Em vasos de barro

Indiretamente o apóstolo Paulo nos diz em 2Coríntios 4.6-7 que convivemos com pessoas, fora e dentro dos círculos cristãos, que adotam procedimentos secretos e vergonhosos, visando sempre enganar (verso 2) para obter algum tipo de vantagem.
Convivemos com pessoas, dentro e fora dos círculos cristãos, que torcem a Palavra de Deus (verso 2) e acabam pregando a si mesmas, não a Cristo (verso 5).
Convivemos com pessoas, fora dos círculos cristãos, que ignoram a luz de Cristo (verso 4), vivendo em trevas muito profundas que nos alcançam em suas conseqüências.
Convivemos com pessoas, dentro dos círculos cristãos, que vivem como se a luz de Cristo não tivesse jorrado brilhante sobre suas vidas.
O resultado, entre outros, é uma grande confusão, que nos deixa, segundo o apóstolo Paulo, pressionados, perplexos, perseguidos e abatidos (verso 8). O sofrimento, por experiência própria o sabemos, é algo real e plural (verso 17) em nossas vidas.
O mundo do apóstolo Paulo é o mesmo nosso. Ele diz que não devemos nos desanimar, mesmo que “exteriormente estejamos a desgastar-nos”. Ao contrário, em meio a tudo isto “estamos sendo renovados interiormente dia após dia” (verso 16).
Por que? Paulo responde: “temos [um] tesouro em vasos de barro” (verso 7).
Esse tesouro é uma providência de Deus para nós. Ele provém mesmo de Deus (verso 7). O apóstolo usa três expressões para conceituar esse tesouro:

. a luz do evangelho da glória de Cristo (verso 4)
. a imagem de Deus em nós (verso 4)
. o conhecimento da glória de Deus na face de Cristo (verso 6)

Fica claro que o nosso tesouro é Jesus Cristo, morto na cruz e vivo nos nossos corações.

É por isto que esse tesouro é um “poder que a tudo excede” (verso 7), que é o mesmo que dizer, na prática: “Tudo posso nAquele que me fortalece” (Filipenses 4.13).

O problema é que somos vasos de barro e disso não temos dúvida. Nossa condição nos acompanha. A contigüidade com o ser humano. com sua maldade, nos alcança. Convivemos com pessoas que são vasos de barro. Então, quando somos alcançados pelas dificuldades, em casa, no trabalho, na escola, na igreja, ficamos confusos e nos perguntamos pelo tesouro.

O que fazer para sermos “renovados dia após dia”?

1. Precisamos de uma perspectiva realista acerca de nós mesmos e da vida.
Tendemos a olhar para o tesouro que temos e a esquecer que somos barro. Ou tendemos a olhar para o barro que somos e a esquecer que temos um tesouro.
Precisamos equilibrar essas duas perspectivas, reconhecendo-as como integrantes de nossa experiência humana.
Feitos de barro, somos frágeis, sujeitos a lamentações, depressões e frustrações. Apesar de jarros de terra batida, logo vulneráveis, podemos ficar intactos diante de pressões, tentações e traições. Podemos ficar firmes, por causa do tesouro que reside em nós. Podemos ficar firmes por causa de Cristo.

2. Precisamos, com gratidão, viver e proclamar esta graça gloriosa.
Como não ser gratos, se portamos um tesouro? Às vezes, nós nos parecemos com filhos que acham que tudo o que os seus pais fazem não passa da obrigação deles. A cruz de Cristo não era da obrigação de Cristo. Foi um presente maravilhoso. É assim que devemos receber a salvação. Com generosidade.
Esta graça, a graça de Jesus, foi uma providência de Deus para nós. Nós pregamos a graça, não nossas virtudes. Nós pregamos a misericórdia de Deus, não a nossa bondade ou justiça. Nós pregamos a Cristo, não a nós mesmos. Fomos salvos, mas pela ação de Jesus.
Não podemos reter esta graça, mas temos que espalhá-la. O Evangelho é um tesouro que não compramos. E pela graça devemos distribuí-la.
Não podemos viver vergonhosamente. Antes, seguindo Paulo, devemos renunciar “aos procedimentos secretos e vergonhosos” (verso 2). O maior escândalo do Evangelho é o comportamento de alguns evangélicos.

3. Precisamos fixar os olhos no tesouro (verso 18).
Fixar os olhos no tesouro, que é Cristo, implica em não os manter agarrados ao barro, mas no tesouro.
Fixar os olhos no tesouro, que é Cristo, significa aceitar que a glória está presente, embora ainda invisível. Devemos contemplar não naquilo que se vê (vaso de barro), mas no que não se vê, o tesouro que é Cristo (verso 18).
Fixar os olhos no tesouro, que é Cristo, se verifica na prática da confiança que o poder de Deus não permitirá que sejamos dominados pelo desânimo, tomados pelo desespero, já que Ele jamais nos abandona e nunca permite que sejamos destruídos.

Israel Belo de Azevedo