A BEM-AVENTURANÇA DA LUTA PELA JUSTIÇA
Mateus 5.6
2005
“A graça, assim como a água, corre para as partes mais baixas”.
(Philip Yancey)
Todas as vezes que vejo, pelos meios de comunicação, imagens de solos rachados pela seca, eu me lembro da oração do poeta bíblico: “Oh Deus, tu és o meu Deus, eu te busco intensamente; a minha alma tem sede de ti! Todo o meu ser anseia por ti, numa terra seca, exausta e sem água” (Salmo 42.1). As fendas no solo são orações sem palavras; são pedidos eloqüentes por água, água que corra pelas fendas, água que cure as fendas, e as porções de terra se reencontrem.
Jesus proferiu essa bem-aventurança para ouvintes cujos pés tinham pisado estas fendas e — quem sabe? — torcido nelas seus pés; alguns, talvez estivessem com sede, mas não havia nenhum poço por ali; outros, é possível, estivessem com fome, mas não tinham onde comprar um lanche ou com o que comprar comida. Entre ouvintes, posso imaginar, estavam pessoas sequiosas por oportunidades de trabalho; estavam mulheres sem direitos, algumas maltratadas pelas famílias de seus maridos; estavam crianças que viviam de esmolas; estavam jovem sem esperança, à espera de alguém que lhes desse uma razão para viver; estavam idosos cansados de aguardar dias melhores que viram quando o Messias chegasse; estavam pessoas cujos pais tinham sido assassinados em alguma revolta contra o império romano; estavam mães traumatizadas pelos estupros cometidos por soldados invasores; estavam pessoas arqueadas sob o peso dos impostos a serem inarredavelmente pagos; estavam pessoas que não conheceram seus pais; estavam pessoas esgotadas, embora orassem todos os dias, lessem os salmos todos os dias; estavam famílias destroçadas pela infidelidade, pela violência, pela enfermidade. Diante dele estavam pessoas que ali estavam porque aquilo tudo — aquela movimentação de pessoas, a algazarra da criançada, o cenário daquele monte, o cântico daquela gente, a voz daquele mestre novo — era muito interessante, divertido até. Diante de Jesus, estavam pessoas sedentas e famintas de uma razão, uma sequer, para continuarem vivendo.
Então, eles escutaram Jesus lhes dizer: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos” (Mateus 5.6).
1. Bem-aventurados aqueles que têm fome e sede de conhecer a Deus como Ele é.
Seriam todos os ouvintes de Jesus satisfeitos de sua sede e de sua fome?
Não são bem-aventurados, mas apenas necessitados, aqueles que fazem de conta que buscam a Deus, aqueles que não têm qualquer compromisso com a Palavra de Deus, embora a conheçam e até reconheçam nela a fonte para a vida. Não são bem-aventurados, mas apenas necessitados, embora não o admitam, aqueles que não têm qualquer interesse real por Deus e por Sua justiça, aqueles que se acham tão justos, tão corretos, que nada têm que Deus precisa mudar neles, só nos outros; aqueles cujos corações não arfem diante de Deus, a Quem não vêem, não sentem, não adoram; aqueles que se entregaram ao desespero, nada mais esperando para suas vidas; aqueles que aceitaram a ausência de pão e a escassez de água como realidade inalteráveis, como se Deus fosse um ser que não se importa com as necessidades humanas e não as atende.
Os bem-aventurados são aqueles que querem conhecer a Deus. A vida deles é uma oração, mesmo que, por vezes, sem palavras: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo” (Salmo 63.2a).
E Quem é Deus? Eis como Ele mesmo Se apresenta: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. A quem tiver sede, darei de beber gratuitamente da fonte da água da vida” (Apocalipse 21.16). Recordando a experiência de seu povo na antiguidade, Neemias reconheceu como Deus faz: “Na fome deste-lhes pão do céu, e na sede tiraste para eles água da rocha” (Neemias 9.15a).
A quem Ele dá o pão? A quem Ele oferece a água? Aos necessitados, mas aos necessitados de justiça, em forma de água e pão, mas aos necessitados de justiça que buscam nEle a água e o pão, ou que O buscam como quando buscam água e pão. Estes, garante Jesus, os sinceros, mesmo que se cansem; os que buscam, embora desanimando por vezes; os que crêem mesmo às vezes duvidem, os que esperam a graça transbordar, mesmo que por vezes pareçam gotas; estes “nunca mais terão fome, nunca mais terão sede. Não os afligirá o sol, nem qualquer calor abrasador” (Apocalipse 7.16). A satisfação profunda e duradoura não é encontrada nas delícias do mundo, nem num relacionamento meramente religioso ou apenas vertical com Deus, mas vem para aqueles que têm a paixão de conhecer a Deus e de ser como Ele no mundo. (PIPER, John. Blessed Are Those Who Hunger and Thirst for Righteousness. Disponível em <http://www.desiringgod.org/library/sermons/86/021686.html>.)
2. Bem-aventurados aqueles que têm fome e sede de conhecer um Deus justo.
Conhecer a Deus é conhecer a um Deus justo. Deus é bondoso. Deus é santo. Deus é justo. A justiça é o tema da Bíblia. O Deus da Bíblia é o Deus da justiça. “Ele é a Rocha, as suas obras são perfeitas, e todos os seus caminhos são justos. É Deus fiel, que não comete erros; justo e reto ele é” (Deuteronômio 32.4). “O Senhor é justo em todos os seus caminhos e é bondoso em tudo o que faz” (Salmo 145.17). Ele “é justo e jamais comete injustiça. A cada manhã ele ministra a sua justiça, e a cada novo dia ele não falha” (Sofonias 3.5a).
E o que significa afirmar que Deus é justo? É afirmar o quão diferente Ele é de nós, que não somos justos? Sim, mas não apenas isto: é afirmar que o Deus justo se importa com aqueles que são vítimas da injustiça. Ele ensinou os profetas a pregarem contra a injustiça; Ele inspirou homens e mulheres, dentro e fora da Bíblia, ao longo da Bíblia e depois da Bíblia para terem compaixão das vítimas da justiça.
Afirmar que Deus é justo é saber que ele considera cada um de nossos traumas, tenhamos sido atacados por parentes em nossa infância, por sistemas políticos ou religiosos em nossa busca por liberdade e por paz ou por tragédias que sepultaram pessoas queridas ou que nos expulsaram de nossas casas. Deus é justo e “espera o momento de ser bondoso com vocês; ele ainda se levantará para mostrar-lhes compaixão. Pois o Senhor é Deus de justiça. Como são felizes todos os que nele esperam!” (Isaías 30.18). Por isto, “todas as nações virão à tua presença e te adorarão, pois os teus atos de justiça se tornaram manifestos” (Apocalipse 15.4).
Afirmar que Deus é justo é confiar que Ele olha cada um daqueles hábitos que fomos adquirindo ao longo da vida, mesmo sem os perceber, e fomos nos tornando o que somos, às vezes, pessoas com uma baixíssima auto-estima; pessoas que se divertem em falar mal da vida alheia, até mesmo caluniando-as; pessoas que sempre param diante de uma oportunidade com medo de fracassar; pessoas sempre dispostas a reconhecer os erros dos outros, dificilmente os próprios; pessoas com mania de doença, alimentada ou não por remédios; pessoas que julgam sem ouvir o outro lado. Deus é justo e sonda mentes e corações (Salmo 7.9), para transformar aqueles que querem ser libertos destes hábitos destrutivos. Quem deseja ser reto, amando também a justiça, verá face de Deus (Salmo 11.7), face de alegria saudável, face de auto-confiança sadia, face de respeito por si mesmo e pelo outro, face de coragem para admitir os próprios equívocos.
3. Bem-aventurados aqueles que têm fome e sede de promover a justiça.
O reino de Deus tem uma dimensão futura, só realizável por Deus, mas tem uma dimensão presente, realizável pelos membros do reino, para o que contam com a ajuda do Seu Senhor.
Quando lemos o que Jesus diz acerca do seu próprio ministério, temos que nos perguntar: o que temos feito do Evangelho? Ele começou definindo a sua missão nos seguintes termos: Jesus “foi a Nazaré, onde havia sido criado, e no dia de sábado entrou na sinagoga, como era seu costume. E levantou-se para ler. Foi entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde está escrito:
— O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor.
Então, ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos nele; e ele começou a dizer-lhes:
— Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir”. (Lucas 4.16-21)
A missão dos cristãos não pode ser outra, senão a vivenciada integralmente por Jesus.
Infelizmente, a Bíblia tem sido lida integralmente mas vivida parcialmente. Ao ensinar sobre o julgamento final, Jesus imagina o seguinte diálogo dramático entre ele e pessoas cristãs e pessoas que se achavam cristãs:
“Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita:
— Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo. Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram.
Então os justos lhe responderão:
— Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos? Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar?
O Rei responderá:
— Digo-lhes a verdade: O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram.
Então ele dirá aos que estiverem à sua esquerda:
— Malditos, apartem-se de mim para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos. Pois eu tive fome, e vocês não me deram de comer; tive sede, e nada me deram para beber; fui estrangeiro, e vocês não me acolheram; necessitei de roupas, e vocês não me vestiram; estive enfermo e preso, e vocês não me visitaram.
Eles também responderão:
— Senhor, quando te vimos com fome ou com sede ou estrangeiro ou necessitado de roupas ou enfermo ou preso, e não te ajudamos?
Ele responderá:
— Digo-lhes a verdade: O que vocês deixaram de fazer a alguns destes mais pequeninos, também a mim deixaram de fazê-lo”. (Mateus 25.34-45)
Nós somos conhecidos não pelo que dizemos crer mas com o que fazemos com o que cremos. Ser capaz de praticar exorcismo e fazer milagres, mesmo quem nome de Deus, não nos credencia. O Mestre mesmo diz: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!” (Mateus 7.21-23).
Somos chamados a nos envolver com a causa dos oprimidos, porque os oprimidos não têm quem os defenda, a não ser Deus e os que se identificam com a causa defendida pelo Senhor da justiça.
“Jesus garante que as pessoas que serão satisfeitas no fim não são aquelas que sobem o monte para encontrar a comunhão solitária com Deus. Antes são aquelas cuja sede e fome tem sido pela justiça, pessoas que anelam pela graça de serem misericordiosos, pessoas que anseiam pela pureza radical de pensamentos e sentimentos, pessoas que desejam apaixonadamente fazer a paz”. (PIPER, John. Blessed Are Those Who Hunger and Thirst for Righteousness. Disponível em <http://www.desiringgod.org/library/sermons/86/021686.html>.
4. Bem-aventurados os que têm fome e sede de ser perdoados.
O Deus que ama a justiça é um Deus perdoador. A história do ser humano é a história da infidelidade humana, mas a história de Deus é a história da fidelidade.
No território da culpa, teologia e psicologia se encontram. Na teologia, é um ato. Na psicologia, é um processo. Na teologia, é escandalosamente simples a solução: Deus quer perdoar, Deus cria as condições para perdoar; cabe ao homem, pedir perdão (“Lava de toda a minha culpa e purifica do meu pecado” — orou o salmista no Salmo 51.2), que lhe será concedido de modo gratuito, imediato, instantâneo e completo. Pela parte de Deus, não fica um só registro da culpa.
Portanto, “que o ímpio abandone o seu caminho, e o homem mau, os seus pensamentos. Volte-se ele para o Senhor, que terá misericórdia dele; volte-se para o nosso Deus, pois ele dá de bom grado o seu perdão” (Isaías 55.7). Ele é perdoador, bondoso, misericordioso, “muito paciente e cheio de amor” (Neemias 9.17) e rico em graça para com todos os que o buscam (Salmo 86.5). Jesus tornou concreta e visível esta vontade de Deus; por isto, “nEle temos a redenção por meio de seu sangue, o perdão dos pecados, de acordo com as riquezas da graça de Deus, a qual ele derramou sobre nós com toda a sabedoria e entendimento”. (Efésios 1.7-8)
O problema é o ser humano, que tem duas escolhas: ou uma “tristeza construtiva”, que produz arrependimento para a salvação, ou o sentimento de culpa, que não vem de Deus, por não motivar ao verdadeiro arrependimento, mas levar à fuga, à autopunição e aos subterfúgios. NARRAMORE, Bruce. No condemnation. Grand Rapids: Zondervan, 1984. Citado por COLLINS, Gary. Aconselhamento cristão. São Paulo: Vida Nova, 2004, p. 171.
Há culpas que devem ser experienciadas como culpas porque ainda não foram perdoados, porque o pedido não foi encaminhado ao Deus justo e perdoador. No entanto, há culpas que não podem ser mais experienciadas como tais, porque já foram apagadas, definitivamente apagadas nos registros divinos, embora ainda corram nas veias humanas como memórias de sangue.
Para pessoas assim, ainda não existe futuro; só passado. Na verdade, “a culpa está por trás da maior parte do sofrimento humano”. (COLLINS, Gary,op. cit., p. 158.) Deus perdoa aquele que se arrepende, mas nem sempre ele se perdoa. É por isto que muitos perdoados por Deus ainda sofrem.
Os que têm fome e sede de justiça têm forme e sede de ser perdoados. E o serão. Com Deus está o perdão (Salmo 130.4).
4. Bem-aventurados os que vivem no limite, precisando ter satisfeitas por Deus as suas necessidades básicas, não necessidades de consumo mercadologicamente impostas. Quando o Messias é anunciado, vários séculos antes de sua vinda, Ele recebe um nome: Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno e Príncipe da Paz (Isaías 9.6).
Todos precisamos de sentido para a vida e alguns o temos claro para as nossas vidas, mas outros não o têm; o Deus justo é um maravilhoso conselheiro que dá orientação geral e específica para a vida; quem leva em conta seu conselho encontra satisfação (Salmo 1.2). É assim, então, que devemos orar: “Dirige pelo caminho dos teus mandamentos, pois nele encontro satisfação” (Salmo 119.35)..
Todos precisamos de segurança, com proteção para nossos corpos, mentes. O Deus justo é poderoso o bastante para nos proteger e nos deixar seguros. Ele nos protege até daqueles sentimentos nocivos, se pedimos que assim faça conosco. O conselho e a bênção bíblicos são claros: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus” (Filipenses 4.6-6). Deus monta guarda de modo completo. Um poeta sabia desta completude: “Quem pode discernir os próprios erros? Absolve dos que desconheço! Também guarda o teu servo dos pecados intencionais; que eles não me dominem! Então serei íntegro, inocente de grande transgressão. Que as palavras da minha boca e a meditação do meu coração sejam agradáveis a ti, Senhor, minha Rocha e meu Resgatador!” (Salmo 19.12-14). Por isto, diante das dificuldades, podemos orar: “Tu, Senhor, és o escudo que me protege; és a minha glória e me fazes andar de cabeça erguida. Eu me deito e durmo, e torno a acordar, porque é o Senhor que me sustem” (Salmo 3.3,5). “Tu, Senhor, abençoas o justo;o teu favor o protege como um escudo” (Salmo 5.12). “O Senhor é bom, um refúgio em tempos de angústia. Ele protege os que nele confiam” (Naum 1.7).
Todos precisamos de afeto, como o afeto do pai. O Deus justo é um pai eterno, que não falha jamais, mesmo que o filho parta para um lugar distante. “Pai para os órfãos e defensor das viúvas é Deus em sua santa habitação” (Salmo 68.5). Na verdade, garante o Novo Testamento, “todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Pois vocês não receberam um espírito que os escravize para novamente temerem, mas receberam o Espírito que os adota como filhos, por meio do qual clamamos: `Aba, Pai’. O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus” (Romanos 8.14-16). Então, vejam “como é grande o amor que o Pai nos concedeu: sermos chamados filhos de Deus, o que de fato somos!” (1João 1.1a).
Todos precisamos de pertencer, vivendo em harmonia uns com os outros. Todos nós, mesmo os mais rabugentos, os mais exigentes, e quanto somos assim necessitamos de compreensão e cura, precisamos pertencer. O Deus justo, tornado ser humano em Jesus Cristo, é o príncipe da paz. “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos a paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus” (Romanos 5.1-2).
Que obstáculos enfrentamos para termos satisfeitas as nossas necessidades básicas? Apresentemos estas dificuldades ao Deus que é Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno e Príncipe da Paz. Ele removerá todos os obstáculos, para que estejamos disponíveis para a felicidade.
6. Bem-aventurados aqueles que buscam em Deus, pela fome e pela sede que sentem, porque serão transformados.
Esta é a vontade de Deus: que nossas necessidades sejam satisfeitas. Esta é a vontade de Deus: que aquelas características que nos entristecem sejam removidas de nós.
Se esta é também a minha vontade, preciso orar assim: “Peço humildemente, que Deus remova meus defeitos de caráter e, voluntariamente, eu me submeto a cada mudança que Ele queira fazer em minha vida”. (Princípio 5)
Esta decisão corresponde ao Passo 6 dos Alcoólicos Anônimos: “Dispusemo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter”.
John Baker, que concebeu o programa “Celebrando a Recuperação”, associando as bem-aventuranças de Jesus com os passos dos AA, lembra que “a maioria de nós, senão todos, gostaria que certos defeitos de caráter fossem removidos de nossas vidas, o mais rápido possível! Mas, aqui entre nós, é difícil `abrir mão’ de alguns defeitos”. (BAKER, John. Celebrando a recuperação; guia do líder. São José dos Campos: Propósitos, 2004, p. 137.
Seu testemunho pessoal pode nos ajudar: “Sou alcoólatra, mas houve um momento de lucidez em minha vida, quando reconheci que havia chegado ao fundo do poço, e me vi pronto a parar de beber. Mas será que também estava disposto a parar de mentir? Ou de ser ganancioso? E de abrir mão dos ressentimentos? Essas coisas fizeram parte da minha vida por muito tempo. Como ervas daninhas em um jardim, elas criaram raízes. (…) No meu caso, o pecado mais evidente da minha vida era a dependência do álcool. Este era o comportamento, o ato pecaminoso. A causa, porém, era a falha no meu caráter, era a minha ausência de auto-estima”. (BAKER, John. Celebrando a recuperação…, p. 138.)
Eis, então, as decisões que você precisa tomar:
1. Deseje ser satisfeito por Deus.
Há recompensas no vício, pois, se não houvesse, você já o teria abandonado. Há recompensas, mesmo que invisíveis, nos erros que tem cometido. Mesmo um trauma traz alguma recompensa, uma vez que o fato de ser uma vítima pode servir de porto para refúgio. Aliás, alguns lhe são familiares, dão segurança, parecem confortáveis. (WARREN, Rick. O caminho para a recuperação. São José dos Campos: Propósitos, 2005, p. 63.) Talvez você nem se imagine sem alguns desses hábitos.
Todas essas recompensas, no entanto, não produzem vida, você sabe disso. Só Deus, que é o Deus da vida, produz vida. Ele, no entanto, não se impõe, nem mesmo para produzir vida em nós, porque nos deu o desejo de viver, mas nos legou também o exercício da liberdade.
Em muitas pessoas, o vício tem o tamanho de Deus, o tamanho do vazio de Deus. Em todas as circunstâncias, além de ajuda de amigos e de profissionais, os traumas só podem ser vencidos com a graça de Deus, que deve ser desejada. Em todas as situações, nossos erros só poderão ser reparados plenamente com a ação de Deus.
Então, deseje ser satisfeito por Deus. Faça a oração do salmista: “Estendo as minhas mãos para ti; como a terra árida, tenho sede de ti” (Salmo 146.6). Viva a certeza que “o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Romanos 14.17). Portanto, “deleite-se no Senhor, e ele atenderá aos desejos do seu coração. Entregue o seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele agirá: ele deixará claro como a alvorada que você é justo, e como o sol do meio-dia que você é inocente” (Salmo 37.4-6).
Na hora da fraqueza, seja a sua convicção esta: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4.13). Diga humildemente ao Senhor que você se alegra nele.
2. Aceite que tem defeitos de caráter.
A segunda decisão é dolorosa: você tem defeitos que se expressam na sua maneira de ser. Enquanto você continuar na negação, nunca poderá viver de forma afirmativa. Você não precisa se esconder; precisa reconhecer seus defeitos, para que sejam reparados. Isto não quer dizer que você tenha culpa por todos eles.
Este seu jeito de ser vem de várias fontes, que podem estar na sua herança genética; em um conjunto de circunstâncias na sua vida, algumas até que você nem se lembre, ou numa escolha que tenha feito, mesmo sem imaginar as conseqüências, positivas ou negativas, sobre a sua vida. Esse seu jeito de ser, portanto, foi se desenvolvendo ao longo dos anos; não surgiu da noite para o dia; obviamente, eles não vão deixar da noite para o dia. (WARREN, Rick, op. cit., p. 63.)
Eles fazem parte da sua história, mas podem deixar de fazer. Essas práticas não podem dominar você. Veja-as como destrutivas. É sua a responsabilidade de reconhecer que, tendo defeitos, não os quer como integrando o seu jeito de der.
Então, peça perdão pelos seus pecados, mas não para todos de uma vez, mas de uma pecado de cada vez. O pecado pode ser no plural, mas a confissão tem que ser no singular. Você pode ter muitos defeitos, mas só vai ficar livre de todos eles, se ficar livre de um de cada vez. Você já sabe o que Deus faz quando confessamos o nosso pecado. Então, tome a decisão de pedir humildemente que Deus remova de você os seus defeitos, para que você come a viver, para que você comece a ser livre do seu passado ou mesmo do seu presente, para que haja futuro. Então, em sua oração, seja específico e claro: peça a Deus que remova, em primeiro lugar, aquele defeito de caráter que esteja provocando as maiores dores. (BAKER, John, op. cit., p. 142.) Assim fez com outras pessoas no passado bíblico, Deus está olhando para você agora, com vontade de lhe dizer: “Conheço os planos que tenho para você, planos de lhe fazer prosperar e não de lhe causar dano, planos de lhe dar esperança e um futuro (Jeremias 29.11). Ele espera que você ore assim: “Senhor, tu és a minha porção e o meu cálice; és tu que garantes o meu futuro” (Salmo 16.5).
3. Permita que Deus comece o processo para transformar você.
Há um problema: “O espaço entre o reconhecimento e o desejo de mudança é preenchido pelo medo”, que também pode disparar a velha dependência do autocontrole. Tudo o que você precisa é permitir que Deus o guia na caminhada da restauração. (BAKER, John, op. cit., p. 139.)
Por isto, você precisa se fixar no poder de Deus, não em sua força de vontade. Esta você já conhece e sabe que nem sempre funciona. Submeta-se voluntariamente ao poder Deus; submeta-se voluntariamente a cada mudança que este Deus poderoso pode fazer em sua vida. Deixe-o transformar a sua mente (Romanos 12.1-2)
Este é o DDD da transformação na sua vida: deseje ser transformados; decida ser transformado; disponha-se a ser transformado. E isto é um processo, que pode incluir o fracasso, mas fracasso momentâneo. Lembre-se que “tropeçar e cair não lhe tornam um fracassado; o fracasso está em permanecer caído”. (WARREN, Rick, op. cit., p. 66.) Não chame ao seu fracasso de fracasso: chame-o de aprendizagem (como dizia Thomas Alva Edson, quando uma pesquisa não dava certo).
Para tanto, curta uma vitória de cada vez. Alegre-se com cada passo dado na boa direção. Louve a Deus pela vitória de cada dia. Tenha como seu objetivo o progresso, que é paulatino, vagaroso e, às vezes, doloroso. Agradeça a Deus pelo que está fazendo, pelo que ainda fará, sabendo que Ele só vai parar quando completar o que começou (Filipenses 1.6)
Deus é ambicioso em seu projeto: Ele não quer apenas que você confesse o seu erro; Ele quer tornar você justo. Ele não quer apenas perdoar você; Ele quer transformar você. Você também quer isto para a sua vida.
4. Desenvolva hábitos saudáveis (MOLA)
Por fim, quero sugerir quatro hábitos saudáveis para você desenvolver neste processo que Deus começou ou vai começar em você.
1. Mantenha-se confiante em Deus.
Uma das personagens de “O morto certo”, romance memorialístico de Jorge Semprum sobre seu tempo num campo de concentração, diz: “Talvez Deus esteja simplesmente esgotado e não tenha mais forças. Retirou-se da história, ou a História se retirou dEle. Seu silêncio não seria a prova de Sua inexistência, mas a de Sua fraqueza, de Sua impotência”. (SEMPRUM, Jorge. O morto certo. São Paulo: Arx, 2005, p. 92.)
Deus não está esgotado, nem se retirou da sua história de vida, não está quieto e nem é impotente. Acredite que Deus é poderoso para fazer o que promete (Romanos 4.21).
Quando recordou o que Deus fizera com o povo de Israel na grande libertação, Moisés reconheceu: “Vocês viram com os seus próprios olhos as grandes provas, os sinais miraculosos e as maravilhas, a mão poderosa e o braço forte com que o Senhor, o seu Deus, os tirou de lá. O Senhor, o seu Deus, fará o mesmo com todos os povos que agora vocês temem” (Deuteronômio 7.19.). Desde a antiguidade aos dias de hoje, “como pastor ele cuida de seu rebanho, com o braço ajunta os cordeiros e os carrega no colo; conduz com cuidado as ovelhas que amamentam suas crias” (Isaías 40.11). Por isto, “confie nele em todos os momentos (…); derrame diante dele o coração, pois ele é o nosso refúgio” (Salmo 62.8)
A fé cura.
2. Ore sempre a Deus.
Não há poder na sua oração, mas há poder no Deus em que você ora. Deus é um Deus que responde. A Bíblia está cheia destas respostas. Sua vida, também.
Desenvolva o salutar hábito de orar. Sempre que orar, exalte ao Senhor, pelo que tem realizado com você; confesse seu pecado mais recente, sua falha mais atual, seu fracasso do dia, na certeza do perdão; peça por outras pessoas que estão precisando do socorro divino.
Talvez você não saiba orar, mas não precisa saber; é só orar, do seu jeito, com suas palavras, em pé, assentado, deitado, ajoelhado. Há lindas orações na Bíblia. Gosto muito da que está em Daniel 9.3-19.
A oração cura.
3. Leia a Bíblia.
Você quer saber o que Deus quer para a sua vida? Leia a Bíblia.
Quando vier um desejo ruim, um pensamento mau, uma rotina destrutiva, pegue a sua Bíblia e leia alguns versículos ou um capítulo. Se não tiver um programa, leia a esmo, quem sabe os salmos, um evangelho, uma carta de Paulo. Dê preferência a um programa. Estabeleça uma rotina de leitura da Bíblia para a sua vida.
Sublinhe aqueles versículos bíblicos que mais lhe falaram. Se preferir, decore alguns deles. Se você decorar um por semana, vai ter 52 ao final de um ano.
A leitura da Bíblia cura.
4. Aja solidariamente.
Procure fazer o bem, não apenas em se sentir bem. O egoísmo é um defeito de caráter, que quem o tem precisa eliminar.
Não fique sozinho no seu canto. Acerque-se de pessoas que o ajudem, não das que atrapalham você. Procure um grupo para fazer parte dele. Em nossa igreja temos vários grupos familiares; entre num. Procure um grupo de ajuda, como os AA ou similar.
Procure algo para fazer. Envolva-se numa causa para ajudar outras pessoas. Ao fazer assim, vai estar se acercando de pessoas que, sendo ajudadas, vão ajudar você. O conselho bíblico é perfeito, mais uma vez: “Não se deixem enganar: `As más companhias corrompem os bons costumes’. Como justos, recuperem o bom senso e parem de pecar (1Coríntios 15.33-34a).
O trabalho voluntário cura.
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O convite está feito: peça, humildemente, que Deus remova seus defeitos e, voluntariamente, submeta-se a cada mudança que Ele queira fazer em sua vida”. (Princípio 5)
Talvez você se pergunte, como um poeta bíblico: ” Quando poderei entrar para apresentar a Deus?” (Salmo 63.2b). Jesus, que torna sem efeito qualquer condenação, até mesmo a auto-condenação, responde: agora. “Vem!” E todo aquele que ouvir diga: “Vem!” Quem tiver sede, venha; e quem quiser, beba de graça da água da vida” (Apocalipse 22.17). Vem! O preço já foi pago. “Venham, todos vocês que estão com sede, venham às águas; e vocês que não possuem dinheiro algum, venham, comprem e comam! Venham, comprem vinho e leite sem dinheiro e sem custo” (Isaías 55.1).
Se este é o seu desejo, ore agora assim:
“Senhor Deus, estou cansado, cansado de sofrer com meus traumas, meus vícios e meus hábitos ruins. Também estou cansado, sobrecarregado, com meus defeitos e minhas tentativas de cura. Diante de ti, reconheço os meus erros e peço que me perdoes e me transformes. Eu quero um futuro para mim. Quero recuperar a alegria perdida, a dignidade perdida. Desisto de tentar por mim mesmo e quero a tua companhia. Ensina, Pai, o caminho da verdade e me ajude a ficar firme neste caminho na minha jornada de recuperação. Eu quero minha vida de volta. Eu clamo a ti por socorro. Eis o que, em nome de Jesus, eu te peço. Amém.”