Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 21.12.3003 (Cantando o Natal)
Muitas vezes ouvimos a seguinte lamentação: “ah! se o Brasil tivesse sido descoberto ou colonizado pelos holandeses…”. Talvez fôssemos um país desenvolvido ou um país com segregação racional ou com mais miséria do que temos…
Não dá para saber o que seria o nosso país se a nossa história fosse outra, porque só temos esta história e não outra. Portanto, sou daqueles que aceitam que na história não existe o imponderável: não podemos especular sobre as conseqüências de um fato que não aconteceu.
No entanto, quando olhamos para história de Jesus, narrada no Novo Testamento, nós lemos que Ele trouxe percepções absolutamente novas. A humanidade ainda não as vira. Por isto, ouso pedir licença para tocar no imponderável, porque Jesus é imponderável. Dá para pensar um Deus que nasceu numa estrebaria? Dá para pensar num Deus cuja notícia de seu nascimento foi dada primeiramente a pastores? Dá pensar num Deus que curou, ensinou e pregou, mas nunca quis ser famoso? Dá para pensar num Deus que recebeu a culpa de todos os homens em todos os tempos ao morrer numa cruz entre dois bandidos, Ele que não tinha pecado? Dá para pensar num Deus que teve sua ressurreição anunciada primeiramente a mulheres? Dá para pensar num Deus que, tendo deixado a habitação dos homens, deixou com os homens o Seu Espírito de força para a vida?
Diante de Jesus, estamos diante um Deus imponderável. Até hoje Ele é assim: quando pensamos que Ele vai agir de um modo e Ele age de outro, sem nos dizer a razão, que sabemos ser a melhor para nós.
Então, penso que posso pensar em três conseqüências negativas se Jesus não tivesse nascido. E não é apenas a mais evidente: a de que não estaríamos aqui, esta igreja proclamando o nascimento de Jesus, vocês ouvindo acerca deste Salvador…
Se Jesus não tivesse nascido, não conheceríamos um Deus presente.
Todos os deuses moram longe e gostam de posar de inacessíveis aos seres humanos. Mesmo no Antigo Testamento, onde aprendemos que só um há Deus que cria, embora muitos outros criados por nós, só excepcionalmente Deus “aparece”. Ele é apresentado com o Deus que se inclina, mas nunca aparece, exceto por meio de representantes, a que Bíblia chama de anjos.
Com Jesus, é diferente. Ele é o Emanuel, isto é, o Deus presente. Ele disse que quem O visse estava vendo o próprio Deus, pois Ele e Deus (Deus Pai, bem entendido) era um só. Por isto, um contemporâneo seu escreveu que Ele habitou entre os homens cheio de graça e de verdade. Por isto, este autor conclui, bem pessoal: “Vimos a sua glória, como a glória do filho único do Pai” (João 1.14).
Se eu pudesse definir numa só expressão, para os seus contemporâneos e para nós, o que significa que Jesus é Deus presente, esta expressão é: não estamos sozinhos.
Você nunca está sozinho, se você aceita que Deus se fez e se faz presente. O Natal, portanto, é uma recordação (Deus morou conosco), uma certeza (Deus mora conosco) e um convite (Deixe Deus morar com você). Foi para isto que Jesus veio. É para isto que deixou presente o Espírito Santo para ser nosso companheiro.
Se Jesus não tivesse nascido, não teríamos recebido o ensino acerca do amor por alguém que viveu o amor.
Na antiguidade, a ética prevalecente determinava: “dente por dente, olho por olho”. Jesus, porém, ensinou que o ofensor deve ser perdoado, assim como Deus nos perdoa, a nós que o ofendemos com os nossos pecados. Na antiguidade, o máximo de bondade era amar os amigos. Jesus, porém, ensinou que devemos amar os nossos inimigos.
Ele disse e viveu assim. Até hoje as instruções de Jesus continuam vivas e atuais para nós, embora nos seja difícil cumpri-las. O natural em nós é devolver o ódio com ódio sempre e, de vez em quando, retribuir o amor com amor.
Como Jesus, os cristãos ensinamos sobre o amor. Diferentemente de Jesus, os cristãos não vivemos o amor. Porque se o vivêssemos, o mundo seria outro. O Natal é tempo de nos compromissarmos em amor, com palavras, mas não com palavras apenas, e com gestos, mas gestos concretos, prazerosamente fraternos.
Se Jesus não tivesse nascido, viveríamos sem esperança.
A antiguidade anterior a Jesus é definida pela Bíblia como prisioneira das trevas (Isaías 9.2). O mesmo Jesus é apresentado como o Deus que veio iluminar o mundo e cassar o poder das trevas (João 1.19). A luz que é Jesus (“Eu sou a luz do mundo” – Ele o disse) apaga as trevas e acende a esperança.
Não precisamos mais tatear nas trevas do desespero. Nossa vida presente está guardada em Jesus. A vida tem sentido: Jesus Cristo.
Não precisamos mais ignorar o que nos aguarda no futuro. Nossa vida futura está guardada em Jesus. Uma dia voltaremos a nos encontrar com Ele e então vai ser só festa.
Esperança é ter alguém esperando pela gente. Jesus espera hoje que o aceitemos como Salvador e Senhor, para nos dar uma vida com qualidade, agora e no futuro.
É Natal, logo não estamos sozinhos. Deus está conosco todos os dias.
É Natal, logo podemos amor, porque fomos e somos amados por Jesus.
É Natal, logo podemos viver na luz da esperança, porque esta é a promessa do Deus que se faz carne e habitou entre nós.