BALTHASAR HUBMAIER: a verdade não se mata

Nem sempre houve batistas, presbiterianos, metodistas, assembleianos e católicos. No início só havia uma igreja: a igreja cristã. Esta igreja se tornou, uns quatro séculos depois, em Igreja Católica.
Quando começou o chamado mundo moderno, pondo fim à chamada Idade Média, esta Igreja Católica foi deixando de ser única.
Na Alemanha e na Suíca várias pessoas se organizaram em movimentos em busca de mais liberdade e mais santidade.
Um destes grupos achava que a Igreja Católica estava completamente corrompida e nada tinha mais de cristã. Para eles, um dos principais motivos para isto era que as pessoas se diziam cristãs, sem ter passado pela experiência da conversão.
Por isto, não aceitavam de jeito nenhum que uma pessoa fosse batizada ao nascer. O batismo devia ser uma demonstração pública e consciente de uma pessoa que tinha aceito Jesus Cristo como seu Salvador e Senhor. Não podia ser coisa para criança.
Assim, quando uma pessoa vinha até eles e se convertia, era batizada, alguns por aspersão (jogando um pouco dágua na cabeça) e outros por imersão (mergulhando inteiramente na água). Quem não pertencia a estes movimentos, achava que eles rebatizavam as pessoas; por isto, chamavam a esses crentes de `anabatistas’, isto é, rebatizadores.
Essa idéia era um escândalo naquela época.
Menos para o alemão Balthasar Hubmaier.
No início, ele seguia o pensamento da época. Aluno de Johan Eck, grande adversário de Martin Lutero. Foi assim que adquiriu o seu doutorado em Teologia. Logo se tornou um pregador famoso. Seus sermões contra os judeus levaram a expulsão deles da cidade e o fechamento da sua sinagoga, transformada numa capela católica.
Logo depois, mudou-se para uma cidade perto da Suíça e conheceu o protestantismo. Ele visitou o grande teólogo Erasmo, da Holanda, e se tornou amigo e colaborador de Zwinglio, o reformador suíço.
A partir daí sua liberdade de pensamento constituiu-se num perigo para sua vida. O governo pediu sua prisão e ele teve de fugir para um convento. Suas idéias sobre o batismo se chocaram com as de Zwinglio.
Aprofundando-se nos estudos, conheceu Conrad Grebel e aceitou as idéias anabatistas (valorização da experiência religiosa pessoal, recusa do batismo infantil e aceitação da separação completa entre igreja e estado).
Por essa época havia um movimento anabatista muito forte, liderado por Thomas Münzer. Hubmaier se aproximou do grupo. [Parece até que ele ajudou a escrever os Doze Artigos, que continham as reivindicações dos camponeses:
– achamos que cada comunidade (igreja) tem o direito de escolher seu próprio pastor;
– entendemos que é justo pagar-se o grande dízimo sobre a colheita, mas não os pequenos dízimos;
– declaramos que a servidão, vivida sob a forma de trabalhos excessivos ou forçados e de arrendamentos desfavoráveis, é contra o evangelho e contra a liberdade cristã;
– exigimos o direito de pesar, caçar e tirar madeira nas florestas comuns;
– queremos julgamentos justos conforme as leis escritas;
– exigimos o fim dos impostos de herança, que mantém órfãos e viúvas na miséria;
– informamos que estamos dispostos a retirar qualquer artigo que contrarie a Palavra de Deus.]
Hubmaier, no entanto, se afastou quando descobriu que eles admitiam a violência como método de defesa e pregação de suas idéias no campo social. [O resultado seria a chamada Guerra dos Camponeses, quando mais de cem mil civis, armados pobremente e pobremente treinados, foram assassinados pelos exércitos governamentais, com a concordância de Lutero. Foi um dos maiores crimes praticados contra a humanidade em toda a sua história. Feito, infelizmente, como muitos outros, em nome de Deus.]
Diferentemente de quase todo mundo nesta época, Hubmaier era um pacifista. Nada de guerra.
Num dos seus sermões, disse ter recebido a orientação de Deus para condenar o batismo de crianças. Pouco depois foi batizado junto com sua igreja e passou a batizar outros adultos. [A seguir escreveu seu livro mais famoso: `O Batismo Cristão de Crentes’. Ele acabou com a missa e tirou o altar, a pia batismal, as imagens e as cruzes da sua igreja.]
Por isto, foi preso e obrigado a renunciar às suas idéias.
Mas uma idéia não se mata, como ele mesmo disse.
Solto, foi para outra cidade, levando consigo uma pequena gráfica, onde imprimiu vários folhetos e formou várias igrejas. Até que foi preso e levado para Viena, junto com sua esposa. Acusação: ter participado da Guerra dos Camponeses, ao lado dos anabatistas.
Desta vez, ele ficou firme.
Foi queimado vivo numa estaca, sem perder a serenidade. Suas cinzas foram jogadas no rio Danúbio. Neste mesmo rio, três dias depois sua corajosa esposa foi afogada à força, com uma pedra amarrada ao pescoço.
Sua igreja continuou e suas idéias foram levadas a toda Europa.
Nós, batistas, devemos muito a este defensor da liberdade religiosa.

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PRINCIPAIS MOMENTOS
Nome: Balthasar Hubmaier
Nascimento: 1485
País: Alemanha
Cidades principais: Regensburgo, Waldshut, Nickolsburgo (todas na Alemanha)
Livros mais importantes: `O batismo cristãos dos crentes’, `Resumo da vida cristã’, `Admoestação Fraterna’.
Morte: 1528
Forma: queimado vivo numa fogueira.

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PENSAMENTO
“Quando Cristo nos ensina a levar uma vida cristã, diz: `Mudem ou melhorem suas vidas e creiam no Evangelho’. Mas, para mudar de vida, é preciso que entremos em nós mesmos erecordemos o que temos feito e o que temos deixado de fazer”.

“Por isto, devemos olhar para o samaritano, que é Cristo. Ele traz consigo remédios, que são o vinho e o azeite, e os derrama sobre as feridas do pecado”.

“Quando um povo escuta a voz de Deus, a aceita e lhe dá crédito, está se comprometendo, no batismo da água, publicamente com Deus, diante da igreja (…) a marchar em uma vida nova e, daí por diante, a não permitir que o pecado mande em seu corpo mortal, nem ser obediente aos desejos, mas oferecer os órgãos do seu corpo a Deus o Senhor como armas e instrumentos da justiça, para que possam se santificar e alcançar a meta, que é a vida eterna”.

“A verdade não se mata”.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO