Gálatas 2.20-21: A CRUCIFICAÇÃO DO CRISTÃO

A CRUCIFICAÇÃO DO CRISTÃO
Gálatas 2.20-21
Pregada na Igreja Batista Itacuruçá, em 17.3.2002

A leitura deste texto paulino nos suscita quationamentos muito sérios. Não temos como lê-lo e não olhar para nossas vidas.
Podemos garantir que Cristo foi crucificado por nós, mas podemos dizer que fomos crucificados com Ele?
Temos certeza que Cristo quer viver em nós, mas podemos afirmar que este desejo se cumpre em nós?
Estamos certos que a graça é uma dádiva irrevogável de Deus (Romanos 11.29 — porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis), mas podemos confirmar que estamos permitindo que este dom do nosso Senhor nos envolve completamente?

1. A REALIDADE
A primeira parte da afirmativa paulina (Já estou crucificado com Cristo — verso 20a) se explica pelo seu final (O filho de Deus (…) me amou e se entregou a si mesmo por mim. O apóstolo, portanto, descreve uma verdade absoluta já realizada. Eu estou crucificado com Cristo, porque Cristo me amou e deu a sua vida em meu lugar.
Jesus foi crucificado por nós, não por causa dos Seus pecados, porque não os tinha, mas causa dos nossos. Por isto, cristão é quem foi crucificado com Cristo. Ser crucificado com Cristo é aceitar o perdão concedido por Ele na cruz.
“Já estou crucificado com Cristo” quer dizer: “Eu fui crucificado com Cristo quando Ele foi crucificado”. É como se a cruz onde foi pendurado, torturado e morto continuasse fincada sobre o Gólgota e nela continuassem pregados os meus pecados. Por isto, se procurarmos uma palavra que seja o contrário de culpa, logo a descobriremos: graça.
O poder da cruz é atemporal e universal.
O sacrifício de Jesus é válido para sempre. Desde então e até hoje todos quando aceitam este sacrifício têm extinta a sua culpa, a culpa de recusar o amor de Deus. Aquele ato não perdeu sua eficácia com o tempo, não foi superado pela tecnologia, não foi substituído pelo conhecimento humano. Nada substitui a culpa, nada apaga a culpa, senão a graça dispensada na cruz. Não há remédio que cure a culpa. Não há esforço que aplaque a culpa. Não há caminho que nos afaste da culpa. Só o perdão divino, gratuitamente concedido na cruz, nos limpa da culpa. Nosso pecado foi cometido contra Deus e só Ele nos perdoa, e Ele nos perdoa na cruz.
O sacrifício de Jesus é para todos. Sem este sacrifício, todos os seres humanos, não importa a sua idade, classe social, etnia ou instrução formal, têm que carregar a culpa, conviver com a culpa, sofrer pela culpa. Graças à graça de Deus, nenhum ser humano precisa carregar a culpa, conviver com a culpa, sofrer pela culpa. Jesus Cristo já a carregou por nós, já conviveu com ela por nós, já sofreu por ela em nosso favor.
E o que você precisa fazer para receber o perdão? Nada! A natureza da salvação oferecida por Jesus Cristo tem esta característica essencial: o homem não faz nada para recebê-la, porque o Filho de Deus já fez tudo.
A única ação humana, se é que isto pode ser chamado de “ação”, é desejar ser perdoado, é pedir para ser perdoado. Esta é a resposta esperada. A cruz é o lugar onde o desespero da culpa encontra descanso. Nela, a culpa acabou, oferecida a graça. Nela a culpa acaba toda vez que a oferta da graça é aceita.
Deixe-se crucificar com Cristo. Deixe-se perdoar por Cristo. Deixe-se alcançar pela graça de Cristo.

Se você já foi crucificado com Cristo, já foi perdoado por Cristo, já foi alcançado pela graça de Cristo, mas, por alguma circunstância vivida, por um algum descaminho percorrido ou por algum ensino contra-cristão ouvido, a cruz perdeu a sua eficácia e você vive carregado de culpa, pesado de culpa, sofrido de culpa, vencido pela culpa, lembre-se do que Cristo já fez por você. O poder da graça continua válido.
Na cruz, o filho de Deus nos amou e se entregou (entregou sua vida) por nós (verso 21c).

2. O DESEJO
A segunda afirmativa paulina (vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus — verso 20b) nos coloca no território do desejo, no belo território do desejo. É o desejo que nos põe a caminho. É desejo que nos permite atualizar o sacrifício de Jesus. É o desejo que nos faz continuar cristãos.
Fomos crucificados quando desejamos para nós o sacrifício de Jesus por nós  Somos crucificados quando desejamos viver pelo poder de Cristo.
Este ensino fundamental de Paulo se desenvolve em duas partes. Na primeira, o apóstolo afirma que Cristo vive em nós de modo tão profundo que nós não vivemos mais; a vida que vivemos não é mais a nossa vida, porque não nos pertence mais, não lhe damos a direção. A segunda parte desta reveladora frase contém a explicação: isto acontece porque não vivemos mais na carne (isto é, pela lei, pelo esforço próprio), mas vivemos na fé (isto é, pela graça).

2.1. Vivo, não mais eu
O significado da expressão “Vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim” reaparece no final da mesma epístola, com o mesmo desejo: longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo (Gálatas 6.14).
Quando eu vivo por mim mesmo, não permitindo que Cristo viva em mim, confio na minha competência para me tornar feliz. Glorio-me em mim mesmo. Acho-me, com raras exceções, o máximo. Quando desejo que Cristo viva em mim, Ele me capacita a viver.
Ser alcançado pela graça não quer dizer que não tenho que fazer nada, que eu não tenho que me esforçar para viver bem, que eu não tenho que cuidar de meu corpo, que eu não tenho que lutar para preservar minha mente sadia, que eu não tenho que batalhar para manter relacionamentos saudáveis. Eu tenho, como todos os seres humanos, com a diferença que não confio que vá conseguir tudo isto sozinho e por mim mesmo. Minha luta, em quaisquer frentes, deve ser travada segunda a eficácia da cruz, que opera em nós poderosamente (Colossenses 1.29). Cristo, que vive em mim, me capacitará, orientando meu esforço para as direções corretas, inclusive a orientação de não confiar em mim mesmo.
Nosso desejo, portanto, é que Cristo viva em nós. Quando Ele reside em nós, desejamos olhar a nós mesmos com os olhos de Cristo, sabendo que somos amados por Ele, Ele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera (Efésios 3.20).
Quando Cristo vive em nós, desejamos marcar nossos relacionamentos com as mesmas atitudes de Jesus, que, por não considerar seus atributos divinos como inalienáveis, abriu mão deles (Filipenses 2.1-5) e se entregou por nós, que é como devemos viver. Se é para ser escravo de algum sentimento, sejamos escravos da misericórdia e não da justiça, da graça e não da lei. A propósito, quem vive pela lei desespera-se diante da injustiça. Quem vive pela cruz luta contra a injustiça (a favor da justiça), mas não sofre, porque não se desespera…
Quando Cristo vive em nós, desejamos, portanto, crucificar o mundo, isto é, viver de tal modo que os desejos próprios de quem não foi alcançado pela graça não tenham domínio sobre nós. Nós não conseguimos não desejar aquilo que é de nossa natureza, mas podemos crucificar com Cristo os desejos desta nossa humana natureza. Releiamos o apóstolo: longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo (Gálatas 6.14). Crucificar o mundo não significa perder todo o interesse pela vida em sociedade, como se toda a produção da sociedade (conhecimento, arte e tecnologia) não tivesse mais valor para o cristão. Crucificar o mundo significa olhar o nosso tempo de modo crítico, tomando o que há de bom no seu conhecimento, na sua arte e na sua tecnologia, mas sem nos deixar dominar pelo seu conhecimento, por sua arte e por sua tecnologia. Crucificar o mundo é desejar viver na contramão dos seus valores.
Ter Cristo vivendo em nós significa que desejamos ter a Sua mente (1Coríntios 2.16b) governando nossa maneira de nos compreender a nós mesmos, nossas emoções, nossos relacionamentos e nossas produções.
Seja a nossa oração a do profeta Isaías: No caminho dos teus juízos, Senhor, temos esperado por ti; no teu nome e na tua memória está o desejo da nossa alma (Isaías 26.8).

2.2. Vivo na fé
A frase “a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no Filho de Deus” significa que o nosso tempo é o tempo da carne. Eu vivo pela fé, mas experimento a força da minha natureza pessoal corrompida pelo pecado, pecado que destrói a minha auto-estima, pecado que me condena e me põe sob o tufão da culpa, pecado que adoece as minhas emoções, pecado que fratura os meus relacionamentos com poderosas expressões conflituosas de egoísmo e juízo.
Pela graça, no entanto, podemos subjugar a carne e viver pela fé no Filho de Deus. A lei, a lei mosaica, mostrou que não podemos subjugar a carne, porque ela é mais forte do que nós, mas não é mais forte do que a graça de Deus.
Nossa escolha deve ser viver pela fé, não pela carne, que nos afasta de Deus e nos condena à tristeza, ao medo e à solidão. Viver pela fé é viver no poder da graça. Vive pela fé quem desiste do esforço próprio para a salvação, arrepende-se desta rebeldia e volta para a casa, para a casa de Deus, recebendo a Sua graça.
Qual é o nosso desejo? Viver pela carne ou pela fé, por meio da graça? Paulo descreve os cristãos do seguinte modo: nós (…) antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; éramos por natureza filhos da ira (…). Mas Deus, sendo rico em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos) e nos ressuscitou juntamente com ele e com ele nos fez sentar nas regiões celestes em Cristo Jesus (Efésios 2.3).
Esta descrição descreve você? Você sente que Deus amou você e lhe deu vida na cruz? Você foi crucificado com Ele e ressuscitado com Ele? Se sim, deixe-se envolver completamente por esta graça, mudando dia após dia o modo como você se vê, o modo como age em relação aos outros, o modo como experimenta as coisas excelentes de Deus.
Se esta descrição ainda não o descreve, abra mão do estilo de vida que adotou até agora, deixe de insistir no caminho que tem levado a você a se afastar da graça. Deixe-se crucificar com Cristo nela e seja envolvido por sua graça, graça que dá sentido à sua vida, viva você bem ou esteja mergulhado na dificuldade. Lembre-se que Deus é rico em misericórdia e Ele a oferece a você, para que você viva pela fé, pela fé no Seu Filho Jesus Cristo.

3. O COMPROMISSO
Paulo nos falou, até agora, da maravilhosa graça de Deus. Agora, ele pede uma atitude, colocando-se como exemplo. Ele deseja que não tornemos nula a graça de Deus: Não faço nula a graça de Deus; porque, se a justiça vem mediante a lei, logo Cristo morreu em vão. (Gálatas 2.21).
Como anular a graça. Não é ela, então, um decreto irrevogável (inanulável) de Deus? Na verdade, não há força neste mundo capaz de anular a graça, capaz de apagar o poder da cruz. O poder desta graça, no entanto, pode não me alcançar. Embora ela seja real, eu posso não a tomar para mim, de modo que não tenha efeito sobre mim.
A graça não é uma palavra mágica. Sua operação não é ativada por uma senha qualquer. Não basta apertar um botão para recebê-la. Não basta abrir um livro (mesmo que seja a Bíblia) para alcançá-la. Não basta acessar um portal eletrônico (mesmo que cristão) para conhecê-la. Não há um automatismo na graça. Só porque ela existe, não quer dizer que eu já fui beneficiado por ela…

1. Anulo a graça de Deus e torno inútil a morte de Cristo quando não desejo viver pela fé. Afirmo a graça quando quero, de verdade, viver pela fé.
Só posso viver pela fé quando me arrependo dos meus pecados. Sem o meu arrependimento é nulo o sacrifício de Cristo por mim. O sacrifício continua válido para os que se arrependem, mas não me alcança.
Há algum tempo um brasileiro de 46 anos deu um testemunho assombroso, publicado pela revista “Isto É”: “Eu passei Aids para muitas mulheres nas estradas, perdi a conta. Claro que sem saber. Contraí o HIV em 1984, mas só descobri que era doente em 1996. (…) A vida na estrada é de muita solidão, mas sempre aparece uma moça para fazer programa, mulheres que pedem carona em troca de sexo. Em algumas viagens tive cinco mulheres de beira de estrada. Contraí a tal Aids em Santos, (…) com uma mulher que logo depois morreu disso. Continuei com mulheres pelas estradas, quase sempre na boléia do caminhão. (…) Me casei em 1990. Continuei a ter parceiras. (…) Em 1996 a minha esposa ficou grávida e descobriu que tinha o HIV. Resisti, mas fiz o exame: o médico falou que eu estava com o vírus há pelo menos 12 anos. Continuei (…) nas estradas sem camisinha. (…) Minha filha nasceu saudável, mas minha esposa morreu de Aids no Natal de 1998. (…). A família dela me tirou a criança. Dei para beber. Hoje faço parte do grupo católico Esperança e Vida, que acolhe portadores do vírus, e trabalho com prevenção. Deixa eu contar uma coisa: tenho uma outra filha, está com 24 anos. Há pouco tempo ela me telefonou avisando que ia casar. Pediu para eu não ir à festa. É difícil, moço, muito difícil falar de tudo isso sem chorar.” (Revista Isto É, 15.8.2001, p. 15)
Ouvimos esta narrativa e nos estarrecemos porque, pelo que lemos, não vemos nela uma confissão, uma confissão de erros, seguida de arrependimento. Ouvimos de lágrimas, mas não de arrependimento. Então, nos perguntamos: como uma pessoa que espalhou a morte pode achar que deve ser aceito pelos outros, no caso por sua filha, órfã da mãe, como se nada tivesse acontecido?
Atitudes como estas tornam nula a graça de Deus e inútil a morte de Cristo. Se ele se arrepender e pedir perdão a Deus, ficará livre da culpa espiritual, embora tenha que enfrentar as conseqüências do seu desatino.

Acompanhamos também o ex-presidente iuguslavo Slobodan Milosevic, fazendo a sua defesa, para justificar seus atos, atos assassinos, como atos aceitáveis.
Se Milosevic se arrepender, confessando os seus pecados diante dos homens e diante de Deus, poderá não ser perdoado pelos homens, mas o será por Deus. Mesmo que passe merecidamente o resto dos seus dias na prisão, fruirá da paz de Cristo que excede todos os limites.

A pior coisa que pode acontecer a uma pessoa é justificar os seus atos pecaminosos, porque, fazendo-o, não pode verdadeiramente justificado, porque só Jesus Cristo nos purifica de todo o pecado, desde que o confessemos. A Bíblia apresenta esta verdade de modo transparente e eloqüente: Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça (1João 1.9) por meio do Seu sangue (1João 1.7). Quando reconhecemos a nossa condição, sem culpar ninguém, sem nos esconder em desculpa alguma, experimentamos o que Paulo experimentou: o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (Romanos 1.16a)

2. Anulo a graça de Deus e torno inútil a morte de Cristo quando sirvo ao pecado depois de me ter arrependido. Afirmo a graça quando me despojo da minha velha natureza.
Quando aceitamos a graça, somos revestidos de um novo estilo de vida, formado em verdadeira justiça e santidade (Efésios 4.24). Não podemos, então, nos esquecer que nossa natureza original foi crucificada com Cristo, para que o corpo do pecado fosse desfeito, a fim de não servirmos mais ao pecado (Romanos 6.6). Somos despojados (arrancados) do procedimento anterior, típico do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano, isto é, que se deixa destruir pelos seus desejos enganosos (Efésios 4.22). Nosso estilo de vida agora deve ser outro, mesmo que os nossos desejos forcem a barra.
No entanto, há muitos, talvez alguns aqui, que chegaram a conhecer o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e que escaparam das imoralidades do mundo, mas depois foram agarrados e dominados por elas. Essas pessoas ficam no fim em pior situação do que no começo. Segundo a Bíblia, teria sido muito melhor que eles nunca tivessem conhecido o caminho certo do que, depois de o conhecerem, voltarem atrás e se afastarem do mandamento sagrado que receberam. O que aconteceu a essas pessoas prova que são verdadeiros estes ditados: “O cachorro volta ao seu próprio vômito” e “A porca lavada volta a rolar na lama (2Pedro 2.20-22). É impressionante a capacidade humana de experimentar a porcaria, mesmo sabendo que é porcaria. Dois terços dos russos fumam e estão reduzindo sua expectativa de vida. A propósito, veio a público recentemente que os fabricantes de cigarro confirmaram que tinham o hábito de pagar a atores e diretores de filmes americanos para que as personagens aparecessem fumando em situações glamurosas e de modo que nunca fosse associado a doença. Atores e diretores sabiam que estavam contribuindo para matas pessoas, mas continuaram seu crime em troca de dinheiro. Quando voltamos a adotar um estilo de vida que um dia abandonamos, deixamo-nos engamar.
Quando adotamos uma jeito de ser que sabemos que é impróprio (e aqui falo especialmente aos que tiveram o privilégio de nascer num lar cristão), anulamos a graça de Deus, que nos foi dada para que vivêssemos de modo digno do Senhor. Nenhum de nós precisa experimentar aquilo que sabemos que não presta, só pelo prazer de conhecer o outro lado, outro lado que jamais nos ensina o caminho de volta.
Todos estes comportamentos provocam revolta aos olhos humanos, mas Jesus os vê sob a perspectiva da graça. O anseio de Deus não é aplicar a justiça, entregando tais pessoas a Satanás, para que se sujem mais ainda (Apocalipse 22.11). Antes, o desejo de Deus é receber de volta estes pródigos, seja qual for a altura da sua queda, desde que se arrependam, quebrantem os seus corações e peçam para voltar.
Esteja você dentro ou fora da igreja, mas anulando a graça, o convite é simples: volte para Jesus Cristo, levando a sério, vivendo com prazer o seu convite.

3. Anulo a graça de Deus e torno inútil a morte de Cristo quando me contento em viver no plano da lei. Afirmo a graça quanto me esforço para viver no compasso da graça.
Toda a epístola de Gálatas foi escrita para dizer aos cristãos que a lei os condenara, não os libertara. Quem confia na lei conhece a morte. Quem confia na graça experimenta a vida. Já fomos alcançados por Jesus; agora, precisamos que esta nova dinâmica alcance todas as dimensões de nossas experiências.
Viver pela lei é uma tentação. A lei parece produzir justiça, mas não a produz. Todo legalista, por mais que busque ser feliz, vive vergado sob o pessoa da culpa.
Em linhas gerais, é fácil viver pela lei, entre outras razões, porque podemos seguir as suas prescrições sem nenhuma demonstração de bondade e também porque podemos burlá-la.
É fácil fazer só o que a lei manda, mas ser cristão implica em ir além, porque inclui as nossas intenções.
É fácil encontrar na lei brechas que nos beneficiem, embora resultem em ações moralmente reprováveis. Um exemplo disso é o corbã (Marcos 7.11). No Israel antigo, uma pessoa podia tomar um bem, oferecê-lo como sacrifício diante do Senhor e continuar a usá-lo. Quem agisse assim estava dentro da lei, mas estava roubando a Deus. A propriedade do bem era de Deus, mas seu uso era do homem…
O corbã é uma demonstração do que somos capazes para tirar o máximo da lei. E para que, se temos a misericórdia?

4. Anulo a graça de Deus e torno inútil a morte de Cristo quando tento fazer troca com Deus. Afirmo a graça de Deus quando nos colocamos nas mãos de Deus para receber e para oferecer, para rir e para padecer.
Nós não merecemos a graça, mas tendemos a achar que a merecemos. Quando uma pesssoa temente a Deus sofre, nós nos escandalizamos, como se exigindo de Deus que isto não lhe acontecesse. Quando uma pessoa que não teme a Deus sofre, achamos natural; quando ela não sofre, ficamos perplexos.
É muito comum a gente ouvir queixas como estas:
— Logo agora que tenho procurado ser fiel a Deus, essas coisas me acontecem. Não estou entendendo.
Essas preocupações são, no fundo, uma falta de entendimento do que seja a graça. Posso dizer que algumas pessoas chegam a abandonar a fé por não verem sua justiça (leia-se bondade, fidelidade) recompensada.

5. Anulo a graça de Deus  e torno inútil a morte de Cristo quando vivo um cristianismo superficial. Afirmo a graça de Deus quando tenho interesse em experimentar a excelência da vida que quer me dar..
Muitos cristãos receberam a primeira porção da graça, que é a salvação, e se contentaram com esta porção. Eles não se preocuparam em desenvolver esta salvação, coisa que se faz com temor e tremor (Filipenses 2.12).
Muitos cristãos serão apenas salvos, como aquele ladrão na cruz, que não teve tempo de desenvolver a sua salvação.
Nós somos convidados a outra possibilidade. Somos chamados a desenvolver a nossa salvação, intelectualmente e existencialmente.
Somos convidados a aprender mais da graça e experimentá-la nas nossas vidas. Precisamos ampliar nossos horizontes de fé. Precisamos esticar nossos limites de graça.
Não precisamos ter medo de obedecer a Cristo. Não precisamos de tomar a sua cruz e seguir ao nosso Senhor.
Nosso desejo, portanto, deve ser viver pela graça, não anulá-la.

***

Eu quero a graça,
a graça de quem com Cristo se deixou crucificar
e agora na fé no Filho de Deus deseja caminhar.

Eu quero a graça,
a graça de quem aceitou o sacrifício de Jesus
para viver a cada dia a eficácia da cruz.

Eu quero a graça
a graça de quem sabe o que a salvação não é:
ela não vem pela justiça própria, mas pela fé.

Eu quero a graça,
a graça de quem dos seus pecados se arrepende
e experimenta o perdão que da cruz pende.

Eu quero a graça,
a graça de quem vive como um arrependido,
sem se arrepender de ter se arrependido.

Eu quero a graça,
a graça de quem não mais confia
no esforço próprio para viver
mas se esforça para crescer na porfia
de estar em Cristo e com Cristo
com toda a força do seu ser.

Eu quero a graça,
a graça de quem espera a misericórdia em ação,
que não bate no peito em busca de justiça
mas olha para o alto e escuta a Palavra
para ver a graça invadindo o coração.

Eu quero a graça,
a graça de quem não se contenta com uma fé pequena
com um amor pequeno, com um poder pequeno
mas busca uma fé excelente, um amor excelente, um poder excelente.

Não quero a graça do ladrão na cruz,
mas quero plena a cruz de Jesus
para nela inteiro me crucificar
e com o Crucificado caminhar.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO 

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