Descanso

(Mateus 11.25-30)

Venha
o cansado

de entregar o caminho ao Senhor e nada acontecer
de fazer projetos que não saem da mente ou do papel
de ver sonhos um após outro inteiramente despedaçados
de portar sofrimentos reais ou imaginários, igualmente pesados

de ouvir promessas divinas que Deus jamais proferiu
de pedir por um milagre a um Deus que parece que dormiu
de orar por uma conversão que mude um querido o perfil
de oferecer a Deus o que Ele jamais pediu

de promover a paz em casa com persistência
de desejar que o cônjuge fique livre da doença
de gostar e amar sem a mínima recompensa
de receber na pele as marcas da violência

de encontrar desinteresses pelos seus suores
de buscar saúde para seu corpo ou sua alma
de observar o solene triunfo dos malfeitores
de confiar que ainda possa sobrevir a calma

de esperar a chegada de quem, parece, não virá
de esperar que as coisas um dia vão melhorar
de esperar que mês que vem o dinheiro vai dar
de esperar aprovação depois de tanto estudar

de fazer o bem sem receber o afago da gratidão
de ouvir a zombaria por ter encontrado a salvação
de querer mudar o mundo e não ver transformação
de carregar sozinho nos ombros a cruz da missão

Venha também
o derrotado pelo vício ou pelo caráter ou pelo desejo ou pelo instinto ou pela história

Venha
a Jesus
porque
nEle
há descanso

 

Esta é a história de Jesus, mas quem nela acredita?
Nele sorriu toda a graça de Deus, mas quem a solicita?
Esta é a mensagem que Seu amor a anunciar nos suscita.

Não estávamos lá naqueles dias de histórias vivas,
mas ouvimos os testemunhos fiéis que nos chegaram como dádivas.

Ele não se destacava como um cedro
que, alto e forte, parece alcançar a celeste morada,
porque não passava de um galho vedro
correndo de uma raiz pelo sol queimada.

Não tinha gesto de rei, com beleza e bondade,
crescido em família comum ao lado da carpintaria
de quem, de tão simples, ninguém se orgulhar podia,
exceto a mãe para quem todo filho é pleno de majestade.

Estivéssemos, veríamos seu corpo se retorcendo de aflição,
a face, outrora doce, pelo sofrimento desfigurada.
Estivéssemos, nós o deixaríamos na desolação,
esconderíamos nossos rostos, negando-lhe nossa amizade.
Riscaríamos seu nome de nossas lista de convidados,
para não freqüentar nossas casas, participar de nossos folguedos,
para ficar longe de nossas alegrias e distante de nossos segredos,
a fim de não sermos entre os seus seguidores contados.

Saberíamos que naquela cruz real de muita dor,
Deus o alcançava, fustigava, traspassava, castigava e esmagava
por causa do meu pecado que Ele tomou como se fosse seu,
por causa das minhas maldades que se tornaram suas,
para que o meu castigo deixasse de ser meu.
Agora plenamente eu enxergo como cristalinas águas,
Tanta oferta só tem um nome: amor.
Ah como alegro de ter sido perdoado.
Pena que tanto lhe tenha custado!

Minha história está no Calvário.
Como o cego que curou
com um feixe de luz,
como o paralítico que levantou
sem olhar para seu triste status,
como a prostituta que perdoou
como se fizesse jus,
como a mulher que curou
estancando-lhe o pus,
como o possuído que libertou
tirando-lhe o medo do simbólico capuz

eu me desviei, achando que minha escuridão brilhava,
certo que o meu caminho para o alvo certo me levava.

Até que eu vi, com os olhos que a graça operou,
o Pai desferindo sobre Ele a seta da minha iniqüidade,
oprimindo-o, para que eu encontrasse a liberdade,
afligindo-o, para que eu recebesse seu amor.

até que eu vi que Ele não quebrou o silêncio,
quando o Pai permitiu a farsa do seu julgamento,
quando o Pai o afligiu, para que eu vivesse,
quando o Pai o tosquiou, para o meu livramento.

Nele não havia violência nem mentira.
Para a todos trazer toda paz e verdade,
Ele derramou sua vida completamente,
morrendo a morte que era nossa propriedade.
Ele mesmo se entregou como presente
para que conhecêssemos o brilho da graça
que nos antecipa agora a glória da eternidade.

Então, a noite se fez como um tapete sobre a terra,
guardada por uma pedra na boca do seu corpo
morto de verdade e dado como morto.
Mas: a noite, aos olhos da esperança, era luz,
que da morte real a vida plena produz.
A pedra a palavra silenciosa do Pai ouviu
e o corpo do Filho da tumba selada saiu.

Durante a vida de Jesus,
a luz como noite soou;
agora, na morte sua noite brilhou
como a mais clara luz.

Então, como o cego que curou
com um feixe de luz,
como o paralítico que levantou
sem olhar para seu triste status,
como a prostituta que perdoou
como se fizesse jus,
como a mulher que curou
estancando-lhe o pus,
como o possuído que libertou
tirando-lhe o medo do simbólico capuz,

fui curado pelas feridas que minha culpa no seu corpo gravou.

Gritemos, com todas as forças, então:
Seu sofrimento não foi em vão.
Podemos ver a luz, que para sempre nos basta;
estamos livres do castigo que não mais nos vergasta;
podemos conhecer a justiça, que nos santifica
podemos experimentar a graça, que nos purifica.

Israel Belo de Azevedo

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