Hebreus 02.17-18: JESUS, NOSSO IRMÃO

JESUS, NOSSO IRMÃO
Hebreus 2.17-18

Convivemos com o ideal da fraternidade, de sermos irmãos de todos os seres humanos. É por isto que nos entristecemos quando vemos seres humanos tratados com indiferença ou com crueldade. Olhamos para os agentes da indiferença e da crueldade não nos identificamos com eles.
Este é o nosso ideal: somos todos irmãos.
Os que são crentes, não importa sua religião, consideram-se filhos de Deus. Na religião grega, em que não havia um Deus único, mas deuses, esses deuses tinham a cara do ser humano, não lhes sendo diferentes.
O padrão das religiões, no entanto, é outro. Deus é visto como totalmente diferente do ser humano, com virtudes que nenhuma pessoa pode ter. Na verdade, boa parte das religiões reside nesta percepção de diferença. No judaísmo, isto é bem evidente,  tão evidente que se cria que, se um ser humano visse Deus, morreria.
Houve poucas exceções, mas o padrão se manteve. Moisés falou com Deus face a face, “do meio do fogo, no monte” (Deuteronômio 5.4). Os dois eram amigos, mas Moisés não o via propriamente, embora sentisse sua presença e o ouvisse. Homem e Deus são diferentes.
O cristianismo segue outro padrão, mas não abre mão da diferença. Deus é apresentada como “o bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, o único que é imortal e habita em luz inacessível, a quem ninguém viu nem pode ver” (1Timóteo 6.15-16a).

1. TOTALMENTE OUTRO, TOTALMENTE IGUAL

O cristianismo tem Cristo. Cristo é Deus e nos é apresentado como nosso irmão. Deus é totalmente outro e totalmente igual. Isto é único nas religiões. Ouçamos um dos textos com esta apresentação:

[Hebreus 2.17-18]
“Por essa razão era necessário que ele [Jesus Cristo] se tornasse semelhante a seus irmãos em todos os aspectos, para se tornar sumo-sacerdote misericordioso e fiel com relação a Deus e fazer propiciação pelos pecados do povo. Porque, tendo em vista o que ele mesmo sofreu quando tentado, ele é capaz de socorrer aqueles que também estão sendo tentados”.

Lendo a Bíblia, aprendemos que Jesus Cristo não era nosso irmão, mas se tornou. Ele era a Palavra que estava com Deus desde a fundação mundo (João 1.1). Por intermédio todas as coisas foram feitas. Ele estava junto com o Pai e o Espírito na formação do mundo.
Esta não é uma questão fácil. Como Deus pode ser semelhante ao homem?
Os homens dos séculos 20 e 21 têm resolvido a questão tratando Jesus apenas como homem. As biografias disponíveis sublinham seus feitos humanos. Sua divindade está descartada, como está descartada a narrativa dos evangelhos, que nos falam de um Deus-homem.
Mesmo entre os cristãos há dificuldades. Se no século 21, nos salões de beleza se discute se Jesus teve uma mulher, nos açougues das cidades do século 3, a discussão era se Jesus era da mesma substância que Deus o Pai.
Uns propunham que Jesus Cristo tinha uma natureza semelhante à do Pai, mas não era da mesma substância do Pai. A diferença está que, se Jesus fosse apenas de natureza semelhante, não era Deus. No século 3, firmou-se a posição da plena divindade de Jesus, permitindo que se espalhasse e se consolidasse uma declaração de fé conhecida a partir do século 6 como “Credo dos Apóstolos”:

“Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do Céu e da terra.
Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; subiu ao Céu; está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.
Creio no Espírito Santo; na Santa Igreja Universal; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição do corpo; na vida eterna. Amém”. .

2. PODEMOS SER IRMÃOS DE JESUS

Lendo a Bíblia, aprendemos que não somos irmãos de Jesus Cristo, mas podemo ser.

O texto de Hebreus 2.17-18 nos deixa com muitas perguntas. Voltemos a ele:

“Por essa razão era necessário que ele [Jesus Cristo] se tornasse semelhante a seus irmãos em todos os aspectos, para se tornar sumo-sacerdote misericordioso e fiel com relação a Deus e fazer propiciação pelos pecados do povo. Porque, tendo em vista o que ele mesmo sofreu quando tentado, ele é capaz de socorrer aqueles que também estão sendo tentados”.

2.1. Por que era necessário que Jesus se tornasse semelhante ao ser humano?
O próprio texto bíblico responde: para se tornar sumo-sacerdote para o ser humano. O sumo-sacerdote é um homem, logo igual ao homem, que representa os cultuantes diante de Deus. Na liturgia hebraica, o sacerdote oferecia o sacrifício em nome dos crentes. É por isto, por exemplo, que até hoje na Igreja Católica Romana, o fiel não tem contato com a hóstia; ele é representado pelo sacerdote.
Jesus se tornou sumo -sacerdote, logo ser humano, para que todos os vissem. Ele foi visto, foi apalpado, foi tocado, foi agarrado, foi esmagado. Que o diga a mulher que tinha uma hemorragia inextancável, até  tocar na roupa de Jesus. Ele era um Deus ambulante (até no nome: Emanuel). Como Pedro pregou: “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e poder” e “ele andou por toda parte fazendo o bem e curando todos os oprimidos pelo Diabo, porque Deus estava com ele” (Atos 10.38).
Um dos seus seguidores o via, mas não via a Deus. Por isto, pediu, como fazem muitos ainda hoje:
— Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta.
Então, Jesus respondeu:
— Você não me conhece, Filipe, mesmo depois de eu ter estado com vocês durante tanto tempo? Quem me vê, vê o Pai. Como você pode dizer: ‘Mostra-nos o Pai’? (João 14.8-9).
Alguns seguidores de Jesus notaram que “Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1.14). É assim que devemos ver a Jesus.

2.2. O texto de Hebreus diz que Jesus nos foi semelhante em todos os aspectos, chegando a afirmar que Ele foi tentado e sofreu.
Depois da ficção de Dan Brown ( “O código Davinci”) tem sido comum o surgimento de ficções sobre Jesus, com alguns autores lhe arranjando uma mulher. Não tenho dificuldade com um Jesus casado, se Ele o fosse; só tenho dificuldade com o fato de que o Novo Testamento não o pinta como tal. Diz que teve mãe e que teve irmãos e irmãs, mas não que teve esposa, nem filhos. Como o Novo Testamento dignifica o casamento, o eventual casamento de Jesus não seria omitido.
Um filme do final do século 20 imaginou que a tentação de Jesus foi de ordem sexual, mais uma especulação.
O que o texto diz que ele sofreu, quando tentado. Que tentações foram estas, não sabemos. Quais foram os sofrimentos de Jesus? À luz dos evangelhos, ouso apresentar algumas destas tentações, nas quais somos aproximados.
Jesus foi tentado a não se sentir amado. Em boa parte de sua vida, Jesus era amado pelo que podia dar (pão, como nos casos das multiplicações; cura, como nos casos em que calou as doenças), não pelo que era. Conosco não acontece o mesmo? Não somos também descartados, quando não servimos mais?
Jesus foi tentado ao ser desprezado até por sua própria família. Seus irmãos não criam nele e se juntaram, numa ocasião, ao coro dos que desconfiavam dEle (João 7.3-10).
Jesus foi tentado ao ser perseguido por sua fidelidade à missão que o Pai lhe confiou. A morte foi o preço que teve que pagar. Melhor que ninguém, Isaías descreveu sem ver o que os evangelistas viram. Em sua visão, o profeta viu que o enviado de Deus “não tinha qualquer beleza ou majestade que nos atraísse, nada havia em sua aparência para que o desejássemos. Foi desprezado e rejeitado pelos homens, um homem de dores e experimentado no sofrimento. Como alguém de quem os homens escondem o rosto, foi desprezado, e nós não o tínhamos em estima. Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças; contudo nós o consideramos castigado por Deus, por Deus atingido e afligido. Mas ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniqüidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados. Ele foi oprimido e afligido; e, contudo, não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado para o matadouro, e como uma ovelha que diante de seus tosquiadores fica calada, ele não abriu a sua boca. Com julgamento opressivo ele foi levado. Pois ele foi eliminado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo ele foi golpeado. Foi-lhe dado um túmulo com os ímpios, e com os ricos em sua morte, embora não tivesse cometido nenhuma violência nem houvesse nenhuma mentira em sua boca. Contudo, foi da vontade do Senhor esmagá-lo e fazê-lo sofrer”. E tudo porque Deus “tenha feito da vida dele uma oferta pela culpa”. Na verdade, “ele derramou sua vida até a morte e foi contado entre os transgressores.

“Por essa razão era necessário que ele [Jesus Cristo] se tornasse semelhante a seus irmãos em todos os aspectos, para se tornar sumo-sacerdote misericordioso e fiel com relação a Deus e fazer propiciação pelos pecados do povo. Porque, tendo em vista o que ele mesmo sofreu quando tentado, ele é capaz de socorrer aqueles que também estão sendo tentados”.

2.3. O texto de Hebreus nos diz ainda que Jesus fez propiciação pelos pecados do homem.
“Propiciação”, eis uma palavra difícil de entender e uma prática difícil de se fazer.
Vamos ler três textos que definem a palavra.
. Deus ofereceu Jesus Cristo “como sacrifício para propiciaçãoi mediante a fé, pelo seu sangue, demonstrando a sua justiça. Em sua tolerância, havia deixado impunes os pecados anteriormente cometidos” (Romanos 3.25).
. “Se, porém, alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos pecados de todo o mundo” (1João 2.1-2).
. “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1João 4.10).
Propiciação é uma oferta em lugar de outro, para pagar a dívida do outro, para sofrer a punição devida pelo outro.
Entendi isto bem cedo, mediante uma história que meu pastor (Saturnino José Pereira) contava. Durante um culto, um assassino de punhal em punho subiu ao púlpito para golpear o pregador. Ao seu lado, estava o irmão José Vilela. José Vilela se interpôs entre o assassino e o pastor, que teve sua vida poupada. O irmão, no entanto, morreu. A partir daí o pregador tinha a seguinte mensagem: “Dois morreram por mim: Cristo e José Vilela”.
Por nossa culpa, merecíamos morrer. Jesus morreu por nós e não precisamos mais morrer. A Jesus custou muito a propiciação: sua vida.

2.4. Hebreus nos garante também que Jesus é, por experiência própria, capaz de socorrer aqueles que O buscam.
Você está sofrendo? Jesus também sofreu.
Tudo o que padecemos Ele padeceu por experiência própria. Se você precisar da ajuda de alguém, procurará um teórico ou alguém que viveu o mesmo problema?
Queremos ser socorridos por quem viveu o nosso drama, e pode resolver ou abreviar o nosso.
Numa viagem, seu carro quebra. Você tenta fazer alguma coisa. Em alguns casos, consegue; em outros, não. Nestes casos, tem que buscar socorro. As vias da vida fazem com que quebremos. As vias da vida fazem com que precisamos de socorro.
Você perdeu uma pessoa querida? Jesus também.
Você se sente rejeitado? Jesus também.
Você tem uma missão difícil? Jesus também.
Você se sente tentado? Jesus também.

3. QUE FAZER?
Diante deste Jesus, nosso irmão, que devemos fazer? Devemos aceitar que é Ele nosso irmão. Devemos nos tornar seus irmãos também.
Ser irmão de Jesus e uma escolha. Quem tem irmãos de sangue, por nascimento, não os escolheu. Ser irmão de Jesus implica uma escolha.
Ser irmão de Jesus é tê-lo como sumo-sacerdote misericordioso e fiel diante de Deus.
Ser irmão de Jesus é ter seus pecados por Ele perdoado, por meio do sacrifício (ou propiciacao) que fez por nós.
Ser irmão de Jesus é poder com Ele nas horas de dificuldades, para ser socorrido por Ele, por Ele que viveu as nossas experiências mais duras.
A irmandade está oferecida, à espera de uma resposta. Esta irmandada é oferecida, mas não imposta. Jesus nos deseja ter como irmãos, mas não nos engana para comprarmos a idéia.
Um dia destes, em casa, recebi mais um telefonema destes agentes de telemarketing. Desta vez, a estratégia era bem diferente. A moça falava muito, muito depressa. O conteúdo era mais ou menos o seguinte:
“Parabéns, o senhor é nosso cliente há 23 anos. Por esta razão, nós o escolhemos para ganhar um produto muito especial. Já no próximo mês, o senhor concorre. Espero poder lhe telefonar para lhe dar a notícia que foi sorteado já no próximo mês. Aguarde na linha para falar com o nosso setor de controle  de qualidade…”.
Antes que terminasse, eu a interrompi, dizendo que não queria o produto, que me custaria cem reais por mês, uma informação passada bem rapidamente, de modo que não me desse conta e tudo parecesse um prêmio à minha fidelidade.

Jesus já é seu irmão? Você é irmão de Jesus?

ISRAEL BELO DE AZEVEDO 

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