Reunida a multidão, que O ouvia atenta,
Jesus nos vê e radicalmente nos orienta
com uma questão que incomoda e alenta:
O ser não mais do aquilo que o alimenta?
O corpo não é mais que a sua vestimenta?
A vida não é mais que a água que a dessedenta?
Quem à sua história um segundo sequer inventa?
Reunida a multidão, que o olhava toda atenta,
Jesus nos contempla e com força nos apresenta
o convite para olhar o meio que nos ambienta:
a ave não guarda, mas Deus não a sustenta?
a flor não corre, mas Deus a beleza não lhe aumenta?
como faz com todo aquele cuja busca se assenta
na confiança que a ave, voando, experimenta
no esplendor que a flor, crescendo, ornamenta.
Parte da multidão que a ansiedade atormenta,
faço a oração que toda a minha vontade intenta:
“Senhor, livra-me do medo que me persegue e tenta,
a dor não de ter, que me esgota e mais me adoenta;
o que quero mesmo é ser parte do Reino que contenta
numa entrega que em mim a Tua imagem sacramenta”.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO
2005