Causou espécie a história da mulher britânica que resolveu ter um filho já sessentona. Trata-se de um caso isolado. O que não é isolada é a tendência de se ter filhos cada mais tarde, para desespero dos médicos. Por causa dos estudos, da carreira ou da espera da chegada estabilidade financeira, muitas mulheres ignoram os primeiros sinais do instinto maternal em nome da carreira, certas que a medicina reprodutiva pode recuperar o tempo perdido.
Entrevistado pela Agência Estado, o médico Ronaldo Motta lembra que acertar os ponteiros do relógio biológico nem sempre é possível. A idade avançada ameaça o sucesso de qualquer tratamento de fertilização.
Motta diz que, em sua clínica, 70% das pacientes têm mais de 35 anos. “Observo uma demanda crescente acima dos 40 anos. Nessa idade, contudo, a taxa de abortos dobra, o que também diminui a chance de sucesso. A chance de engravidar pelo método in vitro é de 50% antes dos 35 anos e cai para 20% por tratamento após os 40”.
Outro entrevistado, o médico Artur Dzik, diretor da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana e do Setor de Infertilidade Conjugal do Hospital Pérola Byington, em São Paulo, adverte que engravidar tardiamente pode trazer consequências negativas para a saúde da mãe e do bebê. “A prevenção do câncer de mama e de ovário associada à maternidade é mais frequente nas mães que têm entre 20 e 30 anos”. Além disso, o risco de ter diabete, hipertensão e problemas placentários é um pouco maior na mulher que engravida tardiamente.”
Segundo Dzik, as mulheres têm a falsa ilusão de que a medicina reprodutiva pode recuperar o tempo perdido. “A gente pode fazer muita coisa, mas o obstáculo maior ainda é a idade da mulher. Quem posterga a gravidez pode ter escolhido não ter filhos. A mulher que malha todos os dias, cuida da pele e parece mais jovem acha que pode tudo. É difícil para ela entender que a aparência jovial não se reflete na idade ovariana. Atrasar a maternidade é uma tônica da mulher moderna, mas a natureza é implacável.”