Mateus 3.1-10: VIDA DIGNA

VIDA DIGNA
Mateus 3.1-10

(1) Naqueles dias surgiu João Batista, pregando no deserto da Judéia.  (2) Ele dizia:
— Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo.
(3) Este é aquele que foi anunciado pelo profeta Isaías: “Voz do que clama no deserto: ‘Preparem o caminhopara o Senhor, façam veredas retas para ele'”.
(4) As roupas de João eram feitas de pêlos de camelo, e ele usava um cinto de couro na cintura. O seu alimento era gafanhotos e mel silvestre.  (5) A ele vinha gente de Jerusalém, de toda a Judéia e de toda a região ao redor do Jordão.  (6) Confessando os seus pecados, eram batizados por ele no rio Jordão.
(7) Quando viu que muitos fariseus e saduceus vinham para onde ele estava batizando, disse-lhes:
— Raça de víboras! Quem lhes deu a idéia de fugir da ira que se aproxima?  (8) Dêem fruto que mostre o arrependimento! (9) Não pensem que vocês podem dizer a si mesmos: ‘Abraão é nosso pai’. Pois eu lhes digo que destas pedras Deus pode fazer surgir filhos a Abraão. (10) O machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo.

1. Nós cremos na mensagem de João Batista, que é tão estranha quanto a mensagem de Jesus. A essência é a mesma, na exigência de arrependimento (“Arrependam-se”, verso 2, cf Marcos 1.15).
Arrependimento de que? alguns perguntam. Arrependimento de termos dado as costas para Deus. Arrependimento de vivermos como se o outro não existisse. Arrependimentos por nos acharmos suficientes para fazer escolhas certas, mesmo sabendo que isto não é verdade. Arrependimento por termos feito o ódio o nosso caminho para a vida.
Sem arrependimento não se entra no Reino de Deus. Não se compreende o amor de Deus. Não se recebe o amor de Deus. Não se é feliz. O amor de Deus é inclusivo e exclusivo, inclusivo porque não faz acepção de pessoas em função de eventuais qualidades que tenham (como nós fazemos) mas é exclusivo para os que se arrependem. O arrependimento é a porta de entrada no Reino de Deus, porta sempre aberta.

2. Nós somos chamados a proclamar, mesmo que no deserto da atenção das pessoas (como fez João Batista — verso 1) a estranha mensagem do amor de Deus. A entranheza da mensagem pode estar no conteúdo mas não deve estar na forma.
João Batista simboliza a igreja que espera que as pessoas a busquem (quem quisesse ouvi-lo tinha que encontra-lo nas margens de um rio — cf. verso 5). Jesus tipifica a igreja que vai (segundo lemos, “Jesus ia passando por todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando as boas novas do Reino e curando todas as enfermidades e doenças” — Mateus 9.35).
Por mais igreja de Jesus que queiramos ser, tendemos a ser igreja de João Batista. É tão verdadeira a mensagem que pregamos… Quem quiser ouvi-la, que venha até nós. Não. Nossa tarefa é percorrer as cidades e povoados (aldeias), como fazia Jesus, o que significa estar nos lares, nos meios de comunicação, mas sem mudar a mensagem, mesmo que com boas intenções.
Nossos templos têm quer ser de fácil acesso. As pessoas que vencem as barreiras e entram neles devem ser recebidos com interesse e afeto. Precisamos de acessibilidade da construção, mas sobretudo acessibilidade do coração.

3. Devemos viver de modo diferente dos que não ainda responderam positivamente ao amor de Deus, não no exterior, mas a partir do interior. Isto demanda hábitos e costumes moderados mas não exóticos, como João Batista, que se alimentava de gafanhotos e mel (verso 4b) . Nossa radicalidade está em procurar viver segundo a mente de Cristo, embora seja mais fácil um comportamento estereotipado. Nosso compromisso vai além da moral, porque se dá a partir do coração.

4. A experiência do batismo é o testemunho de uma escolha pelo Reino de Deus.
Quando dele participo, estou fazendo algumas afirmações pessoais de fé e compromisso, como:

. Deus ama a todos os seres humanos e não apenas a alguns (todos podem ser “filhos de Abraão”). O batismo é um convite (“Arrependam-se”) ao reconhecimento deste amor de Deus.

. Reconheço o amor de Deus, como vejo como sou: um pecador que precisa ser perdoado. Por isto, confesso a Jesus que quero deixar de ser dominado pelo pecado. O batismo é o momento em que publico esta realidade, realidade que eu gostaria de negar.

. Sei que o batismo não é apenas um ritual de que participo porque meus pais ou meus amigos a ele se submeteram. A eficácia do batismo está no compromisso com Jesus a uma vida digna de Jesus (com frutos dignos), compromisso de cada dia na vida para a vida toda. As duras palavras de João Batista (“Dêem fruto que mostre o arrependimento!  (…) O machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo”  — versos 8 e 10) são uma advertência: mesmo aqueles que foram batizados podem viver sem dar frutos dignos. Os já batizados podem se tornar também “raça de víboras” (verso 7b). Participar do batismo dos outros é um convite a que pensemos no nosso já realizado: temos vivido de modo digno do Evangelho, pondo Deus em primeiro lugar sobre todas as coisas (relacionamentos, desejos, temperamentos, histórias, coisas); amando aos outros como queremos ser amados e nos comportando como peregrinos nesta terra, pela qual lutamos para que nela haja mais justiça.
 
. Admito que, mais que um gesto de adesão para o pertencimento a uma igreja, o batismo é uma resposta ao amor de Deus que me convida a pertencer ao Seu círculo de amigos.
É o que lemos no Novo Testamento:

“Portanto, fomos sepultados com ele na morte por meio do batismo,
a fim de que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai,
também nós vivamos uma vida nova.
Se dessa forma fomos unidos a ele na semelhança da sua morte,
certamente o seremos também na semelhança da sua ressurreição”.

(Romanos 6.4-5).

Em Jesus, “também vocês foram circuncidados,
não com uma circuncisão feita por mãos humanas,
mas com a circuncisão feita por Cristo,
que é o despojar do corpo da carne.
Isso aconteceu quando vocês foram sepultados com ele no batismo,
e com ele foram ressuscitados mediante a fé no poder de Deus
que o ressuscitou dentre os mortos”.

 (Colossenses 2.11-12)