Deuteronômio 6.1-9: UM PACTO PELA FORMAÇÃO DAS CRIANÇAS

UM PACTO PELA FORMAÇÃO DAS CRIANÇAS
Deuteronômio 6.1-9

O interesse pela morte da menina paulistana Isabela Nardoni, em 29 de março de 2008, mostra, entre outros aspectos, que a infância ainda é vista como uma época da vida a ser preservada e que os pais têm este dever. Na verdade, a responsabilidade pelo cuidado das crianças é um valor. Os pais de hoje, por exemplo, ao contrário do que acontecia no Império Romano, não podem tirar a vida dos seus filhos ou abandoná-los. As crianças alcançaram um status que não tinham, o que é muito bom. Há leis para sua proteção, como o demonstram os esforços mundiais de combate à pedofilia. Assim mesmo, crianças são mortas no Brasil e no mundo. Crianças são exploradas em carvoarias e canaviais. Crianças são abusadas sexualmente. Crianças passam dias e noites nas ruas.

A CRIANÇA NO MUNDO

O mundo mudou?
Sim e não.
As famílias mudaram?
Sim e não.
As crianças mudaram?
Sim e não.

O mundo mudou?
Quando olhamos para o mundo, o nosso mundo, o mundo em que vivemos, o que vemos depende de nossa experiência. Para os mais novos, este é o único mundo que existe, com a tecnologia alçada à condição de deusa. Não houve mudança, porque não têm o que comparar. Para os mais velhos, há uma percepção de mudança, achando uns que para melhor e achando outros que para pior.
Na perspectiva do tempo, não há como não ver que o mundo mudou. O juízo sobre estas mudanças dependerá da experiência de cada pessoa, porque nosso olhar é sempre um olhar individualizado. No caso específico do Brasil, vem-se acentuando uma alteração que tem significados econômicos, morais, espirituais e emocionais: refiro-me ao processo de urbanização, associado à forma como se ganha dinheiro e como se gasta dinheiro. Cada vez mais vivemos do nosso trabalho nos setores da indústria, do comércio e dos serviços, vendendo o nosso tempo e a nossa competência em troca de dinheiro. E as oportunidades continuam desiguais. Moramos com nossos familiares, mas mantemos pouco relacionamento com os nossos vizinhos topográficos; nossas redes de relacionamento são menos por geografia e mais por interesse; nossos amigos não moram necessariamente perto de nós.
Então, o mundo mudou, mas ainda dependemos do trabalho para sobreviver e/ou nos realizar como pessoas. Ainda nos organizamos em redes sociais humanas também por necessidade de sobrevivência e/ou de realização. Se compararmos, não tecnologias, não modos econômicos, não meios de comunicação, não formas de governo, veremos que o mundo não mudou. Temos as mesmas necessidades (fisiológicas, de segurança, de amar e ser amado, de estima e auto-estima e de auto-realização), que são atendidas de outras formas e que constituem as nossas histórias, individuais e globais. No essencial, portanto, o mundo não mudou.

As famílias mudaram?
Quando olhamos para as nossas famílias, nossa resposta dependerá de nossa idade. Se somos muito jovens, a família é esta que nós conhecemos. Em certo sentido, não há mudança a observar. A família mantém seu papel universal permanente, que pode ser sintetizado em duas: servir, a partir do casamento (cujo índice no Brasil tem sido estável, em cerca de 750 mil por ano) de espaço privilegiado para o exercício do afeto entre marido e mulher e entre pais e filhos, bem como prover recursos para a sobrevivência e para realização de todos os que são seus integrantes. Se somos mais experientes, o resultado de nossa observação dependerá do que aconteceu em nossa família, desde quando éramos crianças até agora, mais maduros. Situações-limite como desempregos, mortes e separações ou nascimentos, casamentos e triunfos alteram o curso dessas famílias, mudanças que vão reinventando suas formas de ser.
No plano mais amplo, os mais experientes podem, então, testemunhar algumas mudanças nas formas de ser família no Brasil. Entre essas mudanças, podem ser anotadas as seguintes, sinteticamente:
. menos estabilidade nas relações conjugais. Os números oficiais são claros: o índice de separações no Brasil cresceu 45% na última década. Como resultado possível, teremos crianças com menos equilíbrio emocional, para enfrentar as crises da vida.
. menos convívio dos pais com os filhos, em função da inserção dos pais cada vez mais no mercado de trabalho, seja para prover o essencial na família ou para poupar, seja para acumular ou para consumir superfluidades transformadas em essencialidades. Como conseqüência possível, teremos diminuída a relevância dos pais na formação moral e espiritual das crianças.
. maior independência dos filhos em relação aos seus pais, que tendem a ser cada vez menos ouvidos quanto aos gostos das crianças ou às escolhas dos adolescentes nos campos dos cônjuges e das profissões. Como contraparte possível, deverão crescer a identidade do grupo e a força da ideologia vendida nos meios de comunicação junto com o entretenimento. Como resultado possível, a transmissão dos valores familiares às crianças e adolescentes ficará mais difícil.

As crianças mudaram?
Os pais mudaram mais que seus filhos, mas houve mudanças no jeito de ser criança ou adolescente. Uma delas é que tem havido uma queima de etapas, com uma afirmação mais clara de sua dignidade real como criança e não como o adulto do futuro, com uma outorga precoce de liberdade aos menores e com a entrada delas mais cedo nas gôndolas do consumo.
Ao mesmo tempo, todos reconhecemos que as crianças continuam girando suas vidas em torno da brincadeira; é por isto que nos entristecemos em saber que no Brasil crianças são usadas como mão-de-obra em carvoarias. As crianças continuam necessitando de cuidado e proteção; é por isso que nos indignamos com a morte de Isabela Nardoni, em 29 de março de 2008. As crianças continuam tendo “uma visão especial do mundo, que é fantástica e imaginativa”, embora muitas vezes seus pais queiram conversar com ela numa linguagem “racional e objetiva”. (Cf. SAYÃO, Roseli. Comunicação com os filhos. Folha de S. Paulo, de 3.4.2008, Equilíbrio.)
É a família ainda o espaço natural para o desenvolvimento das crianças. Uso aqui uma afirmação do psicanalista D.W. Winnicott, que escreveu: “Não existe essa coisa chamada bebê. A unidade é o conjunto ambiente-indivíduo. O bebê é sempre ele mais sua mãe”. (Cf. WINNICOTT, D.W. Anxiety associated with insecurity, 1952).
Em outras palavras, um bebê sozinho não existe. Para começar uma vida independente, a criança precisa de alimentação e outros cuidados. Fica evidente que a família é o núcleo em torno do qual nos movemos e este movimento tem um grau de duração que não se vê em nenhum outro relacionamento.

A BATALHA PELOS VALORES

Em decorrência deste quadro, convivemos com a disseminação de uma série de valores, que se contrapõem aos valores que, segundo entendemos de nossa leitura consciente da Bíblia, são propostos por Deus para a felicidade do ser humano. Os mandamentos de Deus não são penosos (1João 5.3), mas felicitosos, como está em Deuteronômio 6.3: “Ouça e obedeça, oh Israel! Assim tudo lhe irá bem e você será muito numeroso”.
Ao contrário, ouvimos outros convites e temos que conviver com outras ofertas. Prevalece um valor, altamente autonômico e nada novo, segundo o qual cada pessoa sabe o que é melhor para si, não devendo tomar decisões em seguimento a qualquer instrução a priori. O homem, como já ensinavam o pré-socrático Protágoras (c. 490-420 a.C.), é a medida de si mesmo. O princípio da autonomia, essencialmente positivo, se torna refém de outra heteronomia, não mais sagrada, mas secularizante: a vida humana se esgota na duração de uma vida humana; logo, importa o aqui e agora.
Assim, que valores as crianças deste começo de século vão ouvir como sendo últimos? Suponho que os seguintes:

. cada pessoa deve fazer tudo o que puder para ser feliz, mesmo que isto possa implicar na quebra de compromissos. (Soará cada vez mais estranho que uma pessoa deve se sacrificar pelo bem-estar da coletividade. Logo, a idéia cristã de serviço ao próximo carece de sentido.)

. cada pessoa tem o direito de viver a sua sexualidade na intensidade que desejar, com quem quiser, mesmo que com pessoa do mesmo sexo, com ou sem o compromisso do casamento. (Soará cada vez mais estranho que a sexualidade deve ser vivida segundo valores morais, mesmo que biblicamente estabelecidos; logo, cada pessoa estabelece suas próprias regras, ao sabor dos seus desejos.)

. cada pessoa pode escolher sua própria religião, embora o ideal seja que não tenhuma nenhuma, mas nenhuma delas tem o direito de se anunciar como verdadeira. Cresce a convicção, como defendida pelo escritor Philip Pullman, em cuja obra se baseia o filme “A bússola de ouro”, de que a religião cristã é um erro poderoso e convincente. O ideal, segundo outros autores, é o ateísmo, já que, ainda segundo Pulmann, toda religião organizada, inclusive e principalmente o cristianismo, é feita de crueldade, tirania e repressão. (Cf. A dark agenda? Disponível em <http://www.surefish.co.uk/culture/features/pullman_interview.htm>.) Dissemina-se, assim, cada vez mais a idéia que Jesus não pode ser afirmado com o Salvador do mundo, embora possa ser ouvido como um mestre para os seus seguidores. (Soará estranho que uma religião queira se apresentar coma a verdadeira em detrimento de outras; logo, nos termos cristãos, pregar o Evangelho é algo inaceitável, por pressupor a existência de uma verdade absoluta no campo da fé.)

Serão tais valores universalmente aceitos?
A resposta dependerá do que fazemos com as nossas crianças hoje, em casa, na igreja e na sociedade.
Penso inclusive que a igreja precisa ampliar a geografia do seu alcance. Não sou defensor de que as famílias devam ensinar seus filhos em casa para evitar o contágio da sociedade. Isolar as crianças não as protege. Elas vão ter que viver no mundo e só existe este mundo que conhecemos.
Contudo sonho com uma possibilidade: que as igrejas abram seus espaços para escolas de valores, em que, num dia da semana, por três ou quatro, as crianças, cristãs e não cristãs, são instruídas com os valores eternos afixados na Palavra de Deus. Os pais que quisessem que seus  filhos aprendessem esses valores trariam suas crianças para passarem um bom tempo no espaço proporcionado pela igreja.
A igreja precisaria estar preparada com recursos humanos, físicos e pedagógicos para fornecer uma boa formação espiritual. Penso que a igreja que fizer isto terá alunos e prestará um grande serviço. Se a igreja não fizer, ninguém o fará.

UM PACTO PELA FORMAÇÃO DAS CRIANÇAS

Na cabeça das crianças se trava uma luta, uma autêntica batalha espiritual.
Uma comparação pode ser feita: quando uma criança entra numa loja, os produtos lhe convidam. Umas estão embaladas de modo atraente. Outras emitem sons e luzes. Qual chamará a atenção da criança?
No mundo dos valores, o mesmo se dá. Os valores chegam embaladas de  modo atraente, com sons e luzes sedutores. Qual deles será recebido como bons? Quem a ganhará? O Deus da Bblia sempre soube disso. Por isto, Ele nos mostra, desde os primeiros livros, como deve ser a formação das crianças, uma tarefa dos adultos. Um dos textos clássicos e claros é o de Deuteronômio 6.1-9.

[Deuteronômio 6.1-9]
(1) Esta é a lei, isto é, os decretos e as ordenanças, que o Senhor, o seu Deus, ordenou que eu lhes ensinasse, para que vocês os cumpram na terra para a qual estão indo para dela tomar posse.
(2) Desse modo vocês, seus filhos e seus netos temerão o Senhor, o seu Deus, e obedecerão a todos os seus decretos e mandamentos, que eu lhes ordeno, todos os dias da sua vida, para que tenham vida longa.
(3) Ouça e obedeça, oh Israel! Assim tudo lhe irá bem e você será muito numeroso numa terra onde manam leite e mel, como lhe prometeu o Senhor, o Deus dos seus antepassados.
(4) Ouça, oh Israel: “O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. (5) Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças”.
(6) Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração.
(7) Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar. (8) Amarre-as como um sinal nos braços e prenda-as na testa. (9) Escreva-as nos batentes das portas de sua casa e em seus portões.

À luz do quadro contemporâneo e à luz da proposta divina, como aclarada em Deuteronômio 6.1-9), quero propor um pacto pela formação de nossas crianças. Falo aos pais, sobretudo, mas também àqueles que têm crianças sob sua responsabilidade, em casa, na escola e/ou na igreja.

1. Aceite que há valores de valor eterno que devem ser vividos e ensinados.
Não há dúvida que há valores. Até numa publicidade de cerveja há um valor. O mundo está impregnado de valores.
Isto não quer dizer que esses valores sem valor devam ser vividos e ensinados. Os valores eternos estão na Bíblia e foram sintetizados pela boca e pela vida de Jesus Cristo, não um mestre como outros, mas o Filho de Deus feito ser humano.
A Bíblia nos ensina que há um único Deus (“O Senhor, o nosso Deus, é o único Senho”  — Deuteronômio 6.4), revelado de modo completo em Jesus. A Bíblia nos ensina que Este Deus único nos ama e nos propõe um estilo de vida capaz de nos fazer realmente felizes enquanto indivíduos, famílias e nações (Deuteronômio 6.2). A Bíblia nos ensina que devemos amar a Este Deus Único de todo o nosso coração, de toda a nossa alma e de todas as nossas forças” (Deuteronômio 6.5).
As crianças, embora não sejam tábuas rasas, precisam aprender. Esta tarefa cabe aos adultos.

2. Assuma que lhe cabe viver e ensinar esses valores.
Esses valores nos foram deixados para que nós os vivêssemos e os ensinássemos. Eis o que lemos: “Esta é a lei, isto é, os decretos e as ordenanças, que o Senhor, o seu Deus, ordenou que eu lhes ensinasse, para que vocês os cumpram” (Deuteronômio 6.1a).
Não terceirize sua função. O Estado tem o seu papel; ele, por exemplo, não conseguirá ensinar disciplina a uma criança, se os seus primeiros modelos (os pais) não conhecem esta palavra. A igreja tem o seu papel; dificilmente a igreja conseguirá incutir na criança ou no adolescente o interesse pela leitura da Palavra de Deus se nunca vê seu pai com a Bíblia aberta em casa.
Cada um de nós tem um papel nesta formação. O que nos cabe não devemos, nem podemos transferir para outro. O que é para ser aprendido em casa é para ser aprendido em casa.
Por isto, o sábio da Bíblia recomenda: “Instrua a criança segundo os objetivos que você tem para ela, e mesmo com o passar dos anosa não se desviará deles” (Provérbios 22.6).
Viver os valores eternos de Deus não é fácil, mas não desistamos. Mesmo contra todas as ondas, essa deve ser a nossa escolha: viver e ensinar os valores que Deus nos deixou na Sua Palavra. Eles são bons para nós.
Moisés insistiu na tarefa educacionais dos pais: “Tenham muito cuidado para que vocês nunca se esqueçam das coisas que os seus olhos viram; conservem-nas por toda a sua vida na memória. Contem-nas a seus filhos e a seus netos. Lembrem-se do dia em que vocês estiveram diante do Senhor, o seu Deus, em Horebe, quando o Senhor me disse: ‘Reúna o povo diante de mim para ouvir as minhas palavras, a fim de que aprendam a me temer enquanto viverem sobre a terra, e as ensinem a seus filhos’” (Deuteronômio 4.9).
O mesmo tom aparece no capítulo 11, em que aprendemos que:

. Deus nos deixa valores eternos: “Amem o SENHOR, o seu Deus e obedeçam sempre aos seus preceitos, aos seus decretos, às suas ordenanças e aos seus mandamentos” ( verso 11).

. Esses valores foram pensados para o nosso bem:
“Obedeçam, portanto, a toda a lei que hoje lhes estou dando, para que tenham forças para invadir e conquistar a terra para onde estão indo, e para que vivam muito tempo na terra que o Senhor  jurou dar aos seus antepassados e aos descendentes deles, terra onde manam
leite e mel” (verso 8).

. Quando vividos, esses valores produzem vida; quando rejeitados, e somos livres para o fazer, não somos abençoados:
“Portanto, se vocês obedecerem fielmente aos mandamentos que hoje lhes dou, amando o Senhor, o seu Deus, e servindo-o de todo o coração e de toda a alma, então, no devido tempo, enviarei chuva sobre a sua terra, chuva de outono e de primavera, para que vocês recolham o seu cereal, e tenham vinho novo e azeite. Ela dará pasto nos campos para os seus rebanhos, e quanto a vocês, terão o que comer e ficarão satisfeitos. Por isso, tenham cuidado para não serem enganados e levados a desviar-se para adorar outros deuses e a prostrar-se perante eles” (versos 13-16).

. A pedagogia divina é clara, cabendo oa homem encontrar a forma das práticas:
“Gravem estas minhas palavras no coração e na mente; amarrem-nas como sinal nas mãos e prendam-nas na testa. Ensinem-nas a seus filhos, conversando a respeito delas quando estiverem sentados em casa e quando estiverem andando pelo caminho, quando se deitarem e quando se levantarem. Escrevam-nas nos batentes das portas de suas casas, e nos seus portões” (versos 18-20).

. Viver e ensinar segundos os valores eternos de Deus é uma escolha:
26 “Prestem atenção! Hoje estou pondo diante de vocês a bênção e a maldição. Vocês terão bênção, se obedecerem aos mandamentos do Senhor, o seu Deus, que hoje lhes estou dando; 28 mas terão maldição, se desobedecerem aos mandamentos do Senhor, o seu Deus, e se afastarem do caminho que hoje lhes ordeno, para seguir deuses desconhecidos. (…) Tenham o cuidado de obedecer a todos os decretos e ordenanças que hoje estou dando a vocês” (versos 26-28, 32)

3. Viva o que você crê.
A recomendação bíblica soa eloqüente: “Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração” (Deuteronômio 6.6).
Nós vivemos o que cremos e não o que dizemos crer. Nossos cônjuges podem conviver com nossas incoerências, mas nossos filhos não sabem fazê-lo. Nossos filhos não nos ouvem: nossos filhos nos vêem e nos imitam. Seu caráter não vem de nossos ensinos; seu caráter vem de nossas vidas. Se você bebe em casa ou em festas, não adianta falar do perigo do álcool; seu filho tenderá a fazer o que vê você fazer. Se você não é fiel ao seu cônjuge, não espere que  seu filho o seja.
Nossos filhos vêem dentro de nosso coração, a partir do que sai dele em nosso comportamento. Nossos filhos vêem e fazem. (Como o mostra o vídeo de uma organização australiana de defesa das crianças. Disponível em <http://www.childfriendly.org.au/streaming1.htm> ou em <http://www.youtube.com/watch?v=7ZscS775ek8>.)
Se os princípios eternos não estão no seu coração, ponha-os, para os viver, e seus filhos também.

4. Cuide de sua saúde física, emocional e espiritual.
Seu filho será, em parte, aquilo que você é hoje. Então, cuide de você mesmo.
Cuide de sua saúde física, para que possa prolongar a sua vida e terem ambos vida longa. Seus hábitos de saúde em parte serão os hábitos do(s) seu(s) filho(s). Meus hábitos alimentares, por exemplo, são os que aprendi com meus avós, tios e pais; todos eram “viciados” em comida gordurosa. Demorei muito a saber que isto não faz bem ao corpo. Procure ser o que você quer que o seu filho seja. Você quer que ele não fume, não fume. Você quer que ele não se torne um alcoólatra, não chegue sequer pertodo álcool. Você quer que ele procure um médico para prevenção e tratamento, vá também ao médico.
Cuide de sua saúde emocional. Pais equilibrados emocionalmente podem até não gerar filhos equilibrados, mas pais desequilibrados dificilmente terão filhos equilibrados emocionalmente. O clima em casa depende quase cem por cento dos corações dos seus pais. Não desconte os seus problemas nos seus filhos; lembre-se que você pode até esquecer as “explosões” mas talvez eles fiquem marcados para sempre. Se você tem dificuldades emocionais, procure ajude. Pais que cuidam de si mesmos fazem um investimento tão importante quanto a casa, a comida e o colégio que garantem para os filhos.
Cuide de sua saúde espiritual. Seus hábitos espirituais deverão integrar a cesta de hábitos espirituais de seus filhos. Se você, por exemplo, dá importância à igreja, não faltando sem motivo, seus filhos tenderão a fazer o mesmo. Se seu filho vê você lendo a Bíblia e orando, é possível que este bom modelo componha a sua biografia mais adiante.
Neste contexto, trago o depoimento espontâneo, que recebi de uma mãe, cujo marido não é participante da igreja, por ilustrar o que acabo de dizer:

“Estive por um tempo afastada somente visitando a igreja, não freqüentava.
Quando engravidei, senti que Deus me dera uma responsabilidade enorme. Eu deveria criar o meu filho (ou filha)  e ensinar-lhe o que leva ao Pai. Como poderia fazer isso se não estivesse eu também vivendo o que eu queria ensinar?
Eu tive uma mãe exemplo. Minha mãe foi serva fiel do Senhor. Ela está com Deus. No tempo em que esteve comigo, além de me levar à igreja, deu exemplo, viveu uma vida cristã. Eu também desejei ser uma mãe assim.
Foi difícil mudar hábitos. Era muito bom dormir até mais tarde nos domingos. Mas E.B.D.  e culto infantil só tem pela manhã… então apesar da minha resistente preguiça, passei a despertar mais cedo aos domingos. Hoje já é um previlégio.
[Meu filho] está com sete anos e participa com prazer da E.B.D. e dos eventos promovidos pelo ministério infantil, que tem realizado um trabalho ótimo. De vez em quando ouço meu filho cantando louvores que aprendeu na Igreja ou comigo. Ele sempre me surpreende com perguntas inusitadas ou com afirmativasque me emocionam muito, do tipo:
— Mamãe, eu gosto muito do livro de Lucas.
No Natal passado,  ele  ganhou a primeira Bíblia de verdade. Pra minha surpresa, ele não só gostou, adorou, vibrou ao abrir o pacote de presente dizendo:
— Uma Bìblia!! Legal!!
A Bíblia tem uma alça, fica como  uma mochila. Ele ficou desfilando com ela todo feliz  e eu muito mais ainda.
Estou trilhando o caminho que escolhi para minha família. A mulher sábia edifica o Lar. Peço então, sabedoria ao Senhor para que a minha seja edificada na Rocha.
Eu não conseguiria sozinha, sem a Igreja, sem um ministério infantil com pessoas tão preparadas e dedicadas”.

5. Comprometa-se com a formação dos seus filhos.
Se tiver de fazer alguma coisa de qualquer jeito, que não seja cuidar das crianças, porque  este cuidado é para toda a vida.
A dedicação está explícita: “Ensine [essas palavras] a seus filhos e fale delas quando estiver em casa, quando estiver viajando pela estrada, quando se deitar e quando se levantar”. (Deuteronômio 6.7 — JPS)
A educação é um projeto para todo o tempo. Notemos como a instrução envolve as dimensões diárias da vida, incluindo a fraternidade da vida familiar (“quando estiver em casa”), o mundo do trabalho (“quando estiver viajando pela estrada”) e o mundo da oração que deve ser feita para fechar e abrir o dia (“quando se deitar e quando se levantar”).
A preocupação com a educação não deve se dar num momento, mas durante todo o dia, porque tudo (a escola, a televisão, a igreja, o shopping, a rua, a biblioteca) educa.
Entre um carro novo e uma boa escola, ponha o seu dinheiro na escola para seu filho. Entre uma viagem agradável e em curso, ponha o seu dinheiro num curso para seu filho. Entre um programa de televisão e um tempo com o seu filho, prefira o tempo com o seu filho. Entre uma festona na rua e uma festinha em casa, fique com a festinha em casa.
Educar o caráter é o mais investimento (se queremos usar um termo da economia) que um pai pode fazer. O resto (conhecimento, dinheiro) ele pode aprender sozinho. Caráter, não. Valores eternos, também não.
Comprometa-se com a formação intelectual dos seus filhos. Eles precisam da melhor educação formal que puderem ter. Procure as melhores escolas públicas ou privadas possíveis. Acompanhe a escola. Não confie integralmente nela. Faça parte da associação de pais. Converse com seu filho sobre o dia a dia na sala de aula e nos outros espaços.
Comprometa-se com a formação moral dos seus filhos. Eles precisam ser mergulhados nos melhores valores, para que possam resistir à avalanche de valores fúteis que são mais agradáveis e mais massificados. Como pais devemos prestar atenção nos valores que nossos filhos consomem e contrapô-los. Eu viajava recentemente com uma família por uma cidade do interior do país. Duas crianças, além do casal, estavam no carro. Rumávamos para uma chácara, onde havia criação de animais. No meio de uma conversa, o garoto, de uns seis anos, começou a soltar palavrões, como se fossem palavras bem naturaisdepois que começou a chover. Os pais repreenderam a criança e passaram a lamentar os colegas que  tinha na escola. Chamo atenção para o fato que os pais não acharam engraçado o comportamento do filho e começaram a discutir uma nova estratégia para a educação do seu menino. Não precisamos aceitar os valores que tentam nos empurrar. O fato de todo mundo fazer não quer dizer que está certo. Como a criança não tem meios de identificar o que é certo ou o que é errado, cabe aos seus pais dizer-lhe, seja dialogando, seja valorizando o que é certo.
Comprometa-se com a formação emocional dos seus filhos. Eles precisam de afeto, para que possam crescer em segurança e com equilíbrio. Se você não tem equilíbrio emocional, por amor a eles, faça alguma coisa para ser equilibrado/equilabrada. Se você é ansioso ou ansiosa, quer que seu filho padeça do mesmo problema? Se você vive chorando, quer que seu filho também viva reclamando da vida? Se você explode quando alguma coisa sai do seu controle, quer que seu filho seja explosivo também? Se você não gosta de você, quer que seu filho não goste de si também. Por amor a ele, faça algo por você, para que seu filho possa enfrentar saudavelmente as lutas da vida.
Comprometa-se com a formação espiritual dos seus filhos. Seja um cristão em casa e terá feito a metade do que pode fazer. A outra parte é feita com palavras. Ensine-o amar o próximo, amando você o seu vizinho. Ore por seu filho quando há dificuldades. Ore por seu filho quando tudo vai bem. Ensine-o orar, orando por ele e com ele. Ensine-o a ler a Bíblia, lendo-a com ele. (Quanto a Bíblia, seu filho já tem uma, na sua linguagem?) Ensine-o a ser um dizimista, sendo você também um dizimista. Ensine-o a valorizar a igreja, valorizando você também, sendo crítico, mas destacando os aspectos positivos da vida na igreja, que são maiores que os problemas.

6. Encontre formas criativas para ensinar a seus filhos com dedicação.
Uma Bíblia judaica traduz assim as recomendações dos versos 8 e 9: “Amarre [estas palavras] com um sinal sobre sua mão e deixe-as como um emblema no centro de sua cabeça. Escreva-as [nos pergaminhos afixados] nos batentes de suas casas e portões” (Deuteronômio 6.8-9 — JPS).
Eu traduziria toda esta instrução com uma só frase: “seja criativo na educação dos seus filhos”.
Aprender valores é visto pela criança e adolescente como algo enfadonho. Cabe-nos, então, encontrar formas, mantendo o conteúdo, de tornar agradável este aprendizado. É isto que os cuidados sugeridos podem fazer.
Como conhecem seus filhos, os pais devem usar recursos que falem a sua linguagem, o que depende do momento em que estão.
Invente. Se tem este dom, invente histórias orais ou visuais que ensinem bons valores. Compre livros, lendo primeiro, livros que contenham valores eternos. Converse sobre o que leram. Compre filmes, vendo primeiro, que contenham valores eternos. Converse sobre o que viram. Leve-as ao teatro e converse sobre a peça. Invente teatro. Deixe que invente teatro.
Não deixe seu filho associar o ensino de valores ou os assuntos da fé com chatice. Ponha cor, movimento e imaginação no ensino da Bíblia.

7. Faça da igreja sua parceira na formação das crianças.
Sua igreja quer ser sua parceira na formação de seus filhos. Torne-a sua parceira.
Há muitas pessoas que escolhem uma igreja para dela participar em função do que ela pode oferecer a suas crianças. A decisão está correta. Como numa escola, o espaço para as crianças na igreja deve ser amplo, limpo e seguro. Os professores e auxiliares devem amar as crianças, compreender as crianças e estar preparadas para atender às necessidades dessas crianças.
Para que sua igreja seja parceira na formação de seus filhos, traga suas crianças, com assiduidade e pontualidade para as atividades na igreja. Não falte. Não chegue atrasado. (Sabe o que é não chegar atrasado? É chegar dez minutos de o culto ou a aula começar.) Quando há um passeio para crianças, faça tudo que puder para que seus filhos possam ir.
Sendo pai ou não, participe das atividades educacionais da igreja. Envolva-se no ministério com crianças. Seja um voluntário, tendo ou não crianças em casa. Quando houver palestras ou cursos, faça um sacrifício e venha. Faça sugestões. Lute para vê-las implementadas. Dê ofertas designadas específicas para o ministério com crianças. Ajude-nos a ter salas limpas e bonitas. Ajude-nos a ter lances gostosos e nutritivos. Ajude-nos a ter recursos pedagógicos de excelência. Ajude-nos a ter uma hemeroteca para as crianças. Ajude-nos a ter os melhores recursos, sejam materiais ou projetores multimídia e computadores.
Verifique se a igreja está priorizando as crianças, dedicando-lhes seus melhores recursos humanos e financeiros. Se você prioriza crianças, sua igreja deve priorizá-las também.

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Você subscreve este pacto?
Você se compromete com a formação das suas e das nossas das crianças?

ISRAEL BELO DE AZEVEDO