Paternidade: Carta aos futuros pais

CARTA AOS FUTUROS PAIS
“Os filhos são herança do Senhor, uma recompensa que ele dá” (Salmo 127:3).

Ser pai é algo tão essencial que deveria ser ensinado nas escolas.
As igrejas também têm uma responsabilidade neste campo, sobretudo porque nelas, diferentemente do que acontece nas escolas, pais e filhos chegam juntos e permanecem juntos os próximos, cantando as mesmas canções e ouvindo as mesmas mensagens.
Neste contexto, então, dirigijo-me, não ao pais, mas aos filhos como futuros pais. Inspira-me um diálogo que travei com um de nossos irmãos.
Próximo de ser pai, perguntei-lhe:
— Preparado para ser pai?
— Não. Aliás, nem conversei com meu pai sobre isto, sobre ser pai.
Por isto, escrevo esta breve carta aos filhos.
 
1. Tenha em mente que, se tudo correr bem, você vai ser pai (seja pai biológico, nascido do seu relacionamento com a sua esposa, ou pai do coração, por adotar um filho que outro casal deu à luz).
Por que os seus pais se tornaram pais?
Possivelmente porque o relacionamento dele com a esposa dele de tal modo se tornou maduro que um filho passou a ser pensado e acabou sendo concebido como uma coroa para este relacionamento, como resultado, pois, da maturidade conjugal. Chegou um momento em que os dois entenderam que se completariam com um bebê em casa. Por isto, você nasceu.
Ser pai é uma questão de amor. De amor a dar. As crianças nascem porque seus pais querem dar amor. A paternidade humana é uma imitação da paternidade divina. Deus nos concebeu porque tinha amor para nos dar.
Este amor se evidencia também no desejo do companheirismo. É como se seus pais, num momento da vida, dissessem um para o outro, parodiando o Criador (Gênesis 2.18): “não é bom que estejamos sós; vamos fazer um filho para que seja nosso companheiro”.
Estas são razões altruístas (de “alter”, “altru”, outro). Há razões egoístas, mas não necessariamente condenáveis, como os desejos de perenização e de proteção. Os pais são pais também porque querem que se seus filhos continuem suas vida (ou famílias ou sobrenomes) e administrem seus patrimônios. Estas motivações, por exemplo, estavam claras no desejo de Abraão em ser pai (Gênesis 15.2) e na declaração do salmista, que cantou: “Como é feliz o homem que tem a sua aljava cheia deles! Não será humilhado quando enfrentar seus inimigos no tribunal” (Salmo 127.5).
Há ainda outras razões e elas são um bom motivo para você conversar com seu pai. “E aí, pai, por que eu vim ao mundo?”

2. Lembre-se que você vai ser como pai o filho que você tem sido. Você está sendo preparado para ser pai.
O jeito de ser pai do seu pai está formando em você o seu jeito de ser pai. O curso da paternidade dura a vida toda. Mesmo que o seu pai esteja morto, ele ainda lhe ensina.
Reconheça que está aprendendo a ser pai com o seu pai, enquanto anda com ele, enquanto come com ele à mesa, enquanto o observa.
Valorize o seu pai, se o tem, enquanto o tem. Se ele for afetuoso, retribua. Se ele é meio durão, quebre o cara com o seu afeto. Elogie seu pai. Beije seu pai. Presenteie seu pai. Honre seu pai. Dê flores para o seu pai.
Se o seu pai tem defeitos, aconselhe-o e procure ajuda-lo na superação do problema. Compreenda os motivos de suas ações, mesmo que não concorde com elas. Tenha paciência com ele. Não desista dele. Tenho um amigo cujo pai é alcoólatra, mas ele sempre ora pelo pai, visita o pai. Eles moram em cidades diferentes e um dia destes, no aniversário, seu pai o surpreendeu, por ir visita-lo. “Foi o céu” — disse-me meu amigo. “Eu tenho esperança que um dia ele se converta”.
Se for o caso, critique-o, para si mesmo, para ser diferente dele. Absalão criticava Davi…  para ser igual a Davi. Ao contrário, diga, por exemplo: “meu pai é autoritário, mas eu não o serei”. Ou: “meu pai não liga para mim, mas eu serei diferente com meu filho”.
Em todas as circunstâncias, ouça o seu pai, como Paulo escutava a Timóteo, seu filho espiritual (1Timóteo 1.18). Peça a sua opinião. Ele vai amar ser consultado. Pergunte-lhe sobre o que faria diferente hoje como pai, que decisões seriam outras agora.

3. Não se esqueça que, quando for pai, haverá papéis na vida do seu filho que só você poderá desempenhar. Um deles é o de homem.
Na sua formação, seu filho precisará de uma boa imagem da figura masculina. Por mais dedicada que seja, uma mãe não preenche o papel de homem por lhe faltar competência… Um homem ausente será uma ausência que ninguém preencherá, com conseqüências para o resto da vida.
Desempenhe seu papel masculino. Seja forte. Seja presente. Seja firme. Seja decidido. Seja líder. Seja forte, mas não autoritário. Seja presente, mas não invasivo. Seja firme, mas não grosso. Seja decidido, mas não ignorante. Seja líder, mas não déspota. Seja forte e abrace. Seja presente e sensível. Seja firme e carinhoso. Seja decidido e ouvinte. Seja líder e servo.
Seu filho precisará de uma boa imagem da figura masculina. Sobretudo, ele precisará do seu convívio como homem. Deus fez os homens e as mulheres à sua imagem e semelhança, para que os homens formassem outros homens à imagem deles e para que as mulheres formassem outras mulheres à imagem delas.
As mulheres têm desempenhado muito bem o seu papel, mas o mesmo não se pode dizer dos homens, porque muitos terceirizaram suas funções para as mulheres.
Quando você for pai, seja uma referência a ser seguida.
Uma das formas de ser esta referência é harmonizando seu tempo, para ter tempo para desfrutar a amizade do seu filho. Para que você o teve? Você disse que foi para dar amor, e não se dá amor, apenas trabalhando, trabalhando, trabalhando, para comprar coisas e pagar contas. Você disse que teve um filho para ter um companheiro, mas não desfrutará companheirismo com um filho dormindo, mas acordado, em casa com você, no parque com você, na praia com você. Na viagem com você.
Harmonize seus interesses. Todo dia ficamos sabendo de pais que “esquecem” filhos no banco de trás do carro enquanto se divertiam em alguma balada. Harmonize seus interesses com os interesses do seu filho. Não vá embora enquanto seu filho discute com os doutores no templo, como fizeram os pais de Jesus (Lucas 2.46). Pegue o seu álbum de sua infância. Como será o álbum da infância dos seus filhos? Onde você estará na foto? Que seja tirando a foto, mas que seja empurrando o balanço do seu filho, que seja rolando na grama com ele, que seja brincando de esconde-esconde.

4. Saiba que seu filho vai ver Deus por seu intermédio. Que Deus verão vendo você?
Foi assim com vários pais da Bíblia, de Isaque com relação ao pai Abraão e de Jacó com o pai Isaque.
Você será é o guia espiritual dos seus filhos.
Aprenda hoje a Bíblia para poder ensina-la amanhã.
Eles escolherão seus próprios caminhos, mas esta escolha terá muito a ver com o que você lhes preparou.
Não seja como Moisés que se esqueceu de circuncidar seu filho (Êxodo 4.25), uma tarefa que era dele e somente dele.  A liderança espiritual de seus filhos será sua e somente sua.
Aprenda hoje histórias para contar amanhã para seus filhos.
Ore hoje pelos filhos que um dia vai ter.
Afinal, “os filhos são herança do Senhor, uma recompensa que ele dá” (Salmo 127.3).