A FONTE
Salmo 43
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1. SÃO MUITAS AS FONTES DA TRISTEZA.
Há muitas fontes de tristeza para as nossas vidas. Menciono algumas, que podem ser multiplicadas:
1.1. Experimentamos acontecimentos que nos atingem e nos marcam. Neste grupo, podem ser incluídas todas as perdas, como a morte de uma pessoa querida, as doenças, nossas e de uma pessoa amada, as violências e os desastres. Somos visitados diariamente por preocupações que nos drenam a força para a vida. É um filho que não se encontra na vida. É um pai que resiste ao convite da graça de Jesus. É uma enfermidade que vai fazendo o corpo se alquebrar. É um horizonte sem perspectivas de mudanças. Como ter qualidade de vida neste contexto? Podemos ser alegres, mesmo em meio a estas dores? Não sabemos o contexto de vida do poeta bíblico, mas seu sofrimento lhe rachou o coração.
1.2. Vivemos num mundo onde são comuns, lemos no Salmo, as traições e as perversidades. Gostaríamos que a vida fosse feita sempre de alegria, mas é difícil fruí-la em meio às injustiças ou diante da espera por justiça, tanto nos relacionamentos quanto nas disputas. Como um marido abandonado por se manter alegre? Como uma esposa traída pode não se entregar à tristeza? Como um empregado mal remunerado, nunca promovido, raramente valorizado pode encontrar ânimo para desempenhar sua profissão?
1.3. Convivemos com pessoas queixosas e amargas. Por mais que cuidemos, suas influências podem nos contagiar.
1.4. Às vezes, nós mesmos somos essas pessoas queixosas e amargas. Muitas vezes nem sabemos porque, mas somos essas pessoas, reconhecendo ou não. Esse jeito tornou-se o nosso jeito natural de ser. Nosso próprio jeito de ser (ansioso, desconfiado, medroso, pessimista) é, às vezes, o nosso adversário. Muitas vezes, nosso estilo de vida ou nosso temperamento é nosso próprio inimigo.
1.5. Vivenciamos as conseqüências de nossas decisões. Se vejo um filme de terror e tiver pesadelos, não posso responsabilidade ninguém a não ser eu mesmo. Se gasto mais dinheiro do que posso, como não ficarei ansioso diante das dívidas contraídas? Por mais amargo que seja admiti-lo, nós somos as causas de maioria de nossos dissabores; não são os outros.
1.6. Temos o hábito de pôr nossa esperança em algo ou em alguém que não é Deus, um amigo, um cônjuge, um pastor, um líder? É claro que devemos respeitar essas pessoas e cuidar para ter com eles relacionamentos saudáveis. No entanto, nossa alegria não pode estar depositada neles. Eles poderão nos dar muitas alegrias (graças a Deus por isto), mas também nos decepcionar.
2. DEUS, A FONTE DA NOSSA ALEGRIA.
O salmista não tem experiências diferentes das nossas, pelo que a sua convicção nos inspira. Ele é alguém como nós, com o coração rachado ao meio. Ele sabe que Deus é a fonte da alegria; ele experimenta esta alegria, mas experimenta as dores humanas. O salmista sou eu. O salmista é você.
Ele diz que Deus é a fonte da sua alegria. Ele o louvará com o seu instrumento, no caso, a harpa.
Eis sua oração: “Envia a tua luz e a tua verdade” (verso 3).
Eis a sua convicção: a luz e a verdade de Deus “me levarão ao teu santo monte, ao lugar onde habitas. Então irei ao altar de Deus, a Deus, a fonte da minha plena alegria. Com a harpa te louvarei, o Deus, meu Deus!” (versos 3b-4).
Gosto destas palavras. São de um homem que tinha intimidade com Deus, como indicada pelo vocabulário que usa, pelas imagens que evoca, pelos desejos que nutre. Seu grito não é o dos desesperados, mas de quem tem confiança em Deus. Sua fala é de quem se sente rejeitado, mas pede ajuda a Quem o rejeita, porque, no fundo sabe, que não é rejeitado, que Deus não rejeita a ninguém. Seu grito é de quem perdeu a visão, a perspectiva, o sonho, e então pede luz a Deus, para ser iluminado por ele. É palavra de alguém que sabe que toda alegria que não tem a Deus como a sua fonte essencial é vazia e no fim se desvanecerá como uma bolha. PIPER, John. I Will Go to God, My Exceeding Joy. Disponível em .
3. SÓ HÁ UM CAMINHO PARA A ALEGRIA.
A alegria está dada, mas precisa ser buscada. Deus estava com sua luz no alto do monte, e Moisés teve que subir até lá.
O salmista sabe que precisa subir ao monte, o lugar da presença de Deus.
O monte como lugar da presença de Deus tem suscitado diferentes vivências ao longo da história da fé judaico-cristã. Mais recentemente, tem sido apresentado como o único lugar onde Deus se manifesta, como se Deus tivesse preferência por este ou aquele lugar. Há cristãos que acham que só são respondidas as orações feitas no monte. Entendamos. Na experiência bíblica do Antigo Testamento, o monte é o lugar da presença de Deus, porque é onde Ele se revela e é onde está o seu templo, o templo de Jerusalém. Na experiência bíblica do Novo Testamento, que substitui a do Antigo, mas mantém os símbolos, Deus não habita em templos, que são feitos por mãos humanas; Deus habita nos corações que o recebem; Deus não se revela em montes, porque Ele se revela onde é evocado, por dois ou três, num monte, num vale, na estrada empoeirada, na praia iluminada.
No entanto, monte simboliza presença, e hoje não precisamos de um monte para buscar a presença de Deus. Não precisamos de um monte, porque no monte do Calvário Deus se revelou plenamente amoroso em Jesus Cristo. Não precisamos de altares no sentido do Antigo Testamento porque Jesus já foi sacrificado em nosso lugar no altar erguido em forma de cruz no monte do Calvário.
Nossa necessidade, como era a do salmista, é buscar a presença de Deus e viver nesta presença. A alegria da presença de Deus está dada. Busque-a. Continue a buscá-la.
3.1. Reconheça que a vida é feita de notícias bons e ruins, capazes de nos deixar com o coração dividido, como estava o salmista.
Lembre-se que ser visitado pela enfermidade ou pela perversidade não significa que foi rejeitado por Deus. O salmista vagueava e pranteava, por causa das perdas sofridas, mas não tirava seus olhos do monte onde Deus estava. Mesmo sofrendo, não podemos tirar os olhos de Deus, Este que nos pode ensinar a conviver com a adversidade e com a festividade, de que é feita a vida de cada um de nós.
Suba o monte, isto é, não se curve: olhe para cima, não para baixo. Olhe para a luz, não para a escuridão.
Suba o monte, isto é, não se curve aos padrões que o rondam: olhe para cima, para os padrões elevados de Deus, para as possibilidades elevadas de vida para quem tem Deus. Suba o monte, mesmo que todos ao seu redor prefiram descer.
3.2. Afirme que a sua fonte da alegria autêntica é Deus.
Há uma oração notável no Novo Testamento. Registra-a o Evangelho de Marcos (Marcos 9.14-.32). Tomarei a liberdade de recontar a história, como se passada nos nossos dias, com Jesus presente.
Jesus chegou um dia numa igreja, que estava muito agitada. Surgira um problema com um rapaz, filho de um homem da igreja. O rapaz tinha uma enfermidade e os membros da igreja e sua liderança discutiam se a igreja podia fazer algo por ele. Enquanto a discussão crescia, o sofrimento do rapaz aumentava. Como em todas as discussões sobre o sofrimento, quem sofria não era amado, apenas discutido.
Jesus chegou. Relataram o que se passara até aquele momento. Ele, então, reage, indignado:
— Oh geração incrédula, até quando estarei com vocês? Até quando terei que suportá-los? Tragam-me o menino.
Diante dele, Jesus perguntou há quanto tempo sofria. O pai informou e pediu ajuda:
— Senhor, se podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos.
Jesus respondeu com uma repreensão (“se podes?”) e depois coma declaração extraordinária:
— Tudo é possível àquele que crê.
A resposta do pai do rapaz foi sincera e profunda:
— Senhor, eu creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade!
A história prossegue, mas paro por aqui. Interessa agora a oração deste pai, porque esta deve ser a nossa oração também.
Que não sejamos com os discípulos. Eles estiveram no monte, mas não puderam orar para Deus agir. Preferiram discutir. Não aprenderam o essencial no monte. Viram a glória de Deus e se encantaram, mas não aprenderam nada sobre o amor de Deus. Até hoje, muitas vezes a religião não entende o essencial de Deus, que é o seu amor.
Que sejamos com aquele pai, que não esteve no monte, mas esteve perto de Jesus; que não tinha muita fé, mas com a pouca que tinha, foi a Jesus; ele sabia que o milagre não depende quem ora, porque depende de quem opera o milagre, que é Jesus.
Retomando o salmo 43, gosto de pensar que aquele homem se pôs no altar, mesmo cambaleante, e ali recebeu a bênção de Deus.
É no altar que recebemos o perdão por nossas decisões erradas, para que voltemos a experimentar a paz.
É no altar que o nosso temperamento é queimado, isto é, transformado, mesmo que pouco a pouco.
É no altar que a luz de Deus é total. Jesus é a luz do mundo e sua luz jorra da cruz. O ambiente da cruz é pesado, sombrio e escuro, aos olhos humanos. No entanto, se olhamos para a cruz com os olhos divinos, não vemos a profunda escuridão que se abateu sobre o altar do sacrifício ali erigido; vemos, na verdade, a luz de Deus dissipando as trevas.
É assim também com a nossa vida. Se Deus estiver presente, enviando sua luz e sua verdade, pode parecer que estamos na escuridão, mas a luz e a verdade de Jesus iluminam o caminho que precisamos fazer.
PODER E DEVER
Posso ir impuro ao altar de Deus,
mas de lá volto purificado.
Chegarei ao altar mesmo em pecado estando,
para ser com o seu perdão santificado.
Posso ir incerto ao altar de Deus,
mas volto de lá alimentado.
Subirei o altar mesmo que duvidando,
para ter meu entendimento iluminado.
Posso ir bem triste ao altar de Deus
mas volto de lá revigorado.
Andarei ao altar mesmo me lamentando
para voltar muito animado e estimulado.
3.3. Pregue a você mesmo.
O salmista foi ao altar em pecado, duvidando e se lamentando, mas voltou santificado (ninguém entra na presença de Deus sem ser santificado), iluminado e estimulado.
O salmista, então, prega um sermão para si mesmo.
O poema começa com o poeta falando a Deus. (“Faze-me justiça, oh Deus, e defende a minha causa contra um povo infiel; livra-me dos homens traidores e perversos. Pois tu, oh Deus, és a minha fortaleza. Por que me rejeitaste? Por que devo sair vagueando e pranteando, oprimido pelo inimigo?” — versos 1 e 2), mas terminando falando a si mesmo, pregando a si mesmo. (“Por que você está assim tão triste, oh minha alma? Por que está assim tão perturbada dentro de mim? Ponha a sua esperança em Deus! Pois ainda o louvarei; ele é o meu Salvador e o meu Deus” — verso 5).
Você, que é capaz de clamar por socorro, seja capaz também de propor a você mesmo para ter esperança e de garantir a você mesmo que ainda vai louvar o Senhor, depois de ver a graça dEle manifesta em sua vida, na vida do seu filho, na vida do seu cônjuge, na vida da sua família.