1Samuel 28: OUVINDO OS MORTOS?

OUVINDO OS MORTOS?
1Samuel 28
 Pregado na Igreja Batista Itacurucá, em 10.10.1999 (manhã)

1. O PROBLEMA
Num ambiente umbandista e kardecista como o brasileiro, incomoda a experiência, aparentemente típica de uma sessão espirita, registrada na Bíblia.
É a historia de um encontro entre o rei Saul e uma necromante, narrada em 1 Sm 28 e ocorrida por volta do ano 1055 a.C.

(TEXTO BÍBLICO IBB)
3 Ora, Samuel já havia morrido, e todo o Israel o tinha chorado, e o tinha sepultado e em Ramá, que era a sua cidade. E Saul tinha desterrado es necromantes e os adivinhos.
4 Ajuntando-se, pois, os filisteus, vieram acampar-se em Suném; Saul ajuntou também todo o Israel, e se acamparam em Gilboa.
5 Vendo Saul o arraial dos filisteus, temeu e estremeceu muito o seu coração.
6 Pelo que consultou Saul ao Senhor, porém o Senhor não lhe respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas.n
7 Então disse Saul aos seus servos: Buscai-me uma necromante, para que eu vá a ela e a consulte. Disseram-lhe os seus servos: Eis que em En-Dor há uma mulher que é necromante.
8 Então Saul se disfarçou, vestindo outros trajes; e foi ele com dois homens, e chegaram de noite à casa da mulher. Disse-lhe Saul: Peço-te que me adivinhes pela necromancia, e me faças subir aquele que eu te disser.
9 A mulher lhe respondeu: Tu bem sabes o que Saul fez, como exterminou da terra os necromantes e os adivinhos; por que, então, me armas um laço à minha vida, para me fazeres morrer?
10 Saul, porém, lhe jurou pelo Senhor, dizendo: Como vive o Senhor, nenhum castigo te sobrevirá por isso.
11 A mulher então lhe perguntou: Quem te farei subir? Respondeu ele: Faze-me subir Samuel.
12 Vendo, pois, a mulher a Samuel, gritou em alta voz, e falou a Saul, dizendo: Por que me enganaste? pois tu mesmo és Saul.
13 Ao que o rei lhe disse: Não temas; que é que vês? Então a mulher respondeu a Saul: Vejo um deus que vem subindo de dentro da terra.
14 Perguntou-lhe ele: Como é a sua figura? E disse ela: Vem subindo um ancião, e está envolto numa capa. Entendendo Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra, e lhe fez reverência.
15 Samuel disse a Saul: Por que me inquietaste, fazendo-me subir? Então disse Saul: Estou muito angustiado, porque os filisteus guerreiam contra mim, e Deus se tem desviado de mim, e já não me responde, nem por intermédio dos profetas nem por sonhos; por isso te chamei, para que me faças saber o que hei de fazer.
16 Então disse Samuel: Por que, pois, me perguntas a mim, visto que o Senhor se tem desviado de ti, e se tem feito teu inimigo?
17 O Senhor te fez como por meu intermédio te disse; pois o Senhor rasgou o reino da tua mão, e o deu ao teu próximo, a Davi.
18 Porquanto não deste ouvidos à voz do Senhor, e não executaste e furor da sua ira contra Amaleque, por isso o Senhor te fez hoje isto.
19 E o Senhor entregará também a Israel contigo na mão dos filisteus. Amanhã tu e teus filhos estareis comigo, e o Senhor entregará o arraial de Israel na mão dos filisteus.
20 Imediatamente Saul caiu estendido por terra, tomado de grande medo por causa das palavras de Samuel; e não houve força nele, porque nada havia comido todo aquele dia e toda aquela noite.
21 Então a mulher se aproximou de Saul e, vendo que estava tão perturbado, disse-lhe: Eis que a tua serva deu ouvidos à tua voz; pus a minha vida na minha mão, dando ouvidos às palavras que disseste.
22 Agora, pois, ouve também tu as palavras da tua serva, e permite que eu ponha um bocado de pão diante de ti; come, para que tenhas forças quando te puseres a caminho.
23 Ele, porém, recusou, dizendo: Não comerei. Mas os seus servos e a mulher o constrangeram, e ele deu ouvidos à sua voz; e levantando-se do chão, sentou-se na cama.
24 Ora, a mulher tinha em casa um bezerro cevado; apressou-se, pois, e o degolou; também tomou farinha, e a amassou, e a cozeu em bolos ázimos.
25 Então pôs tudo diante de Saul e de seus servos; e eles comeram. Depois levantaram-se e partiram naquela mesma noite.

A pergunta básica é: Quem apareceu? Samuel?

2. HIPÓTESES PARA UMA SOLUÇÃO
Há quatro hipóteses para a solução do problema.

1
Hipótese: A necromante operou um milagre, em conluio com o reino das trevas, e trouxe Samuel de volta.
Crítica: Não dá para aceitar esta idéia, porque a Bíblia diz que a morte é o fim (Hb 9.27), fim que só pode ser suspenso pela ressurreição (que não houve, nesta caso).

2
Hipótese: Deus usou aquela circunstância para repreender Saul. Ele pode agir por formas estranhas, como fez com Balaão.
Crítica: Não dá para aceitar esta idéia, porque seria Deus dar crédito à necromancia. Pelo contrário, ele a condenou.

3
Hipótese: A necromante cometeu uma fraude. Há vários indícios disto. Saul não viu Samuel. Foi a necromante. Samuel “estava” sob uma capa. Foi Saul que “entendeu” que era Samuel que lhe dirigia a Palavra.
Crítica: Não dá para aceitar a sugestão no seu todo, pois há evidêcias no texto que sugerem que houve mais que uma fraude.

4
Hipótese: A necromante contou com o apoio da força das trevas, a quem invocava, para enganar a Saul com elementos de magia, que é sempre falsa, e com elementos reais, operados pelo poder das trevas, como o reconhecimento de Saul (v. 14) e a predição da morte do rei (v. 19). Saiu estava enfraquecido, moral, psicológica, espiritual e fisicamente e caiu na fraude com facilidade. Deus permitiu que tudo acontecesse, para que as pessaos aprendessem Quem Ele é. Não foi Samuel mas um espírito enganador (um deus, um anjo de luz) que apareceu.
Muito (ou praticamente tudo) do que a cartomante falou era de domínio público. Ela disse que seu reino que lhe fora tirado; todo mundo sabia disso em Israel e ela também; por isso mesmo fora lhe consultar.
O paradigma do engano, que até hoje é o mesmo. É preciso, nesta hipótese que parece a mais próxima do texto bíblico, tomar-se cuidado para não dar aos poderes do mal uma força maior do que a que têm.

3. APRENDENDO COM O ERRO DE SAUL

3.1. A consulta aos mortos é algo que vem de longos milênios, mas é condenada explicitamente na Bíblia.
No Egito antigo, de onde vieram os judeus, era muito comum.. Ao tempo de Isaías, o costume permanecia:
O espírito dos egípcios se esvaecerá dentro deles; eu destruirei o seu conselho; e eles consultarão os seus ídolos, e encantadores, e necromantes e feiticeiros. (Is 19.3)
O povo de  Israel foi instruído por um Moisés, preocupado com a imitação da prática das nações vizinhas:
Não vos voltareis para os que consultam os mortos nem para os feiticeiros; não os busqueis para não ficardes contaminados por eles. Eu sou o Senhor vosso Deus. (Lv 19.31)
Quanto àquele que se voltar para os que consultam os mortos e para os feiticeiros, prostituindo-se após eles, porei o meu rosto contra aquele homem, e o extirparei do meio do seu povo. (Lv 20.6)

3.2. Devemos ver as conseqüências do que estamos fazendo, mesmo nos assuntos de natureza espiritual.
Saul teve a oportunidade de retroceder (quando a mulher tentou se esquivar), mas preferiu seguir no seu intento. Quantas vezes também, na hora do pecado, temos oportunidade de parar, mas não paramos. Não paramos, porque nós queremos pecar. No caso do adultério, ele não acontece numa fração de segundos. Há uma seqüência própria, de mentiras, subterfúgios…
Tão firme estava no seu desejo de pecar que Saul chegou a  jurar (algo sagrado àquela época) ou pelo Senhor para levar a mulher a cometer o pecado da necromancia (v. 10).
Quando Deus fez silêncio, Saul não teve a humildade de perguntar por que. Não persistiu em continuar buscando ouvir a sua voz. Ele decidiu buscar apoio nas portas do inferno.
En-Dor era uma cidade que conseguira escapar à ordem de Saul quanto ao desterro dos adivinhos. A mulher resistiu porque conhecia a Lei e o decreto de Saul.
Saul foi ao seu encontro à noite, numa indicação bem clara que agia às escuras. Saul queria ouvir a voz de Samuel, que o ungira rei no passado. Pela feiticaria, seu desejo foi atendido.

3.2. Não precisamos ter medo da força das trevas.
Se estamos nas mãos de Deus, não precisamos temer a feitiçaria. Não há sentido ter medo de “trabalhos” feitos contra pessoas ou instituições. Esses trabalhos não podem tocar nos ungidos (seus filhos) de Deus.
Num ambiente pagão como o nosso…

3.3. Devemos evitar a busca de soluções mirabolantes.
A busca de soluções mirabolantes é decorrente do medo (v. 5). Uma pessoa com medo faz até o que não quer. Saul já tinha desterrado os profissionais que agora busca (v. 3). Uma pessoa com medo faz coisas ridículas, como vestir disfarces (v. 8), talvez, neste caso, o uniforme dos soldados.
A busca de soluções mirabolantes é decorrente do silêncio de Deus (v. 6). Saul o experimentou por sua única culpa.
Nós também podemos apelar para saídas/soluções fora de nossas convicções, como Saul o fez (v. 7), já que ele tinha desterrado esses profissionais para uma cidade ao norte do reino (En-Dor).
A propósito, há sempre pessoas dispostar a ajudar… ajudar os outros a cair no buraco (7b). Desde sempre, há sempre alguém propondo alguma coisa. Há sempre alguém se dispondo a apoiar essas coisas e mesmo a fazer algo para viabilizar esse apoio.
Há sempre gente disposta a lhe levar a uma profetisa, como se Deus a ela (por que não diretametne a você?) o seu conselho.
Há sempre gente disposta a lhe levar a um outro culto onde Deus (por causa das emoções que a liturgia provoca) parece falar mais de perto.
Há sempre gente disposta a lhe levar a uma igreja onde haja bênção (especialmente se for material) ou a comunicação do medo (para nós que já fomos libertos de todo terror).
Por esta razão, há um novo tipo de ecumenismo, o do membro da igreja, que secreta ou publicamente, se une a outra naquilo que ela tem (ou acha que tem) de bom.

3.4. Precisamos ouvir a voz de Deus enquanto é tempo.
Samuel deixou de ouvir a Samuel no tempo próprio, tendo pago um algo preço por isto. Agora, queria escutar seus conselhos, estando ele morto.
Davi não tinha os ofícios sacerdotais para ouvir a Deus, que também não lhe aparecia por meio de sonhos ou de profecias. Hoje os meios são a igreja, por suas vozes (pregador, professor, conselheiro). Sonhos e profecias são coisas excepcionais, quando essas falham. No entanto, tendemos a nos comportar como Deus falhasse sempre (e sempre queremos essas formas de comunicação).
Deus pode usar pessoas e situações estranhas para nos advertir. Ele usou uma jumenta, no caso de Balaão, por exemplo (Nm 22.28). Normalmente, ele usa outras pessoas. Ele usa você. [O caso do alcance da fé por parte de Raquel]

4. CONCLUSÃO

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