2Reis 20.1-11; Isais 38: A BÊNÇÃO DE SER

A BÊNÇÃO DE SER

2Reis 20.1-11; Isais 38:

Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 16.5.99, noite

1. INTRODUÇÃO
Um dos bons reis de Judá foi Ezequias. Nascido em 751, morreu em 698, portanto aos 53 anos de idade. Quando tinha 38 anos de idade, caiu gravemente enfermo. Ele orou a Deus por si mesmo. Sua oração foi: “Restaura-me e faze-me viver” (Is 38.16).
Ezequias era um homem de oração. Temos algumas de suas orações registradas na Bíblia. Em Isaías 37 e 2Reis 19, lemos sua oração por Jerusalém, que termina de modo dramático e confiante (Is 37.20; 2Re 19.19). Em Isaías 38 e 2Reis 20 vemos outra evidência de sua constância na oração, quando caiu gravemente enfermo.

2. Coisas ruins acontecem a pessoas boas (v. 1, 3).
Ezequias teve que enfrentar a doença e a iminência da morte, embora ele
. andasse com Deus (v. 3a, como Enoque, pois o verbo tem o mesmo sentido)
. fosse íntegro (Is 38.3b), sem a duplicidade de servir a Baal e a Deus  ao mesmo tempo
. reto, no plano da condução do povo (Is 38.3c), diferentemente de tantos outros reis
Tendemos, no entanto, a querer um cuidado especial de Deus, fora das leis que Ele mesmo criou para o nosso próprio bem-estar. É verdade que Deus cuida de nós e pode atender romper suas leis. Temos sido objetos deste cuidado, embora nos esqueçamos quando estamos em dificuldade. Talvez um bom começo seja nos perguntar se não há pessoas em maiores dificuldades do que nós.
Esta é  realidade das coisas: coisas ruins acontecem a pessoas boas, por menos que o queiramos.

3. Podemos nos justificar diante de Deus quando o mal nos sobrevém? (vv. 2,3).
Ezequias não aceitou a tragédia pessoal e se justificou diante de Deus. Ao receber a notícia de que algo ruim lhe sobreviria, Ezequias voltou-se para Deus. Ele olhou para a parede, numa indicação dupla: primeira, que estava mesmo desenganado, e segunda, que só podia contar com Deus e mais ninguém.
A pergunta agora é: podemos nos justificar diante de Deus, como Ezequias?
A primeira resposta é: não; Ezequias orou sem a perspectiva que nós temos, perspectiva que aprendemos com Jesus e Paulo. Aprendemos no Novo Testamento que nossa condição natural é a morte e que todos pecamos, razão pela qual estamos afastados da glória de Deus. Não há bem nenhum em nós. Nossa oração deve ser pedir e esperar a ação misericordiosa, independentemente de nossos méritos que estão igual a zero.
A segunda resposta é: sim. Ezequias tinha uma vida que o credenciava a esperar algo melhor de Deus para si. No entanto, sua oração foi uma forma de entender o que acontecia consigo, não um hino de auto-exaltação.  A oração de Ezequias foi uma recapitulação de sua vida. Ele olhou para si e não se achou em falta. Podemos olhar para nós mesmos e concluir que fizemos o melhor que podíamos para nós mesmos, para Deus e para nossos semelhantes? Como nos julgamos a nós mesmos? Aprovados? Reprovados?
A resposta a Ezequias não decorreu de suas virtudes, mas porque orou profundamente. Ele buscou tão-somente a Deus. Ele confiou tão-somente em Deus. Ela derramou todo o seu ser diante de Deus. Foi sua oração que o salvou. Sua vida reta fez com que procedesse assim. Se fosse um ímpio, buscaria outros caminhos, reclamaria de Deus.
A prova maior de que confiava em Deus foi sua oração acerca do sinal. Ele não pediu um sinal. Ele perguntou qual seria o sinal. Há uma diferença essencial. A fé imatura pede sinal; a fé madura pergunta pelo sinal, para que possa entender o modo de Deus agir. Não se trava em Ezequias uma expressão de dúvida, mas de certeza.

4. Deus usa pessoas para responder  às orações que lhe fazemos (v. 4, 11).
Deus usou Isaías para comunicar a Ezequias que sua oração fora ouvida.
Deus poderia falar diretamente a Ezequias. Deus poderia ter se apresentada por meio de um sonho. Deus poderia ter recorrido a um anjo. No entanto, ele usou uma pessoa: o profeta Isaías.
Isaías estava no centro da cidade, o que indica que Deus usa pessoas comuns, em situações comuns. Deus usa a mim e a você. Isaías era um profeta, mas estava no centro da cidade, numa circunstância nada profética. Possivelmente Isaías estava em alguma atividade não religiosa e Deus o chamou para ser seu emissário. É assim ainda hoje. Deus usa pastores e líderes, mas usa  também e principalmente qualquer um de nós, desde que estejamos dispostos a servir como emissários dele.
Ele foi usado, porque estava pronto para ouvir a voz de Deus, não por ser profeta. Deus não usa pessoas especiais. Ele usa pessoas comuns que se tornam especiais quando ouvem a sua voz. Você pode ser especial, mesmo tendo suas funções.
Esta necessidade do instrumento humano se evidencia também na figura do intercessor. Ezequias era um homem de fé. Deus respondeu à sua oração. Na hora de fazer o milagre da volta da sombra do relógio de Acaz, contudo, foi necessária a intervenção de um intercessor. Foi Isaías quem clamou, não Ezequias. Seria uma afirmação do sacerdotalismo, segundo o qual há pessoas especiais para Deus? Não. Deus respondeu diretamente a Ezequias sem intermediário e lhe prometeu a cura. O intermediário agora, na verdade, o intercessor, decorria do novo pedido de Ezequias: para fazer o que queria, Deus precisou de um agente.
Como Ezequias, precisamos de intercessores. Talvez em nossa luta com Deus, estejamos extenuados e precisamos de alguém que ore por nós e conosco.
Precisamos interceder uns pelos outros. Há muitas sombras de relógio esperando por nossa intercessão.

5. Deus ouve a nossa oração (vv. 5-7).
Como temos aprendido aqui, a oração nasce como uma atitude solitária; foi o que Ezequais fez. A oração se torna um ato solidário, porque Deus vem ao nosso encontro. Oração não é solitude; é duplitude. Não é uma pessoa solitária falando a um Deus distante, mas duas pessoas interagindo, face a face. Sua oração foi, portanto, uma luta com Deus e Deus o abençoou.
Deus ouviu a oração de Ezequias, curando-o de sua enfermidade e lhe dando mais 15 anos de vida. Ele recebeu uma bênção dupla: não só o prolongamento da vida, como também saber a extensão deste prolongamento. Ele pôde se dedicar inteiramente aos seus projetos, políticos e familiares, conhecendo de antemão o tempo que tinha para tal. Ele teve uma vida normal e chegou, depois disto, a ter um filho, Manassés.
Desta resposta aprendemos, entre outras verdades, que:
. o que Deus garante que fará ele faz (5c). Ele chegou a dizer o tempo que demoraria para Ezequias se restabelecer completamente: três dias. Ele fez a sombra do relógio de Acaz, o primeiro mencionado na Bíblia, se mover em sentido contrário. Para Ele, é fácil fazer o que Ele quer, porque Ele é senhor do universo e da história. É por isto que ele promete sinais (v. 8).
. Ele pode curar por meios sobrenaturais e naturais. A Ezequias ele curou servindo-se de um remédio (uma pasta de figos), colocado sobre a sua pústula (tumor externo). A cura foi sobrenatural (não foi o resultado de uma consulta à ciência) por um meio natural (aconteceu pelo uso de um produto comum à época).
. A cura não é algo automático, porque isto fere a soberania de Deus. É a conseqüência da iniciativa do seu amor. As profissões da saúde (profissionais, remédios e aparelhos) são meios a serviço de Deus; não é desprestígio à fé ou à grandeza de Deus buscar um médico para uma medicação ou para uma cirurgia.
. Como é difícil aceitar a soberania de Deus! No entanto, a título de exercício de imaginação, podemos nos perguntar pelas conseqüências negativas da resposta positiva de Deus a Ezequias. Ele, que foi um rei que fez o que era reto, teve um sucessor, nascido depois da prorrogação, que foi um dos piores governantes de toda a história de Israel. Que bem teria feito Manassés a Israel se não tivesse nascido! Mesmo que especulativamente, podemos dizer que a soberania de Deus é sempre melhor que nosso desejo.

5. CONCLUSÃO
Nossa certeza deve ser a de Ezequias, como está em Isaías 38.17-20.

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