MÃE COMO MARIA
(Lucas 1.26-38, Lucas 2.16-19, João 19.25-27 e João 2.3-5)
Por mais que exaltemos Maria, a mãe de Jesus, não lhe seremos justos. Que mulher extraordinária. Uma jovem, ainda adolescente, toma uma decisão dramática, quando recebe a notícia de que ficaria grávida quando ainda se preparava para casar e permaneceria virgem. Ao longo da vida, seu filho lhe deu alegrias e preocupações, mas sempre esteve ao seu lado. Em certo sentido, ela é presença que antecede ao Jesus histórico e dura depois que ele volta para sua casa definitiva.
Ela é exemplo para todas as mães e, por isto, para todos os seres humanos. Sua vida nos ajuda a compreender como podemos, mães e pais, filhos e irmãos, ser abençoados.
1. PARA SER UMA MÃE ABENÇOADA 1 (Lucas 1.26-38)
Todos queremos ser abençoados. Maria também. Ela era um jovem, que namorava José e pretendia se casar com ele. Era esta a bênção que desejava. Certamente planejava ter filhos. Por isto, estava-se preparando para o casamento.
Quando, no entanto, lemos Lucas 1.26-38, aprendemos mais sobre esta mulher, que se tornaria mãe de Jesus Cristo.
(26-28) No sexto mês da gravidez de Isabel, Deus enviou o anjo Gabriel à vila de Nazaré, na Galiléia, a uma virgem que estava noiva de um homem descendente de Davi. Seu nome era José e o nome da virgem era Maria. Depois de entrar, Gabriel a saudou:
— Bom dia!
Você é bela com a beleza de Deus.
Você é bela por dentro e por fora.
Deus esteja com você.
(29-33) Maria ficou perturbada, pensando no que estava por trás daquela saudação. O anjo lhe tranqüilizou:
— Não fique com medo. Deus tem uma surpresa para você. Você ficará grávida e ganhará um filho, em quem porá o nome de Jesus.
Ele será grande
e será chamado de "Filho do Altíssimo".
O Senhor Deus lhe dará
o trono do seu pai Davi.
Ele governará a casa de Jacó para sempre,
e seu reino não terá fim.
(34) Maria disse ao anjo:
— Mas como? Eu nunca dormi com um homem"
(35) O anjo respondeu:
— O Espírito Santo virá sobre você
e o poder do Alto virá sobre você.
Então, a criança que você dará à luz
será chamada Filho Santo de Deus.
(36-38) Você sabia que sua prima Isabel, que é mais velha que você, concebeu um filho? Aquela de quem diziam que era estéril está no sexto mês de gravidez. Como você vê, nada é impossível para Deus.
Maria disse:
— Sim, agora vejo tudo:
Sou uma serva do Senhor, pronta para servir.
Que Ele faça comigo
o que você disse que fará.
(Lucas 1.26-38 — The message)
Nesta narrativa aprendemos porque Maria foi abençoada:
1. Aprendemos que Maria foi abençoada porque ouviu Deus lhe falar.
Não sabemos quantos anos Maria tinha por esta época. No entanto, a sua reação à chegada do anjo, porta-voz de Deus, deixa claro que Maria o ouviu. Maria foi escolhida por Deus para uma missão, como também somos escolhidos e ouvimos ou não ouvimos. Maria ouviu. Ela não fugiu; não achou que tivesse tendo uma alucinação. Antes, ouviu como devemos ouvir: com assombro e com naturalidade. Assombro porque, quando Deus fala, temos que tremer. Maria tremeu. Naturalidade porque sabemos que Deus fala, Deus fala ainda hoje. Como temos Sua Palavra escrita, ele não precisa mais de anjos, embora ainda os possa enviar excepcionalmente. Maria sabia que Deus falava; por isto, ela O ouviu.
Toda mãe, que quer ser abençoada, deve agir como Maria.
Todos as pessoas, que querem ser abençoadas, devem agir como Maria.
Todos devemos ouvir a voz de Deus, que nos fala ainda hoje.
Ele ainda hoje nos escolhe para oferecer a salvação e aguarda uma resposta ao seu oferecimento.
Ele ainda hoje nos escolhe para uma missão e aguarda o nosso compromisso no desenvolvimento desta missão.
Ele ainda hoje nos escolhe para nos orientar em nossa caminhada de vida. Ele sabe que não conseguimos caminhar bem sozinhos; por isto, oferece Sua voz orientadora. Maria o ouviu. Salve, Maria! Você tem ouvido a voz de Deus que o salva?
2. Aprendemos que Maria foi abençoada porque considerou a palavra de Deus.
A atitude de Maria, ao longo da conversa com o anjo, mostra que o seu "ouvir" significou considerar com seriedade o que foi ouvido. Ouvimos muitas vozes, porque nos pedem atenção; muitas vezes, ouvimos por ouvir, não para praticar. Em Maria, "ouvir" foi um verbo para toda a vida.
Estou certo que nos dispomos a fazer o mesmo. O problema é que, no caso de Maria, ouvir tinha um preço. Muito possivelmente, alguns a chamariam de leviana: como "grávida". O tempo se encarregaria de mostrar que estava grávida. Alguns chamariam de doida: como "grávida do Espirito Santo de Deus"? No seu coração, as vozes humanas, de reprovação ou zombaria, eram abafadas pela voz de Deus que gritava no seu coração.
Há muitos hoje, mães, pais, filhos, filhas, que perdem a bênção de Deus, não porque não escutam esta bênção, mas porque não a levam a sério. Salve, Maria! Você tem levado a palavra de Deus a sério? Quando Deus fala, você cala as outras vozes?
3. Aprendemos que Maria foi abençoada porque atendeu ao convite de Deus.
Gosto como a narrativa é concluída (cf. verso 38). Poemizei-a assim:
Oh mensageiro que Deus me enviou:
agora vejo tudo com os olhos da fé.
Sou uma feliz serva do meu Senhor.
Que Ele faça comigo o que quiser,
pois para Lhe servir pronta estou.
Ser mãe é ser parceira de Deus na transformação do mundo, porque mãe gera filhos para si mas os cria para Deus, que os dá ao mundo para tansformá-lo. Melhor será o mundo melhores sendo as mães.
Deus fez a Maria um convite: foi um convite à maternidade, que começa com a gestação, prossegue com o parto e continua no cuidado, que é para a vida toda. Maria aceitou o convite. Sua disposição nos deu Jesus.
Salve, Maria! Salve toda a mãe que recebe o dom da maternidade como um dom, como algo recebido de Deus, não do acaso; como algo a ser vivido para Deus, não para o acaso ou apenas para o prazer próprio.
Salve todo aquele, homem ou mulher, que recebendo (e recebemos todos os dias!) convites de Deus, responde como Maria: "Senhor, faça comigo o que o Senhor quiser. Estou pronto para lhe servir".
O que você tem feito com os convites (no plural!) de Deus? Quer ser abençoado: seja servo de Deus.
Maria, quando soube do convite, louvou ao Senhor com todas as suas forças. Louvemos a Deus!
2. O LUGAR DO FILHO É NO CORAÇÃO (Lucas 2.16-19).
Aprendemos mais sobre Maria, como mãe, quando lemos sua atitude por ocasião da visita que os pastores fizeram a ela, ao marido e ao filho do casal.
Depois que viram Maria, José e o bebê, deitado na manjedoura, os pastores "contaram a todos aquilo que os anjos lhes tinha dito sobre o menino. Todos que os escutaram ficaram impressionados. No entanto, Maria guardou carinhosamente todas essas coisas no seu coração". (Lucas 2.16-19).
Na vertigem dos fatos (em nove meses sua vida mudara completamente! Uma gravidez muda a vida de uma mulher, e de um homem responsável também), Maria deve ter se perguntado: "Meu Deus, o que está acontecendo comigo". Nos nove meses talvez tenha se concentrado no cuidado com a sua saúde e do bebê em seu ventre, pouco, quem sabe, pensando no significado daquele nascimento. Talvez tenha ficado um pouco chocada com as condições do parto, acontecido numa terra estranha, num lugar inadequado. Que presente estranho aquele de Deus! Talvez as palavras do anjo Gabriel já ecoassem distantes; talvez aquela experiência numinosa já tivesse um pouco apagada. Eis que vêm os pastores e contam que também ouviram não um anjo mas um coro, com um novo canto. E por isto estavam ali.
Eles estavam impressionados com o coro angelical e com os fatos no chão coberto de palha e pano. Quem os ouviu ficava impressionado.
Maria, não; Maria não ficou impressionada. Ela sabia que Deus se manifesta. Ela sabia que é um presente Deus um filho, aquele e os outros que por ventura viesse a ter (e os ela teve, quatro rapazes e algumas irmãs — cf. Mateus 12.46, Mateus 13.55, entre outros textos). Ela sabia que o futuro do seu filho estava nas mãos de Deus. Ela sabia que tinha um papel neste futuro, que não sabia qual.
Walter Wangerin, no seu admirável "O livro de Jesus" (São Paulo: Mundo Cristão, 2006), dá a Maria um papel muito importante à mãe de Jesus na vida do filho. É uma mãe presente, protetora, preocupada e participativa.
Mãe, guarde isto no seu coração. Um filho é uma prova que Deus se manifesta. Interessado por você, não é um Deus distante.
Mãe, guarde isto com carinho no seu coração. Um filho é um presente de Deus.
Mãe, guarde isto com força no seu coração. O futuro do(s) seu(s) filho(s) está nas mãos de Deus e você tem e terá um papel neste futuro, para o resto de sua vida.
As lições marianas para todos nós são claras:
1. Devemos guardar no coração, para as horas de sombra e de luz, que Deus se manifesta. Ele não é apenas o Deus do livro; é o Deus do livro da minha vida. Não é apenas o Deus da história; é o Deus da minha história.
2. Devemos guardar no coração, no tempo em que nos falta a esperança, que Deus nos abençoa com bênçãos espirituais, que nos chegam como presentes.
3. Devemos guardar no coração que Deus conta conosco em seu projeto de salvação do mundo.
3. FILHO É PARA CUIDAR (João 19.25-27)
Maria é uma presença constante na vida de Jesus.
Até no final, talvez já viúva, ela teve a oportunidade de partilhar do drama do seu filho.
Informam os Evangelhos que Maria estava entre as testemunhas da crucificação de Jesus Cristo. João capta um destes momentos com uma ternura sublime (João 19.25-27):
A mãe de Jesus, a tia dele (Maria, esposa de Cleofas) e Maria Madalena estavam em pé ao pé da cruz. Jesus viu sua mãe e, perto dela, o discípulo a quem amava. Ele disse à sua mãe:
— Mulher, este é o seu filho.
Depois disse ao discípulo:
— Esta é a sua mãe.
A partir daquele momento, o discípulo aceitou Maria como sua própria mãe. (João 19.25-27 — The message)
O texto nos ajuda a conhecer um pouco mais de Maria, quando nos mostra que ela acompanhou o seu filho em todos os momentos, na festa e na dor. Salve, Maria, exemplo de mãe.
Mais do que isto: o texto nos fala de Jesus. Em meio à sua dor, ferido pelos tapas e pelas chicotadas, sangrando pelos cortes nas pernas e nos braços, o filho de Maria se preocupou com a mãe. Ele agora não poderia mais cuidar dela, mas ela precisava de cuidado.
Não sabemos a idade de Maria por esta época. Provavelmente sem marido, devia ter, pelo menos, uns 50 anos, numa época em que as mulheres tinham uma expectativa de vida em torno de 30 anos. Não havia qualquer sistema de previdência, senão o cuidado no interior da família. E mesmo aí, como nos dias de hoje, nem tudo corria bem. Naquela hora difícil para Maria, seus filhos provavelmente não estavam. Naquela hora difícil para Jesus, os Evangelhos não registram as presenças de Tiago, José, Simão e Judas. Jesus não pôde lhes entregar a mãe aos seus cuidados. Teve que lançar mão de um discípulo, cuja identidade não conhecemos, embora a tradição aponte para João, autor do Quarto Evangelho.
Mesmo em meio a esta crise, Jesus agiu como um filho que amava (e amava mesmo) sua mãe. Jesus se preocupou, embora estivesse numa situação em que deve ser alvo de preocupação e não sujeito dela.
E aqui também Jesus nos ensina: os filhos devem cuidar dos seus pais, especialmente das mães, geralmente mais dependentes economicamente do que os pais.
E aqui também Jesus nos ensina que a honra aos pais (e mães) é pratica tão necessária, que há uma promessa para este mandamento.
4. PARA SER UMA MÃE ABENÇOADA, 2 (João 2.3-5)
Ao longo dos Evangelhos, vamos aprendemos sobre Maria e vemos como aprender com ela. Um episódio iluminador é o da transformação de água em vinho (João 2.1-12).
Maria, Jesus e seus discípulos foram convidados e compareceram. Festa adentro, acabou o vinho. Tensão. Nervosismo. Reclamação. Vergonha. Jesus não seu deu conta do que estava acontecendo nos bastidores. Maria estava atenta. Quem sabe estivesse ajudando, porque, parece, a convidada fora ela. Talvez fosse amiga da mãe da noiva. Talvez a mãe da noiva tivesse vindo se lamentar com ela. Maria, então, foi a Jesus e disse ao filho:
— Eles estão sem vinho.
Até então Jesus não tinha feito nenhum milagre. Quem sabe, pode ter pensado Maria, ele poderia começar agora. E haveria uma boa repercussão. Tinha gente importante na festa. Todo mundo ficaria sabendo. Seria uma boa forma de se lançar no ministério, até então muito discreto.
O diálogo continuou. A frase de Jesus (verso 4) é curta e difícil de ser entendida.
Numa versão (ARA), lemos:
— Mulher, que tenho eu contigo. Ainda não é chegada a minha hora.
Noutra (NVI), encontramos:
— Que temos nós em comum, mulher? A minha hora ainda não chegou.
Noutra ainda (The message), vemos:
— Mãe, este assunto é meu ou seu? Não chegou a minha hora. Não me pressione.
Nós ficamos intrigados com esta (aparente, para nós) grosseria de Jesus com sua mãe. Ela não ficou intrigada, tanto que sua resposta (verso 5), confiante (não de quem ficou chateada), foi:
— Fazei tudo quanto ele vos disser. (ARA)
Ou:
— Façam tudo o que ele lhes mandar. (NVI)
Ou ainda:
— O que ele lhes disser, façam. (The message)
Deus não nos decepciona, quando o conhecemos.
Maria não se decepcionou com o seu filho, porque o conhecia.
Maria é um exemplo mesmo de mãe, porque conhece o seu filho, sabe do que é capaz e do que não é. Mãe entende o que o filho lhe diz, mesmo quando, bebê, sua comunicação é a dos gestos e a dos sentidos, ainda sem voz.
Temos dificuldade entender, nesta história, a fala de Jesus, como, às vezes, temos dificuldade em entender o que Deus permite que façam conosco.
Salve, Maria! Salve a Maria que sabe quem o seu filho é, o filho de Deus que veio para transformar água em vinho, isto é, para dar sentido à vida; Jesus é o Filho de Deus que faz milagres, milagres eloqüentes, milagres silentes em nossas vidas; Jesus é o Filho de Deus que salva a todos aqueles que confessem quem Ele é: o Filho de Deus que tira o pecado de todo o coração que deseja ser transformado.
Você quer o milagre da salvação? Venha para Jesus, o Filho de Deus. Ele tem poder para salvar.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO