Há mais vida cristã com qualidade quando celebramos a Ceia do Senhor.
Há mais vida cristã com qualidade quando celebramos a Ceia do Senhor.
1. O QUE ACONTECE QUANDO CELEBRAMOS A CEIA DO SENHOR
Podemos celebrar a Ceia do Senhor com diferentes e excludentes práticas:
Hipótese 1: nada acontece
Muitas vezes,a celebração da Ceia do Senhor não tem qualquer sentido para a vida. Participamos dela, mas nada acontece. Tudo não passou de um ritual (pobre ou solene) sem significado existencial.
Hipótese 2: transubstanciação
Quando um Católico Romano participa da Ceia (“Eucaristia”), ele diz acreditar que os elementos (pão e vinho) são miraculosamente transformados no que quimicamente não são: corpo e sangue de Jesus Cristo. É por esta razão que o participante não tem contato físico com os elementos, por terem sido transformados em corpo e sangue de Jesus Cristo.
Hipótese 3: consubstanciação
Quando um luterano participa da Ceia ele diz acreditar que os elementos (pão e vinho) passam a conter a presença real de Jesus Cristo, embora mantenham suas propriedades químicas.
Hipótese 4: celebração
Para os batistas e outros grupos evangélicos, a participação na Ceia do Senhor é uma recordação da morte/ressurreição e da volta de Jesus Cristo para tornar plena a sua presença.
Esta doutrina (que recebe o nome de “Ceia memorial”) foi desenvolvida por Zwinglio e incorporada desde cedo pelos batistas. Entendemos que ela é sustentada pelos textos bíblicos sobre a Ceia do Senhor. Os elementos (pão e vinho) continuam sendo o que são. Quando os tomamos, celebramos Jesus, recordando Sua morte- ressurreição e orando por Sua volta. Este é o sentido dos textos bíblicos sobre a Ceia.
2. RECORDANDO O NOVO TESTAMENTO (Lucas 22.14-20 e correlatos, 1Coríntios 11.17-34a)
[Lucas 22.14-20 e correlatos: Mateus 26 e Marcos 14]
Quando chegou a hora, Jesus e os seus apóstolos reclinaram-se à mesa. E lhes disse:
— Desejei ansiosamente comer esta Páscoa com vocês antes de sofrer. Pois eu lhes digo: Não comerei dela novamente até que se cumpra no Reino de Deus. [Lucas 22.14-16]
Recebendo um cálice, ele deu graças e disse:
— Tomem isto e partilhem uns com os outros. Pois eu lhes digo que não beberei outra vez do fruto da videira até que venha o Reino de Deus. [Lucas 22.17-18]
Tomando o pão, deu graças, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo:
— Isto é o meu corpo dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim. [Lucas 22.19]
Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice, [Lucas 22.20a] deu graças e o ofereceu aos discípulos [Mateus 26.27a], dizendo:
— Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês. [Lucas 22.20b] Bebam dele todos vocês. Isto é o meu sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para perdão de pecados. Eu lhes digo que, de agora em diante, não beberei deste fruto da videira até aquele dia em que beberei o vinho novo com vocês no Reino de meu Pai. [Mateus 26.27b-29] Todos beberam. [Marcos 14.23]
Depois de terem cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras. [Marcos 14.26]
[1Coríntios 11.17-34a]
(17) Entretanto, nisto que lhes vou dizer não os elogio, pois as reuniões de vocês mais fazem mal do que bem.
(18) Em primeiro lugar, ouço que, quando vocês se reúnem como igreja, há divisões entre vocês, e até certo ponto eu o creio. (19) Pois é necessário que haja divergências entre vocês, para que sejam conhecidos quais dentre vocês são aprovados.
(20) [Em segundo lugar] quando vocês se reúnem, não é para comer a ceia do Senhor, (21) porque cada um come sua própria ceia sem esperar pelos outros. Assim, enquanto um fica com fome, outro se embriaga. (22) Será que vocês não têm casa onde comer e beber? Ou desprezam a igreja de Deus e humilham os que nada têm? Que lhes direi? Eu os elogiarei por isso? Certamente que não!
(23) [Por isto, eu lhe digo que] recebi do Senhor o que também lhes entreguei: Que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão (24) e, tendo dado graças, partiu-o e disse: “Isto é o meu corpo, que é dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim”. (25) Da mesma forma, depois da ceia ele tomou o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue; façam isso sempre que o beberem, em memória de mim”.
(26) Porque, sempre que comerem deste pão e beberem deste cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha.
(27) Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor. (28) Examine-se cada um a si mesmo, e então coma do pão e beba do cálice. (29) Pois quem come e bebe sem discernir o corpo do Senhor, come e bebe para sua própria condenação. (30) Por isso há entre vocês muitos fracos e doentes, e vários já dormiram. (31) Mas, se nós tivéssemos o cuidado de examinar a nós mesmos, não receberíamos juízo. (32) Quando, porém, somos julgados pelo Senhor, estamos sendo disciplinados para que não sejamos condenados com o mundo.
(33) Portanto, meus irmãos, quando vocês se reunirem para comer, esperem uns pelos outros. (34a) Se alguém estiver com fome, coma em casa, para que, quando vocês se reunirem, isso não resulte em condenação.
3. PARA QUE HAJA CELEBRAÇÃO
Para que a celebração da Ceia do Senhor mereça este nome (celebração), devemos ter em prática alguns cuidados:
1. Devemos saber que Jesus celebrou a primeira Ceia. Ela deve ser celebrada em memória de Jesus, como uma forma de recordarmos sua vida/morte por nós.
2. Devemos nos lembrar das palavras instituidoras de Jesus, segundo Quem pão é memória (passado); vinho é promessa (futuro). Participar da Ceia é participar intensamente da vida, colocada entre o passado e o futuro. Jesus veio (passado); Jesus voltará (futuro).
3. Devemos celebrar de modo digno a Ceia do Senhor.
3.1. Devemos celebrar nossas divergências (entre os membros da igreja), desde que apontem para a nossa convergência (em Cristo), nunca para a divisão.
Nossas divergência só podem subsistir no plano das idéias, nunca envolvendo/separando/desrespeitando pessoas. Por religião se deve brigar, ainda mais dentro do mesmo corpo (a igreja).
3.2. Nossas diferenças devem ser convites à humildade (somos todos iguais), jamais à distinção (como se não fôssemos todos iguais). Na igreja as pessoas só valem pelo que são, não pelo que têm (recursos intelectuais ou financeiros).
3.3. Nossa celebração é um convite à fraternidade.
Todo o contexto da instrução paulina tem a ver com problemas em relação à fraternidade, que se encontrava ameaçada até mesmo na celebração da Ceia.
Neste texto de Paulo, os coríntios são disciplinados por falharem no teste prático da fé, que é o amor efetivo uns pelos outros. Toda vez que celebramos a Ceia como um convite a acertarmos em nós o que precisa ser acertado. “Examine-se cada um a si mesmo” (verso 28) — eis a síntese do apóstolo Paulo.
4. PARA QUE A CELEBRAÇÃO DA CEIA DO SENHOR NOS FAÇA BEM (!Coríntios 11.17):
1. Devemos ansiar pela Ceia do Senhor.
Devemos participar da Ceia com emoção, porque é um momento de reflexão (o que seria de mim sem Jesus?) e de proclamação: quando testemunhamos a morte de Jesus, convidamos o mundo a vir para Jesus.
2. Devemos dar graças a Deus (como Jesus mesmo fez) pelo sacrifício de Jesus.
Celebração é alegria. Quando celebramos a Ceia com tristeza, ficamos fracos, doentes e derrotados. A Ceia é a afirmação da alegria da salvação.
A cruz nos torna membros da nova aliança, pela qual a salvação se dá pela graça, não pelo mérito que vem do cumprimento à Lei.
3. Devemos anunciar a volta de Jesus.
A história de Jesus não acabou. Tem mais história pela frente.
4. Devemos cultivar a fraternidade.
Este é o sentido do discernimento do corpo (igreja) do Senhor (verso 29). Na Ceia, somos todos iguais. Nela somos lembrados que somos todos iguais.
Somos realmente membros da nova aliança quando abrimos mão do preconceito, seja ele racial, sexual ou social.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO