Grandes versos da Bíblia, 1: Gênesis 1.1
Igreja Batista Itacuruçá, 4 e 11.2.2006 (noite)
NO PRINCÍPIO, DEUS
[Gênesis 1.1]
No princípio Deus criou os céus e a terra.
1
No princípio, Deus
Há cientistas que crêem em Deus. Há cientistas que não crêem em Deus.
Há cientistas que crêem em Deus, mas não fazem de sua fé uma bandeira pública.
Há cientistas que não crêem em Deus e não fazem de sua incredulidade uma bandeira pública. Tal não é, no entanto, o caso de Richard Dawkins, que resolveu se tornar um paladino do ateísmo. Seu livro mais recente (“The god delusion” — A delusão de Deus), que parece fazer parte de um movimento orquestrado, procura demonstrar que a religião é algo nocivo para o ser humano e que o ateísmo é o único caminho possível para uma pessoa inteligente. Para Dawkins, os ateus podem ser pessoas felizes, equilibradas moral e intelectualmente; por isto, devem ser orgulhosos, porque o ateísmo é uma conseqüência de uma mente rica e independente. Tudo se explica pela seleção natural, não pela ação de Deus ou qualquer outra hipótese.
O título do livro é esclarecedor. Delusão é uma crença falsa e persistente, apesar da forte evidência em contrário. Perguntado sobre a razão de as pessoas ainda crerem na existência de Deus, o biólogo respondeu: “a mente da criança, por razões bem darwinistas, é susceptível à infecção, da mesma forma que um computador pode ser programado para obedecer o que lhe mandarem fazer. Isto o torna automaticamente vulnerável aos vírus, que são programas que dizem “Espalhe-me, copie-me, passe-me.” Uma vez que o vírus está instalado, não há como pará-lo. Do mesmo modo, o cérebro da criança é pré-programado por seleção natural a obedecer e crer que seus pais e outros adultos lhes dizem. O cérebro da criança é bastante suscetível a este tipo de infecção”. [Citado por SLACK, Gordy. The atheist. Disponível em <http://dir.salon.com/story/news/feature/2005/04/30/dawkins/index.html>.]
Não sem precisão, o bioquímico e também teólogo Alister McGrath chama Dawkins de sumo-sacerdote do fundamentalismo ateu, feito de muito dogmatismo e de uma retórica agressiva. [Cf. McGRATH. Atheist Interpreters of Darwin: Richard Dawkins on the God Delusion. Disponível em <http://users.ox.ac.uk/~mcgrath/Lecture%20Text/Shewsbury%20Darwin%20Festival%202007.pdf>]
1
SOMOS TODOS HUMANOS, CIENTISTAS E RELIGIOSOS
Os esforços para negar a existência de Deus ou o valor da religião não são novos. A diferença de agora é que, além de ganharem meios de divulgação mais amplos (especialmente na internet), são dirigidos não mais por filósofos, como Bertrand Russell ou Michel Foucauld, mas por cientistas conhecidos, como o falecido Carl Sagan e o ativo Sam Harris, além de Dawkins. Suas críticas incluem acusações à religião pela prática da intolerância, que se desdobra em violência e em recusa à ciência.
Em muitos casos, estas acusações são verídicas.
De fato, com o apoio de religiosos a escravidão de seres humanos por outros seres humanos durou milênios, mas também foram muitos os religiosos que levantaram suas vozes contra a escravidão, desde o apóstolo Paulo, em seu libelo de Filemon. Ademais, o Império Romano não apelava a religião para escravizar; as razões eram políticas e econômicas, à luz do direito, não da teologia, qualquer que fosse.
De fato, por religião se matou e ainda se mata no mundo. As Cruzadas e a Inquisição, na Idade Média, são trágicos exemplos. Os cristãos não podem ter outra atitude senão pedir perdão pelas atrocidades contra povos e indivíduos e vigiar para não cair de novo na tentação da intolerância e da violência, sejam quais forem as suas causas. Matar, no entanto, não é uma decorrência natural da religião. Hitler, quando assassinou milhões de judeus, não alegou motivos religiosos, mas científicos, com a sua eugenia, a crença de que os judeus deviam ser eliminados, para que a nação alemã pudesse ser aperfeiçoada. A eugenia de Francis Galton, primo de Charles Darwin, não pode ser usada para desacreditar a biologia ou mesmo a teoria da evolução. Que dizer de Louis Algassis (1807-1873) e Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882), importantes cientistas do século 19, que, em viagem ao Brasil, ajudaram a perpeteuar o mito da superioridade branca? Para Gobineau, a saída era o incentivo à imigração européia, conselho comprado pelo governo imperial. (Gobineau anotou: “Mas se, em vez de se reproduzir entre si, a população brasileira estivesse em condições de subdividir ainda mais os elementos daninhos de sua atual constituição étnica, fortalecendo-se através de alianças de mais valor com as raças européias, o movimento de destruição observado em suas fileiras se encerraria, dando lugar a uma ação contrária.”) Algassis, incensado zoólogo, chamado de um dos “pais fundadores da tradição científica americana”, Louis Agassiz também não via futuro para o Brasil por causa da miscigenação racial. Ele escreveu: “Aqueles que põem em dúvida os efeitos perniciosos da mistura de raças e são levados, por falsa filantropia, a romper todas as barreiras colocadas entre elas, deveriam vir ao Brasil.”
Há coisas horríveis feitas em nome da religião, e também nos nomes da da ciência e da política.
Quanto ao que importam aos cristãos, devermos ser humildes e reconhecer os erros do passado, no desejo de não os cometer. Intolerância, nunca mais, sempre. Devemos tomar cuidado em nossa leitura da Bíblia para não fazê-la falar o que não diz. Ela fala que todos somos iguais, mas alguns podem torcê-la para ela dizer que um ser humano é melhor do que o outro por esta ou aquela razão. Ela felicita os promotores da paz, mas alguns podem torcê-la para ela dizer que a defesa do nome de Deus pode ser feita com a morte dos ofensores. Deus não precisa de defensores…
2
BRAÇOS QUE PODEM SE DAR
Quanto à existência de Deus, ela não é para ser provada filosoficamente ou cientificamente. Todo esforço neste sentido deve ser visto como um esforço, e nada mais. Deus não cabe no raciocínio do filósofo nem no laboratório do cientista.
Sei que há filósofos e cientistas cristãos empenhados nesta demonstração. Eu os louvo. Eu os louvo porque não há contradição entre ciência autêntica e religião autêntica, mas diálogo e respeito. O amor é para ser cantado, não explicado. De igual modo, Deus é para ser louvado, não explicado. Explicar o amor — e isto deve ser feito — não altera o que o amor é. Explicar Deus — e isto pode ser feito, desde que com humildade plena — não altera quem Deus é.
O texto bíblico de Gênesis 1.1 não é uma narração jornalística ou científica da criação, mas uma afirmação de fé em Deus como criador. As regras da narração jornalística e científica mudam, mas as afirmações bíblicas avançam pelos tempos.
O filósofo ou o cientista que lê a Bíblia para contestá-la deve ser visto com desconfiança. Ele vai encontrar o que procura, especialmente quando se deixa aprisionar nas teias do superficialismo e do anacronismo. Uma leitura dita “científica” da Bíblia exige conhecimento da linguagem da Bíblia, que é bem diferente da linguagem corrente. Suas narrativas e ensinos estão ancorados no tempo em que foi escrita. Esperar dela, por exemplo, que fale de preservação do meio ambiente em termos modernos é esperar o impossível, embora possamos derivar delas valiosos princípios a este respeito. Os críticos que vêem na violência moderna uma reprodução das práticas recomendadas na Bíblias são leitores de má vontade; quem lê a Bíblia com boa vontade vê nitidamente o caminho da paz, caminho tão radical que Deus mesmo se tornou vítima desta violência ao se deixar assassinar na cruz, por causa da intolerância contra qual Jesus, Deus-homem, se insurgiu.
3
DESCONFIANDO
O filósofo e o cientista devem se ocupar da interpretação e da descrição do mundo. Só não podem fazê-lo com arrogância, porque a filosofia e a ciência de amanhã rirão da filosofia e da ciência de hoje. Neste sentido, por exemplo, por mais que os ateus neguem o fato, o ateísmo demanda também fé, ao propor que a seleção natural explica tudo, até o que não foi ainda demonstrado, e que tudo “o que existe surgiu de um vácuo, de um buraco, de um zero no éter”. [CARPENTER, Mark. A maior de todas as religiões. Disponível em <http://www.ultimato.com.br/?pg=show_artigos&artigo=1565&secMestre=1652&sec=1670&num_edicao=304>. O ateísmo é tão arrogante quanto a arrogância que ataca
A pessoa de fé que olha a ciência com desconfiança deve ser vista com desconfiança. A pessoa de fé deve contemplar o que Deus faz na sua vida ou diante dos seus olhos. A pessoa de fé autêntica não vê o filósofo ou o cientista como inimigos, a menos que sejam arrogantes. A pessoa de fé autêntica não desconfia do filósofo ou do cientista só porque são filósofos ou cientistas, mesmo porque sabe que a dúvida de um e a certeza do outro contribuem para o aperfeiçoamento de sua fé e para o desenvolvimento do seu bem-estar. A pessoa de fé autêntica não se aninha nos braços do obscurantismo, defendendo causas que não são autorizadas pela Bíblia, como, por exemplo, a recusa ao direito de as mulheres vocacionadas exercerem o ministério pastoral.
A propósito, a Ordem dos Pastores Batistas do Brasil decidiu não aceitar filiação de pastoras nos seus quadros. Por causa da notícia, recebi de uma ex-aluna o seguinte desabafo:
“Depois de vinte anos pastoreando no anonimato desta denominação, com um curriculum não tão sofrido como o de Paulo, posso dizer:
— três vezes fui expulsa das reuniões de executivas;
— duas vezes fui aconselhada a procurar um “tanque” de roupa ao invés do púlpito;
— um pastor conferencista, após o término da mensagem, orou pedindo a Deus que enviasse um homem para a igreja que eu pastoreava;
— várias vezes fui chamada de “Jezabel” pelo auto-falante da cidade onde residia como pastora;
— uma vez um pastor chegou de surdina na cidade onde eu residia e visitou os membros dizendo do “perigo” de ter uma mulher como pastora;
— uma vez fui expulsa em pleno culto (os membros quiseram bater no pastor);
— uma vez fui ameaçada por um pastor que mandou avisar que iria me “surrar’ no púlpito, caso eu continuasse a pregar;
— nunca tive meu nome na agenda, nem como aniversariante, no Estado onde exercia meu ministério;
— nunca recebi um cartão de felicitação por parte da Convenção do Estado por época do dia do Pastor;
— muitas e muitas vezes desejava trocar idéias com algum colega de ministério… como era difícil encontrar.
Durante todos esses anos posso enumerar seis pastores batistas da mesma Convenção Estadual que valorizaram o ministério que Deus me concedeu.
Recebi também apoio de vários pastores de outras denominações, principalmente os que viviam na mesma cidade pastoreando suas igrejas (sempre tive boa convivência com as demais igrejas evangélicas).
Mas valeu toda a experiência. Tudo o que aprendi sozinha com Deus muito edificou minha vida. Tenho certeza que as almas ganhas para Cristo sempre serão o bem mais precioso que um servo pode receber como recompensa, sendo ele pastor ou pastora, o título em si já não faz diferença, porque Aquele que chama é também o que intitula”.
Leituras superficiais da Bíblia promovem injustiças contra Deus e seus leitores. Leituras profundas da Bíblia geram compromissos, mesmo que contra nossas opiniões e culturas.
4
AUTENTICIDADE DA CIÊNCIA E DA RELIGIÃO
Dawkins quer um mundo sem Deus. Dawkins quer um mundo sem religião.
Ele, e quem navega por suas águas, ignora que a ciência também tem culpa registrada na história. A bomba atômica não é produto de mentes religiosas, mas de mentes científicas. A violência praticada pela ciência, mas nem por isto se nega os benefícios da ciência.
A ciência também tem seus capítulos de fraude, como a do cientista coreano que anunciou ter clonado um ser humano, afora os fôsseis sabidamente montados para forjar elos inexistentes. Há fraudes na ciência, mas nem por isto a ciência é negada.
A ciência, tal qual a religião, se não se cuidar, torna-se presa da arrogância. Cientificamente falando, é uma falácia afirmar que algo não foi provado como verdadeiro deve ser necessariamente falso. Para a ciência, todo aquele que afirma algo sobre a realidade passa a ter o ônus da prova. E os ateus só conseguem negar, mas não demonstrar. Cabe-lhes o onus da prova. Tanto pessoas que afirmem que um deus existe quanto aquelas que afirmam não haver deuses precisam apresentar provas daquilo que estão dizendo. As provas dos crentes em Deus podem não passar pelo crivo da razão, mas lhes são suficientes. As provas dos ateus simplesmente não existem.
A ciência tem seus tempos de preconceito, quando, à luz da frenologia, afirmava que um indivíduo podia ser ter o seu caráter pelo tamanho do seu crânio; pessoas acusadas de um crime foram condenados pela análise ensinada por este tipo de ciência. Nem por isto, nega-se o valor da psiquiatria ou da neurologia para o entendimento da natureza humana.
A ciência também tem seus momentos de cegueira, quando se calou diante da eugenia de Hitler. A ciência se escondeu atrás do seu principio de neutralidade, porque, na verdade, seu princípio, essencialmente perigoso, é o que se deve fazer o que pode ser feito. Na verdade, os que se levantaram contra a barbárie foram cristãos; os que deram a sua vida no combate ao genocídio judeu foram cristãos. Aliás, o presidente iraniano que nega o holocausto não o faz por motivos religiosos, mas políticos.
A ciência autêntica se pergunta pelas conseqüências de suas práticas, mas o mesmo se pode dizer da religião autêntica.
A ciência autêntica toma cuidado com as fraudes, mas o mesmo se pode dizer da religião autêntica. A Bíblia mesma adverte contra os falsos pastores.
5
DIANTE DAS CRÍTICAS
Diante das críticas ateísticas, que os crentes (que somos pessoas do nosso tempo) precisamos ler, conhecer e discutir, podemos desenvolver algumas atitudes.
1. Não devemos fugir do debate.
Não devemos tratar os ateus como inimigos. Isto seria retribuir antibiblicamente com a mesma moeda. Devemos ler seus textos, revisar nossas interpretações, mudar nossos comportamentos, contestar as idéias nos planos das idéias. A fé cresce no debate, não no escondimento.
Devemos tomar cuidado para não nos enamorarmos dos conceitos que lemos. Devemos ser críticos sempre contra toda a sedução. Devemos questionar os autores que se tornam obrigatórios, especialmente os seus pressupostos e até as conseqüências dos seus credos.
2. Não devemos crer cegamente.
Nada mais civilizatória do que a leitura da Bíblia. Ela pede cuidado. Ela pede que examinemos o contexto do texto. Ela pede que cotejemos versões e comentários. O leitor sério da Bíblia jamais é um leitor cego.
Por isto o bom leitor da Bíblia dá atenção as produções da cultura (estejam nos campos das artes, das ciências e das filosofias).
Deve haver espaço para o Tomé que deve estar dentro de cada um de nós. Nossa fé precisa ser de primeira mão, não de segunda. Se meus olhos viram o Redentor, quem me dirá que meus não o viram? Se eu sei que nada me separar do amor de Deus, quem me separará?
A alguns pode parecer mais cômodo fechar-se no mundo da igreja, crendo com os que crêem. Enquanto agirmos assim, os que não crêem continuarão não crendo. Nossa fé precisa ser vivida no mundo, para que haja diálogo e conversão. Fé não para ser repetida; é para ser vivida, criada e recriada.
3. Não devemos ser orgulhosos de nossa fé.
Devemos ser humildes. Deus é mais complexo que a criação e não cabe no gibi da ciência e nem no blog da religião. Os humildes aprendem a cada dia e crescem. Os orgulhos se repetem e diminuem.
Gosto de pensar que a graça é recebida de graça, sem mérito algum de quem a recebe. Logo, não podemos bater no peito por termos recebido o que não merecíamos. Não há razão para o orgulho, como se fôssemos especiais.
O orgulho produz a intolerância. A intolerância produz a arrogância. Não devemos ser intolerantes. Cristianismo e intolerância são, e precisam ser, contraditórios.
4. Não devemos nos contentar com a nossa religião.
Precisamos de uma religião melhor. Jim Wallis, o fundador da organização humanitária Sojourners, lembra que “a resposta a uma má religião não é ausência de religião, mas uma religião melhor”. [Citado por BELOTE, Thom. A Letter to Dawkins & Harris. Disponível em <http://revthom.blogspot.com/2006/11/sermon-letter-to-dawkins-harris.html>.] É uma religião de amor, expresso em solidariedade, respeito e tolerância, que torna o mundo melhor. É de uma religião assim, apresentada e vivida por Jesus, que o mundo precisa.
6
AFIRMAÇÕES DE FÉ
Termino como algo mais pessoal.
Tenho minhas perguntas sobre Deus. Vivo perguntando.
Para algumas perguntas tenho respostas. Para outras, ainda não. E para outras, talvez eu não as tenhas, mas só saberei tendo-as. Não abro mão de perguntar. Deus gosta deste perguntador aqui.
Pergunto sobre Deus, mas creio em Deus. Pergunto a Deus, porque creio nEle.
Creio em Deus por muitas razões, e enumero algumas poucas, a seguir.
1. Creio em Deus, porque Deus criou o mundo, como afirma a Bíblia na sua primeira frase.
O mundo foi criado por Ele: não é fruto do acaso, como eu também não sou. Das respostas, é a melhor. Não aceito a resposta que vim do acaso, vivo por acaso e marcho para o acaso, como crê (e tenho que usar o mesmo verbo crer, que uso para minha fé) o médico paulista Drauzio Varella: “Entender como as primeiras moléculas se combinaram aleatoriamente no ambiente primordial da Terra que resfriava, até dar origem às moléculas de RNA e DNA – – dotadas da incrível propriedade de fazer cópias de si mesmas, que souberam fabricar camadas externas de proteínas e açúcares para protegê-las e, assim, construir os primeiros seres unicelulares, habitantes exclusivos de nosso planeta por três bilhões de anos que, mais tarde, se organizaram em formas cada vez mais complexas, numa explosão de biodiversidade, que, por uma sucessão infinita de acasos, chegou até você e eu, (…) — oferece uma visão muito mais grandiosa da vida e nos ensina a respeitá-la”. [VARELLA, Drauzio. Por acaso, a vida. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0302200720.htm>.] Quem quiser crer no acaso que creia. Eu não creio. Quem criou o mundo? Deus é a minha resposta.
Prefiro crer que a vida é um mistério do tamanho de Deus, que pode ser explicado, mas não esgotado. É por isto que cada um de nós tem o desejo da eternidade, e Deus vai realizá-lo. Não vivemos apenas para sobreviver um dia após o outro. Vivemos para viver para sempre. O mistério da vida pode ser explicado, mas não esgotado.
A vida não é o somatório de moléculas interagindo. O encontro de dois lábios de duas pessoas que se amam não faz sentido sem um componente que não se pode medir, o amor. A “química” do amor não contém nenhum elemento químico em sua fórmula, fórmula que, aliás, não existe.
2. Creio em Deus, porque Deus me criou com um propósito e para um propósito.
A segunda frase da Bíblia descreve a condição do mundo antes de ser modelado por Deus: “A terra era sem forma e vazia”. Esta frase pode descrever o que deverá ser a terra de novo por causa da ação ecologicamente irresponsável do homem, mas descreve a vida do ser humano sem Deus: sem propósito e vazia. Viver sem Deus é como fazer uma viagem sem ter destino e (pior:) sem gostar da paisagem.
Deus me criou para usufruir da beleza do mundo, tanto da beleza natural (criada originalmente por Deus) quanto da beleza cultural (criada pelo gênio humano, como casas e equipamentos e bens simbólicos, como a música e a literatura).
Deus me criou para promover a justiça no mundo, a fim de tornar este mundo mais habitável.
Deus me criou, portanto, com uma missão. E é exatamente esta missão — oh divino paradoxo! — que põe sentido na minha vida. Com o sentido da missão, faço minha viagem; sei para onde vou e porque vou; há paisagens agradáveis e paisagens desagradáveis. As agradáveis sou chamado a fruir; as desagradáveis sou chamado a transformar.
Nesta viagem não estou sozinho.
3. Creio em Deus, porque Deus me convida a ser humano.
Deus é Deus e o homem é o homem.
Aprendemos na Bíblia que Deus quer que o homem seja humano. Tudo o que diz respeito ao ser humano deve interessar ao ser humano. Uma religião da fuga do que é humano não é uma religião derivada da Revelação divina.
Vivemos na cultura, e não temos outro ambiente para viver. Nosso jeito de viver é cultural, seja na política, no lazer, na arte. A cultura tem produtos neutros (como máquinas e programas) que recebem conteúdos simbólicos. Estes conteúdos podem estar sob o controle, em parte por culpa dos crentes.
Deixamos parte da política para os corruptos, mas a escolha é nossa. Deixamos parte da arte promover valores malignos, porque guardamos os benignos. Deixamos a religião se confundir com o comércio, porque nos deixamos seduzir por revelações que não são bíblicas. Deixamos a economia entregue à cobiça, que mata e esfola, porque não lhe pomos freio.
Ao fazê-lo, desagradamos a Deus, que não nos criou para a escravidão ao egoísmo, ao hedonismo, ao cinismo, mas para a liberdade, que deve se expressar em alegria, justiça e solidariedade.
7
O QUE DEUS ESPERA DE MIM
Eis o que Deus espera de mim: Ele me pede uma atitude: crer nEle e confiar nEle.
Creio que o Deus que cuida de mim não permite que eu seja irresponsável, com o meu corpo, com o corpo da terra; diante do sofrimento dos outros.
Deus que o Deus que me chama à esperança, mas esperança que não nega o meu compromisso no presente, onde Deus também está e tem algo a dizer e fazer por meio intermédio. Fica claro no livro que nos legou que, quanto mais interessado eu sou no humano, mais eu amo a Deus.
Parte 2
RAZÕES DA INCREDULIDADE; RAZÕES PARA A FÉ
Os que crêem em Deus também se perguntam pelas razões dos que não crêem. Na verdade, os que crêem devem fazer essas perguntas como uma forma de exercício crítico. A cultura precisa de crítica. A ciência precisa de crítica quando trata dos seus objetos e também quando se aventura por campos que não são os seus. Uma ciência sem critica se diviniza a si mesma. Na verdade, este é o problema do ateu. Ele nega a Deus e se põe no seu lugar.
No final de 2006, a revista Time reuniu dois cientistas para um debate sobre fé e ciência. Um deles era Richard Dawkins.
Lendo seus argumentos e perscrutando outros autores, posso desenvolver mais claramente algumas razões para a negação da existência de Deus.
Vendo os argumentos do seu debatedor, cujo pensamento resumirei mais adiante, revejo o apóstolo Paulo discutindo em Atenas contra aqueles que achavam que sua fé num Deus criador, revelado graciosamente em Jesus Cristo, como uma loucura absoluta.
1. O ATEÍSMO COMO CONTRADIÇÃO
O ateísmo é a realização do desejo humano pela auto-transcendência, tão velho quanto o capítulo 3 de Gênesis, onde lemos:
“Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito. E ela perguntou à mulher:
— Foi isto mesmo que Deus disse: ‘Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim’?”
Respondeu a mulher à serpente:
— Podemos comer do fruto das árvores do jardim, mas Deus disse: ‘Não comam do fruto da árvore que está no meio do jardim, nem toquem nele; do contrário vocês morrerão’.
Disse a serpente à mulher:
— Certamente não morrerão! Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês, como Deus, serão conhecedores do bem e do mal”. (Gênesis 3.1-5)
Negar a Deus é uma contradição em termos; o homem nega o que quer ser: igual a Deus.
Querer mais faz parte do sentimento de eternidade de que Deus dotou o homem (Eclesiastes 3.11 — 11 Deus “fez tudo apropriado ao seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim ele não consegue compreender inteiramente o que Deus fez”). Querer saber mais faz parte do mesmo sentimento, mas o homem precisa saber que não conseguirá compreender inteiramente o que Deus fez. Nem por isto, deve parar de estudar, de investigar.
Quem lê superficialmente Gênesis 3 pode ficar com a impressão que Deus tem medo do conhecimento humano. Não. Deus apenas quer nos advertir que a ambição pode matar o homem. Se olharmos para a história de todas as guerras, veremos que todas foram feitas para saciar apenas um desejo: o de poder. Aqueles facínoras que arrastaram um menino de 6 anos, até que seu corpo fosse decepado, só queriam uma coisa: poder, poder em forma de dinheiro, para (segundo as palavras de um deles) curtir a vida em alta velocidade.
O ateísmo é uma delusão, é uma ilusão apesar das evidências de que o exercício do poder, seja ele científico, artístico, filosófico, teológico, financeiro, militar ou político, revela o que o homem tem de mais sombrio, como parte da vertigem da sua queda: sua natureza intrinsecamente má. Não há lugar para ilusões acerca do ser humano.
A desejada autonomia é uma ilusão, porque a alma, que ser autônoma, já está contaminada.
2. UMA SUPERIORIDADE QUE NÃO É
O ateísmo nasce da crença na superioridade da razão, criando a dicotomia que critica.
A superioridade da razão sobre qualquer outra faculdade humana (como o amor, a generosidade e a fé) faz parte da cosmovisão que se tornou predominante no mundo e já estava presente em Atenas.
Nessa cidade, Paulo, que falava de Deus como Aquele que “fez o mundo e tudo o que nele há é o Senhor dos céus e da terra, e não habita em santuários feitos por mãos humanas” (Atos 17.24), foi descartado, com olímpico desdém: “A esse respeito nós o ouviremos outra vez” (Atos 17.32).
Aquele era um tempo em que arte, teologia, filosofia e ciência tinham intuições, mas não ainda métodos próprios, que os modernos inventaram. Equivocadamente também os modernos inventaram uma hierarquia, segundo a qual o conhecimento científico está no topo. Auguste Comte achava que a ciência tinha um método preciso de descrição e interpretação do mundo. Por isto, ouvindo as suas fontes, um historiador, por exemplo, podia descrever a história tal qual ela se deu, como ensinou Leopold von Ranke, na esteira de Auguste Comte.
Olhando os erros da ciência, filósofos da ciência concluíram que o conhecimento não é neutro. Fui aluno do filósofo Hilton Ferreira Japiassu que, no Brasil, ficou conhecido por divulgar que a neutralidade científica é um mito. No entanto, a idolatria da razão tem impedido que esta percepção, embora tão precisa, chegue aos meios de comunicação de massa, ganhe as mentes das pessoas. Quando um programa como o Fantástico, dos domingos à noite na principal rede de televisão no Brasil, fala de ciência fala desta ciência que não existe, que fala de coisas relativas em termos absolutos, que mostra fatos “cientificamente” provados, logo inquestionados. A ciência popularizada ainda é a ciência de Comte, que nenhum filósofo ou cientista sério leva mais a sério, exceto, talvez, Richard Dawkins e outros paladinos da inferioridade da fé. A ciência produzida nas escolas, mesmo em universidade, é escrava da mesma ingenuidade, conquanto apresentada como rigor.
Em nome de uma certa ciência, a fé é ridicularizada, não por causa do comportamento de alguns que dizem tê-la, o que é merecido, mas em sua essência, como se fosse algo a ser evitado por uma pessoa inteligente.
Quando Dan Brown misturou fatos históricos com outros inventados por ele mesmo ou por outros, sem qualquer explicação (sobre o falso e o verdadeiro) numa nota de rodapé, foi recebido com entusiasmo, como se fizesse história e não ficção, porque a sua ficção questionava alguns fundamentos da fé, como a inspiração da Bíblia e a divindade de Jesus. Ele pode não ter escrito, mas seus leitores leram que ele escreveu os evangelhos foram uma criação muito posterior aos fatos da vida de Jesus e foram manipulados pela igreja. Ele pode não ter escrito que Jesus não era Deus, mas seus leitores leram que ele tinha uma mulher; logo não era tão Deus assim. Dan Brown não foi comprado como ficção, porque foi vendido como tendo feito uma investigação histórica em moldes científicos, mesmo que tenha requentado lendas desacreditadas no próprio tempo em que foram urdidas como histórias para divertir ou para confundir.
Quando, em combate contra a fé, mesmo a fé autêntica, Richard Dawkins contesta o fato de que a história atesta que todas as civilizações buscam Deus como uma necessidade, os holofotes vão para ele. O espetáculo está garantido. Não por ocaso uma entrevista com ele postada no site Youtube foi vista por centenas de milhares de pessoas. Todo pregador que vende promessas vende; Jeremias, que não vendia promessas, mas a Palavra do Senhor, apanhou por não vender promessas, mas anunciar a esperança. Todo cientista que contesta promessas vende, precisamente por afirmar a suficiência da razão. Quem afirma o seu valor, mas agregado com sua insuficiência para explicar a vida, para fazer as pessoas realmente felizes, fica no esquecimento.
3. EM DEFESA DA PROVA EXISTENCIAL
O ateísmo decorre da descrença em qualquer outro tipo de prova que não seja o seu tipo de prova, no caso a prova experimental.
Na verdade, estamos diante de outra afirmação da superioridade da razão, de uma certa razão, é claro. O ateísmo não aceita a prova existencial, embora todos os seres humanos se realizem no encontro, e isto é existencial, logo experiencial, e não mensurável externamente, logo não experimental.
A confusão, orquestrada no caso, não serve à ciência, nem a fé. A questão não é que a ciência exige a negação da fé, por não poder provar a existência de Deus. A questão é: de que ciência estamos falando? de que cientista?
Que tal Francis Collins, geneticista, pesquisador-chefe e diretor do Instituto Americano de Pesquisa do Genoma Humano (National Human Genome Research Institute)? Eis o que ele disse: “a experiência de seqüenciar o genoma humano (…) é, ao mesmo tempo, uma realização científica e uma ocasião de culto”.(Informação apresentada em <http://en.wikipedia.org/wiki/Francis_Collins>). Para Collins, “estudar o mundo natural é uma oportunidade para observar a majestade, a elegância e a complexidade da criação de Deus”. [Debate com Richard Dawkinhs, em: VAN BIEMA, David. God vs. Science. Time. Sunday, Nov. 05, 2006. Disponível em <http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,1555132-1,00.html>]
No seu livro “The Language of God: A Scientist Presents Evidence for Belief” (publicado em Julho de 2006), ele mostra que os seres humanos são únicos. Isto inclui a existência da Lei Moral (o conhecimento do certo e do errado) e a busca por Deus, que caracteriza todas as culturas humanas ao longo da história. (Informação apresentada em <http://en.wikipedia.org/wiki/Francis_Collins>)
Numa entrevista, Francis Collins, que é evolucionista teísta, diz que prefere ser chamado de “um cristão sério, como alguém que crê na realidade da morte e da ressurreição de Cristo e que procura integrar isto à vida diária e não apenas relegá-la a algo que se ouve no domingo de manhã”.
Eis seu testemunho:
“Cheguei à fé bem mais tarde do que muita gente. Só experimentei realmente a conversão aos 27 anos de idade. Eu já estava interessado em genética e lamentava que houvesse uma colisão de meu interesse enquanto cientista com o que eu achava que uma pessoa de fé devia ser. Agora esta é uma experiência de síntese. Para mim, como uma pessoa que crê num Deus pessoal, a oportunidade de descobrir algo sobre nós que ninguém sabia antes mas Deus sabia é realmente um momento para não ser esquecido. Acho que isto expande a experiência da descoberta em caminhos que as pessoas que não são crentes não conseguem alcançar. É uma oportunidade de excitação científica e também de culto. (…) Há uma idéia comum de que um cientista atualizado não pode ser uma pessoa que crê num Deus pessoal. Estas duas áreas são inteiramente compatíveis e não somente podem existir dentro de uma mesma pessoa, de forma sintética, sem compartimentalização. Não vejo razão para uma discrepância entre o que eu sei como cientista que passa o dia inteiro estudando o genoma dos humanos e aquilo que eu creio como alguém que leva a sério o que a Bíblia me ensinou sobre Deus e Jesus Cristo. Essas visões são completamente compatíveis. A ciência é o meio — poderoso meio, na verdade — de se estudar o mundo natural. A ciência não é eficiente — nada eficiente, na verdade — em fazer comentários sobre o mundo sobrenatural. Os dois mundos são, para mim, bem reais e muito importantes. São pesquisados de forma diferente. Eles coexistem. Um ilumina a outro. (…) A idéia de que alguém tem que escolher um ou outro é um mito terrível que tem sido divulgado e que muitas pessoas têm comprado sem terem a chance de examinar a evidência. [ABERNETHY, Bob. Interview with Dr. Francis Collins. Disponível em < http://www.pbs.org/wnet/religionandethics/transcripts/collins.html>]
Portanto, não cabe à ciência, provar que Deus existe, nem negá-lo. O homem de ciência é que pode ter ou não fé, dependendo de sua livre escolha.
Na sua obra criadora, Deus criou os céus e a terra. Os céus simbolizam o mundo espiritual ou sobrenatural. A terra simboliza o mundo natural. Eles se tocam na criação, mas são distintos. Eles se interpenetram, mas são distintos. Foi assim que Deus os fez: céus e terra.
É por isto que há questões que a ciência, por mais que se desenvolva, não pode responder. Segundo Peter Medawar, imunologista, Prêmio Nobel de Medicina, a ciência é o empreendimento mais bem sucedido com que os seres humanos se envolveram, mas os cientistas devem ser cautelosos quando se pronunciam sobre questões ligados ao significado da vida. [Cf. McGRATH. Atheist Interpreters of Darwin: Richard Dawkins on the God Delusion. Disponível em <http://users.ox.ac.uk/~mcgrath/Lecture%20Text/Shewsbury%20Darwin%20Festival%202007.pdf>]
A ciência pode entender a terra, nunca os céus; a ciência pode descrever a vida, mas nunca saberá o que ela significa.
4. A LIBERDADE É PARA SER VIVIDA
O ateísmo se alimenta da falta de uma visão da atuação de Deus no mundo, especialmente diante do sofrimento.
O homem quer o livre arbítrio, mas exige que Deus o quebre para que possa provar a sua própria existência. Estamos diante de mais uma contradição humana.
Deus escolheu fazer o homem livre, mas o homem quer culpá-lo pelas escolhas que faz.
Deus convida o homem para a comunhão com Ele, mas o homem prefere a solidão e reclama que está só no mundo.
Deus chama o homem para escreverem juntos a história da humanidade, mas o homem descarta o Criador, achando que pode fazer sozinho, mas depois se queixa que Deus não intervém para evitar as colisões de automóveis em alta velocidade, para evitar os efeitos das drogas nos jovens e nas vítimas que sua loucura vitaminada produz, para evitar que a natureza cobre o mar que a terra tomou ou para evitar que a terra tombe sobre as casas das encostas desarborizadas. O homem faz, mas a culpa é de Deus — eis a lógica (lógica?) da negação de Deus.
Deus é livre para intervir e para não intervir. Deus é livre para ouvir a oração e para não ouvir. Deus não é escravo dos caprichos humanos. Deus não é uma bola de tênis nas quadras humanas.
5. A ESCOLHA QUE VALE A PENA
Como você é livre, escolha crer em Deus.
A fé é uma escolha.
Richard Dawkins, o biólogo, estuda a evolução humana e vê o acaso em desenvolvimento.
Francis Collins, o geneticista, investiga os genomas humanos e vê um Deus pessoal e criativo em ação.
O astronauta Yury Gagarin foi ao espaço e não viu Deus.
Frank Borman, que foi 250 milhões de quilômetros mais longe, disse: “Tive um enorme sentimento que tinha que haver um poder maior que todos nós, que havia um Deus, que houve de fato um princípio.
James Irwin, que passeou na lua (1971), testemunhou: “Senti o poder de Deus como nunca tinha sentido antes.”
Outro astronauta, John Glenn, exclamou, depois de ver céus e terra das janelas do Discovery: “Ver toda esta criação e não crer em Deus é para mim impossível.”
Neil Armstrong e Buzz Aldrin, os primeiros astronautas a pousarem na lua, pouco depois que deixaram a espaçonave, sacaram uma Bíblia, um cálice de prata, pão e vinho. Ali na lua, seu primeiro ato foi celebrar a Ceia do Senhor. [COLSON, Chuck. Astronauts Who Found God. Disponível em <http://www.actsweb.org/articles/article.php?i=17&d=1&c=1&p=1>]
Para quem crê, não há dúvida: “os céus revelam a glória de Deus” (Salmo 19.1).
6. UM PROGRAMA PARA A VIDA
Se você ama a Deus e quer que outras pessoas o amem, quero oferecer alguns pontos para um programa de vida, não importa que Atenas não o queira ouvir, como não quis escutar a Paulo, rejeitado como anunciador de loucuras, porque a cruz sempre foi vista como loucura.
1. Afirme o valor da razão. Afirme o valor da ciência.
Não negue a razão, mesmo que seja limitada, porque ela é uma componente essencial da vida humana. Deus criou céus e terra. A terra é o território para o exercício da razão e da ciência. É a razão e a ciência que nos permitem viver mais e melhor. É a razão e a ciência que produzem artefatos usados nas nossas casas, no lazer e na saúde.
Não há contradição entre fé inteligente e razão inteligente. Um homem de fé pode ser um cientista. Um cientista pode ser um homem de fé. Um homem de fé não precisa ter medo da ciência.
Ao afirmar o vale da razão e da ciência, estude. Escolha o campo de sua paixão. Se for ciência, estude ciência. Se for arte, estude arte. Se for filosofia, estude filosofia. Se for teologia, estude teologia. Se for história, estude história. Se for tecnologia, estude tecnologia.
2. Critique a ciência.
Precisamos criticar a ciência, quando ela extrapola, ao se propor a responder o que não pode responder, como o significado da vida.
Precisamos criticar a ciência, quando ela se apresenta como neutra.
Precisamos criticar a ciência, quando ela, na sua aplicação, se propõe a fazer o que pode ser feito, sem considerar as suas conseqüências. O que pode ser feito não deve ser feito. Uma máquina de matar pode ser feita, tecnologicamente falando, mas não deve ser feita, por suas implicações morais. A ciência reflete pouco sobre as conseqüências das suas possibilidades; esta é uma tarefa para os críticos. A ciência é uma coisa séria demais para ser deixada nas mãos apenas dos cientistas.
Quanto aos críticos da fé, vindos da ciência e da filosofia, leia-os, se a sua caminhada com Ele for além de uma experiência apenas intelectual. Os que crêem em Deus também precisam perguntar por suas próprias razões de fé, para também não se lançarem no lugar de Deus.
Quando a ciência e a filosofia criticam a fé (ou a religião), a fé precisa se perguntar se a crítica não procede. Há críticas no campo científico e filosófico e há críticas referentes aos comportamentos dos que crêem. A crítica intelectual é um convite ao debate, que deve ser realizado. (O debate que Francis Collins e Richard Dawkins travaram em novembro de 2006 é bastante instigativo, além de franco e honesto. [VAN BIEMA, David. God vs. Science. Time. Sunday, Nov. 05, 2006. Disponível em <http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,1555132-1,00.html>]) A crítica comportamental é um convite a uma vida integra, que pode incluir até o perdão pelos erros cometidos, e os cristãos os cometemos individualmente e institucionalmente.
Cabe a cada um de nós ser íntegro. A integridade inclui a retidão pessoal, o exercício da solidariedade, a prática da indignação contra a injustiça, a promoção da paz.
Cabe a cada um de nós viver de modo digno do Evangelho. Quando não vivemos e somos criticados, devemos nos envergonhar. Como ensinou Pedro, “é louvável que, por motivo de sua consciência para com Deus, alguém suporte aflições sofrendo injustamente. Pois, que vantagem há em suportar açoites recebidos por terem cometido o mal? Mas se vocês suportam o sofrimento por terem feito o bem, isso é louvável diante de Deus. Para isso vocês foram chamados, pois também Cristo sofreu no lugar de vocês, deixando-lhes exemplo, para que sigam os seus passos” (1Pedro 2.19-21).
3. Abra-se para Deus.
O sentido da vida vem da fé nEle.
Permaneça aberto para o transcendente.
Renove sua fé em Deus. Se for o caso, não pare de procurar por Deus e pelo significado que pode dar à sua vida.
Afirme que, no princípio, Deus criou, com a Sua Palavra, os céus e a terra.
Reafirme que, no meio, no ínterim humano, Deus se encarnou. Sim, “no princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus. Ele estava com Deus no princípio. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito. (…) Aquele que é a Palavra estava no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram por descendência natural, nem pela vontade da carne nem pela vontade de algum homem, mas nasceram de Deus. Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênitoe vindo do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1.1-3, 10-14).
4. Mantenha seu olho na eternidade.
Deus criou os céus e a terra. A vida não se esgota no imanente.
O autor aos Hebreus já nos ensina: “A fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos. Pois foi por meio dela que os antigos receberam bom testemunho. Pela fé entendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus, de modo que aquilo se vê não foi feito do que é visível” (Hebreus 11.1-3).
Não se apegue as coisas visíveis, seja o conhecimento, seja o dinheiro, seja a felicidade. Elas passam. O que é eterno é invisível. É o que vale.