Os contemporâneos de Jesus o crucificaram porque não suportaram o peso de Sua graça. Jesus não coube na sua teologia. Jesus não coube na sua ética. Jesus não coube na sua vida. O que propunha exigia mudanças demais.
Suas exigências, se vividas, traziam a paz que excede, o amor que tudo suporta, a liberdade que faz viver. Então, Ele precisava morrer.
Mas Ele ressuscitou.
E no tempo certo, o Conselheiro, o Consolador prometido, soprou Seu poder sobre uma pequena multidão reunida, transformando-a em Igreja.
E a Igreja (leia-se “eu”/”nós) crucificou o Espírito Santo.
Crucificamos o Espírito Santo quando O deixamos tão implícito, mas não implícito, em tudo que fazemos e pensamos que nem nós nos lembramos que foi Ele quem nos gerou de novo, que é Ele quem nos capacita para uma vida digna do Evangelho, que será Ele quem vai nos enxugar as lágrimas no vale da morte.
Crucificamos o Espírito Santo quando trocamos o saboroso poder espiritual (intimidade com Deus, que se traduz na certeza que Ele está trabalhando por nós, em alegria de viver e prazer na missão do enviado que vai) pelo poder secular, essa lentilha que tem a forma da bolha do brilho e a profundidade da fumaça da fuga e que está à venda nos bastardos balcões da fé e cujo cheiro seduz quem tem fome de lentilha mas não fome de Deus.
Crucificamos o Espírito Santo quando, por falta de coragem, nos recusamos a nascer de novo ou, nascidos de novo, nos recusamos a nos deixar por conduzir por Ele. (Quem sabe não vai Ele me levar a pensar o que eu nunca pensei ou para ir uma terra que Ele ainda me vai mostrar onde fica!)
Crucificamos o Espírito Santo quando consideramos “a vida transbordante” prometida por Jesus como uma expressão própria do terreno da poesia, da alegoria, da simbologia, mas sem sentido concreto, já que a vida é mesmo feita de tristeza, amaridão, esperteza, corrupção, frieza, solidão.
Crucificamos o Espírito Santo quando O escondemos em nossas vidas e em nossas liturgias, como se tivéssemos vergonha do que Ele possa fazer (no Pentecoste, Seus discípulos não foram tidos como bêbados?) e medo que Ele nos desaloje de nossas certezas ou que Ele desarrume nossos cultos. Sabemos que Ele sopra onde quer, mas achamos que isto fica bem para a igreja primitiva (sic), não para a igreja moderna.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO