Como tantos outros, nasci num lar evangélico. Minha mãe era filha de batistas, líderes de suas igrejas no Estado do Espírito Santo. Meu pai era filho de presbiterianos, mas já era batista quando nasci. Quando nos mudamos para Vitória, todos éramos dedicados ao trabalho da igreja, a Primeira de Campo Grande, um bairro de Cariacica, na região metropolitana capixaba.
Nossa igreja se reunia num templo de estuque e eu ajudei, com minhas mãos de criança, na construção do novo templo, que me parecia imenso. Tão imenso que acabou ficando pequeno e foi preciso erigir outro, mas isto não foi do meu tempo.
No templo que ajudei a construir eu era presença dominical matutina e vespertina. Participava da EBF (então, chamada de EPB – Escola Popular Batista), dos Embaixadores do Rei, dos acampamentos, do intercâmbios, das brincadeiras de roda, e o que tivesse. Eu ia descalço (no máximo, de sandálias de dedo). Descalço ganhei o concurso de velocidade na localização de versículos bíblicos (“desembainhar a espada, um, dois, três”).
Passaram muitos pregadores por nossa igreja, mas inesquecível mesmo foi o pastor da igreja, Saturnino José Pereira. Não era de contar histórias, mas contou uma que tem a ver com a minha conversão, processual. Um pregador estava no púlpito quando foi atacado. Um diácono se antecipou e tomou em seu lugar as punhaladas. Entendi que o nome do pregador era Né Vilela. Meu pai me corrigiu, mas nunca aceitei, até que li num livro de história que era José Vilela. Desde então, aquele pregador anunciava o Evangelho assim:
— Dois morreram por mim: Cristo e Zé Vilela.
Não me lembro se tomei uma decisão pública. Possivelmente sim. Batismo, no entanto, não me passava pela cabeça. Só quando tivesse a idade em que Jesus desceu às águas… Meus desejavam mas não me pressionavam. Uma dia, não me lembro porque, decidi-me. A igreja realizava as sessões administrativas, quando se tomavam profissões de fé, às duas da tarde de um domingo do mês (e tinha gente!).
Sem que meus pais soubessem, ausentes da Assembléia, dei minha profissão de fé, eu e um colega, que foi reprovado. Cheguei em casa e contei. Meus pais ficaram felizes, mas não comentaram, porque não eram de comentar mesmo.
Alguns dias depois, numa noite, fui então batizado pelo pastor Saturnino. Quando me perguntam pelo dia mais feliz da minha vida, respondo que o dia do meu batismo foi um deles.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO