Rabino diz ao papa que os judeus não precisam se converter

Carta aberta ao papa
Rabino Shear Yashuv Cohen

Por ocasião da visita do papa Bento 16 a Israel, o rabino Shear Yashuv Cohen, chefe do rabinato de Haiva e vice-presidente da Comissão Bilateral do Rabinato-chefe de Israel e o Vaticano, escreveu um carta aberta (publicada no Jerusalem Post), aqui traduzida

“Oro para que o senhor continue a obra começada por seus predecessores, João 23 e João Paulo 2º, e manifeste sua amizade pelo povo judeu e pelo Estado de Israel.
Vejo a sua visita à Terra Santa como uma afirmação que o senhor pretende continuar a política e doutrina que se refere ao meu povo como “Nossos irmãos mais velhos” e “Povo escolhido de Deus”, com quem Ele celebrou uma aliança eterna.
Apreciamos profundamente esta declaração. É longa, dura e dolorosa a história do relacionamento entre nosso povo, nossa fé, e a liderança da Igreja Católica e seus seguidores, uma história de sangue e lágrimas. É difícil falar deste relacionamento sem relembrar os séculos de perseguição aos judeus pela Igreja.
Acontece que uma nova era foi alcançada com o cancelamento da teoria da substituição. No Concilio Vaticano Segundo e no documento Nostra Aetate, ficou claro que a Igreja Católica não desenvolveria qualquer esforço para converter os judeu. Antes, o povo judeu deve continuar a fé de seus antepassado como expressa na Bíblia e na literatura rabínica.
O povo judeu permanece como o povo do Deus da aliança, um povo escolhido por Deus para dar a Bíblia ao mundo.
Posto de modo mais simples, a Igreja Católica aceitou o princípio teológico que os judeus não precisam mudar sua religião para merecer a redenção. Espero que o Senhor aproveite a oportunidade de sua visita a Israel para reiterar este fato.
Em nosso encontro em Roma, no mês passado, o senhor me garantiu que quem se envolve em negar o Holocausto não pode ser membro da Igreja. O senhor também falou em como, nas instituições católicas de ensino ao redor do mundo, o antissemitismo seria apresentado como um crime contra Deus e contra o homem e que a negação do Holocausto seria denunciada.
Espero agora obter sua ajuda como líder religioso — bem como com a ajuda de todo o mundo livre — para proteger, defender e salvar Israel, o único estado soberano do “Povo do Livro” das mãos dos seus inimigos.
Estou certo que o senhor usará sua viagem para reiterar estes pontos em público e demonstrar sua sinceridade, ao tempo em que é alta sua exposição na mídia e aos olhos do mundo. Deus lhe tem dado uma oportunidade única.
Concluo orando com as famosas palavras tiradas da profecia do profeta Isaías, sobre os dias que correm: “E o lobo habitará com o cordeiro e o leopardo se deitará com uma criança, o bezerro, o leaozino e o boi cevado juntos; uma criancinha os guiará. Eles não ferirão nem destruirão em todo o meu santo monte, pois a terra estará cheia do conhecimento do Senhor, assim como as águas cobrem o mar” (Isaías 11.6-9)
Que sejamos abençoados para ver isto acontecendo em nossos dias. Amém”

MEU COMENTÁRIO — É muito instrutivo ver como a opinião do sumosacerdócio israelense está muito próximo do pensamento de muitos evangélicos (sobretudo nos Estados Unidos), que defendem Israel a qualquer custo. Também no texto fica claro que a teologia judaica está afinada com a política judaica de negar aos palestinos o direito a um Estado autônomo. (Traduzi o texto de Isaías direto da versão judaica em inglês usada pelo rabino-chefe de Haifa.)