer se feliz? Seja senhor do seu desejo. Você quer ser feliz? Seja mais forte que seu impulso.
Diferente dos que muitos pretensos sábios ensinos, o que nos faz feliz é viver segundo a sabedoria que vem do alto, que “é antes de tudo pura; depois, pacífica, amável, compreensiva, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sincera” (Tiago 3.17).

4. Bem-aventurados são os que têm e os que podem e os que usufruem, os que têm dinheiro, os que detêm poder e os que se repastam no sexo, mesmo que remunerado. Eis algumas verdades nas quais poucos afirmem crer, conquanto muitos vivam e morram por elas. Nem todos querem ouvir Jesus dizendo que bem-aventurados são aqueles que vivem vidas difíceis, com pouco ou nenhum dinheiro, sem poder mesmo para ser atendido por um médico num hospital, sem força para uma vida sexualmente vigorosa. Vive melhor quem vive uma vida sacrificial, razão por que não confia na sua própria força, ou na força das armas, para se defenderem. Por isto, são felizes os que não são ambiciosos, nem avarentos, nem agressivos. Felizes são os que deixam de lado a crença na força bruta, como ocorreu com Moisés. A primeira informação que temos do hebreu-líder é que ele, quando jovem, matou um egípcio que afligia um hebreu e escondeu o corpo na areia (Êxodo 2.11-13). No meio da sua trajetória, no entanto, ele é apresentado como o mais manso (humilde, paciente) da terra (Números 12.3). Na verdade, “melhor é ter espírito humilde entre os oprimidos do que partilhar despojos com os orgulhosos” (Provérbios 16.19).

5. Bem-aventurados são os fortes. Este é o lema do paganismo de todos os tempos. O lema de Jesus, contudo, é outro. Para Jesus, felizes são aqueles que, por erros próprios ou dos outros, foram amansados pela vida e perderam todo o vigor. Para Jesus, felizes são os alquebrados pelas escolhas que fizeram ou que não fizeram. Felizes são os que reconhecem que estão humilhados por um ou mais vícios, por um ou mais traumas, por um ou mais hábitos ruins, por um ou mais transtornos psíquicos.
Humilhado é aquele que, tendo os dentes folheados de nicotina, não gosta do que vê no espelho do seu próprio rosto mas não consegue dar um basta. É alguém que sabe que o fígado está se esmigalhando por causa da cirrose produzida pelo álcool mas não consegue se abster de modo radical. É alguém que olha para o corpo de uma mulher (ou de um homem) e só vê uma fonte de prazer, nunca uma pessoa, mas não resiste aos impulsos, mesmo que ilícitos e vulgares. Feliz é aquele que tem uma tristeza imensa por viver desse modo.
Humilhado é aquele que foi ferido com tanta profundidade que sua magoa é maior que seu próprio coração. É alguém cuja compulsão para comer ou para gastar dinheiro ou para falar da vida alheia está destruindo seu corpo ou sua família ou seu patrimônio ou sua saúde ou sua comunidade. É alguém para quem a palavra “vitória” não existe no seu vocabulário porque só aprender a perder, perder, perder. É alguém para quem alegria é uma palavra abstrata.

3. A BÊNÇÃO DA HUMILDADE
Bem-aventurados são os humildes porque eles herdarão a terra.
A humildade não produz exaltação. A exaltação vem com uma dádiva não merecida. Como sabemos, herança é algo que se recebe e para o qual nada se fez por merecer. Herança é para os filhos. E nós somos filhos de Deus.
A herança está reservada para que os humildes a busquem. É tesouro para ser buscado. É terra onde os humildes podem plantar uma vida nova.
Jesus, o primeiro filho de Deus, foi comissionado por Ele para abençoar os humildes. Quando começou seu ministério, citou o profeta Isaías: “O Espírito do Soberano, o Senhor, está sobre mim, porque o Senhor ungiu para levar boas notícias aos pobres. Enviou para cuidar dos que estão com o coração quebrantado, anunciar liberdade aos cativos libertação das trevas aos prisioneiros, para proclamar o ano da bondade do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; para consolar todos os que andam tristes, e dar a todos os que choram em Sião uma bela coroa em vez de cinzas, o óleo da alegria em vez de pranto, e um manto de louvor em vez de espírito deprimido. Eles serão chamados carvalhos de justiça, plantio do Senhor, para manifestação da sua glória. Eles reconstruirão as velhas ruínas e restaurarão os antigos escombros; renovarão as cidades arruinadas que têm sido devastadas de geração em geração” (Isaías 61.1-4). Enquanto Ele lia o rolo profético na sinagoga, “todos tinham os olhos fitos nele; e ele começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir” (Lucas 4.20-21).
Começamos a ser abençoados quando ouvimos Jesus nos dizer o que Ele faz:
. cuida dos que estão com o coração quebrantado (seu coração não está humilhado?)
. anunciar liberdade aos cativos (você não anda preso ao seu passado?);
. consola os que andam tristes (você não está triste diante das derrotas que vem experimentando?);
. reconstrói velhas ruínas, restaurando antigos escombros (você não parece caminhar sob os escombros de sua própria vida?);
. renova vidas devastadas mesmo que há muitas gerações (você não se vê como sem possibilidade de recomeçar a viver?).
Jesus tem poder para curar os corações feridos e humilhados, libertar os que estão presos ao passado, consolar os entristecidos pelas derrotas que lhe são infligidas, reconstruir sua vida mesmo destruída. Seu poder Lhe foi dado pelo Pai. Ele mesmo disse: “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai. Ninguém conhece o Filho a não ser o Pai, e ninguém conhece o Pai a não ser o Filho e aqueles a quem o Filho o quiser revelar. Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mateus 11.27-30).

Diante do poder de Jesus, eu lhe sugiro considerar um princípio que lhe pode trazer uma nova vida: “Conscientemente escolho confiar toda a minha vida e minha vontade aos cuidados e controle de Cristo”. (Princípio 3). Este princípio corresponde ao terceiro passo dos AA: “Decidimos entregar nossas vidas e nossas vontades aos cuidados de Deus”.
Este princípio, para ser realizado, implica na tomada de quatro decisões essenciais, certo de que bem-aventurados são os que procuram a herança da cura.

1. Eu considero o momento por que estou passando como uma experiência de deserto.
Estou agora no meio desta jornada desértica. Sei que o deserto é para me humilhar, mas sei que minha humilhação é para eu crescer.
O povo de Israel passou pela mesma experiência e aprendeu com Moisés: “Lembrem-se de como o Senhor, o seu Deus, os conduziu por todo o caminho no deserto, durante estes 40 anos, para humilha e pó-los à prova, a fim de conhecer suas intenções, se iriam obedecer aos seus mandamentos ou não. Assim, ele os humilhou e os deixou passar fome. Mas depois os sustentou com mana, que nem vocês nem os seus antepassados conheciam, para mostrar-lhes que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca do Senhor” (Deuteronômio 8.2-3).

2. Eu tomo uma decisão: escolho a vida.
Escolho a vida. Escolho ser transformado. Eu desejo ter mudada a minha vida. Humilhado pela vida, não aceito o senhorio da vida sobre mim. Quero uma nova vida.
Confesso que tenho uma ambição. Concordo, com Chesterton, que “sofremos hoje porque temos colocado a humildade no lugar errado. A modéstia deixou o território da ambição. A modéstia se estabeleceu no território da convicção, onde nunca deveria estar. Uma pessoa deve ter dúvida acerca de si mesmo, nunca sobre a verdade. Ocorreu uma inversão. Hoje o homem insiste exatamente na parte que não deveria: ele insiste em si mesmo. A parte em que tem dúvida é exatamente a parte em que não deveria ter dúvida: a razão divina. Estamos a ponto de produzir uma civilização modesta demais para crer na mesa da multiplicação. [CHESTERTON, G.K. Orthodoxy, p. 31]
Ambiciono ver meu trauma vencido. Quero ficar livre do medo. Ambiciono ver meu vício vencido. Não quero ser um vencido pelo álcool  (Isaías 28.1c) ou por qualquer outra droga. Ambiciono ver meus hábitos ruins abandonados.
Nenhum desejo, agora sei que não estou sozinho. Deus está comigo. Neste sonho, agora sei que não preciso desistir de viver. Jesus quer me libertar. Sei que sou fraco, mas Jesus é forte. Sei que minha vontade parece ter vontade própria, mas eu submeto minha vontade ao Espírito Santo de Deus.

3. Eu entrego a minha vida a Jesus Cristo, para que Ele me restaure.
Leio na Bíblia que Deus mostra “o que é bom e o que o Senhor exige”: que eu “pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o seu Deus” (Miquéias 6.8). Quero seguir este plano divino para mim. Então:
. Reconheço que alguns dos meus problemas, que me têm humilhado, não foram provocados por mim. Oro sinceramente então para que perdoes os que me magoaram, tenham eles intencionalmente querido me ferir ou não. Quanto a mim, há erros que eu cometi e venho sofrendo as conseqüências. Não é fácil admitir isto. Como disse o compositor Beethoven, nada é pior do que admitir para a gente mesma os nossos próprios erros. Só os humildes os fazem e, neste caso, a humildade é como a roupa íntima: quando aparece, parece indecente (Helen Nielsen). Por isto, a humildade é uma atitude que subjaz a todas as outras virtudes. Eu me humilho.
. Eu aceito o perdão gratuito de Deus para os meus pecados (Romanos 3.22), certo de que Jesus Cristo morreu na cruz, perdoando, e ressuscitou ao terceiro dia, mostrando que é Deus (1Coríntios 15.2-4). Eis a minha oração: “Oh meu Deus: eu creio que o Senhor enviou seu Filho Jesus Cristo ao mundo para morrer para perdoar os meus pecados. Então, eu me arrependo de meus pecados, com o desejo de viver o resto da minha vida de acordo com a Tua vontade. Coloque o teu Espírito Santo em minha vida para me guiar pelo resto da minha vida. Eis o que te peço em nome de Jesus. Amém”.
. Eu desejo que Jesus seja o comandante da minha vida (Romanos 10.9). Eu não me comando mais. Eu me comandei e deu no que deu. Que Ele me controle. Que ele controle o meu temperamento. Que Ele reforme o meu caráter. Eis a minha oração: “Oh, meu Deus: eu quero submeter minha vontade a Ti, de modo que tu me orientes. Ajuda a superar os meus traumas, meus vícios e meus maus hábitos. Eu te peço também que minha vitória sobre essas realidades, tão minhas, possa ser usada por ti para ajudar outras pessoas, quando estas virem o teu poder transformando, dia após dia, a minha vida”.

4. Reconheço que estou apenas no começo da transformação.
Deus começou a boa obra em mim e, confio de todo coração, vai termina (Filipenses 1.6). Sei que a restauração não é um programa de princípios. “Nossas restaurações acontecem um dia de cada vez. Se permanecemos presos ao passado ou constantemente preocupados com o amanhã, desperdiçaremos o precioso tempo do presente. É somente no presente que a mudança e o crescimento podem acontecer. Não podemos mudar o passado e só podemos orar pelo amanhã”. Por esta razão, não precisamos ficar preocupados com o dia de amanhã; só com o hoje. Cada dia  tem suas próprias dificuldades. [BAKER, p. 81]
Nesta caminhada, procurarei ajuda. Nesta caminhada, ficarei firme com o meu Deus.

***
Termino com quatro promessas da Palavra de Deus:
. O Senhor “conduz os humildes na justiça e lhes ensina o seu caminho” (Salmo 25.9).
. “O Senhor agrada-se do seu povo; ele coroa de vitória os oprimidos” (Salmo 149.4).
. “Mais uma vez os humildes se alegrarão no Senhor, e os necessitados exultarão no Santo de Israel” (Isaías 29.19).
. “Deus dá graça aos humildes” (1Pedro 5.5)

Convido-o, então, a fazer a seguinte oração comigo:
“Senhor Deus, estou cansado, cansado de tentar resolver, sem conseguir, meus problemas, livrando de um traumas que me tem ferido, de um vício que me tem consumido, de um hábito ruim que me tem dominado, de uma compulsão que tem tem destruído, de um  transtorno que tem me derrotado. Diante de ti, reconheço, entre lágrimas, que preciso admitir que perdi o controle sobre a minha vida. Fracassei, Senhor. Então, entrego a ti o controle da minha vida. Não quero mais ter controle da minha vida; eu quero ter vida, Senhor. Tu tens o poder para me consolar, para me fazer caminhar por um trilho novo, para trazer minha vida de volta. Eu quero mudar. Eu preciso do teu poder. “Eu quero poder para destruir hábitos que não posso destruir. Quero poder para fazer as coisas que eu sei que são certas, mas que eu não consigo faze por mim mesmo. Quero poder para romper com o meu passado e ficar livre daquelas lembranças desagradáveis. Quero ser capaz de amar as pessoas e de ser amado ou amada por elas e me livrar das feridas, a fim de que eu não construa paredes de separação. Quero poder para abraçar o tipo de vida que tu queres que eu viva”. [WARREN, Rick. O caminho para a recuperação. São José dos Campos: Propósitos, 2005, p. 26] Eu preciso ser alimentado pela esperança que vem de ti. Ensina, Pai, o caminho da serenidade, para sofrer hoje as dores de hoje, nunca as de amanhã.. Eu quero minha vida de volta. Eu confio que me restituirás à vida. Por isto, clamo a ti por socorro. Eis o que, em nome de Jesus, eu te peço. Amém”.
Deus o abençoe nesta jornada.