Tributo a HÉLCIO DA SILVA LESSA. Deixe aqui a sua homenagem.

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Faleceu no dia 5 de junho de 2009 o Pastor HÉLCIO DA SILVA LESSA (9/8/1926 — 5/6/2009), pastor da Igreja Batista Itacuruçá, na cidade do Rio de Janeiro, por 30 anos (1962-1992).
Ele assumiu o pastor da Igreja Batista Itacuruçá depois de ter servido como missionário dos batistas brasileiros em Portugal. Parte desta história está contada pela Terceira Igreja Baptista de Lisboa, que pode ser lida aqui.
Entre 1978 e 1985 foi professor do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil.
Deixou publicado apenas um livro: “Ação social cristã”, que pode ser lido aqui.

Sobre ele escreveu o pastor Carlos Novaes uma breve homenagem, que pode ser lida aqui.

Eis o que escrevi sobre ele, para ser publicado no programa do culto de gratidão a Deus por sua vida.

HELCIO DA SILVA LESSA,
O DOUTOR GRAÇA

Hélcio da Silva Lessa nasceu em Campos, no interior do Estado do Rio de Janeiro, no dia 9 de agosto de 1926. Na juventude, mudou-se para a capital, cidade em que viveu a maior da sua vida, ligada inseparavelmente à história da Igreja Batista Itacuruçá, da qual foi seminarista e pastor.
Foi esta igreja que o recomendou ao Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil em janeiro de 1947. Formado, seu primeiro pastorado foi exercido na Igreja Batista em Vigário Geral (1951-1953). Pouco depois, já casado com Odete Faria Lessa (com quem teve Dalton e Cristina, mãe de Marianae André) em 5 de junho de 1952, ele foi enviado pela Junta de Missões Estrangeiras (hoje de Missões Mundiais) da Convenção Batista Brasileira para servir no campo português, onde esteve por nove anos. Um dos resultados foi a fundação da Terceira Igreja Batista de Lisboa, em 1956.
Voltou ao Brasil para pastorear a Igreja Batista Itacuruçá, tendo tomado posse em 13 de maio de 1962, quando a igreja tinha perto de 600 membros. Sob sua liderança, a igreja ampliou as áreas de atuação do seu ministério, tornando-se uma referência em várias áreas. Uma das marcas do Pr. Hélcio foi a ousadia. Nos anos 70, além do jornal “Cristianismo hoje” (de concepção ideológica e gráfica adiante do seu tempo), a igreja promoveu a “entrada triunfal de Jesus na Tijuca”, com ampla distribuição de porções ilustradas do Novo Testamento em casas, escritórios e consultórios do bairro. Três igrejas (Liberdade, 20.1.1968; Independência, em 27.7.1968, e Primeira do Grajaú, em 8.8.1978) e duas congregações (Casa Branca, depois Getsêmani, em 1984, e Caçavava, em 1985) foram organizadas. Outras igrejas fora da cidade do Rio de Janeiro receberam apoios expressivos com recursos humanos e financeiros. Durante alguns, pioneiramente, a igreja manteve na rádio Copacabana o programa “Caminhos de Esperança”.
Além da paixão por missões e pela evangelização, o coração do Pr. Hélcio, e com ele o da igreja, pulsava pelo entendimento do mundo e pelo compromisso social. Infatigável na busca pelo conhecimento (como o revela sua extensa, variada e atualizada biblioteca), além de teologia, estudou Ciências Econômicas e Administrativas (curso único à época), Direito e Psicologia, o que lhe permitiu ser um requisitado professor em vários cursos de especialização ministrados na área administrativa por universidades e setores de treinamento de empresas.
Na teoria, seu interesse está demonstrado no único livro que escreveu, totalmente avançado para a época: “Ação Social Cristã”. Na prática, apoiava todas as iniciativas, e tomava algumas delas, que tornasse a igreja relevante na comunidade, como o evidencia o “Clube Jovem”, que, entre 1971 e 1990, reunia na igreja adolescentes e jovens que eram alimentados, instruídos biblicamente, orientados, alfabetizados e capacitados para a vida profissional. 
Ao mesmo tempo em que liderava a igreja, o Pr. Hélcio desenvolvia uma liderança marcante entre os batistas brasileiros, sobretudo com seu chamamento ao compromisso social. Entre suas atuações está a participação no movimento “Diretriz Evangélica”, que propunha precisamente a indissociabilidade entre a evangelização e a ação social. Outra importante participação foi no ensino teológico, tendo atuado como professor do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, onde ensinou sobretudo “Administração Eclesiástica”, de 1978 a 1985.
O pr. Hélcio conduziu a igreja por três décadas, tendo se tornado pastor emérito da igreja em 27 de dezembro de 1992. Depois de sua aposentadoria, continuou como membro da igreja, pregando de vez em quando, enquanto sua saúde o permitiu. Ele faleceu em sua casa pouco antes das três horas da manhã do dia 5 de junho de 2009.
Eis, em síntese, os dados que ajudam a compor o perfil do Pr. Hélcio da Silva Lessa, perfil que, agora, na primeira pessoa, posso expandir, por minha conta e risco, embora muitos outros pudessem fazê-lo melhor que eu.
Hélcio foi o mais brilhante expositor bíblico que conheci. Ele abria uma passagem bíblica, lia-a e, como poucos, tirava dela impactantes direções para a vida. Seu estilo era inconfundível. Dos seus lábios não saía o óbvio.
Helcio foi a mente mais brilhante que conheci. Ele “adorava” debater idéias e não havia a menor chance de o outro ganhar. Ele era muito rápido. Não era esnobe (pelo que não citava autores, para obter autoridade), embora estivesse em dia com a agenda intelectual de sua época. Tudo soava muito simples na sua boca, sem afetação.
Hélcio foi um mestre da palavra dita. Seu humor era delicioso. Sua ironia, irresistível. Seu sarcasmo, necessário. No entanto, ele não usava esta capacidade para rir dos outros, mas para rir com os outros. Seu alvo nunca era humilhar, mas apenas relativizar as muitas certezas que tantos carregam. Hélcio era uma alma inquieta que (se) interrogava sobretudo a si mesmo.
Hélcio foi um modelo de pastor como devem ser os pastores, à frente do seu tempo e distante das “fórmulas de sucesso”. Quanto tantos olham para dentro, ele olhava para fora. Quanto tantos olham para si mesmo, ele cantava: “em nada ponho a minha fé, senão na graça de Jesus”. Quando alguns miram cargos, ele buscava deixar o seu recado, agradasse ou não. Quando alguns caçam os pecadores, como faziam os fariseus, ele não julgava, mas pastoreava como Jesus, a quem preferentemente chamava de “Mestre”.
Ele tinha o seu modo de pregar, o seu modo de aconselhar, o seu modo de liderar.
Nas quartas-feiras, quando abria um texto bíblico e o expunha sem o formato mais clássico do domingo, parecia que foi ele quem escrevera a passagem pregada, tal a clareza com que a Palavra nos chegava aos ouvidos.
Quando aqui cheguei como seminarista e perguntei o que esperava de mim, ele simplesmente me desconcertou com um:
— Escolha os seus caminhos.
(Confesso: detestei o conselho. Admiti e admito: ele estava certo.)
Eu, já pastor, ele, já emérito, um dia lhe perguntei:
— O que é um rol de membros de uma igreja para você?
Ele me respondeu:
— Um rol de membros é a lista de todas as pessoas para quem a igreja um dia foi importante.
Penso, pois, em Hélcio da Silva Lessa como alguém que amava a sua igreja, pelo que sempre dizia, com aquele sorriso indecifrável: “uma vez itacurucense, sempre itacurucense”.
Então, se eu pudesse acrescentar um título ao seu nome, como a história faz com os grandes, escreveria este: “Hélcio da Silva Lessa, o doutor graça”.
Que é o que cada um de nós deve ser.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO

Também escrevi outro texto para o boletim dominical da Igreja Batista Itacuruçá, que pode ser lido agora.

QUEM?

Quem contemporâneo do seu tempo se tornou
para expor a Palavra em timbre tão eficaz
com uma cristalina verdade que nos faz
exclamar: “foi mesmo o Criador quem nos falou”?

Quem com a alma dos homens tanto se importou,
a ponto de gritar pela verdadeira paz
que chora com o frio e com a fome pertinaz,
como Jesus, o Mestre, a todos nós ensinou?

Quem, com Deus conectado, trouxe do coração
o canto da graça, centro da sua pregação,
destinada sempre a nos arrebatar do chão?

Quem, agora vendo que seu sorriso atravessa
a luz que a presença de Cristo torna espessa,
viveu o amor de Deus como Helcio da Silva Lessa?

ISRAEL BELO DE AZEVEDO
5 de junho de 2009