A PERGUNTA
Perdi o gosto pela leitura, mas quero voltar a ter prazer.
UMA RESPOSTA
Quem tendo, um dia, gosto pela leitura e não tem mais, precisa fazer uma autoavaliação, para responder à seguinte pergunta: quando isto começou a acontecer. O diagnóstico é essencial.
Sugiro que sejam feitas as seguintes perguntas:
1. Como vai minha relação com a vida? Continuo com vontade de viver ou perdi o sabor? — Se o desânimo está presente na vida, vai alcançar o hábito da leitura. A falta de apetite pela leitura deve estar presente também em outras áreas da vida. O prazer de ler voltará com a volta do prazer de viver.
2. Como vai minha saúde? Fico com dor-de-cabeça ao ler? Tenho dificuldade de enxergar as letras, sobretudo as pequenas? Durmo em cima das páginas? — O prazer de ler tem a ver também com boas condições de saúde. Uma avaliação oftalmológica talvez seja necessária, podendo resultar em alguma ação sugerida pelo médico, como o uso de óculos, por exemplo. É necessária também uma revisão do estilo de vida: uma pessoa que trabalha mais de 12 horas por dia e chega em casa “morta” de cansada dificilmente terá vontade de ainda ler algumas páginas. Esta revisão pode implicar numa melhor organização do tempo, para que “sobre” tempo para a leitura.
3. Tenho fome de conhecimento? Continuo com curiosidade sobre as coisas? Gosto de coisas novas? — Um leitor é, sobretudo, alguém como fome e sede de conhecer. Livro é fonte de conhecimento e de diversão também. É o espaço da curiosidade, partindo-se do pressuposto que saber não ocupa espaço. Um leitor é alguém que sabe que não sabe, mas não se contenta em não saber.
4. Tenho prazer em outros meios, como cinema, televisão, música ou teatro? — Quem tem prazer nesses meios deve ter prazer na leitura. Afinal, o livro está na gênese de todos estes meios, que são, muitas vezes, ilustrações (ou aplicações) do que é escrito. A maioria dos grandes filmes contemporâneos surge de adaptações de livros. Basta dar uma olhada na lista dos filmes ganhadores do prêmio Oscar (da Academia Americana de Cinema), entregue em março de cada ano em Hollywood. A resposta a esta pergunta é importante porque ela responde às anteriores. Quem, por exemplo, gosta de arte, seja a veiculada por meio do cinema, da televisão, da música ou do teatro, gosta da vida. Quem, por exemplo, sai de sua casa para ver uma peça de teatro tem fome de conhecimento ou de diversão.
Vencida esta etapa autoavaliativa, considere os seguintes cuidados:
1. Lembre-se que o livro é a fonte de excelência de conhecimento. Há outros meios interessantes, mas o livro é o rei. Você precisa conhecer. Conhecer é bom, no plano pessoal, no planto intelectual, no plano espiritual, no plano profissional. Não por acaso Deus nos legou o Livro.
2. Lembre-se que a leitura é o território da imaginação. (Tenho por hábito não ver um filme baseado em livro que eu tenha lido. Não leio livro que tenha virado filme que eu tenha visto. A razão é simples: a minha imaginação é muito superior à dos roteiristas e diretores de cinema. Não só a minha: a sua também. Li e me encantei com “O pequeno príncipe”, de Antoine de Saint-Exupery. Fui ver um dos filmes, com Bob Fosse, baseado no livro. Que tragédia: nunca mais. O meu “filme” era muito mais rico.) Ler é sonhar. Ler é viajar a lugares onde nunca fomos ou nunca iremos. Ler é criar, como se fôssemos autores da obra que estamos lendo. É a imaginação que nos torna humanos.
3. Desenvolva hábitos paralelos à leitura. Quando viajo a São Paulo, procuro separar algumas horas para as gastar na Livraria Cultura, da avenida Paulista. Os livros, aos milhares, estão expostos e disponíveis. Podemos folheá-los à vontade, em pé ou sentados num sofá ou à mesa com uma xícara de café. Saio dali com raiva da minha ignorância. E com vontade de diminuir um pouco esta ignorância, lendo mais. As bibliotecas preenchem também este espaço. Sei (e lamento muito!) que há muitas cidades brasileiras sem biblioteca ou livraria. Veja o que pode fazer em relação a isto. Compre todos os que livros que puder. Forme sua própria biblioteca. Forme uma biblioteca em sua comunidade, se for possível. Cerque-se de livros, que eles vão lhe convidar a ler.
4. Leia livros que acrescentem e divirtam. A menos que seja obrigado, não leia livros ralos, repetitivos ou chatos. Há muitos livros disputando sua atenção; dê-lhe aos que merecem. Deixe os livros ralos, repetitivo e chatos para depois. Eles que esperem. Os bons romances, por exemplo, são sempre convidativos.
5. Desenvolva hábitos saudáveis de leitura, como, por exemplo:
. procure ler todo dia. Reserve algum tempo para ler um jornal ou uma revista semanal, pois os periódicos oxigenam a mente. Encontre na sua casa o “cantinho” ideal para a leitura, bem como o horário ideal, dentro das possibilidades. Se você tende a ser dispersivo, crie um ambiente que não favoreça à dispersão.
. se tem alguma dificuldade de concentração, leia um pouco de cada vez. Leia uma hora e dê um parada. Retome por mais uma hora e mais uma pausa. Dentro de algum tempo, terá vencido centenas de páginas.
. ao ler, faça resumos (de capítulos ou do conteúdo todo) dos livros lidos. Isto lhe ajudará a fixar o que é importante. Que tal, por exemplo, criar um blog (é facílimo: www.blogger.com) para comentar suas leituras? Comente com as pessoas o livro que está lendo.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO
