Os evangelhos contam a história de Jesus. Cada um tem uma perspectiva. Por isto, mesmo quando os fatos são os mesmos, cada evangelista os vê sob a sua visão.
Mateus vê em tudo a majestade de Deus. Ele tem um olho na terra e outro no céu. Jesus é o Filho de Deus que habita conosco.
Marcos gosta dos detalhes. Se a relva era verde, ele registrava que a relva era verde, embora os outros sequer tivessem notado.
Lucas procura juntar tudo. É mais “profissional” em sua pesquisa. Não se baseou apenas em uma fonte, mas em várias, escritas e orais. Seu projeto é ambicioso e só termina no livro de Atos.
João é um especialista em sermões. Seu livro é um livro de pregações, intercaladas com os fatos narrados. Seu foco está nos lábios de Jesus, como se tivesse um gravador registrando tudo, não uma máquina fotográfica.
Eles se completam.
Acho extraordinário que estes autores tenham sido respeitados pelo Autor. Não teria sido mais sábio que Ele tivesse dado uma editada e organizado “melhor” o material? Não: Ele deixou como seus inspirados escreveram, como fruto de pesquisa e de fé.
Quem lê com má vontade pode ver nesses relatos até mesmo contradições. Quem lê com boa vontade vê nessas “contradições” o respeito à diversidade, a valorização das diferenças. Estas “contradições” são o maior registro da historicidade de Jesus. A história de Jesus não foi inventada; se fosse, o registro de sua vida não conteria repetições, nem perspectivas diferentes.
Releiamos as narrativas do túmulo vazio. Não há contradições nelas mas também não há tentativas de suprimir as diferenças de perspectiva. Várias pessoas visitaram o túmulo em diferentes horários da manhã. Maria e suas amigas viram uma realidade, e o autor a registrou. Os discípulos (Pedro sendo um deles) foram em outro momento e viram outra realidade, que o autor também registrou. Se a história fosse inventada, esta aparente contradição (de relatos diferentes) seria eliminada para não parecer uma contradição.
Israel Belo de Azevedo