João 17: A GLÓRIA DO CRISTÃO

A GLÓRIA DO CRISTÃO

João 17

1. INTRODUÇÃO
Esta é a oração do coração de Jesus, porque feita quando informava aos seus discípulos que estava próximo o tempo de sua partida. Nestas horas, somos sinceros, profundos e emotivos. Foi assim com Jesus. Ela conclui o discurso do Cenáculo e antecede sua agonia no Getsêmani.
É a maior oração registrada de Jesus. É a maior também na abrangência, porque se aplica aos primeiros discípulos e aos discípulos dos dias de hoje, incluindo aqueles que se encontram aqui nesta noite.
Essa oração pode ser dividida em três partes. Na primeira, Jesus ora por si mesmo (vv. 1-8); na segunda, por seus discípulos  (vv. 9-19) e na terceira, pelos futuros crentes, o que nos inclui (vv. 20-26).
Nela aprendemos essencialmente que oração tem que a ver com vida. Não é a oração um conjunto de palavras decoradas, mas uma porção de frases que vêm de dentro da alma.

2. QUEM PODE ORAR?
Nesta oração, especialmente na primeira parte (vv. 1-8), vemos que Jesus e o Pai tinham um íntimo relacionamento.
À luz deste relacionamento, aprendemos, com toda clareza, que a oração é uma expressão própria de quem conhece a Deus (v. 3). E na Bíblia, conhecer a Deus significa ter um compromisso existencial com Ele. Só quem O conhece pode se dispor a ouvir a Sua voz.
Há oração, portanto, quando Deus e o homem se encontram. Há oração quando há pertencimento, quando o homem pertence a Deus. Pode orar aquele que, um dia pertencente ao mundo, agora pertence ao Pai e ao Filho.

3. A QUEM ORAR?
Jesus orou ao Pai. É ao Pai que devemos orar, mas em nome do Filho. É o filho que tem autoridade  sobre todo o ser humano (v. 2). Não oramos em nossos próprios nomes, mas no de Jesus. Ele mesmo nos ensina que devemos pedir no nome dEle (Jo 14.13).
Esta autoridade é derivada do fato de que Ele e o Pai vivem em perfeita harmonia e intimidade.

4. O QUE PEDIR?
O conteúdo de nossa oração deve se assemelhar a oração de Jesus. E o que pediu ele?

GLÓRIA DE SERVIR – Jesus começa por pedir que Deus o glorifique (v. 1). Ele queria a glória, mas não a glória de ser famoso ou rico, mas a glória de poder servir ao Pai. Nossa única glória é servir a Deus. Assim, quando lhe pedimos glória, pedimos glória para Ele e não para nós.
O mundo não conhece a Deus, mas nos conhece a nós. Quando nós brilhamos, os homens podem ver Deus em sua glória.
Jesus diz que cumpriu a missão que lhe foi dada (v. 4). Esta foi a sua glória. A oração, portanto, é uma expressão de nosso compromisso de servir a Deus. Servir a Deus é, pois, a glória do cristão. Neste sentido, ela é um paradoxo. A glória dos homens resulta em louros para si e em gente servindo aos gloriosos. A glória do cristão reside em servir ao seu Deus e não em ser servido por ninguém. A glória do cristão é interessar-se pelos outros, como Jesus, nesta oração, que se preocupou até com aqueles que não tinham nascido ainda.
Como é difícil orar assim, especialmente quando desenvolvemos a egoteologia de que Deus é um senhor que nos serve! É difícil orar assim, mas esta deve ser a nossa oração, porque somos hoje o próprio corpo da graça. Nossa igreja deve ser uma comunidade graça, no sentido de ser o lugar e o a congregação onde as pessoas possam ver e buscar a graça de Deus.
Por isto, não nos esqueçamos do convite de John Wesley há mais de dois séculos: "Se o seu coração está onde meu coração está, então me dê a mão."

SANTIFICAÇÃO NA VERDADE – Jesus pede que seus discípulos (o que nos inclui inteiramente) sejam santificados (v. 17a). A glória de Cristo é a santidade dos seus discípulos. Ao longo da história, muitos têm entendido esta santificação ou consagração como afastamento do mundo. No entanto, não é isto o que Jesus quer.
Antes, ser santo é viver de um modo que permita ser usado por Deus. É ver-se como enviado por Jesus para continuar sua obra neste mundo. Não somos DO mundo, mas somos enviados AO mundo. Estas duas proposições não podem ser confundidas.
Jesus insiste que sejamos santificados na verdade, que é a própria Palavra de Deus (v. 17b). Tornou-se lugar-comum dizer que a leitura da Bíblia provoca o verdadeiro despertamento espiritual. No entanto, é preciso insistir-se nisto, também negativamente: só existe despertamento quando a Bíblia é aberta, lida, explicada e vivida. Fazer isto pode ser perigoso, quando somos confrontados. Por isto, se lemos a Bíblia e não concordamos com ela, nossa oração a Deus deve ser: ‘Senhor, o que está errado conosco’?

LIVRAMENTO DO MAL – Jesus pede que os discípulos permaneçam no mundo, mas libertos do mal (v. 15). Alguns podem tomar esta promessa como sendo uma garantia de saúde, fama e riqueza. Não! Cristo não ora para que sejamos grandes e ricos, mas que sejamos livres do mal, pois a prosperidade da alma é a melhor de todas as prosperidades.
Jesus nos quer livres do mal, livres da corrupção do pecado, e não livres do sofrimento ou da perseguição. Ele quer que vivamos de modo santo, como redimidos que somos. Sua oração é para que nos fortaleça para permanecermos firmes, unidos e em amor uns pelos outros.

5. O QUE ESPERAR?
O que esperar da oração? A bênção maior é saber que somos ouvidos. À luz desta oração de Jesus, podemos destacar três realidades que devem nos alcançar quando oramos, independentemente de termos este ou aquele pedido respondido conforme queremos.

ALEGRIA COMPLETA – A meta de Jesus é que tenhamos alegria e alegria completa (v. 13). Esta alegria, diz ele, vem de dEle mesmo, de sua presença conosco, do seu dom a nós (Jo 15.11).  Não se trata apenas da alegria de ter uma oração respondida; trata-se da alegria de ter conhecido o amor de Deus e poder desfrutar da certeza da sua companhia.
A alegria completa é aquela que nos transporta para a dimensão da eternidade, permitindo-nos antecipar aquela vida plena, que só será possível no céu. Jesus deseja que os discípulos estejam com Ele na glória onde ele está (v. 24). Na verdade, Jesus não fora ainda glorificado. Tal, no entanto, era sua alegria, que já podia falar de lá, como se já estivesse no céu. Sua oração o transportou para o tempo futuro da glória. De igual modo, a oração nos transporta para a eternidade. Pela oração, sentimo-nos sentados ao lado do trono de Deus, descansando em seu colo, contemplando sua face, cantando-lhe louvores. A experiência da transfiguração, vivida por  Jesus e alguns discípulos íntimos (Mt 17.1-13), é uma verdade para todos quantos buscamos a Deus por meio da oração.

UNIDADE VERDADEIRA – Jesus pede que os cristãos nos mantenhamos unidos com Ele e uns com os outros (vv. 22, 23). Ele conhecia a capacidade humana de se dividir. De fato, temos nos esquecido do conselho do pastor Stanley Jones: "Converse sobre o que você crê, e você  terá a desunião. Converse sobre Quem você crê, e você terá a união". O penhor da unidade é nossa fé em  Jesus Cristo.
No entanto, tanto no cristianismo em geral, quando em nossa igreja em particular, temos nos esquecidos desta meta, para a qual ainda somos convidados por Jesus. Por esta razão, tem razão o pastor brasileiro Valdir Steuernagel, quando diz: "Gosto da imagem de que a igreja pode ser um jardim, no qual Deus encontra prazer e onde há lugar para diferentes tipos de flores. Nós não precisamos uniformizar o jardim porque ele perde sua beleza. Deus quer que a Igreja seja uma espécie de jardim, onde haja diferentes formas de adoração, de serviço e de convivência. O que precisamos descobrir é como dar espaço para diferentes tipos de flores, nos alegrar não só com a nossa flor, mas com a outra que é diferente de. nós. E também perceber qual a necessidade dela a fim de ajudá-la".

INTIMIDADE COM DEUS – Jesus conclui sua oração celebrando sua intimidade com Deus (vv. 22-26). Este é o maior resultado da oração. De fato, como ensinou Fulton Sheen, jamais poderemos chamar a alguém de "irmão" enquanto não tivermos aprendido chamar a Deus de "Pai".
Como diz Ray Stedman, a "intimidade com o Deus vivo é a chave para a vitalidade e para a relevância. A intimidade começa com o reconhecimento de Jesus como `enviado de Deus", desenvolve-se com o crescimento da percepção do poder e do amor do Pai, para encontrar sua expressão mais profunda na consciência da presença de Jesus. Os santos de todos os tempos têm dado testemunho desta realidade. O amor é, portanto, a verdadeira marca da verdadeira igreja. A igreja deve ser uma comunidade de amor, se deseja que o mundo creia que estamos com Jesus".

6. CONCLUSÃO
A glória do cristão é a glória de Deus.
A glória de Deus é a felicidade dos redimidos.

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