Êxodo 20.12: HONRA TEU PAI E TUA MÃE

HONRA TEU PAI E TUA MAE
Êxodo 20.12

1.    INTRODUÇÃO
Os quatro primeiros mandamentos do Decálogo indicam uma hierarquia bem clara de valores. No topo está Deus com Suas exigências para nos fazer felizes. Pouco abaixo, vem a família e, novamente, o objetivo é o bem-estar das pessoas.

Os termos são bem claros: Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá  (Êxodo 20.12).

Quanto temos famílias bem estruturadas e pais dedicados, não temos qualquer dificuldade em aceitar a instrução. Se somos filhos de pais desajustados, o quinto mandamento nos soa amargo e injusto. Quando vemos filhos que honram os pais sendo ceifados ainda jovens, não temos como nos perguntar sobre a validade da recomendação divina.

Não importam os nossos contextos, o mandamento continua esculpido nas nossas consciências. Ele está repetido integralmente no Novo Testamento, com m comentário: Honra teu pai e tua mãe — este é o primeiro mandamento com promessa — para que tudo te corra bem e tenhas longa vida sobre a terra (Efésios 6.2-3).

Preciso ainda ressaltar que o texto é cuidadoso, para evitar qualquer mal uso, ao se referir ao pai e à mãe, e não a “pais” genericamente. Pai e mãe devem merecer a nossa honra, não importa se temos um relacionamento mais profundo com um ou com outro.

2. A PROMESSA
Quero começar pela consideração de uma pergunta incômoda: o que significa a vida longa prometida neste mandamento? Há três possibilidades que se complementam numa única resposta.   

2.1. O primeiro sentido é contextual. A desobediência aos pais era punida com a pena de morte (Êxodo 21.17; Levítico 20.9; Deuteronômio 21.18-21). Quem os obedecesse estava livre deste peso. Em sentido mais largo, quem obedece aos seus pais evita cometer pecados que resultam na penas da lei.
2.2. O segundo sentido é que a promessa implica numa vida longa, em termos de tempo, de longevidade. Isto quer dizer que aquele que obedece a esta lei de Deus viverá mais tempo na terra. Este é um princípio geral e não uma regra absoluta; como tal, pode comportar exceções, que devem ser vistas como tais: exceções, por razões que só coração de Deus conhece. Deixemos claro que nem todos os adolescentes e jovens que morrem são filhos que não honravam seus pais. Se eles morreram é porque Deus permitiu que o princípio fosse quebrado.
Esta exceção não nos deve desviar da validade geral do princípio, demonstrável na experiência diária. Um filho que honra seu pai não se envolve com influências ruins que levam aos vícios e à irresponsabilidade, que levam à destruição.
2.3. O terceiro sentido que a promessa se refere a uma vida qualitativamente longa. Quem segue as instruções divinas para a sua vida, inclusive a de honrar seus pais, viverão de modo mais pleno, mesmo em meio às adversidades.Pai e mãe

3.    A HONRA DEVIDA
Precisamos todos nos lembrar que este mandamento não pede que achemos que nossos pais sejam perfeitos, porque eles não são; eles são falhos como todos nós somos, pecadores que somos (Romanos 3.23).

Deus não espera que nossos pais estejam sempre certos, porque nem sempre estão; há erro neles, como há em nós (Romanos 3.10). A ordem não pressupõe que devemos achar que nossos pais são realmente merecedores de honra, porque não são; só o Criador merece receber honra.

O imperativo divino não significa que devamos ter prazer em estar com eles ou gostar do que fazem; muitas vezes, temos que honrar nossos pais apesar do que são e não pelo que são.   Amemos nossos pais, mesmo que não mereçam, porque o amor não pode depender do mérito.

3.1. A honra é devida porque os pais são indispensáveis.
A ordem nos é deixada por Deus porque Ele sabe que o relacionamento pais-filhos é absolutamente indispensável para pais e para filhos. Para os filhos, é indispensável ao desenvolvimento intelectual, moral, emocional e espiritual dos filhos. Para os pais, é indispensável como plenificação do sentido da vida. Os filhos são a prolongação (em quantidade e qualidade) da vida dos pais. Ao honrar seus pais, os filhos fazem bem a si mesmos e a seus pais.

É por meio deste relacionamento que os pais dão aos filhos uma perspectiva de vida. Mesmo que os filhos escolham outras visões, a primeira foi dada pelos pais. É tarefa dos pais preparam os filhos para a vida, mesmo que isto implique em perdê-los do convívio direto.

É por meio deste relacionamento que os pais ensinam aos filhos a noção de limite. Sem esta percepção, o ser humano não consegue desenvolver adequadamente sua personalidade. Mesmo que as tensões sejam múltiplas, elas fazem parte da aprendizagem.

É por meio deste relacionamento que os pais incutem nos filhos os valores que ficam para a vida toda, a menos que sejam completamente corrompidos. Tem perambulado por aí um equívoco: o de que as gerações não se podem se comunicar, porque as distâncias são invencíveis. Muitas crianças, adolescentes e jovens têm acreditado nesta mentira, preferindo os valores dos seus colegas do que os dos seus pais, achando  aqueles melhores que estes. Ao contrário, pais e filhos devem gastar tempo e inteligência conversando, conversando, conversando, porque alguns têm o que aprender com o outro.
3.2.    A honra devida deve ser dada.  
Cada momento de nossas vidas demanda uma especifica manifestação de honra. Quero sugerir algumas para cada momento etário.
3.2.1. Filhos crianças, obedeçam seus pais. Honrar aos pais é, para as crianças, obedecê-los. A instrução está clara na Palavra de Deus: Filhos, obedeçam a seus pais no Senhor, pois isso é justo (Efésios 6.1). Filhos, obedeçam a seus pais em tudo, pois isso agrada ao Senhor. (Colossenses 3.20).
Obedecer significa ouvir com a intenção de compreender e fazer o que é pedido. Este é um princípio geral, que só poderá  ser quebrado se houver, por partes dos pais, uma grave quebra da Palavra de Deus. Se um pai pede ao filho para desobedecer a um dos mandamentos, o filho deve desobedecê-lo e somente neste caso. Nos outros, mesmo que as instruções os desagradem, devem obedecer aos pais.
3.2.2. Filhos adolescentes e jovens, dêem valor aos seus pais. É comum nesta fase da idade buscar-se uma independência, que não deve incluir uma auto-valorização e uma dês-valorização dos pais.
Tornou-se de domínio público uma advertência bem-humorada sobre como os filhos consideram seus pais. Ei-la:

Aos 7 anos: “Papai é grande e sabe tudo”.
Aos 14 anos: “Parece que papai se engana em certas coisas que diz”.
Aos 20 anos: “Papai está um pouco atrasado em suas teorias. Elas não são desta época”.
Aos 25 anos: “O coroa não sabe nada. Decididamente, está caducando”.
Aos 35 anos: “Com minha experiência, meu pai seria hoje um milionário”.
Aos 45 anos: “Não sei se consulto o velho. Talvez pudesse aconselhar-me”.
Aos 55 anos: “Que pena papai ter morrido. A verdade é que ele tinha idéias notáveis”.
Aos 60 anos: “Pobre Papai. Era um sábio. Como lastimo tê-lo compreendido tão tarde”.

Diante destas visões, mesmo que estereotipadas, precisamos recordar o conselho bíblico: Meu filho, obedeça aos mandamentos de seu pai e não abandone o ensino de sua mãe. Amarre-os sempre junto ao coração; ate-os ao redor do pescoço. Quando você andar, eles o guiarão; quando dormir, o estarão protegendo; quando acordar, falarão com você (Provérbios 6.20-22).
Não espere ficar velho para valorizar seus pais. Talvez seja tarde. Diga-lhes o quanto você os ama. Você alguma vez enviou flores para sua mãe? Não espere seu pai envelhecer para reconhecer que eles sabem mais que vocês.
3.2.3. Filhos  adultos, cuidem dos seus pais. Mantenham contato. Se não mora com eles, esteja com eles o máximo que puderem. Telefone para eles diariamente.
Respeitem seus pais. A recomendação bíblica é clara: Respeite cada um de vocês a sua mãe e o seu pai, e guarde os meus sábados. Eu sou o Senhor, o Deus de vocês (Levítico 19.3).
Tenham paciência com a velocidade deles. Eu me recordo que, quando era menino, eu fazia tudo para acompanhar meu pai caminhando na rua. Eu cresci e meu pai envelheceu. Ele agora é que tinha que fazer força para me acompanhar. No início, aquilo me irritava, depois me fazia bem caminhar no ritmo dele. É uma boa saudade ter cuidado dele no fim da vida dele, mesmo quando eu não sabia que era o fim. Quando preparava esta mensagem, voltou-me forte a saudade, mas me veio a boa sensação de que cuidei dele, que fiz tudo o que pude para prolongar a sua vida.
Procurem satisfazer suas necessidades. Os filhos ou netos, recomenda o apostolo Paulo, devem aprender primeiramente a colocar a sua religião em prática, cuidando de sua própria família e retribuindo o bem recebido de seus pais e avós, pois isso agrada a Deus (1Timóteo 5.4).
4. A TAREFA DOS PAIS
Quanto aos pais, eles também devem se empenhar para merecer a honra dos seus filhos. O conselho do apostolo Paulo completa o ciclo do compromisso na família: Pais, não irritem seus filhos; antes criem-nos segundo a instrução e o conselho do Senhor (Efésios 6.4).
Embora precisem ser honrados sem o merecer, porque esta é a sábia instrução de Deus, os pais devem se esforçar por merecerem a honra dos seus filhos. E eles a merecem quando os amam, cuidando deles e oferecendo as condições necessárias ao seu desenvolvimento.
Não sou daqueles que acham que a educação antiga era melhor que a atual. Penso que cada época encontra sua forma de enfrentar os desafios de sua época. No entanto, concordo com aqueles que dizem que vivemos um momento em que os pais têm se recusado a cumprir o seu papel de pôr limite aos seus filhos. Há já muitos livros a este respeito, e todos afirmando a absoluta indispensabilidade de limites na formação dos filhos. Querendo-os ou não, eles precisam de limites para se desenvolverem. Os pais não precisam buscar o afeto dos seus pais, dando-lhes o que não podem e não lhes dando o que devem.
Quero acrescentar mais uma tarefa aos pais. Se queremos ser respeitados, devemos ensinar nossos filhos a respeitar seus avós.  

5. CONCLUSÃO
Se queremos a bênção de Deus sobre nossas vidas, precisamos honrar nossos pais. Levemos a sério este mandamento com promessa. Um dia os filhos transformados em pais quererão ser respeitados.
Quando honramos nossos pais, obedecemos a Deus.
Quando honramos nossos pais, reconhecemos que não viemos do nada, que temos vínculos com nossos pais e que nossos filhos terão vínculos conosco, na longa cadeia das gerações.