Deus não mandaria seu Filho para sofrer (Rubem Alves)

A PERGUNTA

Rubem Alves, que já foi um pastor evangélico, faz a seguinte afirmação, num de seus livros: Só quem não é pai é que diz que Deus deu seu filho para morrer pelos nossos pecados. Quem é pai não manda seu filho para sofrer. Sofre em seu lugar”.

UMA RESPOSTA

A lógica de Rubem Alves está rigorosamente certa.
Só que a lógica divina é completamente distinta, graças a Deus.
A lógica humana não entende a Trindade, que não é para ser entendida. A Trindade, enquanto formulação, é lógica, como uma maneira humana para entender como Deus age. Deus estava no sofrimento do Filho, porque o Filho e o Pai são um. Como isto pode ser, não sei. Neste caso, não preciso entender para crer.
Ha um esforço de autores pós-cristãos em revisar a soteriologia (doutrinaca da salvação), de modo a compatilizá-la com a razão. Há uma recusa à própria idéia da salvação, que parte da recusa da idéia de perdição. Nesta percepção rejeita-se também a idéia de sacrifício vicário (no lugar de), isto é, de Deus em Jesus morrendo em lugar do homem. O pressuposto é que a “salvação” é, na verdade, uma conquista humana por meio da razao (estudo e inteligiência). Neste caso, sobram de Jesus apenas os seus ensinos éticos sociais, com pouca ênfase ao comportamento individual. A visão é que, já que não se pode mudar o texto bíblico, ele deve ser interpretado, tornado, então, só poesia. Tomar o Novo Testamento como literal fica bem para a Idade Média, quando o conceito de salvação foi forjado em função do medo das pessoas. A era das luzes não comporta tal soteriologia.
À luz do Novo Testamento, não há como recusar a doutrina da expiação (a culpa sendo deletada pela obra vicária de Jesus).
À luz da lógica (pelo menos, da lógica cristã) não outra forma de o homem ficar livre da sua culpa. O século 20 expulsou a culpa, mas não nos deu um mundo melhor. Que século teve mais guerra? Que século teve mais fome?

Confesso que gostaria que (o segundo) Rubem Alves tivesse razão. Seria mais suave, mas não seria verdadeiro, à luz do que leio (na Bíblia) e do que vejo (no mundo). Sou um apaixonado pela razão, mas não ao ponto de não ver sua limitação. 

 

 

 

 

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